A caminho dos quarenta países como membros fundadores, termina hoje o prazo dado pela China para que os países manifestem a sua intenção de se juntarem ao Banco Asiático de Desenvolvimento em Infraestruturas. A grande baixa para já é o Japão, depois do previsível afastamento dos Estados Unidos, mas há vários países europeus, como o Reino Unido, que decidiram aderir, apesar de instados a recusar pelos EUA.

Depois de vários anos a tentar ganhar mais peso nas instituições internacionais de desenvolvimento, em especial do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, o presidente da China anunciou em outubro de 2013 a iniciativa de criar mais um banco de desenvolvimento. A ideia era criar um banco que “promova a interligação e a integração económica na região” e “cooperar com os bancos multilaterais de desenvolvimento”, dos quais são exemplo o Banco Europeu de Investimento ou o Banco Asiático de Desenvolvimento, este último liderado pelo Japão e Estados Unidos.

Depois deste anúncio, seguiram-se discussões e consultas para desenvolver os princípios que servirão de base ao desenvolvimento do AIIB (sigla em inglês). No final de outubro, 22 países asiáticos assinaram um memorando de entendimento para a criação do banco, que terá sede em Pequim, estando entre eles, para além da China, o Bangladesh, Brunei, Camboja, Índia, Cazaquistão, Kuwait, Laos, Malásia, Mongólia, Myanmar, Nepal, Omã, Paquistão, Filipinas, Qatar, Singapura, Sri Lanka, Tailândia, Uzbequistão e o Vietname.

A China estipulou também um limite aos interessados para se manifestarem: quem quiser juntar-se como membro fundador do AIIB, tem de o dizer publicamente até dia 31 de março, hoje.

O banco, que pretende impulsionar o desenvolvimento económico na região, diz também ter como grandes pretensões ser uma estrutura pequena, com uma equipa também pequena, mas eficiente e de grande qualidade, com “tolerância zero para a corrupção” e construída para “respeitar o ambiente”.

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A instituição começará com 50 mil milhões de dólares de capital e deverá subir até aos 100 mil milhões de dólares, ainda assim parco quando comparado com o do Banco Mundial, a instituição com mais membros em todo o mundo (188), com cerca de 500 mil milhões de dólares, e do Banco Asiático de Desenvolvimento, que tem cerca de 160 mil milhões de dólares de capital.

No entanto, duas grandes questões surgem já. A primeira é política. A China quer ganhar influência na região e um peso que não tem noutras instituições, como é o caso do FMI e do Banco Mundial. A prometida, e aprovada, reforma das quotas do FMI de 2010 dava mais poder à China e outras economias emergentes nos destinos do Fundo, mas os Estados Unidos estão desde então a adiar a aprovação no Congresso dessa reforma. A criação de uma instituição nova, com a China ao leme, dá-lhe um peso que não obteria nas restantes instituições, mais considerando que é uma iniciativa chinesa e que o AIIB terá sede em Pequim (o Banco Mundial e o FMI têm a sua sede em Washington).

Do outro lado, os Estados Unidos. Os receios em relação à perda da sua própria influência na região e as preocupações em relação à governação da instituição levaram os EUA, segundo o Wall Street Journal, a pedir aos seus parceiros para que não entrassem como membros fundadores nesta instituição, numa tentativa de isolar o AIIB a alguns países asiático. O tiro saiu-lhe pela culatra com a decisão do Reino Unido de participar.

A decisão do Reino Unido abriu a porta para vários países europeus, muitos deles tradicionais aliados dos EUA, a entrarem, como a França, a Itália e a Alemanha, e outros não europeus, como a Arábia Saudita e a Austrália.

Oficialmente, o discurso é de boas-vindas, apesar de recusar participar: “Os Estados Unidos veriam com bons olhos novas instituições multilaterais que fortaleçam a nossa arquitetura financeira internacional”, segundo Nathan Sheets, conselheiro especial do secretário de Estado do Tesouro dos EUA.

Ainda assim, os EUA conseguiram que o Japão não aderisse à instituição, Japão que é um dos grandes aliados dos EUA na região e a terceira maior economia do mundo, ultrapassado há poucos anos pela China.

As preocupações do Japão são, também em parte, as dos Estados Unidos. Quando recusou, hoje, fazer parte do grupo de fundadores, o Governo japonês deixou um alerta para uma eventual falta de transparência nas operações: “Não temos outra opção senão ser prudentes sobre a nossa participação (no AIIB)”, disse, em declarações citadas pela agência Kyodo, o ministro das Finanças, Taro Aso.

Os EUA, preocupados com a possibilidade de esta instituição levar à acumulação excessiva de dívida, à violação de direitos humanos (uma longa luta ente EUA e China) e riscos para o ambiente, consideram no entanto que podem mitigar os riscos que podem estar associados a esta nova instituição com a colaboração em projetos de outros bancos de desenvolvimento, como Banco Mundial ou o Banco Asiático de Desenvolvimento.

O presidente do Banco Mundial já disse, aliás, que a instituição que lidera está em conversações com a nova instituição, para estabelecer bases para futuros trabalhos conjuntos.

As dúvidas dos EUA rondam também em torno da forma de governação da instituição. O Governo norte-americano receia que com a China à frente do AIIB, esta instituição pode ser governada de forma semelhante a muitas das práticas obscuras que acusa a China de incutir em muitas das suas empresas. “A nossa preocupação sempre foi… será que vai aderir ao tipo de padrões elevados que as instituições financeiras internacionais desenvolveram?”, disse ainda esta semana o secretário de Estado do Tesouro dos EUA, Jacob Lew, no Congresso.

Segundo a estrutura que já existe do AIIB, a ideia passará por desenvolver infraestruturas e outros setores produtivos em países asiáticos, em setores como a energia, os transportes, as telecomunicações, o desenvolvimento da agricultura e de infraestruturas em áreas rurais, e outras estruturas mais básicas, como no caso do fornecimento de água e esgotos.

Na sua manifestação de interesses inicial, o banco de desenvolvimento diz também que quer complementar e cooperar com as instituições multilaterais que já existem, e que está aberta a todos os que queiram participar e contribuir para o desenvolvimento das infraestruturas na Ásia.

Ainda assim, a Coreia do Norte, longa aliada da China, terá visto recusado o seu pedido de entrada na instituição (que era uma das preocupações dos EUA e de outros países ocidentais), alegadamente por não ter informação económica fiável.