Joseph Blatter anunciou, em Zurique, que não continuará à frente da presidência da FIFA. A eleição de um novo presidente, referiu Blatter, deve acontecer num Congresso Extraordinário a marcar “logo que seja oportunamente possível”. A verdade é que até há um Congresso anunciado para a Cidade do México, em maio do próximo ano, mas o suíço de 79 anos não crê que se deva aguardar até lá. “Isto criará um atraso desnecessário”, afirmou.
Fifa's Domenico Scala says election may not happen until as late as March 2016 http://t.co/e0P11UuYar pic.twitter.com/BpgYagWqai
— BBC News (World) (@BBCWorld) June 2, 2015
Domenico Scala, o presidente do Comité Eleitoral da FIFA, veio dizer, em seguida, que as eleições devem acontecer “entre dezembro e maio”, mas para isso é necessário que surjam candidatos — ontem mesmo, Luís Figo revelou que poderia sê-lo num futuro próximo, sem adivinhar que Joseph Blatter se demitira horas depois –, e, logo que os haja, que se apresentem às seis Confederações (e respectivas Federações) que compõem a FIFA.
Blatter foi reeleito na sexta-feira, mas só após o outro candidato à presidência, e vice da FIFA, o príncipe Ali bin al-Hussein ter desistido em pleno Congresso. O príncipe da Jordânia já disse entretanto que está de novo na corrida. Justificando a demissão, Blatter referiu que a sua reeleição não foi bem aceite pelo “mundo inteiro do futebol — os adeptos, os jogadores, os clubes, as pessoas que vivem, respiram e amam o futebol”.
O suíço, de 79 anos, que está à frente da presidência da FIFA desde 1998, tendo substituído na altura o brasileiro João Havelange, não fez qualquer referência à detenção de sete altos quadros da FIFA na última semana, e de como o escândalo de corrupção pesou na sua decisão. “Trabalhámos arduamente, durante anos, para colocar reformas administrativas em prática, mas para mim é claro que elas não são suficientes. O Comité Executivo inclui representantes das confederações sobre as quais não temos controlo, mas por cujas ações a FIFA é tida como responsável”, referiu, lacónico.
A Procuradoria-Geral da Suíça veio já clarificar que Blatter não está sob investigação, e que a sua renúncia nada tem a ver com o processo em curso. “Joseph S. Blatter não está sob investigação da OAG (sigla da Procuradoria-Geral). A sua renúncia não terá influência nos procedimentos criminais em andamento”, disse a Procuradoria, num brevíssimo comunicado.
Eis o discurso de Joseph Blatter na íntegra:
“Tenho vindo a reflectir profundamente sobre a minha presidência e sobre os 40 anos durante os quais a minha vida foi inexoravelmente dedicada à FIFA e ao grande desporto que é o futebol. Eu quero o bem da FIFA, mais do que qualquer outra coisa, e quero fazer apenas o que é melhor para a FIFA e para o futebol. Senti-me capaz de enfrentar a reeleição, pois acreditei que era o melhor para a organização. A eleição terminou, mas os desafios da FIFA não. A FIFA precisa de uma mudança profunda.
Logo que fui mandatado pelos membros da FIFA, não senti que tinha um mandato do mundo inteiro do futebol — os adeptos, os jogadores, os clubes, as pessoas que vivem, respiram e amam o futebol tanto quanto nós na FIFA. Assim sendo, decidi resignar ao meu mandato num Congresso Extraordinário. Vou continuar no exercício das minhas funções como presidente da FIFA até à data da eleição.
O próximo Congresso Extraordinário da FIFA só terá lugar a 13 de maio de 2016 na Cidade do México. Isto criará um atraso desnecessário e vou pedir ao Comité Executivo que se apresse a organizar o Congresso Extraordinário para a eleição do meu sucessor, logo que seja oportunamente possível. Isto terá de ser feito em linha com os estatutos da FIFA e necessitaremos de tempo para que os melhores candidatos se apresentem e que a campanha se faça.
Como eu não serei candidato, e como estou agora livre dos constrangimentos que as eleições inevitavelmente impõem, vou focar-me em reformas abrangentes e fundamentais que transcendam os meus esforços anteriores.
Trabalhámos arduamente, durante anos, para colocar reformas administrativas em prática, mas para mim é claro que elas não são suficientes. O Comité Executivo inclui representantes das Confederações sobre as quais não temos controlo, mas por cujas ações a FIFA é tida como responsável. Precisamos de mudanças estruturais.
O tamanho do Comité Executivo precisa de ser reduzido e os seus membros devem ser eleitos através do Congresso da FIFA. Os testes de integridade a todos os membro do comité devem ser centralizados na FIFA e não deviam ser realizados pelas confederações. Precisamos de limitar os mandatos, não só o do presidente, mas de todos os membros do Comité Executivo. Já lutei por estas mudanças e, como toda a gente sabe, os meus esforços foram bloqueados.
Desta vez vou conseguir. Não o posso fazer sozinho. Pedi ao Domenico Scala para supervisionar a introdução e implementação de estas e outras medidas. O Sr. Scala é o diretor do Comité de Auditoria eleito pelo Congresso da FIFA. Também é o diretor do Comité Eleitoral e, como tal, vai supervisionar a eleição do meu sucessor. O Sr. Scala tem a confiança de uma variedade de constituintes, dentro e fora da FIFA, e tem todo o conhecimento e a experiência necessários para ajudar a implementar estas reformas.
Foi o carinho que nutro pela FIFA e os seus interesses que me levou a tomar esta decisão. Queria agradecer aos que sempre me apoiaram de uma forma leal e construtiva enquanto fui presidente da FIFA, e àqueles que fizeram muito pelo desporto que todos amamos. O que me interessa, mais do que tudo, é que o futebol seja o vencedor quando tudo isto terminar.”