O economista belga André Sapir disse esperar que o resultado das eleições europeias tenha enviado uma mensagem clara de que as coisas precisam de mudar e que tem de haver uma definição de prioridades nos assuntos a tratar na Europa.

“Espero que o voto tenha enviado uma mensagem clara de que algumas coisas precisam de mudar”, sublinhou o antigo conselheiro de Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia, adiantando que não é possível “ter tantos assuntos na Europa” e que “todos os líderes políticos vão precisar de levar estes resultados muito a sério”.

Para o economista do Bruegel, um ‘think tank’ com sede em Bruxelas, os líderes europeus precisam agora de definir uma abordagem em dois sentidos para responder à insatisfação dos eleitores.

“Precisamos de uma estratégia de crescimento concreta”.

À cabeça está a necessidade de “haver uma estratégia europeia de crescimento”, porque “com um crescimento tão fraco não são criados empregos”, defendeu o economista que assinou um relatório que foi entregue à Comissão Europeia em 2004, intitulado ‘Uma Agenda para o Crescimento Europeu’.

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Sapir considerou que, apesar de este ser um tema sem solução fácil, é preciso haver mais do que palavras: “Precisamos de uma estratégia de crescimento concreta”.

“Os eleitores estão muito insatisfeitos com a situação e, acima de tudo, estão insatisfeitos com a situação do desemprego”, lembrou o economista. A outra prioridade apontada por este responsável é a necessidade de algumas reformas na forma como a Europa está a funcionar.

“Acho que, provavelmente, precisamos de discutir problemas de competências. Talvez a Europa esteja a fazer algumas coisas em algumas áreas que já não devia fazer”, realçou.

 “Bruxelas está a meter-se de mais em vários assuntos, está a ser talvez demasiado intrusiva, a proibir-nos de fazer isto ou a obrigar-nos a fazer aquilo”.

André Sapir exemplificou: “Bruxelas está a meter-se de mais em vários assuntos, está a ser talvez demasiado intrusiva, a proibir-nos de fazer isto ou a obrigar-nos a fazer aquilo”.

Ou seja, explicou André Sapir, “talvez a União Europeia devesse ser um pouco mais leve em algumas áreas”, mas, em contrapartida, devia aprofundar áreas relacionadas com a zona euro.

“Temos uma união monetária, temos um banco central forte que consegue produzir resultados e fazê-lo rapidamente, mas não temos uma união económica”, sublinhou o economista. André Sapir considerou ainda positivo que se esteja a construir uma união bancária, mas disse que é preciso fazer mais.

“É um tema difícil, mas acho que temos de discutir seriamente em que áreas devemos ter uma união orçamental”.

“Talvez precisemos de alguma união orçamental. É um tema difícil, mas acho que temos de discutir seriamente em que áreas devemos ter uma união orçamental, não se trata de uma união orçamental total”.

André Sapir esteve em Portugal para participar no ‘ECB Forum on Central Banking’, organizado pelo Banco Central Europeu e que decorreu em Sintra nos últimos dias.

As eleições europeias de domingo revelaram um crescimento dos partidos de extrema-direita e eurocéticos. Em França, a Frente Nacional de Marine Le Pen foi o partido mais votado, com cerca de 25% dos votos, e outra formação eurocética que venceu as europeias foi o Partido Independentista do Reino Unido (UKIP), de Nigel Farage, que conseguiu 30% da representação do país.