Janete Andrade, uma são-tomense de 58 anos, já perdeu dois dos oito filhos devido à malária, doença que afetou toda a sua família e que o Governo de São Tomé e Príncipe espera ver erradicada nos próximos quatro anos.
“Eu já estive no hospital pelo menos oito vezes com os meus filhos. Dois deles morreram e todos já adoeceram com o paludismo”, diz à Lusa, na véspera do Dia Mundial da Malária, que se assinala na segunda-feira.
Quando a família foi toda infetada, residia em Oque-Del-Rei, periferia da capital são-tomense, localidade situada numa das zonas mais endémicas do país e que engloba o Bairro da Liberdade, Campo de Milho e Bairro do Hospital.
Almas, Praia Melão e Pantufo, são também outras localidades, no sul do país, incluídas pelas autoridades sanitárias na lista das zonas endémicas, onde a população tem rejeitado a aplicação da pulverização nas suas residências, o método mais convencional para a erradicação da malária, também conhecida como paludismo, no país.
“Esses locais hoje são tidos como um dos principais focos do paludismo no país justamente porque as pessoas não aceitam as pulverizações”, disse à Lusa um técnico do Centro Nacional de Endemias.
Afonsina Nascimento é outra mãe que perdeu um dos quatro filhos devido à malária.
“Ele morreu com quatro anos, era o meu segundo filho que nesta altura podia estar a completar 12 anos”, explica.
Esta história comum é fácil de encontrar num país onde, segundo fontes sanitárias, uma em cada oito pessoas já adoeceu com malária.
O Governo são-tomense anunciou recentemente a meta de erradicar a doença no prazo de quatro anos.
O anúncio foi feito pela ministra da Saúde, Maria de Jesus Trovoada, durante uma ação de sensibilização da população para a pulverização domiciliar.
Há pouco mais de um ano que as autoridades sanitárias declararam que o país entrou em fase de pré-eliminação da malária.
Têm-se registado nos últimos tempos “alguns casos” da doença, segundo o responsável pelo Programa de Combate ao Paludismo são-tomense, Amilton Nascimento.
O responsável referiu que atualmente estão internadas “algumas dezenas” de pessoas infetadas por malária, mas afirmou que em 2014 e em 2015 não se registaram mortes devido à doença.
“Este ano, registámos um óbito que ainda estamos a estudar se foi ou não de paludismo”, explicou.
O Fundo Global de Luta contra a Sida, Tuberculose e Malária disponibilizou, há pouco mais de dois meses, 5,6 milhões de dólares (4,9 milhões de euros) em forma de subvenção para mais dois anos, até 2017, do programa nacional de combate ao paludismo.
O montante destina-se a programas de pulverização, mobilização comunitária sobre a aplicação de produtos nos domicílios, campanhas de informação e formação dos médicos e auxiliares de saúde.
A ministra da Saúde disse que o país já reduziu a mortalidade por paludismo em mais de 90 por cento.
Nos anos 1980 os doentes com malária ocupavam mais de 60% das camas do principal hospital do país. Foi também o período em que se registou maior número de óbitos devido à doença.
Fonte do Ministério da Saúde são-tomense disse à Lusa que desde que começou o combate à epidemia o Governo e os parceiros já gastaram mais de 100 milhões de dólares (89 milhões de euros).
Se o objetivo do Governo de erradicar a doença em quatro anos for cumprido, poderá haver menos casos como o de Januário Fonseca, que perdeu dois filhos em três meses devido à malária.
“Eram filhos de mães diferentes e morreram no espaço de três meses”, conta.
“São tempos que eu já não quero recordar. Sofri muito com a perda dos meus dois filhos”, diz.
Segundo o mais recente Relatório Mundial da Malária, divulgado pela Organização Mundial de Saúde em setembro de 2015, São Tomé e Príncipe registou uma diminuição de mais de 75% na incidência da malária entre 2000 e 2015. Em 2014 houve um total de 1.754 casos e nenhuma morte.
A malária é uma doença que pode ser fatal, provocada por um parasita transmitido aos humanos por uma picada da fêmea do mosquito Anopheles.
Apesar de ser evitável e curável, e apesar de a taxa de mortalidade ter diminuído 60% nos últimos 15 anos, a malária mata hoje mais de 400 mil pessoas por ano, sobretudo crianças na áfrica subsaariana.
Em 2015, 3,2 mil milhões de pessoas, quase metade da população mundial, estavam em risco de contrair a doença.