Às vezes, e por tanto que não queiramos, o relógio está de mal connosco. É o que é. Mais a mais à sexta-feira, final da tarde, quase hora de jantar: o transito adensa-se, buzinadela daqui, outra buzinadela de acolá, pára, arranca, arranca, pára, encontrar um lugar para estacionar à porta do estádio é como encontrar um monge tibetano num concerto de heavy metal, lá se estaciona a três quarteirões do torniquete, entra-se por fim no estádio, não há uma cadeira vaga, afinal há uma mais adiante, entre pisadelas e encontrões lá se alcança, olhos no relvado, depois no relógio, e passou-se meia hora desde que o árbitro apitou para o começo.

É mau? Não necessariamante. Quem foi ao estádio Marcolino de Castro e chegou atrasado todo este tempo ao Feirense-Sporting não perdeu absolutamente nada de importante. Pelo menos não perdeu qualquer remate — nem futebol que deslumbrasse, apenas fizesse bocejar até o mais fervoroso dos adeptos.

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Feirense-Sporting, 2-3

Estádio Marcolino de Castro, em Santa Maria da Feira

Árbitro: Artur Soares Dias

Feirense: Caio; Jean Sony, Flávio, Bruno Nascimento e Kakuba; Babanco (Luís Machado, 74′), Cris, Tiago Silva, Etebo (Luís Rocha, 95′) e Edson (Hugo Seco, 84′); João Silva

Suplentes não utilizados: Miskiewicz, Luís Henrique, Alphonse e Luís Aurélio

Treinador: Nuno Manta

Sporting: Rui Patrício; Piccini (Alan Ruiz, 23’; Doumbia, 85′), Coates, Mathieu e Jonathan Silva; William Carvalho, Battaglia, Gelson Martins e Acuña (Iuri Medeiros, 85′); Bruno Fernandes e Bas Dost

Suplentes não utilizados: Salin, André Pinto, Bruno César e Mattheus

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Coates (62’), Bruno Fernandes (65’), João Silva (69’), Etebo (80′) e Dost (98′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Babanco (12’) e Edson (70’)

Dois minutos após a meia hora alguém se interrogou, quase exclamando, na bancada onde por mero acaso (ou frio) não adormecera: Será possível?! Um remate?! Alan Ruiz desmarcou Gelson à direita, no interior da área, o extremo rematou de trivela para defesa para a frente de Caio, mas… Artur Soares Dias apitou: priiiii, fora-de-jogo. Portanto, ainda zero remates para contar. Volvidos mais dois minutos e, agora sim!, um remate para a estatística. O Sporting corta a bola para fora da área, Cris, de cabeça, volta a colocá-la lá dentro, isola Etebo nas costas dos centrais do Sporting, o nigeriano controla a bola de pé direito, rematando-a em seguida com o esquerdo. Patrício saiu rapidamente da baliza e defendeu para canto. Desta vez Soares Dias não apitou. Mas deveria: Etebo (e não só ele…) estava em fora-de-jogo aquando do passe de Cris.

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O Feirense defendia com todos, o Sporting atacava com todos também. Mas até foi dos da casa a melhor ocasião de golo (e única) em toda a primeira parte. E que disparate foi o de Mathieu. O central era o último na defesa do Sporting, tentou driblar (42′) Edson à entrada da área, perdeu a bola, Edson isolou-se em frente de Rui Patrício, “picou” a bola por cima do guarda-redes, mas esta sairia um palmo ao lado do poste direito. Soares Dias apitaria para intervalo pouco depois — sem mais o que contar até lá.

Jesus deve ter dito das “boas” aos jogadores do Sporting no balneário durante o descanso. Se disse, disse bem. É que logo aos 47′ os visitantes estiveram perto do primeiro golo da tarde que entretanto se fizera noite. Acuña, à esquerda, cruza longo para a área, Bruno Fernandes surge ao segundo poste, salta mais alto do que Kakuka e cabeceia nas “barbas” de Caio. Mais por instinto do que por outra coisa, o guarda-redes consegue defender para lá da barra. Vai dar um belíssima fotografia esta defesa de Caio…

Se alguém se ausentou das bancadas até perto da hora de jogo, para ir à casa-de-banho, para comer um entremeada e molhar a garganta com um cerveja numa roulotte, se se esqueceu, quem sabe?, de pagar o parquímetro a três quarteirões do estádio, também não perdeu muito durante essa ausência. É que só a partir dos 62′ minutos é que o jogo aqueceu. E aqueceu logo com o primeiro golo. Canto de Bruno Fernandes à direita, Coates salta mais alto do que Babanco ao segundo poste, cabeceia, Caio defende para a frente e, na recarga, o central uruguaio encheu o pé direito e “fuzilou”autenticamente o guarda-redes do Feirense. Não tardaria o segundo golo: foi aos 64′. Desta vez Bruno não assistiu; concluiu. Gelson cruza para a área desde a direita, Bruno Nascimento preocupou-se apenas com Dost, deixando Bruno Fernandes sozinho nas suas costas. O médio recebeu a bola e, à saída de Caio, “picou-a” por cima do guarda-redes, tocando esta na barra antes de entrar. Nascimento ainda a tentou cortar à “ninja”, todo no ar e de perna direita em riste, mas não conseguiria.

Tudo decidido? Nem por sombras. O até então defensivo Feirense fez-se à vida — e ao ataque. Aos 69′, e depois de um canto de Tiago Silva à direita, o matulão João Silva saltou com o baixinho (pelo menos por comparação com João, é…) Bruno Fernandes na pequena área, elevou-se mais — na verdade, Bruno nem dos relvado tirou os pés — e bateu Patrício. Acreditava o Feirense no empate ou até na reviravolta — tal como acontecera na época passada, também no Marcolino de Castro. E tanto acreditou que chegou mesmo ao segundo golo. E apenas três toques foram o quanto baste: Edson passou a Etebo, que estava à entrada da área, o nigeriano tocou a bola para a frente, tirou Coates da frente e rematou (80′) em seguida cruzado, sem hipótese de defesa para Patrício.

E agora? Tudo decidido? Quem saiu do estádio antes do final (e o final tardaria: Soares Dias deu seis minutos de tempo extra) não deveria ter saído. É que aos 96′, William despejou uma bola para a entrada da área, Dost amoteceu-a para Coates (que entretanto, na hora do sufoco, havia trocado a defesa pelo ataque) e o central foi agarrado pelo defesa Luís Rocha: penalty! Na conversão, bola para a direita, Caio para a esquerda ,e o Sporting na frente ao cair do pano — e depois deste cair também: venceu. E chegou à quinta vitória consecutiva no campeonato, sendo o líder provisório da prova — só amanhã o Porto joga.