“Ganda jogatana”. A mensagem chega de Lisboa e não se refere ao Benfica-Rio Ave, mas sim ao jogo do Real Madrid com o Rayo Vallecano. No hotel escolhido pelo Ciudadanos para fazer a noite eleitoral, que fica a muito pouca distância do Santiago Bernabéu, ninguém parece interessado na partida. Em vez de verem o histórico 10-2, os jornalistas que chegaram ao NH Eurobuilding a meio da tarde viram antes os filmes “Rio” e “Do Cabaret para o Convento”. O título que o Ciudadanos queria que o filme desta jornada tivesse era “Com ilusión para La Moncloa”, que é como quem diz para a chefia do governo espanhol. Como apontavam as sondagens, isso acabou por não acontecer e, mais, o partido acabou por ficar muito longe sequer do segundo lugar, quedando-se numa quarta posição que lhe retira peso e poder negocial.
Apesar da desilusão, no hotel as coisas foram montadas de forma a não dar a entender esse sentimento. Quando sai a primeira sondagem à boca das urnas (que acabou por ser bem mais favorável do que o resultado final), a sala está calma. Ainda não entraram os apoiantes do partido e os únicos que parecem verdadeiramente preocupados com os números são os pivots de televisão, que se acotovelavam em cima de um palanque.
Do partido, silêncio. Começam então a chegar os primeiros apoiantes, que prontamente se dirigem às mesas de comes e bebes onde um prato custa 12 euros e uma bebida 4. Entretanto, o DJ parece ter-se visto obrigado a rever a playlist e sucedem-se alguns testes a várias músicas. Por fim, fica a tocar em loop uma música da banda sonora do filme Cloud Atlas, talvez com um ritmo demasiado triunfal para a ocasião.
Quando alguém do partido faz uma primeira avaliação dos resultados das projeções, o público não está grandemente entusiasmado e quase não bate palmas. Contrasta claramente com a mensagem (mas não com o tom) que o vice-presidente do Ciudadanos quis transmitir: a de que o partido cresceu imenso no espaço de um ano.
Pouco depois, alguém da estrutura decide que é preciso arrebitar aquele público, que parece estar mais desanimado do que um adepto do Rayo Vallecano. Por isso, o DJ de serviço recorre aos sempre fiáveis clássicos. Ouve-se “Calling Elvis”, dos Dire Straits enquanto o vice-presidente do partido faz um passeio pela zona de imprensa. Calling o líder é que parece mais difícil. Albert Rivera continua afastado da vista de quem quer que seja. “Ainda não sabemos quando desce, não falámos com ele”, diz a assessora.
Cada deputado ganho é festejado na sala como se da presidência se tratasse. Quando o partido atinge os 40 com que havia de ficar até ao fim da noite, o Dj arrisca e põe a tocar “Uptown Funk”. Funciona: as pessoas já estão mais animadas, continuam a falar de ilusión e veem as coisas de uma perspetiva relativista. Afinal, o Ciudadanos parte de zero para 40 deputados. Não é coisa pouca.
Às 23h, quando parece que as coisas já não vão mudar mais, um assessor do Ciudadanos chega ao pé dos jornalistas e, meio a brincar, meio a sério, anuncia: “Bem, vou-me embora, vou levantar o dinheiro todo que tenho no banco, que estes ladrões vão-nos tirar tudo.”
Passada uma hora, chega finalmente Albert Rivera e empolga o público. Não conseguimos os objetivos que queríamos, no pasa nada, entrámos com estrondo no parlamento e isso já é bem bom. Cala-se o líder, acerta de novo o DJ: uma versão panpipes de “Sound of Silence”, de Simon and Garfunkel.
O silêncio é coisa que não dura. Numa sala nas traseiras, vedada ao olhar dos curiosos, começa a ouvir-se bem alto música dançável. A líder do Ciudadanos na Catalunha, Inès Arrimadas, que durante parte da noite foi tema de conversa entre vários jornalistas, é das primeiras a ir para a fiesta. Albert Rivera fica um bocado a conversar descontraidamente com o pessoal das rádios e dos jornais e depois pede desculpa, tem de ir para a festa. Pues nada, hombre.