1. Apanhe o barco e vá ver baleias
Aviso à navegação: pode não chegar a vê-las e o barco de fibra por vezes salta mais do que os golfinhos que, esses sim, aparecem quase sempre para cumprimentar os curiosos. Mas se abraçar a aventura, vai ter uma experiência para nunca mais esquecer (além de um certificado com as espécies avistadas, que pode emoldurar como um diploma). Há vários passeios para observação de cetáceos a operar a partir da marginal de Ponta Delgada, entre os quais o da Picos de Aventura, no Hotel Marina Atlântico. Hugo Mendes, biólogo marinho, é um dos guias que seguem nas embarcações, e garante: “De 84 espécies conhecidas no mundo, 24 espécies de cetáceos podem ser vistas nos Açores, da baleia azul (mais habitual na primavera) aos cachalotes e roazes, residentes todo o ano.” A empresa tem vários vigias espalhados pelos pontos altos da costa que vão comunicando com o barco para indicar onde andam os animais. Se tiver sorte e avistar cachalotes, pode apanhar um autêntico postal dos Açores — a célebre cauda fora do mar. “Costumamos dizer aos nossos clientes que é o momento da fotografia mas também do adeus, porque significa que o cachalote está a arquear a cauda para fazer um mergulho profundo”, diz o biólogo. “Descem para caçar e ficam lá em baixo cerca de 50 minutos.” Preço: 55€ duas horas e meia (40€ dos 4 aos 11 anos).
2. Veja como se fazem as Cerâmicas Vieira
A porta está aberta e lá dentro ainda giram as velhas rodas de oleiro e as louças são pintadas por mãos que não tremem. É assim desde 1862, ano em que foram fundadas as Cerâmicas Vieira, também conhecidas como a Vista Alegre dos Açores. À beira da estrada, na Lagoa, a fábrica atrai turistas com os seus pombos de loiça nos telhados, e é possível visitar meia dúzia de salas, da olaria à vidragem, passando pela pintura e, claro, a loja. António Vieira, 84 anos, é a quarta geração à frente da marca. Se surpreender algum dos oito funcionários a partir pratos no quintal, não pense que é terapia depois de uma discussão com o patrão: é uma triagem que separa as louças que saem rachadas do forno. Rua das Alminhas, 10/12, Lagoa.
3. Abra a boca numa vista digna de rei
Paisagens bonitas não faltam nos Açores, e até os olhos mais míopes apanham quadros que conseguem juntar terra, mar, montanhas, crateras, água e vegetação na mesma moldura. Uma das melhores vistas é a da Lagoa das Sete Cidades, o maior reservatório de água doce do arquipélago, conhecido pelas lagoas gémeas que, diz a lenda, nasceram das lágrimas de um pastor e de uma princesa que viviam um amor proibido. Devido aos reflexos, uma é azul e outra verde, e há várias atividades que se podem fazer no local, da canoagem aos percursos pedestres, passando pelo stand up paddle, a observação de aves e os passeios todo o terreno. Para ter uma panorâmica geral de uma das sete maravilhas naturais de Portugal, suba até à Vista do Rei, um dos cinco miradouros da lagoa, assim batizado depois de uma visita de D. Carlos I, que reconheceu o que via como digno da realeza.
4. Seja caloiro na Caloura
Muitas localidades denunciam o caráter vulcânico dos Açores, das Furnas ao Caldeirão do Corvo, passando pela Caldeira Velha e a Lagoa do Fogo. A Caloura é mais uma, sendo que o nome vem de “zona onde se acumula o calor”. Para aproveitar o microclima da região com o metro quadrado mais caro de São Miguel — uma espécie de Estoril açoriano — uma boa opção é o Caloura Hotel Resort, com acesso direto ao mar e às piscinas naturais de rocha vulcânica. Também tem um ótimo restaurante para comer peixe grelhado no pequeno porto de pescadores, o Bar Esplanada Porto da Caloura, mas prepare-se para as filas no verão.
5. Mergulhe do alto do ilhéu de Vila Franca
Mesmo numa ilha, há quem tire o dia para ir a um ilhéu. Os motivos são uma lagoa secreta e um ótimo lugar para mergulhar, escolhido pelo Red Bull Cliff Diving para as provas de salto para a água no final de julho. O ilhéu de Vila Franca é um vestígio de um cone vulcânico e, embora não tenha areia, é um dos locais de eleição dos açorianos que apanham o barco que faz a travessia (3€) e se sentam nos rochedos a ver as crianças nadar na lagoa salgada que se esconde no meio.
6. Prove o famoso cozido das Furnas
“Se precisasse de fazer um estudo de quantas pessoas visitam São Miguel, bastava sentar-me com um banquinho à entrada da Lagoa das Furnas”, diz Rui Amen, do Turismo dos Açores. O mesmo banquinho pode dar jeito para aguardar por aquele que é outro dos ex-líbris da ilha: o cozido feito com o calor da terra, em caldeiras guardadas por profissionais como João Pacheco, de 58 anos, que vai para o local às quatro da manhã tomar conta dos buracos e dos cerca de 15 panelões diários. Desde março, paga-se três euros para usar um dos buracos e 50 cêntimos para visitar o local, para além do estacionamento. Mas como o dito cozido demora pelo menos seis horas até ficar pronto, mais vale deixar o assunto por conta de um restaurante, reservando previamente. Há vários que servem a especialidade no centro das Furnas, recolhida com uma carrinha no vale. É o caso do Terra Nostra Garden Hotel, um hotel dos anos 30 que foi recuperado recentemente e que o serve num menu que fica a 24 euros por pessoa.
7. Tome banho num tanque castanho e com água a ferver
Ir ao Parque Terra Nostra (Rua Pe. José Jacinto Botelho, Furnas) é não só poder ver mais de 350 variedades de camélias e plantas dentro de gaiolas — são sicas, valiosas e por isso alvo de contrabando –, mas ainda nadar num enorme tanque ao ar livre. A água é castanha mas isso explica-se pelas suas propriedades termais, ricas em ferro. Convém levar um fato de banho pelo qual não tenha grande apreço e não ser encalorado: os 12 mil litros que saem por hora dos jatos podem chegar aos 42 graus. Preços: 5€ (adultos), 2,50€ (crianças); grátis para os hóspedes do Terra Nostra Garden Hotel, 20% de desconto para os clientes do restaurante.
8. Beba água azeda
Pode não parecer um grande programa mas ir às Furnas e não ver as nascentes é como visitar as Berlengas e não sair do barco. A localidade está cheia de evidências secundárias do vulcanismo, das fumarolas às águas termais, passando pelo cheiro a enxofre e pelas caldeiras aquecidas por magma vulcânico que parecem jacuzzis naturais e onde os locais aproveitam para cozer maçarocas de milho e até ovos. Há 28 tipos de águas minero-medicinais na estância termal, e isto significa que lado a lado há fontes de água fria e morna, lisa ou naturalmente gaseificada. Os açorianos recolhem-nas em garrafões com o fundo pintado de cor de laranja pelo ferro, e há uma fonte de água azeda muito popular para curar a ressaca.
9. Descubra a arte urbana espalhada pela ilha
Do stencil pequeno às grandes fachadas, a street art tem vindo a colorir as ruas de São Miguel graças ao Walk & Talk, um festival de arte pública que se realiza todos os verões desde 2011 a partir de residências artísticas que criam ligações entre as obras e o local. Nomes como Vhils, Mark Jenkins, MAR, Mariana a Miserável, Paulo Arraiano e Eime podem ser vistos um pouco por toda a ilha, do centro de Ponta Delgada à vila de Rabo de Peixe.
10. Troque o pão pelo bolo lêvedo
Não vale a pena alimentar a rivalidade entre os Açores e a Madeira dizendo que o bolo lêvedo é uma espécie de bolo do caco. O que vale a pena é comê-lo a todas as horas do dia e passar pela casa Glória Moniz (Rua Victor Manuel Rodrigues, 16, Furnas), para trazer um carregamento no regresso. Maria da Glória não quis desvendar ao Observador o segredo para o pão ser tão fofo e durar tanto tempo, apenas revela os ingredientes: farinha de trigo tipo 65, ovos, açúcar, leite, manteiga, sal e fermento. Pode comê-lo simples ou como sanduíche. Fica uma maravilha aquecido ou torrado. Preço: 1€
11. Ponha a cabeça debaixo de uma cascata
Tem várias à escolha, mas aponte estas duas: Caldeira Velha, que tem água quente rica em ferro e fica na encosta da Serra de Água de Pau, e Salto do Prego, no Sanguinho, uma localidade menos conhecida no Nordeste da ilha de São Miguel.
12. Visite a fábrica de Chá da Gorreana
Primeiro iam ver a tecnologia, agora vão ver um museu vivo. A fábrica da Gorreana está aberta desde 1883 a quem a quiser visitar e mostra todo o processo de fabrico do chá desde a plantação das folhas de camélia — 40 hectares de encostas cheias de verde – à selagem dos pacotes coloridos. “Desde o princípio foi assim”, conta Madalena Mota, filha da atual proprietária, Margarida Hintze. “No início do século XX, esta fábrica teve energia elétrica antes do resto da ilha e havia excursões par vir ver a luz. O meu bisavô percebeu que ao visitarem a fábrica as pessoas levavam-na consigo, e desde aí sempre quisemos ter uma casa aberta, e talvez por isso fomos os únicos que nunca fechámos.” As visitas são gratuitas, assim como as provas no final. Na loja, pode comprar o verdadeiro souvenir açoriano.
13. Suba acima das nuvens (e da Lagoa do Fogo)
A Lagoa do Fogo fica no que se chama uma caldeira de colapso, uma cratera com mais de um quilómetro de diâmetro. Reserva natural desde 1974, tem 30 metros de profundidade e vários trilhos pedestres à volta. Se for para baixo, mergulhe, se for para cima, suba tudo até ao Miradouro do Pico da Barrosa. A 900 metros, vai ver as nuvens como se estivesse num avião.
14. Veja como cresce o ananás
Presença obrigatória em todos os restaurantes e até usado para licores, compotas e cheesecakes, o ananás é outro dos produtos locais dos Açores onde os curiosos são bem-vindos. Há empresas que têm as portas abertas e desvendam as artes da produção, como a ProFrutos, que tem duas dezenas de estufas — mais baixas do que o habitual, para responder às características da região — onde os frutos, “naturalmente coroados”, demoram dois anos até se poderem comer.
15. Conheça o Arquipélago dentro do arquipélago
Inaugurado no dia em que a Easyjet passou a voar para São Miguel, 29 de março, o Arquipélago é o novo centro de artes contemporâneas da ilha. Construído a partir da antiga Fábrica do Álcool, vale a pena ser visitado pelo próprio edifício, um misto de branco e pedra vulcânica onde ainda se avistam chaminés. O projeto arquitetónico ficou a cargo do atelier Menos é Mais e do arquiteto João Mendes Ribeiro, e lá dentro há ainda um auditório. Um centro cultural com vista para outro tipo de espetáculo: o campo da bola. Rua Adolfo de Medeiros, 40, Ribeira Grande.
O Observador viajou para os Açores a convite da Easyjet.
O título do artigo foi alterado para responder às sugestões dos leitores.