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A chefe do Departamento de Estado norte-americano para o Médio Oriente garantiu ao novo líder sírio, Ahmad al-Charaa, a suspensão da recompensa de 9,5 milhões de euros pela sua captura, após um encontro “positivo” em Damasco.

No encontro de uma delegação norte-americana com al-Charaa, anteriormente conhecido pelo nome de guerra Abu Mohammad al-Jolani, foi garantido que os EUA não vão “avançar com a oferta de recompensas pela justiça, que está em vigor há vários anos” pelo líder sírio, disse a chefe do Departamento de Estado norte-americano para o Médio Oriente, Barbara Leaf.

Al-Charaa é o líder do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), um grupo radical islâmico que liderou a coligação rebelde que depôs o Presidente sírio Bashar al-Assad a 8 de dezembro e classificada como “terrorista” por vários países, incluindo os Estados Unidos.

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Estados Unidos sabiam de plano contra Assad com semanas de antecedência e armaram grupo de rebeldes que participou na ofensiva

A diplomata norte-americana apelou também a um cessar-fogo entre os combatentes pró-turcos e os curdos sírios nos arredores da cidade emblemática de Kobane, no norte da Síria e disse estar a trabalhar para encontrar uma “transição gerida” para o papel das Forças Democráticas Sírias (SDF), uma aliança armada liderada pelos curdos.

“Estamos a trabalhar energicamente, em discussões com as autoridades turcas e com as SDF. Acreditamos que a melhor solução é um cessar-fogo em torno de Kobane”, disse Leaf.

Os curdos, cujo principal apoiante são os Estados Unidos, estabeleceram uma administração autónoma no nordeste da Síria, que tem sido palco de ofensivas da Turquia, que considera as fações curdas como “terroristas” devido às suas ligações ao grupo armado do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

“Discutimos com os nossos parceiros curdos e o que tenho ouvido de forma consistente é que os sírios querem que todas as comunidades sírias se considerem sírias”, afirmou a diplomata norte-americana.

O primeiro contacto entre Washington e as novas autoridades desde o início da guerra civil síria em 2011 foi descrito à agência noticiosa francesa AFP como um “positivo”, por um responsável sírio.

“A reunião teve lugar e foi positiva. E os resultados serão positivos, se Deus quiser”, disse o responsável sírio à AFP, sob condição de anonimato.

Ao diário sírio Al-Watan, um responsável norte-americano descreveu o encontro como “bom e útil”.

Esta delegação norte-americana em Damasco, que incluiu Barbara Leaf, a diplomata americana responsável pelo Médio Oriente, é liderada pelo conselheiro para os assuntos do Médio Oriente, Daniel Rubinstein, e pelo negociador do executivo para a libertação de reféns, Roger Carstens.

Carstens foi encarregado de recolher informações sobre os norte-americanos desaparecidos na Síria, como o jornalista Austin Tice, raptado em agosto de 2012.

Em 14 de dezembro, altos representantes dos Estados Unidos, da França, da Turquia e de oito países árabes, bem como das Nações Unidas e da União Europeia (UE), participaram numa reunião convocada pelo rei jordano Abdullah II para chegar a acordo sobre uma posição unificada relativamente à Síria pós-Bashar al-Assad.

As conversações em Damasco centraram-se nos “princípios acordados pelos Estados Unidos e os seus parceiros em Aqaba” na Jordânia, nomeadamente “o apoio a um processo político inclusivo, liderado pela Síria, que resulte num governo representativo que respeite os direitos de todos os sírios”, referiu na rede social X a embaixada norte-americana na Síria.

“Os acontecimentos regionais, a intenção da Síria de adotar uma política de boa vizinhança e a importância de esforços conjuntos na luta contra o terrorismo” foram igualmente discutidos, segundo a embaixada.

Leaf também se reuniu com membros da sociedade civil em Damasco “para ouvir em primeira mão a sua visão para o futuro do seu país e como os Estados Unidos podem ajudar”, informou também a embaixada.

Os Estados Unidos afirmaram na terça-feira estarem dispostos a levantar as sanções económicas que impuseram ao governo de Assad durante anos.

A delegação irá também solicitar informações sobre o destino dos cidadãos norte-americanos desaparecidos durante o antigo regime.

Os Estados Unidos seguiram a mesma posição da França, da Alemanha, do Reino Unido e da ONU, que já haviam enviado diplomatas a Damasco para estabelecer contactos com as novas autoridades do país, conscientes do risco de fragmentação do país e do ressurgimento do grupo radical Estado Islâmico, que nunca foi completamente erradicado na Síria.

Na quinta-feira, centenas de pessoas manifestaram-se em Damasco a favor da democracia e dos direitos das mulheres no país.

Ao mesmo tempo, milhares de pessoas manifestavam-se em Qamichli, no nordeste do país, em apoio às forças curdas que tentam repelir as ofensivas dos combatentes apoiados pela Turquia, um aliado do novo poder sírio.

A comunidade curda teme perder a autonomia limitada que conquistou desde o início da guerra civil.

A guerra civil fez mais de meio milhão de mortos e provocou uma vaga seis milhões de refugiados.

O antigo ramo sírio da Al-Qaeda, o HTS afirma ter-se afastado do radicalismo islâmico e procura tranquilizar a população numa altura em que, segundo a ONU, o país necessita urgentemente de uma ajuda humanitária