É certo e sabido que o processo de seleção para o prémio mais aguardado da Academia sueca é ultra-secreto. As candidaturas são guardadas a sete chaves durante mais de 50 anos e pouco ou nada se sabe sobre quem são os candidatos ao Nobel da Paz até se saber, de facto, quem é o Nobel da Paz. Mas uma coisa pelo menos o site oficial do prémio já revelou este ano: houve 278 nomeados, sendo que 47 são organizações. Um número recorde, já que o máximo de candidaturas até hoje tinha sido 259, em 2013.

A especulação é muita, principalmente por este ter sido um ano de guerra e de intenso debate sobre o uso ou não do poderio militar para solucionar conflitos. Mas o pano já começa a abrir-se, aos poucos. Todos os anos, o diretor do Instituto de Pesquisa sobre a Paz de Oslo (PRIO), uma organização norueguesa que monitoriza o comité do Nobel, publica uma pequena lista de nomeados. São apenas cinco nomes, ou seja, uma ínfima parcela do total de candidatos, numa lista que é uma aposta pessoal de Kristian Berg Harpviken, diretor do instituto. São eles:

1. Ativistas japoneses que trabalham para conservar o artigo 9 da Constituição: Grupo de cidadãos que tem lutado pela preservação de uma cláusula constitucional que proíbe o envolvimento do país em guerras. Trata-se do artigo 9, que renuncia ao direito do Japão de se envolver em guerra com outros Estado e de manter forças militares treinadas para a guerra. Com o mundo em guerras de vários tipos e frentes, é este o candidato favorito de Kristian Berg Harpviken.

2. Edward Snowden: Alguns consideram o ex-analista da Agência de Segurança Nacional (NSA) um traidor por ter revelado documentos confidenciais sobre os programas de vigilância massiva e espionagem do governo dos EUA. Outros aplaudem a sua coragem por expor os abusos de poder das agências de inteligência norte-americanas. É a segunda escolha do especialista norueguês, mas o facto de ser considerado um traidor nos EUA – aliado da Noruega – pode ser determinante para não ganhar o Prémio.

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3. Novaya Gazete: Jornal independente de língua russa que continua a desafiar a política de Vladimir Putin, mesmo depois da morte de vários dos seus jornalistas em ataques violentos. Com a Rússia em pleno conflito com a Ucrânia e a comunicação social quase toda aliada à visão do Presidente, alguns vêm esta publicação como a única voz da razão em Moscovo. Este está a ser visto mesmo como um dos mais prováveis vencedores, até pelo seu simbolismo: o ex-presidente russo Mikhail Gorbachev usou o dinheiro que ganhou com o Prémio Nobel da Paz para fundar este jornal na década de 90.

4. Denis MukwegeMédico ginecologista congolês que criou o Hospital Panzi, especializado no tratamento físico e psicológico das mulheres que sobrevivem a maus tratos e abusos sexuais. Tem sido encarado como uma espécie de salvador das vítimas de violência sexual na República Democrática do Congo, onde a violação é usada como arma de guerra. Tem vindo a dedicar grande parte da sua vida a esta causa e é procurado por centenas de mulheres de vários países para receberem tratamento.

5. Malala Yousafzai: É a quinta escolha de Harpviken, mas no ano passado era apontada como a favorita ao prémio. Adolescente paquistanesa que esteve perto da morte depois de ter sido atingida a tiro na cabeça, em 2012, por um talibã. Na altura foi atingida por se manifestar ativamente contra a proibição de as meninas irem à escola na sua região, e depois de ter sobrevivido ao ataque tornou-se o símbolo do triunfo contra a adversidade. Malala tem continuado a sua luta pelo direito das mulheres à educação.

Além deste top 5 do diretor do PRIO, há outros nomes que estão a dominar as casas de apostas. É o caso do Papa Francisco, cuja empatia para com as minorias e os mais desfavorecidos o fez ganhar fãs em todo o mundo, e do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, que muitos dizem ter vindo a usar a sua posição como chefe da mais importante organização mundial para centrar o mundo nos problemas das alterações climáticas, das epidemias, da segurança alimentar e de outros desafios globais de larga escala.

Mas por enquanto é tudo especulação. No ano passado, o prémio foi para a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW), “pelos seus esforços para eliminar as armas químicas”, numa altura em que o regime sírio de Bashar al-Assad era acusado de usar este tipo de armamento contra civis. Em 2012, o vencedor foi novamente uma instituição, a União Europeia, “pelas seis décadas de contribuição para a paz e reconciliação, democracia e direitos humanos, no continente europeu”.

O vencedor de 2014 é conhecido na sexta-feira ao 12h (hora portuguesa).