Maria Luís Albuquerque deixou esta segunda-feira um aviso sério à navegação socialista e ao país: ou são garantidas o quanto antes as condições necessárias à governabilidade ou o país arrisca-se a entrar novamente em rutura. A ministra das Finanças estendeu, assim, uma última ponte a António Costa, mas com a condição de que “o PS diga o que quer para que nós possamos partir para uma discussão concreta”.

Em entrevista à SIC, a ministra das Finanças deixou claro que “é urgente haver essas condições de governabilidade” e que, por isso, a coligação mantém “a disponibilidade para, com o PS, fazer aquilo que é a nossa interpretação da vontade dos portugueses”.

E o que é que está em jogo? Maria Luís Albuquerque não quis esconder nada e lembrou que, sem “um Governo empossado e um Orçamento debatido e aprovado o quanto antes”, “a deterioração da situação do país com as fragilidades que o nosso ainda tem” será “muito rápida”.

“Se não houver condições de governabilidade e consolidação das contas públicas isso manifesta-se imediatamente nas condições de financiamento. O dinheiro fica mais caro não só para o tesouro, também para as empresas e famílias. Cai a confiança, cai o investimento e a recuperação do emprego corre também o risco de recuar”, enumerou a social-democrata.

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A mensagem de Maria Luís Albuquerque foi clara: a coligação está disposta a continuar as negociações e a fazer cedências, mas o PS tem de dizer o que quer. Ou isso, ou não há como continuar as conversas. Para a ministra, António Costa tem ido para as reuniões sem “boa-fé” e não tem manifestado “uma intenção real de chegar a um acordo“. “Faz aquilo que parece uma negociação mas que na prática não é. Para fazermos uma cedência nós temos de saber exatamente em quê e até agora não sabemos“, reiterou.

Não há “buracos” escondidos nas contas, garante Maria Luís

Foi o tema do fim-de-semana. Na sexta-feira, na TVI, António Costa acusou a coligação PSD/CDS de tentar esconder buracos nas contas públicas. Um dia depois, em comunicado, Maria Luís Albuquerque, garantia que a situação das finanças públicas portuguesas “é absolutamente transparente” e avisava os socialistas: em política “não vale tudo”.

Esta segunda-feira, na SIC, a ministra das Finanças voltou a garantir que as contas do país “são de tal forma escrutinadas, que hoje não é possível ter fatores nas contas públicas que estejam ocultos. Há um escrutínio de tal forma variado, por tantas entidades independentes, que mesmo que houvesse essa intenção – que não há – seria impossível que houvesse contas ocultas“.

Ainda assim, um dos dossiers que podem vir a complicar as contas do próximo Executivo é a questão do Banif. Desafiada a comentar a situação do banco, Maria Luís Albuquerque explicou que o Banif “teve uma intervenção com capitais públicos em 2013, mas, até ao momento, a direção geral de concorrência da Comissão Europeia ainda não aprovou o programa de reestruturação” Sem essa aprovação é impossível desfazer o nó.

Em relação à venda do Novo Banco, a social-democrata reconheceu que o objetivo do Governo era ter vendido o banco o mais rapidamente possível e que esse objetivo se mantém. Mas, sublinhou a ministra, o Estado não pode vender o Novo Banco ao “desbarato”. Mesmo assim, e com todos os obstáculos que se encontram no horizonte, Maria Luís Albuquerque reiterou o objetivo de colocar o défice nos 2,7%, um pressuposto “fundamental” para o país.