15 horas. Este é sensivelmente o tempo necessário para viajar de Portugal a Los Angeles, a maior cidade do Estado da Califórnia e o centro do entretenimento dos Estados Unidos da América. Esta cidade americana que alberga a indústria do cinema de Hollywood, também acolhe a exposição mais sofisticada do mundo para uma demonstração do melhor (e do pior) que se faz na indústria dos videojogos e para antever o que o futuro reserva nesta área.

Entre os dias 14 a 18 de junho, as barreiras fronteiriças de Los Angeles tiveram uma maior afluência, menos passadas a pente fino como nos tempos de alerta máximo de terrorismo. No caminho do aeroporto ao hotel, ouvia-se as notícias na rádio sobre o massacre numa igreja de comunidade negra, ouvia-se Barack Obama sobre o ISIS, ouvia-se boa música jazz e moderna. Mas não estou aqui para vos falar do estado dos Estados Unidos, da boa música, nem sequer da ótima gastronomia mexicana. Estou aqui para falar desta exposição mundial, a Electronic Entertainment Expo, mais conhecida como E3, que arrancou como sempre com muito ânimo mas sem grandes expectativas de ser uma edição para manter a longo prazo na memória.

Estará esta E3 a ficar obsoleta ou estará a transformar-se? Se tivermos como exemplo a Gamescom na Alemanha, que abre as portas a 300.000 pessoas contra pouco mais de 50.000 da E3, deverá haver diferenças. Enquanto a Gamescom é essencialmente dirigida ao consumidor, a E3 é direcionada só à indústria, aos órgãos de comunicação social e ao retalho.

No entanto, a feira em Los Angeles parece cada vez mais focada no show off dirigido aos consumidores, mesmo que não os permitam estar no local, com produções aproximadas a concertos de grandes estrelas do Rock e do Pop. Pudemos ver essencialmente durante as conferências da Microsoft, da Sony e da Electronic Arts o recurso ao entretenimento de massas, com subgraves a estremecer o chão, as pulseiras de várias cores a piscar e todo o jogo de robótica a acompanhar. E com esta evolução de show off é provável que no próximo ano recorram ao mapping de um arranha-céus, no ar livre, bem no centro da cidade de Los Angeles que nos direciona o olhar para as estrelas. Podem desta forma recriar o desabamento de um prédio para a apresentação de um próximo e sempre anual Call of Duty.

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A primeira a estrear os palcos foi a Bethesda, no Dolby Theater, lugar que acolhe a entrega dos Óscares. Ao contrário das restantes, esta produtora preferiu chamar os fãs para ocupar a maior parte dos lugares da plateia, sem grandes efeitos luminosos, sem subwoofers, num ambiente com palmas e assobios honestos desses mesmos fãs e de pessoas que revelavam à partida uma afeição pelos jogos da companhia. Foram vários os pontos fortes desta conferência, desde a demonstração do Concept Art de Fallout 4 ao anúncio de Fallout Shelter, grátis para iOS e que ficou disponível logo após à conferência. Um jogo obrigatório, principalmente para quem tem um iPad.

No dia seguinte, logo pela manhã, foi a vez da Microsoft, num horário que nos fez atestar o tráfego da cidade que tem mais carros que pessoas. HoloLens, Mods para Fallout e retrocompatibilidade foram as grandes armas da apresentação, juntamente com um vasto leque de exclusivos. Mas não terá esta retrocompatibilidade chegado tarde, de permitir jogar jogos da Xbox 360 na Xbox One? Depende de como cada pessoa avalia o tempo, e depende se estivermos à espera da desforra da Sony. O novo comando elite, mais preciso, vem por sua vez colmatar o defeito de fabrico dos comandos atuais. Falta só colmatar no preço.

Sony PlayStation? The Last Guardian, Uncharted 4 e… Shenmue 3. Este último foi apresentado com uma campanha no Kickstarter, desfasado de toda a conferência como um estranho que interrompe a conversa de um grupo para perguntar pelas horas. E se todos os projetos do Kickstarter tivessem um lugar no maior evento do ano da PlayStation, seguramente que seriam quase todos financiados.

Durante os 3 dias de feira no Convention Center, também por lá com muito show off, algumas booth girls e muitas oferendas de swag, o Rubber Chicken teve oportunidade para experimentar alguns jogos e hardware, por vezes longe da extravagância de grandes stands das grandes marcas. No espaço do IndieCade, que apoia estúdios pequenos independentes (como a Sony e a Microsoft também apoiam e lhes deram um espaço para mostrarem os seus jogos, maioritariamente exclusivos), pudemos observar e experimentar uma série destes em desenvolvimento com mecânicas a irem um pouco mais além que os jogos AAA raramente conseguem suplantar. E, curiosamente, a humanização de personagens, a liberdade pela exploração e a abordagem survival está a ser uma grande aposta dos pequenos estúdios.

Fica então a pergunta final: quem ganhou esta E3 2015? Foram os independentes. Aqueles que criam arte sem oposições e mecânicas inovadoras, os que com pouco fazem imenso. Exemplo disso é Thumper, um jogo de ritmo agressivo e psicadélico pelos talentosos Mark Flury (Rock Band e Dance Central) e Brion Gibson (Rock Band e Guitar Hero). Ganhou a Bethesda por chamar os seus reais fãs e por trazer à vida o Mr. Handy. Ganhou a Microsoft, mesmo que peca por tarde, pela retrocompatibilidade. Ganhou o avanço tecnológico considerável da realidade virtual e da realidade aumentada, com o Project Morpheus, Oculus, HoloLens. E ganhou a Nintendo com The Legend of Zelda: Tri Force Heroes e Mario Tenis: Ultra Smash, que demonstram mais uma vez que a empresa nipónica sabe fazer jogos divertidos para se jogar com companhia.

Frederico Lira, Rubber Chicken