A biofarmacêutica Bial deu mais um passo no exigente processo de produção de um medicamento. Esta terça-feira, a empresa anunciou que um primeiro doente concluiu o período de tratamento da fase 2 do estudo clínico Activate sobre uma terapêutica para pessoas com Parkinson, doença que afeta mais de 10 milhões em todo o mundo.
“O primeiro doente a completar o estudo Activate assinala um marco fundamental no desenvolvimento clínico do BIA 28-6156, assim como na nossa ambição de criar valor que transforme a vida das pessoas que têm doenças neurodegenerativas”, realça, em comunicado, o diretor científico da Bial, Joerg Holenz. Também citado no mesmo comunicado, Joaquim Ferreira, professor de Neurologia e Farmacologia Clínica na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e investigador deste estudo, salienta que “a conclusão do estudo Activate pelo primeiro doente constitui uma etapa significativa”.
O BIA 28-6156 em ensaio clínico visa o tratamento de doentes com doença de Parkinson (DP) com “uma mutação no gene da glucocerebrosidase 1 (GBA1) (DP-GBA)”. A DP é a segunda doença neurodegenerativa mais comum e “5-15% dos doentes (…) tem mutações no gene GBA, tornando-o, numericamente, o fator de risco genético mais importante” para a Parkinson.
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Além disso, “os doentes com DP-GBA tendem a ter, em média, um início mais precoce dos sintomas”, em comparação com os outros, e estes “são mais graves e progridem significativamente mais depressa, levando a um pior prognóstico, o que realça a importância de desenvolver novas soluções que possam ter impacto na progressão da doença”.
Segundo Joaquim Ferreira, esta etapa do estudo “reflete mais um passo no esforço excecional para fazer avançar as opções de tratamento para a doença de Parkinson, em particular para os doentes com mutações GBA1”. “Existe uma enorme expectativa em torno do potencial do BIA 28-6156, não só para a comunidade de doentes com DP-GBA, mas também para a comunidade de doentes de Parkinson em geral”, acrescentou.
Joerg Holenz explica que o BIA 28-6156 “tem um mecanismo de ação específico (…) com a capacidade de retardar a progressão clínica motora”. Este “pode ser o primeiro medicamento a modificar a causa subjacente da doença”, refere o comunicado da Bial.
Foram recrutados para este estudo mais de 230 doentes geneticamente confirmados com DP-GBA em 85 centros na Europa e na América do Norte e os seus dados principais deverão ser publicados em meados de 2026. No entanto, este é ainda um primeiro caso. Agora, segundo sabe o Observador, durante o ano deverão ir terminando os tratamentos dos outros participantes neste ensaio (230) na Europa e nos Estados Unidos. Em 2026 serão publicadas as conclusões do ensaio de fase 2. Faltará depois a fase 3 que é o ensaio final antes da aprovação do medicamento, que permite a sua comercialização.
Em entrevista ao Observador no ano passado, António Portela, CEO da Bial, explicou que a empresa está a procurar dar um passo mais à frente na investigação em relação à doença de Parkinson. “Os medicamentos que existem até hoje tratam a sintomatologia da doença de Parkinson, não curam, não tratam a doença, o que dão é melhor qualidade de vida aos doentes. (…) O que estamos a investigar está a procurar ir um passo mais à frente. Nós somos uma das que está na vanguarda, nomeadamente, para um subtipo da doença de Parkinson, que são os doentes que têm uma mutação genética que se chama GBA1. As pessoas que têm essa mutação genética tendem a desenvolver Parkinson com mais frequência e quando o desenvolvem é mais cedo do que o normal, que é entre os 55 e os 60 anos, e a progressão da doença é duas a quatro vezes mais rápida. E, portanto, há 10 a 15% de doentes de Parkinson que têm esta mutação genética, que não é nada boa de ter. E nós temos um composto que estamos a desenvolver para, não diria que vai curar, acho que ainda estamos longe de poder curar o Parkinson, mas procurar demonstrar que conseguimos atrasar a progressão da doença ou pelo menos estabilizar a progressão da doença”.