Trata-se do “último livro de poemas inéditos” de Herberto Helder, que a sua editora afirma ter sido terminado “pouco antes” da morte do poeta, ocorrida no passado dia 23 de março, quando contava 84 anos.

“Desde nascer a morrer que não entendo nada”, lê-se num dos poemas, no qual o autor se questiona: “que interessa fazer a barba/ se é tudo para cremar/ desde as unhas dos pés aos espelhos soberanos – Leonardo, Camões, Newton, Amadeus Mozart/ et coetera/ que interessa?”

No desafio à morte, Herberto Helder recorda igualmente o universo de Gertrude Stein (“morrer por uma rosa é que fia mais fino”), fala das caricaturas dinamarquesas (“a malta gozava fazendo caricaturas sacrílegas dos ayatolas/ mais um pouco e salvava-se o mundo”), do poeta António Ramos Rosa (“estava deitado na cama contra a parede e fechou os olhos e fechou a boca e ficou todo fechado e então morreu todo fundo e completo de uma só vez […] e ele sou eu”).

“Escrever poemas não é boa maneira de atordoar os tempos do verbo”, diz. “Poemas que chegam do meio da escuridão de que ficamos incertos se têm autor ou não”, “poemas às vezes perto da nossa própria razão”.

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Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de Novembro de 1930, no Funchal, e é considerado um dos maiores poetas da Língua Portuguesa.

“A morte sem mestre” foi o último livro de originais, publicado em vida do poeta, em junho de 2014, também pela Porto Editora.

No final do ano passado, surgiu uma nova edição de “Poemas Completos”, do escritor, num só volume, que seguia a fixação do texto da versão anterior de toda a poesia, “Ofício cantante”, a que se juntaram os dois anteriores inéditos – “Servidões” (2013) e “A morte sem mestre” (2014) —, esgotados poucos dias após a publicação.

A primeira integral da obra poética de Herberto Helder, usualmente citada – “Poesia Toda” -, foi publicada em 1973, em dois volumes, reunindo a produção dos 20 anos anteriores, seguindo-se, desde então, edições revistas pelo autor: “Poesia Toda” (1981, 1990, 1996), “Ou o Poema Contínuo” (2004), “A Faca Não Corta o Fogo – Súmula & Inédita” (2008) e “Ofício Cantante – Poesia completa” (2009), título que provém da primeira recolha do poeta, “Ofício Cantante – Antologia 1953-1963”, publicada em 1967.

A edição de “Poemas Canhotos” inclui “uma bibliografia completa dos livros publicados pelo autor, cuidadosamente preparada por Luis Manuel Gaspar”, afirma a Porto Editora, acrescentando que, “de acordo com a vontade de Herberto Helder”, a obra “terá uma edição de tiragem única”.