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João Mário, um ator sempre principal que chegou mais cedo ao Funchal para filmar como vilão e herói (a crónica do Marítimo-Benfica)

Este artigo tem mais de 1 ano

Funchal prepara-se para receber filmagens da nova saga da Guerra das Estrelas mas teve antes uma constelação de artistas da bola que passeou classe sem oposição em mais uma exibição para óscar (0-3).

David Neres bisou nos golos, Grimaldo bisou nas assistências, Ausrnes foi o melhor e João Mário viveu de tudo: falhou um penálti, marcou e assistiu
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David Neres bisou nos golos, Grimaldo bisou nas assistências, Ausrnes foi o melhor e João Mário viveu de tudo: falhou um penálti, marcou e assistiu

LUSA

David Neres bisou nos golos, Grimaldo bisou nas assistências, Ausrnes foi o melhor e João Mário viveu de tudo: falhou um penálti, marcou e assistiu

LUSA

Não passa de um simples barómetro, costuma muitas vezes representar bem mais do que isso: apesar de um longo atraso de mais de três horas na chegada ao Funchal, devido a complicações com a saída da aeronave do aeroporto Humberto Delgado em Lisboa, a comitiva do Benfica foi literalmente “engolida” por centenas e centenas de adeptos que esperaram até quase à meia noite pelos heróis encarnados. Houve autógrafos, houve selfies, houve muitos cânticos quase como se de um jogo se tratasse. Por mais que a mensagem que vem de dentro para fora apele à calma e ao foco sem festas antecipadas, há uma onda vermelha a crescer que não vai parar nos próximos tempos assim continuem a chegar os resultados positivos na Liga e na Champions. E as próprias palavras de Roger Schmidt antes da partida apontavam nesse sentido com cautelas à mistura.

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“Ambas as equipas precisam dos três pontos. O Marítimo está numa situação difícil, luta pela permanência, joga em casa e vai fazer tudo pela vitória. Para nós também é importante somar os três pontos e ganhar o jogo. Espero um grande desempenho das duas equipas. O Marítimo tem mostrado, sobretudo em casa, que tem confiança, são corajosos na posse de bola e vai ser uma tarefa difícil para nós mas estamos num bom momento e preparados”, resumira o técnico alemão, que passava ao lado da vitória do FC Porto frente ao Estoril na sexta-feira que recolocava a diferença à condição nos cinco pontos. “Para nós não muda nada por jogarem antes, cada encontro é um obstáculo e isso não tem qualquer impacto no nosso jogo”, destacara.

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Havia confiança, não faltava confiança, sobrava confiança. E nem mesmo as ausências de Gonçalo Guedes, que teve de ser operado ao joelho esquerdo, e de Rafa (síndrome gripal) mexia com isso numa fase em que o Feiticeiro Gonçalo Ramos parece ter poção para todos os problemas. “Elogios a Ramos? O Gonçalo está concentrado, está a jogar bem, não apenas no último jogo mas em toda a época. Estou muito feliz com ele, gosto da sua atitude. É um jogador de equipa, trabalha duro como ponta de lança e marca golos. Sendo jovem e, jogando assim na Champions, todos os olhos se viram para ele. Estamos contentes. O Guedes foi uma pena porque o Draxler já estava de fora o resto da temporada. Voltou, vinha motivado para jogar no clube, entrosou-se, fez bons jogos. Chegou a um ponto em que não podia continuar”, lamentou.

No entanto, e quase na sombra do sucesso das unidades mais ofensivas mas com números de protagonista principal, Florentino Luís continuava como peça chave da equipa a ganhar uma dimensão ainda maior desde que Enzo Fernández deixou a Luz pelas novas funções que assumiu com a entrada de Chiquinho para o meio-campo. “Não há segredos… Vi sempre um jogador muito motivado, que tem mostrado sempre muita qualidade e que se adaptou muito a bem este tipo de jogo. É um médio centro extraordinário, com e sem bola. É uma posição importante e tem jogado a um nível elevado a época toda. O segredo é ele próprio, tem tido bons desempenhos e uma atitude muito profissional. Quando a equipa joga como um todo, isso faz com que seja mais fácil para o grupo, eles ficam confiantes e podem jogar no seu melhor. O Florentino é um exemplo disso mesmo”, comentara Schmidt sobre o papel do médio formado no Seixal nos encarnados.

Mais uma vez, Tino ligou o modo polvo no meio-campo, agora tendo mais adiantado um Aursnes em plano superlativo a ter como único ponto negativo da exibição o amarelo a fechar que o retira do próximo encontro na Luz com o V. Guimarães. E ainda houve a novidade do David Neres goleador e a repetição do Grimaldo-senhor-das-assistências. No entanto, foi João Mário que ficou com o óscar num filme onde qualquer um dos protagonistas podia ser distinguido. E ficou porque, num Funchal que se prepara para receber a logística da produção de mais uma saga da Guerra das Estrelas, foi ele que começou por ser Darth Vader antes de vestir o papel de Luke Skywalker. Na pele de vilão, falhou duas oportunidades cantadas e mais um penálti que saiu por cima da trave; no papel de herói, fez a assistência para o primeiro golo de David Neres e marcou o segundo que arrumou as contas. Não é fácil mudar a narrativa desta forma depois de um início de encontro onde nada saía bem mas esse é também o reflexo do mérito coletivo que este novo Benfica tem.

Ficha de jogo

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Marítimo-Benfica, 0-3

24.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Marítimo, no Funchal

Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria)

Marítimo: Marcelo Carné; Cláudio Winck, Zainadine, Mosquera (Edgar Costa, 77′), Vítor Costa; René Santos, Beltrame (Liza, 60′); André Vidigal (Félix Correia, 77′), Xadas, Léo Pereira (Brayan Riascos, 60′) e Pablo Moreno

Suplentes não utilizados: Makaridze, Matheus, Paulinho, Fábio China e João Afonso

Treinador: José Gomes

Benfica: Vlachodimos; Bah, Otamendi, António Silva, Grimaldo (Gilberto, 90+2′); Chiquinho, Florentino Luís; David Neres (Musa, 81′), João Mário (João Neves, 81′), Aursnes (Schjelderup, 90′) e Gonçalo Ramos (Tengstedt, 90′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Lucas Veríssimo, Morato e Cher Ndour

Treinador: Roger Schmidt

Golos: David Neres (45+3′ e 57′) e João Mário (50′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a René Santos (29′), David Neres (43′), João Afonso (52′), André Vidigal (72′) e Aursnes (88′)

Os insulares ainda tentaram mostrar algo no plano ofensivo nos minutos iniciais, com Claudio Winck (por sinal o melhor marcador da equipa apesar de ser lateral) a dar profundidade pelo lado direito arriscando a meia distância, mas o Benfica foi assumindo de forma natural o controlo da partida com uma unidade em clara evidência: Aursnes. Mais uma vez, o norueguês abriu o livro para mostrar que o futebol pode ser uma ciência bem mais simples do que se possa fazer, ocupando espaços diversos do terreno para criar todos os desequilíbrios que iam criando oportunidades junto da baliza do Marítimo, como aconteceu num passe atrasado da direita sem que ninguém percebesse que tinha ido ao flanco contrário que teve remate ao lado de João Mário (6′) e num lance que terminou com o cruzamento tenso de Alexander Bah da direita para o desvio de João Mário na pequena área que voltou a sair desenquadrado com a baliza de Marcelo Carné (17′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Marítimo-Benfica em vídeo]

Parecia algo assumido, envolvia muitas carências à mistura. Depois de dez a 15 minutos mais intensos e com a equipa estendida de uma forma mais surpreendente em campo, o Marítimo remeteu-se ao seu meio-campo quase sem capacidade de saída perante um domínio crescente do Benfica, a jogar com aquela confiança de quem sabe que o golo é uma questão de tempo. Foi assim que os encarnados foram chegando várias vezes no último terço de campo, foi assim que ganharam uma oportunidade flagrante para se adiantarem no marcador em mais um lance que parecia dominado pela defesa insular mas que permitiu que Gonçalo Ramos ainda assistisse Aursnes para um primeiro remate defendido por Marcelo Carné antes da grande penalidade de René Santos sobre o norueguês. No entanto, nem aí a bola entrou, com João Mário a atirar por cima (30′).

Cláudio Winck iria colocar pouco depois a bola na baliza de Vlachodimos mas o lance já estava anulado antes por fora de jogo (32′). Essa seria uma mera exceção na regra vigente que tinha o Benfica a controlar todas as operações e a beneficiar das transições mal feitas e dos erros posicionais dos madeirenses para criar de uma forma natural oportunidades para a vantagem que já começava a justificar. Marcelo Carné ainda evitou o golo a David Neres mas seria o brasileiro a levar a melhor no momento seguinte, com João Mário a ver de novo a defesa do Marítimo a dormir na parada e a ganhar espaço pela direita para assistir o esquerdino na pequena área (45+3′). Entre muita atrapalhação generalizada, a resistência dos visitados caía nos descontos da primeira parte e seria Carné a evitar males maiores antes do intervalo num tiro de Grimaldo.

Nenhuma equipa quis mexer no intervalo, só uma equipa iria sair do balneário depois do intervalo. Melhor: o Marítimo também apareceu mas apenas representado pelos equipamentos, num coletivo ainda mais partido, de erro em erro no plano defensivo e em constantes lapsos posicionais nas transições que quase abriam o caminho para o Benfica passear classe com uma confiança em altas: João Mário aumentou a vantagem na sequência de um cruzamento de Grimaldo da esquerda que atravessou toda a área sem um único desvio até ao toque final ao segundo poste (50′) e David Neres bisou numa jogada a partir de trás que foi um hino ao futebol com o adversário a defender com os olhos, concluída com mais uma assistência de calcanhar de Grimaldo na área após passe de Aursnes para o brasileiro rematar cruzado para o 3-0 (57′).

A história do encontro estava de vez traçada, com os encarnados a baixarem o ritmo da partida e a darem com isso a oportunidade ao Marítimo de mostrar uma imagem que durante 60 minutos só muito raramente tinha aparecido. Ainda assim, e sempre que o Benfica acelerava um pouco mais, as oportunidades surgiam de forma natural, como aconteceu quando João Neves foi lançado por Aursnes acabado de entrar mas não conseguiu picar a bola por cima de Marcelo Carné (82′). Vlachodimos, esse, “celebrou” a renovação de contrato com um encontro em que não teve de fazer qualquer intervenção apertada entre dois tiros que ainda foram enquadrados e sem perigo no segundo tempo. E ainda houve tempo para as estreias de Tengstedt e Schjelderup, antes da derradeira chance de golo com Petar Musa a obrigar Carné a nova defesa apertada.

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