Melhor seria quase impossível. Vá, um ou mais golos de Cristiano Ronaldo poderiam ter ajudado a passar uma fase menos conseguida do avançado, o episódio com Tiago Djaló que levou Fernando Santos a pedir mesmo desculpa ao jogador era evitável, mas tudo o resto dificilmente conseguiria sair tão a jeito daquelas que era as ambições nacionais para a penúltima ronda da fase de grupos da Liga das Nações. Em Praga, não só Portugal goleou como jogou bem; em Saragoça, não só a Espanha perdeu com a Suíça como jogou mal (ou longe do que é capaz). E a decisão de Braga ganhava um outro contexto, com a Seleção a ficar com o empate a seu favor num duelo ibérico em que não perdia há seis jogos desde o longínquo ano de 2010, nos oitavos do Campeonato do Mundo – caiu nas meias do Euro-2012 mas nas grandes penalidades.

Portugal perde na receção à Espanha com golo de Morata no final e falha Final Four da Liga das Nações

“À terceira é de vez. Não muda nada. Vivemos sempre neste andar… Há três dias tínhamos de ganhar os dois jogos porque a Espanha ia ganhar. Pedi foco. O que quero é que os jogadores se foquem para lutarmos pela vitória. Se nos focarmos bem, perante qualquer adversário, com mais ou menos nomes, estamos mais perto de chegar onde queremos. Quando nos focamos menos em nós próprios, não no egocentrismo, achando que nós é que somos bons, mas sim com humildade, de saber que o que temos de fazer, estamos mais perto de vencer. Não tanto na questão do resultado. O jogo depois o dirá. Não vou chegar à palestra e dizer que vamos jogar assim ou assado porque temos dois resultados. Vamos jogar como jogamos sempre”, garantira Fernando Santos, abrindo a possibilidade de fazer algumas mexidas na equipa – Luis Enrique tinha apostado em quatro alterações, Portugal fez apenas três trocas na equipa.

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Nem mesmo a recente derrota de La Roja frente à Suíça alterava a forma de pensar do técnico português, mostrando-se conhecedor de um estilo com duas décadas de vigência. “Eles jogam sempre para ganhar. Essa equipa espanhola vem de há muito tempo, é uma equipa que joga para ganhar, o padrão de jogo é o mesmo. Com algumas variantes de um jogador que entra ou sai, pode influenciar, mas em termos de filosofia, de conceitos, a defender e a atacar, a Espanha é sempre igual. Nunca vi a Espanha a jogar de maneira diferente. A Espanha joga desta forma e Portugal tem de jogar sempre da sua forma. Temos de manter a nossa forma de jogar, evoluir e estarmos cada vez mais focados”, referira Fernando Santos, antes de abordar o tema de conversa habitual em quase todas as conferências: Cristiano Ronaldo.

“Questão física? Teve uma pausa de dois dias. Não obrigou a nada. Em termos de habitat natural, acho que, quando se está no que se sente, uma missão, todos estão confortáveis. É um ambiente confortável, é como estar em casa. Nesse aspeto, não há nada”, atirou, antes de defender, ainda na Rep. Checa, um jogo menos conseguido do avançado: “Teve três ou quatro oportunidades para fazer golo, umas vezes bateu mal, outras acertou bem mas não marcou, faz parte do futebol. Trabalhou muito para a equipa, se não tivesse aberto os espaços que abriu os golos não apareciam. Claro que do Cristiano todos esperamos golos, mas também esperamos golos da equipa e ele também. Está feliz porque ganhámos e ganhámos bem”.

Hoje, nem uma nem outra. Ronaldo não saiu feliz porque o jogo a nível de finalização voltou a sair mal e não saiu a ganhar (ou melhor, perdeu) como na Rep. Checa. E se é verdade que Portugal teve uma hora de jogo boa em termos táticos e de organização mesmo deixando a ideia de que poderia fazer algo mais na frente, foi incapaz de reagir ao jogo espanhol com as entradas de Gavi e Pedri (e mais tarde Nico Williams). As substituições foram tardias, tiveram em alguns casos impacto nulo (João Mário foi o melhor exemplo) e a Espanha juntou à bola que sempre teve e ao tempo que foi ganhando o espaço que faltava para criar a única oportunidade clara da partida para decidir o resultado. Nem tudo foi mau, claramente não houve assim tanto de bom, mas fica sobretudo a frustração da maior lição que sai do regresso às derrotas no duelo ibérico: uma coisa é saber jogar com o empate, outra é jogar para o empate. E, por clara incapacidade física de alguns elementos fulcrais no conjunto nacional, foi isso que Portugal não conseguiu.

Ficha de jogo

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Portugal-Espanha, 0-1

6.ª jornada do grupo 2 da Liga A da Liga das Nações

Estádio Municipal de Braga

Árbitro: Daniele Orsato (Itália)

Portugal: Diogo Costa; João Cancelo, Rúben Dias, Danilo, Nuno Mendes; Rúben Neves (João Félix, 89′), William Carvalho (Vitinha, 78′), Bruno Fernandes; Bernardo Silva (João Mário, 73′), Diogo Jota (Rafael, 78′) e Cristiano Ronaldo

Suplentes não utilizados: Rui Patrício, José Sá, Diogo Dalot, Tiago Djaló, Mário Rui, João Palhinha, Matheus Nunes e Ricardo Horta

Treinador: Fernando Santos

Espanha: Unai Simón; Carvajal, Guillamón (Busquets, 46′), Pau Torres, Gayà; Soler (Pedri, 60′), Rodri, Koke (Gavi, 60′); Ferran Torres (Nico Williams, 73′), Morata e Sarabia (Pino, 60′)

Suplentes não utilizados: Sánchez, Raya, Jordi Alba, Diego Lorente, Marcos Llorente, Marco Asensio e Borja Iglésias

Treinador: Luis Enrique

Golo: Morata (88′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Guillamón (31′), Bernardo Silva (46′), Carvajal (55′), Nuno Mendes (83′) e João Félix (90+6′)

Se na antecâmara da partida já se esperava uma Espanha a querer dominar com bola, o primeiro quarto de hora adensou a ideia ainda que sem resultados práticos dessa estratégia: o conjunto de Luis Enrique ia tentando sair a construir a partir de trás com os quatro defesas, chamava Portugal que se mantinha nas posições definidas sem posse sem projetar as linhas de pressão para zonas mais adiantadas e das bancadas tanto se ouvia assobios pelo desinteresse do jogo na ótica do espectáculo como aplausos para tentar puxar pela Seleção. O único lance que fugiu de forma ligeira à monotonia teve Sarabia como figura, a ganhar a bola a João Cancelo na defesa nacional antes de rematar contra Danilo em zona central (8′).

Havia um dado que explicava bem a diferença de posturas entre as equipas, com o central Pau Torres a ter mais passes certos do que toda a equipa de Portugal. No entanto, e apesar dessa vertente, os três da frente na Seleção tinham tocado mais vezes na bola do que os avançados espanhóis, sinal de que por mais posse que a Espanha tivesse, a mesma acontecia em zonas que não podiam fazer mossa na baliza de Diogo Costa. E até foi Rúben Neves a dar literalmente um pontapé nesse estado de coisas, com um remate de meia distância descaído sobre a esquerda que obrigou Unai Simón a uma defesa mais apertada (23′).

O intervalo chegaria sem golos mas com Portugal a mostrar por duas ocasiões que conseguia mais do que defender de forma organizada para roubar todos os espaços no seu meio-campo ao adversário. Primeiro foi Diogo Jota, a receber um grande passe em profundidade de Bruno Fernandes e a trabalhar para o remate travado de forma vistosa por Unai Simón para canto (33). Depois foi Bruno Fernandes, a sair com a bola controlada numa transição rápida para rematar às malhas laterais deixando a ilusão ótica de golo no estádio (37′). Só mesmo aos 43′, no seguimento de uma tentativa de antecipação de Nuno Mendes ainda no meio-campo contrário que ficou no ressalto para Carvajal, houve um aparente desequilíbrio defensivo mas sem perigo de uma Espanha que ameaçara antes por Ferran Torres quando tentava cruzar a bola (42′).

Luis Enrique jogou pelo seguro ao intervalo, fazendo recuar Rodri para central com a saída de Guillamón, que tinha amarelo, para a entrada de Busquets. A Espanha ganhava mais critério na construção, ficava mais longe de um qualquer lance que reduzisse a equipa a dez, mas mantinha os problemas que tinha nas transições quando Portugal conseguia recuperar a bola sobretudo em zona adiantada, como aconteceu num lance com Diogo Jota que ganhou a Carvajal, respeitou a diagonal de Ronaldo mas o remate do capitão acabou novamente travado por Simón – o melhor da Roja… com menos bola do que os outros (47′). O golo continuava adiado mas as características do jogo mantinham-se e os minutos a passarem com 0-0.

Por mais que a Espanha fosse tentando subir um pouco as linhas para pressionar mais a saída de Portugal, os momentos em que ganhava momentâneas vantagens continuavam a ser poucos, como aconteceu num lance em que Carlos Soler recebeu no corredor central mas atirou muito por cima (56′). Luis Enrique ia tentar mais e foi por isso que trocou três unidades de uma assentada, reformulando o meio-campo com Gavi e Pedri em vez de Koke e Soler e trocando ainda Sarabia por Pino (60′). O impacto das mexidas podia ser melhor ou pior na perspetiva espanhola mas, perante as características dos jogadores em campo, o jogo iria mudar de feições. E, durante vários minutos, Portugal sentiu mais dificuldades para sair.

Carvajal, após um remate de Rúben Dias na área na sequência de um livre lateral, conseguiu afastar a bola de perigo para canto mas esse seria um dos últimos momentos de Portugal na área contrária antes de haver uma viragem no encontro com a Espanha a aparecer de forma mais frequente no último terço nacional e a fazer os primeiros três remates enquadrados do encontro: Morata atirou de pé esquerdo à figura (71′), Nico Williams entrou para tentar um tiro em arco para nova defesa segura (73′) e Morata conseguiu trabalhar bem na área para se virar e atirar para a melhor intervenção de Diogo Costa (76′). Ao mesmo tempo que havia maior pressão, a Seleção teve duas bolas flagrantes para poder criar perigo mas Ronaldo deixou-se antecipar por Gayà e viu depois um cruzamento para Rafael Leão ser intercetado por Pau Torres. O golpe de teatro estava guardado para o fim, com Carvajal a entrar bem pelo meio, a cruzar largo ao segundo poste e Nico Williams a assistir Morata na pequena área para o golo que eliminou Portugal (88′), e nem outra oportunidade de Ronaldo travada por Unai Simón conseguiu inverter esse destino (90+2′).