O bilionário dono do conglomerado chinês Fosun estará detido, depois de ter sido dado como desaparecido desde a hora de almoço de quinta-feira.
Guo que é presidente não executivo da Fosun estava em Xangai à hora de almoço esta quinta-feira, mas deixou de atender o telefone, adiantou uma fonte executiva do grupo não identificada à Caixin.
Mensagens nas redes sociais chinesas indicaram que Guo Guangchang foi visto sob escolta policial no aeroporto de Xangai, alimentando a especulação que teria sido detido ou levado para interrogatório, no âmbito de investigações sobre corrupção. Ainda não há confirmação de qualquer detenção, mas as ações da Fosun foram suspensas na bolsa de Hong Kong está sexta-feira.
Um mistério e muita especulação
Os executivos seniores da empresa estão a lidar com situações de emergência, terá dito o vice-presidente Liang Xinjun, num chat fechado, citado pela mesma publicação. A notícia de que o Guo estava incontactável desde a hora de almoço foi dada ao início da noite de quinta-feira (hora local) e não suscitou, até às 22.40 (hora de Lisboa), qualquer reação oficial da Fosun.
Vários órgãos internacionais, tal como o Observador, procuraram contactar Chen Bo, diretor do departamento de relações públicas da Fosun, sem sucesso até agora. Dois executivos do grupo citados pelo Post, mas não identificados, garantiram que a notícia da Caixin não era correta e que a empresa teria conseguido contactar Guo Guangchang, mas sem dar mais explicações.
De acordo com a publicação, este “desaparecimento” do líder do maior conglomerado privado chinês surge no contexto de alegadas investigações por suborno. Em agosto, um tribunal chinês considerou que Guo Guangchang manteve ligações inapropriadas com Wang Zongnan, que foi condenado a 18 anos na prisão por ter desviado 195 milhões de yuans em fundos empresariais quando liderava várias sociedades do Estado.
Segundo a revista Caixin, Guo vendeu duas propriedades aos pais de Wang em 2003 por cerca de metade do preço a que estariam avaliadas. Na altura, a Fosun emitiu um comunicado onde negava que o seu presidente tivesse recebido benefícios ilegais da ligação profissional às companhias presididas por Wang, acrescentando que as propriedades foram vendidas a um preço que incorporava o “desconto normal” nestas transações.
A Fosun comprou a seguradora Fidelidade em 2013, que adquiriu a Luz Saúde no ano seguinte. O grupo chinês foi um dos candidatos à compra do Novo Banco.
O “Warren Buffett chinês”
A política de expansão por aquisições de Guo Guangchang tem sido comparada à estratégia do milionário americano Warren Buffett. A Fosun tem usado o balanço das suas empresas de seguros para investir em grandes operações internacionais, que vão desde o setor imobiliário até atividades de lazer. O Club Med e o Cirque du Soleil foram duas das empresas adquiridas.
Os recursos financeiros da Fidelidade têm sido também utilizados para promover as aquisições da Fosun, com a seguradora portuguesa a participar em vários negócios, para além de ter comprado há cerca de um ano cerca de mil milhões de euros em dívida a dez anos da sua acionista.
Mais recentemente, e na sequência da forte queda da bolsa chinesa, Guangchang sinalizou publicamente que a Fosun ia moderar o ímpeto aquisitivo e concentrar-se na consolidação dos negócios já em carteira. Estas declarações coincidiram com o arrefecimento do interesse no Novo Banco. A Fosun foi o último grupo a negociar com o Banco de Portugal tendo-se recusado a aumentar a oferta. A venda foi adiada.
Mas em novembro, o grupo concluiu a aquisição de 80% da Ironshore, seguradora americana, e está em vias de adquirir entre 42% a 53,2% da maior seguradora israelita, a Phoenix, num negócio avalia a empresa em 850 milhões de dólares. .
Guo controla 45,84 % da Fosun Internacional, empresa com sede em Hong Kong, para além de deter participações em outras empresas. Segundo a revista Forbes, Guangchang era o 11º homem mais rico da China em 2015 com uma fortuna avaliada em 6,9 mil milhões de dólares.
A queda acentuada da bolsa chinesa neste verão tem estado também sob investigação das autoridades locais. A corretora do grupo Haitong, sociedade financeira que comprou o BESI (Banco Espírito Santo de Investimento), é um dos alvos destas investigações e já teve as ações suspensas na sequência deste processo.
Com a economia a perder força e o mercado de capitais em forte turbulência, a China tem procurado dar mais credibilidade às suas instituições, reforçando a luta contra a corrupção, em particular nas empresas do Estado. No entanto, a Fosun é um grupo privado.
A confirmar-se uma ação das autoridades, Guo Guandchang é a figura mais internacional do mundo financeiro chinês a ser apanhada pela justiça chinesa.