Joseph Blatter anunciou, em Zurique, que não continuará à frente da presidência da FIFA. A eleição de um novo presidente, referiu Blatter, deve acontecer num Congresso Extraordinário a marcar “logo que seja oportunamente possível”. A verdade é que até há um Congresso anunciado para a Cidade do México, em maio do próximo ano, mas o suíço de 79 anos não crê que se deva aguardar até lá. “Isto criará um atraso desnecessário”, afirmou.

Domenico Scala, o presidente do Comité Eleitoral da FIFA, veio dizer, em seguida, que as eleições devem acontecer “entre dezembro e maio”, mas para isso é necessário que surjam candidatos — ontem mesmo, Luís Figo revelou que poderia sê-lo num futuro próximo, sem adivinhar que Joseph Blatter se demitira horas depois –, e, logo que os haja, que se apresentem às seis Confederações (e respectivas Federações) que compõem a FIFA.

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Blatter foi reeleito na sexta-feira, mas só após o outro candidato à presidência, e vice da FIFA, o príncipe Ali bin al-Hussein ter desistido em pleno Congresso. O príncipe da Jordânia já disse entretanto que está de novo na corrida. Justificando a demissão, Blatter referiu que a sua reeleição não foi bem aceite pelo “mundo inteiro do futebol — os adeptos, os jogadores, os clubes, as pessoas que vivem, respiram e amam o futebol”.

O suíço, de 79 anos, que está à frente da presidência da FIFA desde 1998, tendo substituído na altura o brasileiro João Havelange, não fez qualquer referência à detenção de sete altos quadros da FIFA na última semana, e de como o escândalo de corrupção pesou na sua decisão. “Trabalhámos arduamente, durante anos, para colocar reformas administrativas em prática, mas para mim é claro que elas não são suficientes. O Comité Executivo inclui representantes das confederações sobre as quais não temos controlo, mas por cujas ações a FIFA é tida como responsável”, referiu, lacónico.

A Procuradoria-Geral da Suíça veio já clarificar que Blatter não está sob investigação, e que a sua renúncia nada tem a ver com o processo em curso. “Joseph S. Blatter não está sob investigação da OAG (sigla da Procuradoria-Geral). A sua renúncia não terá influência nos procedimentos criminais em andamento”, disse a Procuradoria, num brevíssimo comunicado.

Eis o discurso de Joseph Blatter na íntegra:

“Tenho vindo a reflectir profundamente sobre a minha presidência e sobre os 40 anos durante os quais a minha vida foi inexoravelmente dedicada à FIFA e ao grande desporto que é o futebol. Eu quero o bem da FIFA, mais do que qualquer outra coisa, e quero fazer apenas o que é melhor para a FIFA e para o futebol. Senti-me capaz de enfrentar a reeleição, pois acreditei que era o melhor para a organização. A eleição terminou, mas os desafios da FIFA não. A FIFA precisa de uma mudança profunda.

Logo que fui mandatado pelos membros da FIFA, não senti que tinha um mandato do mundo inteiro do futebol — os adeptos, os jogadores, os clubes, as pessoas que vivem, respiram e amam o futebol tanto quanto nós na FIFA. Assim sendo, decidi resignar ao meu mandato num Congresso Extraordinário. Vou continuar no exercício das minhas funções como presidente da FIFA até à data da eleição.

O próximo Congresso Extraordinário da FIFA só terá lugar a 13 de maio de 2016 na Cidade do México. Isto criará um atraso desnecessário e vou pedir ao Comité Executivo que se apresse a organizar o Congresso Extraordinário para a eleição do meu sucessor, logo que seja oportunamente possível. Isto terá de ser feito em linha com os estatutos da FIFA e necessitaremos de tempo para que os melhores candidatos se apresentem e que a campanha se faça.

Como eu não serei candidato, e como estou agora livre dos constrangimentos que as eleições inevitavelmente impõem, vou focar-me em reformas abrangentes e fundamentais que transcendam os meus esforços anteriores.

Trabalhámos arduamente, durante anos, para colocar reformas administrativas em prática, mas para mim é claro que elas não são suficientes. O Comité Executivo inclui representantes das Confederações sobre as quais não temos controlo, mas por cujas ações a FIFA é tida como responsável. Precisamos de mudanças estruturais.

O tamanho do Comité Executivo precisa de ser reduzido e os seus membros devem ser eleitos através do Congresso da FIFA. Os testes de integridade a todos os membro do comité devem ser centralizados na FIFA e não deviam ser realizados pelas confederações. Precisamos de limitar os mandatos, não só o do presidente, mas de todos os membros do Comité Executivo. Já lutei por estas mudanças e, como toda a gente sabe, os meus esforços foram bloqueados.

Desta vez vou conseguir. Não o posso fazer sozinho. Pedi ao Domenico Scala para supervisionar a introdução e implementação de estas e outras medidas. O Sr. Scala é o diretor do Comité de Auditoria eleito pelo Congresso da FIFA. Também é o diretor do Comité Eleitoral e, como tal, vai supervisionar a eleição do meu sucessor. O Sr. Scala tem a confiança de uma variedade de constituintes, dentro e fora da FIFA, e tem todo o conhecimento e a experiência necessários para ajudar a implementar estas reformas.

Foi o carinho que nutro pela FIFA e os seus interesses que me levou a tomar esta decisão. Queria agradecer aos que sempre me apoiaram de uma forma leal e construtiva enquanto fui presidente da FIFA, e àqueles que fizeram muito pelo desporto que todos amamos. O que me interessa, mais do que tudo, é que o futebol seja o vencedor quando tudo isto terminar.”