Não é bem uma rede social. O Snapchat, criado em 2011 por três estudantes universitários norte-americanos, está na lista das dez aplicações mais descarregadas do iTunes e já conta com a participação ativa de 700 milhões de utilizadores, a maior parte deles jovens. Os pais conhecem-na bem: é aquela ferramenta que coloca os mais novos a fazer caretas para o telemóvel durante meros segundos. Porque é para isso que serve: o utilizador tira uma fotografia ou filma um vídeo e envia aos amigos da rede. Esse conteúdo dura apenas uns segundos e depois desaparece para sempre.

Pouco depois de o Snapchat ser criado, o mundo da Internet sabia que esta “rede social” tinha tudo para dar certo. Mas dava errado: consumia demasiada bateria e ocupava um espaço exagerado no telemóvel. Ainda assim, tornou-se famoso nas escolas em 2012 e esteve no centro das preocupações dos pais e dos professores: o facto de os conteúdos se autodestruírem ao fim de apenas uns minutos levou muitos deles a enviarem fotografias e vídeos sexuais que os expunham na Internet: antes de se apagarem, havia quem os guardasse e partilhasse. Para controlar este perigo, a aplicação criou um modo de avisar o criador das imagens que elas tinham sido guardadas por outra pessoa. E isso ajudou a atenuar as reticências do público.

Em 2013, algumas funcionalidades passaram a ser pagas mas o sucesso do Snapchat continuou: as funções essenciais da aplicação continuaram a ser gratuitas, os princípios que a diferenciavam das redes sociais mantinham-se e os lucros vinham todos das publicidades completamente adaptadas ao formato vertical da aplicação. As marcas perceberam que o Snapchat não era apenas um buraco negro onde os jovens (86% dos utilizadores tem idade inferior a 36 anos) queriam entrar: era também onde eles consumiam informação e, por isso, entraram na onda. E isso é válido também para os políticos que se queriam aproximar dos mais novos: nos Estados Unidos, Bernie Sanders e Hillary Clinton apostaram parte da sua estratégia no Snapchat, onde estão 100 milhões de norte-americanos.

Há três motivos que justificam o sucesso do Snapchat, apesar da má reputação que tinha no início, explica a BBC. Um deles é a garantia de privacidade e foram os próprios inventores que o assumiram: “Tornamos complicado o caminho dos pais para envergonhar os filhos”, disse um deles numa conferência de imprensa em 2015. O registo no Snapchat é muito simples, mas encontrar alguém por lá é mais difícil do que parece: a única maneira de o fazer é conhecer o pseudónimo. Mesmo que introduza toda a informação pessoal de alguém, nunca lhe encontrará o rasto. E isto é importante para um jovem que vê a sua vida privada constantemente exposta.

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O outro motivo é o facto de ser efémero. As imagens ou vídeos só podem ser vistos durante um máximo de 10 segundos. Depois há duas hipóteses de envio: diretamente para os amigos – e neste caso o conteúdo só pode ser visto uma única vez antes de se desvanecer para sempre na rede – ou colocá-lo na opção “A minha história”. Neste último caso, a imagem pode ser consultada pelos amigos sem limite de vezes, mas apenas num prazo de 24 horas. Ao fim de um dia, também desaparece por completo. Ryan Maguire, especialista em redes sociais na Universidade de Princeton, diz que esta característica faz com que os utilizadores se sintam mais livres e mais espontâneos: enviam mais imagens, com menos preocupações estéticas e sem tanta necessidade de reflexão.

O terceiro motivo para o sucesso do Snapchat é que esta aplicação não é uma rede social. O Facebook, o Instagram ou o Twitter obrigam os utilizadores a cuidarem das suas páginas como se fossem jardins: é preciso cultivar uma imagem, dar sinais de vida e partilhar conteúdos com regularidade para que não se esteja esquecido na rede. Como o Snapchat não armazena informação, não obriga os jovens a uma gestão mais cuidada da informação. As partilhas acontecem sempre e exclusivamente quando há pertinência. A interação com os outros acontece genuinamente quando uma das partes está interessada em “abrir o livro”. E ele fecha-se muito depressa.

Entretanto, o Snapchat ainda não parou de evoluir. Criou a página “Discover”, onde várias marcas editoriais mostram conteúdos próprios muito específicos para informar os utilizadores, como acontece com a Vice ou a National Geographic. Outra funcionalidade mais recente é a “Live Stories”, que junta algum do ADN do Periscope para mostrar informações em direto. A gala dos Óscares e os jogos da Super Bowl exploraram bastante essa ferramenta.