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A goleada de um Jackson a sofrer contra a equipa em sofrimento (a crónica do Portimonense-Benfica)

Este artigo tem mais de 5 anos

Rúben Dias e Jardel fizeram dois autogolos mas foi do coletivo do Benfica que veio o tiro no pé para a derrota com um Portimonense (2-0) que joga como o exemplo que tem na frente: Jackson Martínez.

Jogadores do Portimonense em festa, Grimaldo de mãos na cabeça: Benfica caiu no Algarve com dois autogolos
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Jogadores do Portimonense em festa, Grimaldo de mãos na cabeça: Benfica caiu no Algarve com dois autogolos

LUIS FORRA/LUSA

Jogadores do Portimonense em festa, Grimaldo de mãos na cabeça: Benfica caiu no Algarve com dois autogolos

LUIS FORRA/LUSA

Ano novo, vida nova – ao contrário do que é normal antes de um jogo onde entre um “grande”, o grande destaque do dia acabou por ser um jogador da “outra” equipa, neste caso Jackson Martínez e uma entrevista que saltou fronteiras e foi citada um pouco por todo o mundo. Ano novo, vida velha – apesar das alterações que o Benfica vai fazendo na sua equipa quando apanha jogos a contar para a Taça de Portugal ou para a Taça da Liga, volta o Campeonato e regressa a base do costume que tem sido consolidada nas últimas semanas, com o sistema de 4x3x3 que “nasceu” por causa de um jogador mas ganhou vida sem ele. Mas o que tem a ver uma entrevista e um onze a ver com o Portimonense-Benfica? Basicamente, tudo. E mais alguma coisa.

https://observador.pt/2019/01/02/portimonense-benfica-encarnados-querem-abrir-o-ano-com-oitava-vitoria-consecutiva/

A conversa do avançado colombiano é o mais cruel e comovente testemunho de alguém que nasceu destinado para uma coisa mas teima em fintar os obstáculos sem fim que se tendem a cruzar nesse caminho nos últimos anos. Depois da passagem de sucesso pelo FC Porto, Jackson Martínez andou por Espanha (Atl. Madrid) e pela China (Guangzhou Evergrande) mas o rasto foi-se perdendo pelos seus problemas físicos e não pela distância no mapa futebolístico. “As pessoas olham apenas para os jogos e para as redes sociais, não dispõem de todos os dados necessários para avaliarem o que tenho passado. Foi um calvário que ameaçou levar-me o sonho de regressar à competição”, contou o internacional em entrevista ao Record.

“Para mim, a maior dor seria não voltar a jogar. Ter de encerrar a carreira sem voltar a viver o ambiente da competição, sem voltar a festejar golos, vitórias. Recusei desistir. Decidi lutar contra a dor e acreditar que ainda posso ser útil e fazer o que mais gosto (…) Quase todas as noites, por volta das 3h ou 4h da manhã, o meu sonho é interrompido devido a algum incómodo no pé. Depois de alguns minutos passa e volto a dormir. Para treinar-me também não é fácil, não posso fazê-lo dois ou três dias seguidos. Queria muito trabalhar normalmente todos os dias mas os médicos e o fisioterapeuta esclareceram-me que isso era impossível e sigo um programa específico. As dores não desapareceram mas diminuíram”, confidenciou. Jackson é isto: um guerreiro predestinado para estar entre os melhores, que recusar virar as costas à luta e que, fazendo mais ou menos, não consegue deixar de fazer bem. Também o Portimonense de Folha é assim – pode perder mais vezes do que ganha mas recusa abdicar do seu futebol apoiado, de qualidade, com velocidade e prefere o “sacrifício” da qualidade à “ditadura” dos pontos.

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Ficha de jogo

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Portimonense-Benfica, 2-0

15.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal de Portimão

Árbitro: Manuel Mota (AF Braga)

Portimonense: Ricardo Ferreira, Vítor Tormenta, Rúben Ferreira, Jadson, Wilson Manafá; Ewerton, Pedro Sá, Dener; Nakajima (Wellington, 90′), Paulinho (Lucas Fernandes, 76′) e Jackson Martínez (João Carlos, 86′)

Suplentes não utilizados: Leo, Hackman, Marcel e Felipe Macedo

Treinador: António Folha

Benfica: Vlachodimos; André Almeida (João Félix, 80′), Jardel, Rúben Dias, Grimaldo; Fejsa, Gedson Fernandes (Seferovic, 46′), Pizzi; Zivkovic, Cervi (Salvio, 46′) e Jonas

Suplentes não utilizados: Svilar, Samaris, Gabriel e Krovinovic

Treinador: Rui Vitória

Golos: Rúben Dias (12′, p.b.) e Jardel (38′, p.b.)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Cervi (22′), Paulinho (63′), Jonas (63′) e Jackson Martínez (79′); cartão vermelho a Jonas (72′)

Já as opções iniciais de Rui Vitória mostraram o patamar onde está hoje o Benfica. Que não é bom nem mau, não é melhor nem pior, representa apenas o que é. De uma forma inteligente, o técnico fez sobrepor a tudo (e todos) o critério da fiabilidade, tem ali o seu onze e não mexe nele – até porque, verdade seja dita, não são muitos aqueles que no plantel conseguem aproveitar bem as oportunidades que surgem nos jogos das taças, havendo talvez uma exceção chamada Alfa Semedo que tem como único pecado jogar na posição de Fejsa. Ainda assim, a carreira depois da goleada sofrida em Munique deu uma falsa ideia de uma equipa em clara retoma que foi de forma precipitada colocada de novo no patamar de reconquista. Sem sentido.

No final do jogo, por sinal o primeiro de sempre que o Portimonense conseguiu ganhar em casa ao Benfica na Primeira Liga à 16.ª tentativa, Rui Vitória falou num jogo atípico. Tem razão. É atípico ver um encontro, dos encarnados ou de qualquer equipa, com dois autogolos a decidir. E é atípico chegar ao intervalo com mais golos sofridos do que os remates enquadrados pelo adversário. Mas também é atípico ver dois centrais com erros evitáveis a prejudicar uma equipa candidata ao título. E é atípico ver tantos elementos do meio-campo para a frente com tão pouca qualidade na abordagem ao último terço. Em resumo, o atípico foi mesmo a goleada ao Sp. Braga e não as quatro vitórias sofríveis pela margem mínima que lhe antecederam. Porque quando as mais valias individuais falham, o coletivo quebra – essa é a grande diferença em relação ao Benfica de Rui Vitória desta época em relação às três anteriores, onde quando as individualidades não apareciam, o coletivo conseguia resgatá-las. E assim se vai arrastando uma equipa que parece muitas vezes em sofrimento, perdida numa ideia de jogo na qual pouco acredita.

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Portimonense-Benfica em vídeo]

O encontro começou de uma forma atípica para o que se pensava e até “anormal” para a tendência dos últimos encontros. Sim, é verdade que o Portimonense atravessava o melhor momento da época com dois triunfos consecutivos, mas também o Benfica vinha em crescendo – pelo menos para o Campeonato, sendo que no último encontro tinha goleado o Sp. Braga na Luz. A partida podia estar a ser jogada sem balizas mas eram os algarvios que conseguiam ter mais posse de qualidade, colocando muitas vezes todos os jogadores encarnados atrás da linha da bola. Na primeira aproximação com mais objetividade ao último terço surgiu o primeiro golo. Ou autogolo (mais abaixo já perceberá porquê): Wilson Manafá conseguiu ganhar a Zivkovic, foi lá à frente cruzar para a área e Rúben Dias, na tentativa de antecipação e com Vlachodimos nas suas costas, desviou para a própria baliza (12′), naquele que foi o seu segundo autogolo como sénior depois de um jogo na equipa B com o FC Porto.

Mais do que um prémio para o que o Portimonense tinha feito, aquele desvio do internacional português castigou sobretudo o que o Benfica não tinha conseguido fazer. Em alguns momentos, parecia haver alguma vontade dos encarnados em mudar o rumo dos acontecimentos mas o que deveria ser regra tornou-se sempre uma exceção e não fossem alguns lampejos de Zivkovic (o melhor nesta fase da temporada) e Jonas (um dos melhores por inerência) e a noite podia quase roçar a nulidade. O brasileiro ainda conseguiu inventar uma jogada na área para remate à figura de Ricardo Ferreira (18′) e Jardel aproveitou uma insistência do sérvio na esquerda para desviar de cabeça à figura do guarda-redes visitado (27′) mas as carências eram demasiado evidentes para se catalogar de “reação” ao golo sofrido. E pelo meio ainda houve um desvio de Jackson Martínez na área que saiu para a zona de Vlachodimos mas que poderia ter encontrado um outro destino (19′).

O Portimonense não estava propriamente a fazer a sua melhor exibição mas estava a ser Portimonense, fiel aos seus princípios de jogo e a fazer destacar as suas individualidades através de um movimento coletivo forte. Já o Benfica estava a jogar como o pior Benfica: laterais sem fazer a diferença na frente e a somarem perdas de bola; médios sem a mínima capacidade de construção ou verticalidade; Jonas demasiadas vezes isolado na frente para dois e três adversários. Por muita capacidade de luta que pudesse ter, e que teve, o brasileiro lutava sozinho contra um destino traçado e nem de bola parada conseguia inverter o marasmo; já Jackson Martínez, que ficou mais condicionado depois do toque sofrido no lance do 1-0, deu também a cara à luta, teve a coragem de meter o pé onde só os mais corajosos meteriam e desviou de Vlachodimos após passe de Nakajima antes de Jardel falhar o tempo de salto e desviar de forma inesperada de cabeça para a própria baliza (38′).

Desde 1947 que o Benfica não tinha dois autogolos no mesmo jogo e esse prenúncio já não era bom porque as águias acabaram por perder esse encontro com o Atlético por 3-2. Nos últimos 35 jogos, o Benfica nunca tinha recuperado de uma desvantagem de dois ou mais golos – outro prenúncio, ainda pior. O Portimonense, que nunca tinha ganho em casa aos encarnados a contar para o Campeonato, saíam pela primeira vez em vantagem ao intervalo – e já começavam a ser prenúncios a mais.

Rui Vitória tentou ao intervalo: tirou Gedson Fernandes e lançou Seferovic para jogar ao lado de Jonas na frente, trocou Cervi por Salvio para dar outra qualidade ao jogo pelas laterais. E até houve a ideia de uma ligeira melhoria, nem tanto a nível de criação de oportunidades mas mais na capacidade que a equipa ganhou em combinar no último terço, encontrar espaços onde eles nunca existiram e empurrar as linhas dos algarvios mais para trás, com essa vantagem indireta de ficar menos exposto às saídas mais rápidas em transição do adversário. Grimaldo, após uma boa desmarcação de Pizzi, ainda ficou perto de reduzir com um misto cruzamento/remate desviado num defesa contrário que quase enganou Ricardo Ferreira (54′). Mas quem estaria a esfregar as mãos de entusiasmo percebeu logo ao que vinha na jogada seguinte, quando o Portimonense aproveitou um canto do Benfica para ir ao outro lado e colocar Manafá na cara de Vlachodimos, que foi evitando uma derrota mais pesada (55′). Mais tarde, foi Paulinho a obrigar o grego nascido na Alemanha a uma fabulosa intervenção para canto (68′).

O cenário já estava complicado. A desinspiração em nada ajudava. Aquilo que os centrais do Portimonense conseguiam fazer e que os do Benfica andaram sempre às aranhas para imitar deitavam tudo por terra. E a machadada final acabou por surgir ainda a 18 minutos do fim, quando Jonas carregou Ricardo Ferreira após cruzamento da esquerda e viu vermelho direto. O tipo de admoestação pela entrada dura do brasileiro ainda pode ser discutível mas a sua saída de jogo era sempre inevitável, por ter já um amarelo desnecessário numa “picardia” com Paulinho. Com 11 estava difícil, com dez passou a ser impossível e foram de novo os algarvios a ficarem perto do golo, mais uma vez evitado por Vlachodimos. À entrada da segunda parte, o Benfica tinha dois golos de desvantagem; acabou o jogo com um remate enquadrado nos últimos 45 minutos. Se dúvidas ainda existissem sobre o que se passou esta noite em Portimão, basta um número para se perceber aquilo que muitos há muito já tinham percebido.

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