Pedro Sánchez, líder do PSOE, anunciou esta sexta-feira, em conferência de imprensa, que se o Comité Federal do partido — onde o socialista perdeu a maioria — decidir viabilizar um Governo de Mariano Rajoy através da abstenção, então vai apresentar a demissão do cargo de secretário-geral do partido.
Depois de muita especulação em torno do futuro do socialista, Sánchez aproveitou a declaração aos jornalistas, sem direito a perguntas, para garantir que não vai deixar a liderança do partido. Ao mesmo tempo, no entanto, manteve a posição que vem mantendo desde o início da crise política em Espanha: não vai viabilizar um eventual Governo liderado por Mariano Rajoy. Nem através da abstenção — a chave que poderia ajudar a desbloquear o impasse político em Espanha.
“A reunião do Comité Federal de amanhã [sábado] pode alterar [o sentido de voto] e passar à abstenção para viabilizar o governo Mariano Rajoy. Mas tenho de advertir para o erro que tal representaria. A abstenção daria início à legislatura da chantagem”, começou por dizer Sánchez.
“A abstenção”, continuou o socialista, “seria uma traição aos nossos eleitores. Espanha não merece mais quatro anos de Mariano Rajoy, um presidente que mentiu sistematicamente à sociedade espanhola”.
Sánchez está irredutível e quis deixar isso bem claro ao opositores internos no PSOE. “Se o Comité Federal alterar o voto para a abstenção, não poderei administrar uma decisão que não partilho”, garantiu. Por outras palavras: se o partido se rebelar contra o líder, Sánchez demite-se.
Na quarta-feira, 17 membros do comité executivo do PSOE demitiram-se em protesto contra Pedro Sánchez, fragilizando (ainda mais) a liderança do secretário-geral socialista.
Com o partido desfeito em cacos, como explicava aqui o Observador, os barões socialistas continuam a pressionar o secretário-geral a afastar-se. Para travar a contestação interna, Sánchez propôs eleições primárias em outubro e a convocação de um congresso extraordinário. Mas parece ter pouca margem de manobra para fazer passar essa proposta.
Enquanto isso, os candidatos à sucessão de Sánchez já deixaram as sombras e movem-se agora publicamente. Susana Días, líder regional na Andaluzia, e uma das mais fortes candidatas, ofereceu-se na quinta-feira para “coser, unir, restabelecer a fraternidade”.
Este sábado, os socialista reúnem o Comité Federal, o órgão mais importante entre congressos, para tomar uma decisão em relação ao futuro do partido, sabendo que, se a situação política não for desbloqueada até 31 de outubro, o rei Felipe VI terá de dissolver o parlamento e convocar novas eleições — o que, segundo a Constituição, seriam a 25 de dezembro.