(Voltamos a publicar este texto de 15 de novembro de 2017, atualizado com a notícia da morte do ditador do Zimbabué, Robert Mugabe, aos 95 anos)
Robert Jr. e Chatunga Mugabe, de 25 e 21 anos, seriam um desastre de relações públicas se isso fosse, porventura, um problema numa ditadura como o Zimbabué. Os dois arrastam atrás de si um lastro extenso de polémicas: incidentes diplomáticos, episódios de violência, comportamentos duvidosos, consumo excessivo de drogas e álcool e um estilo de vida faustoso que choca com a realidade de um país que é dos mais pobres do mundo.
A dimensão dos problemas causados pelos filhos de Robert Mugabe — que morreu nesta sexta-feira, 6 de setembro, aos 95 anos — é tão grande que a mãe, Grace, já de si uma figura polémica, terá confessado que os dois se tinham tornado em verdadeiras dores de cabeça para a família. Tanto que terá comentando, ainda em julho, que os filhos estavam possuídos por um “espírito maligno” e que só lhe restava rezar a Deus.
A última grande polémica dos dois chegou mesmo a envolver Grace Mugabe. A até agora primeira-dama do Zimbabué terá agredido violentamente uma modelo, com um recurso a cabo elétrico, depois de a encontrar no quarto de hotel de um dos seus filhos, na África do Sul. O caso seria investigado pelas autoridades sul-africanas e provocou um pequeno incidente diplomático, que obrigou Grace a regressar ao seu país ao abrigo da imunidade diplomática.
Não foi o único incidente desta natureza protagonizado pelos dois. Ainda antes de se fixarem na África do Sul, Robert Jr. e Chatunga viveram juntos num luxuoso condomínio no Dubai, que custaria cerca de 500 mil dólares anuais. Acabariam por deixar o país depois de se terem alegadamente envolvido em problemas com a justiça por causa do consumo de substâncias proibidas e participação em rixas.
Os diferentes perfis que foram sendo traçados sobre os dois compõem um retrato de dois jovens com apetência para a desordem, com queda para algumas das discotecas mais exclusivas do mundo, onde gostam de desfilar ao lado de carros de luxo, super modelos e filhos de diplomatas.
A carreira académica de ambos é pouco mais do que medíocre. Robert Junior chegou a ser publicamente ridicularizado pelo pai por causa das notas que conseguia na escola. Adepto de desporto, o basquetebol esteve sempre à frente dos estudos. Em 2015, chegou a representar a seleção do país no torneio africano de seleções. Mudou-se para o Dubai para estudar arquitetura e, depois de ter sido obrigado a deixar o país, ingressou na Universidade de Joanesburgo.
Segundo a imprensa local, Robert Junior terá ainda tentado ingressar numa academia militar na China, mas terá abandonado o curso porque não gostava do treino rigoroso.
O irmão mais novo, Chatunga, conseguiu um percurso escolar ainda menos brilhante. Aos 16 anos, foi expulso do colégio por mau comportamento e concluiu os estudos em casa. Sem feitos de registo, tornou-se notícia pelos vídeos partilhados nas redes sociais, seja em animados convívios com a entourage — com álcool e fumo à mistura –, seja a despejar uma garrafa de champanhe de 200 dólares num relógio avaliado em 45 mil dólares.
A filha bem comportada do ditador e o (outro) filho problemático de Grace
Bona Mugabe, de 27 anos, não podia ser mais diferente dos dois irmãos mais novos. Aluna exemplar, formou-se em contabilidade na Universidade de Hong Kong e especializou-se em gestão bancária e alta finança na Universidade de Singapura.
Aos 24 anos, casou com Simba Chikore, que se tornaria presidente executivo da companhia aérea do país. De acordo com a imprensa local, Bona terá sido pressionada a casar pela mãe, Grace, que queria concretizar o desejo de Robert Mugabe de ver a filha casada antes de morrer.
Figura discreta — pelo menos muito mais discreta do que Robert Junior e Chutanga –, Bona foi mãe em 2016, dois anos depois de casar. Terá sido o seu momento mais controverso: o facto de ter escolhido um hospital algures entre o Dubai e Singapura — as informações avançadas na altura são conflituantes — para realizar o parto foi entendido pelos críticos do regime como um sinal de desconfiança da família Mugabe nos serviços de saúde do país — tal como a filha, Robert Mugabe procurou várias vezes Singapura para receber tratamento hospitalar.
Os problemas no núcleo familiar mais próximo de Robert Mugabe não se esgotam com os seus dois filhos. O enteado Russell Goreraza, de um anterior casamento de Grace Mugabe com Stanley Goreraza, um antigo piloto da Força Aérea, tem estado envolvido numa série de escândalos, incluindo uma condenação por homicídio, depois de ter atropelado um pedestre. Acabaria por ser condenado a pagar uma multa de 800 dólares.
Com 31 anos, Goreraza foi recentemente notícia depois de ter partilhado um vídeo onde surgia a celebrar o facto de ter comprado dois Rolls Royce por mais de 800 mil dólares.