O Prémio Nobel da Paz de 2014 foi atribuído à paquistanesa Malala Yousafzai e ao indiano Kailash Satyarthi, ativistas dos direitos humanos “pela sua luta contra a opressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação”, justificou a Academia Nobel de Oslo, responsável pela escolha deste prémio.

“Demonstrando grande coragem pessoal, Kailash Satyarthi, mantendo a tradição de Gandhi, encabeçou diversas formas de protestos e manifestações, todas elas pacíficas, focadas na grave exploração de crianças com propósitos financeiros. Ele também contribuiu para o desenvolvimento de convenções internacionais importantes no campo dos direitos humanos”, afirmam os responsáveis da escolha.

“Apesar da sua juventude, Malala Yousafzai já luta há vários anos pelo direito das raparigas à educação e mostrou através do seu exemplo que crianças e jovens podem, também, contribuir para melhorar a sua própria situação. E fê-lo sob condições muito perigosas. Durante a sua luta heroica, tornou-se numa porta-voz fundamental para o direito das raparigas à educação”, escreve a Academia.

No seu testamento, Alfred Nobel referia os contributos para o aumento da “fraternidade entre as nações” como um dos critérios para a atribuição do prémio da Paz – e foi nessa expressão que se escudou a decisão da Academia.

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Malala Yousafzai, de 17 anos, que também já recebeu um Prémio Sakarov (do Parlamento Europeu) é a pessoa mais nova a receber um Prémio Nobel da Paz. Em 2013, depois de ter sobrevivido a uma tentativa de homicídio perpetrada por combatentes talibãs, aos 15 anos, Malala esteve na ONU, onde proferiu um discurso que causou forte impacto.

O atentado à sua vida deu-se precisamente por Malala ser uma defensora do acesso das mulheres à educação, algo que, na zona do Paquistão onde nasceu e cresceu, não era possível quando eram as milícias talibã que controlavam a região. Em 2009, quando tinha apenas 12 anos, o New York Times fez um documentário sobre a sua vida, na sequência da publicação de alguns textos onde expressava os seus pontos de vista, que ainda hoje defende.

No mês passado, quase dois anos decorridos desde que Malala foi atingida por tiros na cabeça e no pescoço, o exército paquistanês anunciou a detenção de dez combatentes talibãs alegadamente responsáveis pela tentativa de homicídio.

Kailash Satyarthi é o responsável por inúmeros projetos ligados à defesa dos direitos das crianças. O mais importante é o Global March Against Child Labour, uma plataforma que agrega Organizações Não-Governamentais de todo mundo que lutam contra o trabalho infantil.

Kailash, originário da Índia, onde é visto como um herói, começou aos 26 anos a dedicar-se a esta questão, conseguindo salvar crianças de fábricas indianas. Atualmente, é reconhecido como uma das pessoas que está na linha da frente contra a exploração infantil mundial.

O ativista indiano já reagiu à decisão da Academia Nobel, mostrando-se “extremamente satisfeito” com o Nobel que agora recebe.

“Extremamente satisfeito. Isto é o reconhecimento da nossa luta pelos direitos das crianças”, disse Kailash.

“Estou grato ao comité Nobel por reconhecerem a situação de milhões de crianças que sofrem nos tempos modernos”

“A honra é para todos os cidadãos da Índia. Continuarei o meu trabalho pelo bem-estar infantil”

Já Malala estava na escola quando os vencedores do Prémio Nobel foram anunciados. Ela e a sua família moram em Birmingham, no Reino Unido, desde que a ativista foi vítima do atentado à sua vida.

As apostas variavam entre um grupo de ativistas japoneses que lutam pela manutenção de uma norma da Constituição que impede o país de se envolver em guerras; Edward Snowden, o polémico ex-espião que revelou segredos de estado norte-americanos; um jornal de oposição russo; o ginecologista congolês Denis Mukwege, pelo seu trabalho com vítimas de abusos sexuais. Malala era também apontada como uma das favoritas.