O ativista luso-angolano Luaty Beirão, preso juntamente com outros 16 jovens por crimes de “associação de malfeitores e “atos preparatórios de rebelião”, iniciou uma nova greve de fome e também um protesto de nudez e silêncio. O rapper tomou esta decisão depois de ter sido transferido contra a sua vontade para o Hospital Prisão de São Paulo, em Luanda.
“Disseram-nos que ele não quer receber ninguém e que está nu. Não aceitou receber a comida e que está deitado no chão. Não sabemos de mais pormenores”, lê-se num post na conta oficial de Facebook de Luaty Beirão, que cita um “familiar” do rapper.
Em declarações ao Rede Angola, a mulher do rapper, Mónica Almeida, disse que não consegue entrar em contacto com o marido: “Ainda não falei com ele. Ele se recusa. Não quer falar com ninguém. Ele foi levado ao Hospital-Prisão de São Paulo à força. Não sei que força é que eles usaram. Mas ele já tinha dito que não queria ir para a prisão de São Paulo”.
“Em Viana [onde esteve preso até agora], ele já denunciava algumas anomalias, como excessos de prisão preventiva e outras situações menos boas a que os presos eram submetidos. Ele não concordava que tinha que ser levado para um sítio diferente dos outros, talvez com melhores condições, quando a maioria dos presos ainda vive em condições precárias”, acrescentou Mónica Almeida.
À semelhança do que aconteceu com 11 dos 17 ativistas condenados no processo dos “revús”, Luaty Beirão foi transferido para o Hospital Prisão de São Paulo — onde já esteve detido, aquando da sua primeira greve de fome, entre outubro e novembro de 2015 — na quarta-feira, 4 de maio. A transferência foi feita contra a sua vontade, tendo Luaty Beirão defendido que não queria ter melhores condições do que as dos outros prisioneiro. “Eu não quero ir para um sítio só porque supostamente tem melhores condições para nós, quando a maior parte dos reclusos vive encarcerado com condições precárias”, disse o rapper também conhecido como Ikonoklasta, segundo o mesmo post.
Numa entrevista ao Observador em março, poucos dias antes de ser condenado, Luaty Beirão tinha dito que não queria “banalizar” a greve de fome enquanto protesto mas acrescentou que não “poria isso de parte”:
“Para mim, é o último recurso. Quando achamos que não temos uma outra forma de reivindicar os nossos direitos, fazemos isso. Eu não quero banalizar esse tipo de protesto. Não é bom para a saúde nem para o próprio tipo de protesto (…). Neste momento, não sei dizer se voltaria a fazer outra ou não. Não poria isso de parte, mas não sei se faço.”
Ao Observador, Luís Nascimento, um dos advogados responsáveis pela defesa de Luaty Beirão e de outros dos ativistas presos, disse “não ter conhecimento” desta tomada de posição do seu cliente e também referiu que não estava a par da sua transferência para o Hospital Prisão de São Paulo. “Ele é livre para tomar as decisões que toma, não precisa de aconselhamento jurídico para tomar uma decisão destas”, disse.