O Festival Guiões, evento que existe desde 2014 para juntar guionistas a produtores cinematográficos, vai fazer “uma pausa nas suas atividades por tempo indeterminado”. Luís Campos, diretor do Guiões, diz ao Observador que o festival “nunca conseguiu um modelo de financiamento que permitisse uma sustentabilidade e uma profissionalização da estrutura organizadora”. “No atual modelo é insustentável continuar”, garante.
“Por seguirmos com a convicção da relevância dos objetivos do festival e por acreditarmos que o Guiões ainda está longe de atingir o seu pleno potencial, tomámos a decisão de fazer um interregno para melhor repensar os caminhos futuros do festival e das formas que estarão ao nosso alcance para melhor contribuir para o contínuo desenvolvimento do cinema e do audiovisual de Língua Portuguesa”, lê-se numa nota publicada no site e nas redes sociais do evento esta segunda-feira. “Não sabemos quando será o regresso do Guiões, mas seguramente voltará mais forte”.
Campos, fundador e diretor criativo do festival que acontece desde 2014, adianta que o evento nem se vai candidatar ao apoio do Instituto do Cinema e do Audiovisual em 2025, que recebe desde a quinta edição, em 2018. “Nem sequer ponderamos a candidatura”, afirma, notando que o apoio é “muito distante” do valor necessário para um “este modelo não é sustentável para a continuidade do festival”.
Ao longo de 10 edições, o Guiões foi organizado pela Matiné, produtora de Luís Campos, constituída por uma “microestrutura, um casal”, cuja “disponibilidade de tempo para organizar um festival mudou”. Entre os motivos para a falta de tempo está o financiamento do ICA que a produtora conseguiu recentemente para a série Djunta Mo, obra de ficção de seis episódios sobre o bairro da Cova da Moura. A série de seis episódios, falada em crioulo cabo-verdiano e língua-portuguesa, é da autoria de Luís Campos e Sara Gomes, e tem Patrícia Moreira como co-argumentista, “curiosamente descoberta pelo Festival Guiões”, nota Campos.
“Definimos como prioridade o que nos permite ter um maior rendimento financeiro. Adoraríamos poder continuar a trabalhar [no Guiões], mas perante a conjuntura tomámos esta decisão”, continua. “Não sabemos por quanto tempo será, mas no atual modelo é insustentável.”
Desde 2014 que o principal objetivo do Guiões — Festival do Roteiro de Língua Portuguesa era estabelecer-se anualmente como ponto de contacto entre os guionistas de língua portuguesa e produtores, realizadores e distribuidores, impulsionados por um problema há muito identificado na indústria: a dificuldade de guionistas em chegar a agentes, produtores, realizadores e investidores.
A última edição do festival foi em setembro de 2024. Pouco depois, em entrevista ao site Comunidade Cultura e Arte, Luís Campos dizia: “Fazendo um balanço de nove anos do Guiões, para os guionistas, tem sido um sucesso tremendo. Dos guionistas profissionais, não tanto. Há alguma resistência ao festival por estranho que me custe”. “Gostava que os guionistas profissionais portugueses participassem no Guiões”, admitia.
Questionado pelo Observador, Campos admite a “falta de identificação de profissionais nacionais com algumas das atividades propostas pelo festival” e que a “esta reflexão é para percebermos porque é que gerou algum afastamento da comunidade profissional”. “Não sendo uma razão para a pausa é um dos motivos”, conclui.