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4.000 a 5.000 casos no fim de julho, sem pico à vista e mais reinfeções. O cenário provável para o verão em Portugal

Portugal tem três vezes mais casos do que há um ano, mas metade das mortes. Especialistas dizem que se pode chegar aos 5.000 casos no fim de julho, sem pico no horizonte. Tudo depende das vacinas.

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A variante delta vai provocar mais casos de reinfeção em Portugal ao longo do verão, aponta Henrique Oliveira, matemático do Instituto Superior Técnico que está a acompanhar a evolução da Covid-19 no país. Mesmo as pessoas que já estiveram infetadas com outras variantes ou que já receberam uma dose da vacina podem estar suscetíveis a apanhar esta variante: “É um potencial de contágio com o qual não estávamos a contar”. Mas não é o único problema antes do Verão: esta quarta vaga pode chegar no final de julho com 4 a 5 mil casos diários e sem pico à vista. E teme-se mesmo uma nova onda no inverno.

Aliás, todos os especialistas apontam que a vacinação será a maior arma ao longo do verão para controlar a epidemia. Manuel Carmo Gomes, epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, afirma até que, se o ritmo de vacinação continuar a aumentar, o país pode conseguir deter o avanço da variante delta no fim de julho e garantir um agosto mais tranquilo. 

Antes desta nova linhagem do SARS-CoV-2, o especialista acreditava que o verão estava “em aberto”. A variante alfa, identificada originalmente no Reino Unido, já tinha produzido uma avalanche de novos casos durante a terceira vaga e, por isso, teria menos oportunidade para continuar a espalhar-se: “Com menos pessoas a quem infetar, a variante britânica ia extinguir-se, porque não teria mais palha para arder“.

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Mas a variante delta veio trocar as contas ao matemático do Técnico: só precisou de 30 dias para se tornar dominante em Portugal (a variante alfa necessitou de 75 dias) e consegue contornar parte do efeito protetor das vacinas, que se tornam menos eficazes perante ela. Só haveria uma forma de evitar essas reinfeções: vacinar quase toda a gente ao mesmo tempo e o mais depressa possível. Mas Portugal ainda só tem 33% da população com a vacinação completa (52% só tem um dose).

Mais de metade dos novos casos em Portugal já são da variante Delta, que teve crescimento “galopante em junho”, diz o INSA

Aliás, todos os especialistas apontam que a vacinação será a maior arma ao longo do verão para controlar a epidemia. Ao Observador, Manuel Carmo Gomes, epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, afirma até que, se o ritmo de vacinação continuar a aumentar, o país pode conseguir deter o avanço da variante delta no fim de julho e garantir assim um agosto mais tranquilo. 

O problema é que essa poderá ser uma tarefa árdua para as autoridades de saúde portuguesas. O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, responsável pela task force para a vacinação contra a Covid-19, avisou na Comissão de Saúde da Assembleia da República que Portugal pode falhar a data que havia apontado para alcançar os 70% de pessoas vacinadas com pelo menos uma dose — 8 de agosto.

O militar informou que a escassez de vacinas, com a qual admitiu estar preocupado, adiará em duas semanas a meta inicialmente delineada. A nova data apontada pelas autoridades de saúde é agora 20 de agosto: “Usaremos todos os stocks que temos para conseguir atingir essa meta até 8 de agosto, mas eventualmente poderá ser mais tarde”, avisou. Se isso acontecer, comprometendo a velocidade de vacinação, e se os números continuarem a aumentar, o pico da quarta vaga adia-se e nem agosto escapará à nova onda.

E há quem diga mesmo que a variante inicialmente identificada na Índia vai obrigar a rever a meta da imunidade de grupo, com a linha a subir para além dos 80%.

Imunidade de grupo com variante Delta só se deve atingir aos 85%, diz especialista

O triplo do casos e mais internados do que em junho de 2020, mas metade das mortes

O número de novos casos registados pelas autoridades de saúde entre 1 de junho e 2 de julho — 35.349 novos infetados até ao penúltimo dia do mês — é três vezes maior que os novos casos identificados no mesmo período do ano passado (10.286) e corresponde sensivelmente a todos os infetados detetados entre o início da epidemia em Portugal e 9 de junho de 2020, já o país se encontrava desconfinado.

O pico da quarta vaga estava previsto para meados de julho, com o país a alcançar entre 2.500 e 3.000 casos diários nessa altura. Tudo permanecia "um pouco incerto" e prova disso é que, à conta dos números atingidos nos últimos dias, o pico "esfumou-se": não só não há pico à vista, como as novas estimativas de Buescu apontam para que os casos cheguem aos 4.000 a 5.000 por dia no fim de julho.

Mais: em junho de 2020, o número de casos registados diariamente manteve-se estável ao longo de todo o mês e subiu de 200 novos casos no primeiro dia para 330 a 2 de julho — mais 65%. Este ano, no mesmo período de tempo, os casos aumentaram mais de 447%, de 445 a 1 de junho para 2436 a dia 2 de julho. A incidência reflete isto mesmo: era de apenas 46,1 casos por 100 mil habitantes a 14 dias a 2 de julho de 2020, mas precisamente um ano depois alcançou os 211 casos.

O número total de óbitos, no entanto, foi menor em junho de 2021: até esta sexta-feira, 83 pessoas morreram de Covid-19 em Portugal, metade que os 177 óbitos registados pela mesma causa em junho e nos primeiros dois dias de julho do ano passado. Em 2020, não houve qualquer dia sem mortes por Covid-19 neste intervalo de tempo e o país chegou às 14 vítimas mortais num só dia. Este mês já houve quatro dias sem fatalidades e nunca se ultrapassaram as sete em 24 horas.

Pior da quarta vaga passou de meados de julho para o final do mês e não pico à vista

E a situação vai piorar antes de melhorar, afirma o epidemiologista Manuel Carmo Gomes. Enquanto o R(t) — a métrica que indica, em média, quantas pessoas alguém infetado pode contagiar — estiver acima de 1 (está em 1,16), a incidência de casos vai aumentar e, com ela, vão aumentar também os internamentos por Covid-19.

A última atualização de Jorge Buescu, matemático da mesma faculdade, confirma que a incidência a 14 dias por 100 mil habitantes continua com tendência crescente, mas já exibe uma desaceleração que é “um sinal preliminar de otimismo”. Até terça-feira, o pico da quarta vaga estava previsto para meados de julho, com o país a alcançar entre 2.500 e 3.000 casos diários nessa altura. Tudo permanecia “um pouco incerto” e prova disso é que, à conta dos números atingidos nos últimos dias — que já chegaram aos números mínimos esperados para daqui a duas semanas, o pico esperado “esfumou-se”: não só não há pico à vista, como as novas estimativas de Buescu apontam para que os casos cheguem aos 4.000 a 5.000 por dia no fim de julho, “a menos que se tomem urgentemente medidas eficazes”.

A forma como isto se reflete nos internamentos só não será mais grave graças à vacinação. As métricas relativas aos internamentos por complicações provocadas pela Covid-19 revelam que Portugal tem neste momento mais pessoas hospitalizadas do que tinha há um ano. Se no ano passado o número de internamentos sofreu um leve aumento desde o início do mês, em 2021 esse acréscimo tem sido exponencial: a 2 de julho o número de pessoas internadas é praticamente o dobro do do primeiro dia de junho (passou de 268 para 532) e ultrapassa os 510 hospitalizados registados no mesmo dia em 2020.

O gráfico que resume os dados dos internamentos em unidades de cuidados intensivos (UCI) também demonstra que a pressão sobre estes serviços é maior do que no ano passado. Na primeira semana de junho de 2021, o número de pessoas internadas em UCI era inferior ao registado no mesmo período do ano passado. Mas enquanto em 2020 os números se mantiveram estáveis, um ano depois cresceram exponencialmente.

A 1 de junho de 2020 havia 64 pessoas internadas em UCI nos hospitais portugueses; e quatro semanas depois eram 73 — sem nunca se ter ultrapassado os 77 hospitalizados neste serviço. Em 2021, junho começou com 50 internados em UCI, mas as autoridades de saúde já registaram 118 esta sexta-feira, acompanhando assim a tendência de aumento dos internamentos gerais.

Menos internamentos só com maior ritmo de vacinação

Mas em 2020, nenhum país do mundo tinha a arma de que agora dispõe para enfrentar a pandemia de Covid-19: a vacina. Questionado sobre porque é que a vacinação não foi capaz de atenuar a pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde ao longo deste mês, Manuel Carmo Gomes explica que teria sido necessário que ela decorresse a um ritmo muito superior ao verificado até agora.

“O modelo que temos mostrava que, com o ritmo de vacinação que temos, mesmo que a variante delta não tivesse aparecido já estávamos no fio da navalha“, apontou o especialista. É que, embora cerca de metade da população portuguesa já tenha recebido a primeira dose da vacina contra a Covid-19, só pouco mais de 30% já completou o esquema vacinal — o que representa um atraso para ganhar espaço à nova variante.

De acordo com os dados analisados por Jorge Buescu, já não são os idosos que ocupam as camas dos hospitais: são os jovens com 20 a 39 anos, as faixas etárias onde a vacinação ainda não começou ou arrancou há pouco tempo. "Imagine o que iria acontecer se tivéssemos os casos de hoje, mas não tivéssemos as vacinas", aponta o matemático.

Isso é um problema, sobretudo, porque, com esta linhagem, tanto a primeira dose da vacina da Pfizer/BioNTech, como a da AstraZeneca/Universidade de Oxford são menos eficazes. E mesmo a segunda dose não é tão protetora. A Public Health England, uma agência do Departamento de Saúde e Segurança Social britânico, apurou que, quatro semanas após a injeção, ambas as vacinas conferiam quase 50% de proteção contra a variante alfa. Mas, no caso da variante delta, a percentagem baixa para 36% com a vacina da Pfizer/BioNTech e para 30% com a da AstraZeneca/Universidade de Oxford.

Duas semanas depois da segunda dose, a diferença na eficácia das vacinas em função das variantes esbate-se, mas permanece: a vacina da Pfizer/BioNTech conferiu 88% de proteção contra a Covid-19 sintomática causada pela variante delta e 94% de proteção contra a doença causada pela variante alfa. Já a vacina da AstaZeneca/Universidade de Oxford concedeu 67% de proteção contra a variante delta e 74% contra a variante alfa.

São números que não abonam a favor das autoridades de saúde que combatem a epidemia, sobretudo numa altura em que o número de casos insiste em aumentar — o que se traduz inevitavelmente em mais casos com acompanhamento hospitalar. A diferença é que, de acordo com os dados analisados por Jorge Buescu, já não são os idosos que ocupam as camas dos hospitais: são os jovens com 20 a 39 anos, as faixas etárias onde a vacinação ainda não começou ou arrancou há pouco tempo. “Imagine o que iria acontecer se tivéssemos os casos de hoje, mas não tivéssemos as vacinas“, aponta o matemático.

Até lá, no entanto, a incidência no concelho de Lisboa deve alastrar-se para a restante região de Lisboa e Vale do Tejo, a situação no Algarve também vai continuar a aumentar (com grande prejuízo económico para a região) e mesmo a região Norte, que até agora conseguiu conter a epidemia, dá sinais de descontrolo, concordam os especialistas ouvidos pelo Observador.

O próprio diretor das urgências do Hospital de São João, Nelson Pereira, assumiu que a região já está “em alerta”: “O que temíamos, que era o alastrar da região de Lisboa para o Porto, é inequívoco que aconteceu. Já não podemos negar que estamos numa quarta vaga“, disse ele aos jornalistas esta quarta-feira. Embora a pressão sobre os internamentos e UCI não seja comparável à registada nas outras três ondas, essa é uma preocupação do clínico.

Diretor das urgências do São João avisa: contágios “alastraram” de Lisboa para o Porto. “Já não podemos negar quarta vaga”

Nos cinco dias anteriores (entre 24 e 29 de junho), registou-se naquele hospital uma “mudança significativa” no recurso às urgências, com 40% a 50% de mais casos suspeitos; e uma “mudança radical” na taxa de positivos: até agora, numa situação “muito estável”, a cada 100 testes apenas um a dois era positivo. Atualmente a percentagem alcançou os 10% a 15%; e na terça-feira aproximou-se mesmo dos 20%.

Mesmo que o fim de julho traga boas notícias, a preocupação dos peritos não termina aqui. A chegada do outono em outubro e novembro, com a descida das temperaturas e o aumento da humidade, pode catapultar novamente a Covid-19 para uma quinta vaga, tal como aconteceu no ano passado.

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