Desde o recente anúncio por parte dos responsáveis do Guia Michelin de que Portugal ia ter “um ano bombástico” nesta matéria que começou a ganhar forma a hipótese de uma chuva de estrelas fora de época — o fenómeno das Perseidas dá-se entre julho e agosto e o programa de talentos homónimo, transmitido pela SIC, acabou em 2000.
É sabido, porém, que nesta área nem sempre o que parece é e que as surpresas acontecem tanto para o bem como para o mal. Daí que o natural entusiasmo de muitos chefs e empresários da área tenha sido, quase sempre, refreado por declarações e atitudes que combinavam a incredulidade natural de São Tomé com uns toques do pragmatismo popularizado por João Pinto, ex-capitão do Futebol Clube do Porto: ver primeiro, crer depois e prognósticos só no final.
Ainda bem que assim foi: chuva a sério, em Girona, esta quarta-feira, só da que molha — essa caiu o dia inteiro. Já no que aos restaurantes portugueses diz respeito houve chuva de estrelas, sim, mas mais miudinha do que se esperava: ao todo foram atribuídas 9 novas estrelas a Portugal, que passou de 14 restaurantes e 17 estrelas — números do ano passado — para 21 restaurantes e 26 estrelas. Mas não só não duplicaram as distinções ou os restaurantes com a dita, como tinham afiançado os responsáveis da publicação, como ainda estamos muito longe dos 203 restaurantes e 249 estrelas dos vizinhos espanhóis. Tudo somado, não foi bombástico, mas foi bem bom.
A maioria das novas estrelas atribuídas não foram, nem são, surpresas de fazer cair o queixo — casos de Alma e Loco, em Lisboa, LAB by Sergi Arola, em Sintra, Antiqvvm, no Porto ou Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira. Outras houve que não eram tão expectáveis: as segundas estrelas de The Yeatman, em Vila Nova de Gaia, e Il Gallo D’Oro, no Funchal ou até, por exemplo, a estrela atribuída ao restaurante William, do hotel Reid’s, também na capital madeirense. Houve, também, quem tivesse recuperado a estrela perdida em 2016, caso do L’AND, do chef Miguel Laffan.
E apesar de este ano nenhum restaurante português ter perdido estrelas Michelin há espaço para duas notas menos positivas: a primeira, que também já constava da maioria das profecias, foi a não atribuição de três estrelas — a distinção máxima do Guia — a qualquer restaurante português. A segunda, o facto de alguns candidatos fortes à primeira estrela, como o Vista, o Esporão ou o Kanazawa, e outros à segunda, casos de Feitoria ou São Gabriel, não terem visto as suas pretensões satisfeitas. Talvez para o ano: quem sabe até possam vir a receber a estrela mais perto de casa — há a possibilidade de a próxima gala de apresentação do Guia acontecer em Portugal.
Lista dos restaurantes premiados (* indica novidade em relação ao ano passado):
1 estrela
- Alma (Lisboa, chef Henrique Sá Pessoa)*
- Antiqvvm (Porto, chef Vítor Matos)*
- Bon Bon (Carvoeiro, chef Rui Silvestre)
- Casa de Chá da Boa Nova (Leça da Palmeira, chef Rui Paula)*
- Eleven (Lisboa, chef Joachim Koerper)
- Feitoria (Lisboa, chef João Rodrigues)
- Fortaleza do Guincho (Cascais, chef Miguel Rocha Vieira)
- Henrique Leis (Almancil, chef Henrique Leis)
- LAB by Sergi Arola (Sintra, chefs Sergi Arola e Milton Anes)*
- L’AND (Montemor-o-Novo, chef Miguel Laffan)*
- Largo do Paço (Amarante, chef André Silva)
- Loco (Lisboa, chef Alexandre Silva)*
- Pedro Lemos (Porto, chef Pedro Lemos)
- São Gabriel (Almancil, chef Leonel Pereira)
- William (Funchal, chefs Luís Pestana e Joachim Koerper)*
- Willie’s (Vilamoura, chef Willie Wurger)
2 estrelas
- Belcanto (Lisboa, chef José Avillez)
- Il Gallo d’Oro (Funchal, chef Benoît Sinthon)*
- Ocean (Alporchinhos, chef Hans Neuner)
- The Yeatman (Vila Nova de Gaia, chef Ricardo Costa)*
- Vila Joya (Albufeira, chef Dieter Koschina)