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AFP/Getty Images

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A ciência explica como Ronaldo marca aqueles livres

Remates feitos à zona indefensável da baliza; coxas maiores do que o normal; o veloz tempo de reação; e as chuteiras feitas em computador. O que torna Ronaldo tão eficaz naqueles golos.

Texto publicado originalmente após o Portugal-Espanha do Euro 2018 e republicado agora depois de, ao fim de um ano, Ronaldo ter voltado a marcar de livre direto

O relógio aproximava-se dos 90 minutos. Portugal começara a partida a ganhar, mas os espanhóis tinham chegado perto do final com uma vantagem confortável. Foi preciso ficar quase meia hora em suspenso para chegar aquele livre: Ronaldo concentrou-se, rematou à baliza de De Gea e marcou um grande, grande golo. Como é que o melhor jogador do mundo faz isto?

A ciência explica. Apesar de os remates ao poste serem sempre um fenómeno “simplesmente acidental” — explicou ao Observador Carlos Fiolhais, professor catedrático de Física na Universidade de Coimbra — a estratégia de Ronaldo é rematar quase sempre para um dos cantos da baliza. Foi assim que marcou dois dos três golos portugueses à Espanha no Mundial-2018 no empate 3-3.

Um pontapé livre de Ronaldo como o marcado no Portugal-Espanha pode ser quatro vezes mais rápido que a velocidade da missão Apollo 11 quando partiu da Terra.

Essa é uma estratégia que resulta porque a física assim o determina: os cientistas descobriram que um pontapé livre de Ronaldo como o marcado no Portugal-Espanha (e agora na estreia da Liga das Nações frente à Suíça) pode ser quatro vezes mais rápido do que a velocidade da missão Apollo 11 quando partiu da Terra. E que, numa época apenas, Cristiano consegue acelerar 900 vezes mais que um atleta olímpico.

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Rematar aos cantos: a fórmula mágica de Ronaldo

Uma fotografia tirada do topo do campo mostra como Cristiano Ronaldo rematou para um dos cantos inferiores da baliza de David De Gea para marcar o primeiro golo da Seleção Nacional no Portugal-Espanha de 2018. Créditos: Getty Images.

Vamos olhar para os números. Uma baliza mede 7,32 metros de largura e 2,44 metros de altura, portanto a área para que o jogador remata é de 17,86 metros quadrados. A matemática diz que um guarda-redes com 1,93 metros (De Gea tem apenas menos um centímetro) demoraria cerca de 0,7 segundos a chegar a um dos extremos da baliza, se estiver posicionado no centro dela. Mas,. quando rematada em situação de penálti a uma distância de 11 metros da baliza, a bola pode chegar à rede em menos de 0,5 segundos.

Por outras palavras: contando com o tempo de reação de um guarda-redes, um remate desta natureza é quase indefensável se a bola for para o mais longe possível do guardião. Um estudo publicado em 2005 após analisar 286 remates à baliza indica que mais de 80% dos remates resultam em golo se forem para a chamada “zona indefensável”. E a zona indefensável é precisamente a região para onde Ronaldo tentou sempre rematar ao longo do duelo entre Portugal e Espanha. Foi por isto que o capitão português conseguiu ser tão eficaz aos longo dos 90 minutos do jogo.

Um estudo de 2005 indica que mais de 80% dos remates à baliza resultam em golo se forem rematados para a “zona indefensável”. E a zona indefensável é precisamente a região para onde Ronaldo rematou quase sempre.

A estratégia resultou e valeu o alívio de um empate a Portugal, mas podia ter corrido mal: a zona indefensável está muito próxima dos postes. Qualquer remate mal calculado — seja por causa do vento ou de um remate milimetricamente mal chutado — pode significar um golo falhado. No Euro 2016, a estratégia de Ronaldo falhou num pénalti frente à Áustria e isso foi considerado “cientificamente perdoável” por Carlos Fiolhais. Desta vez deu bom resultado e é cientificamente justificável.

O segredo de Ronaldo está nas coxas

Esta fotografia, tirada antes de Ronaldo marcar um golo de livre no Portugal-Espanha, desvenda algumas das características físicas que justificam a eficácia do português em campo. Créditos: Getty Images.

No meio da pressão de um jogo de futebol, dificilmente Cristiano Ronaldo se dispõe a fazer estas contas matemáticas para determinar se um remate será certeiro ou não. Boa parte do segredo do melhor jogador do mundo esconde-se debaixo da pele: CR7 tem 1,851 metros de altura, 80 kg de massa, um perímetro de coxa muito superior à média, mas um perímetro de gémeos inferior ao normal.

Ronaldo tem pernas de velocista porque são longas; o físico de um atleta de meia distância por ser delgado; e a estatura de um atleta de salto em altura. Foram estas as conclusões a que chegaram os especialistas em física desportiva da “Castrol Edge Rankings”, que em 2012 quiseram saber porque é que Ronaldo é um dos futebolistas mais valiosos do mundo.

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Um newton corresponde à força exercida sobre um corpo com 1 kg que lhe induz uma aceleração de 1 m/s² na mesma direção e sentido dessa força.

Esses cientistas concentraram-se acima de tudo em descobrir porque é que a taxa de sucesso nos duelos aéreos de Ronaldo aumentou dos 40% para os 66%. E descobriram que Cristiano Ronaldo conseguia usar tanta força quanto a experimentada por um astronauta quando sai da Terra para o espaço. Saltando sem impulso e sem a ajuda dos braços, Ronaldo não consegue saltar mais do que 44 centímetros através de uma força apenas 1,5 vezes maior que o peso do seu corpo. Mas, em situação de jogo, Ronaldo consegue elevar-se a 78 centímetros do chão – mais alto do que a média dos jogadores de basquetebol da NBA – e com uma força cinco vezes maior à do seu peso. Essa força, no caso de Ronaldo e tendo em conta a Segunda Lei de Newton, é de 3.920 N.

Boa parte do segredo do melhor jogador do mundo é físico: CR7 tem um perímetro de coxa muito superior à média, mas de gémeos inferior ao normal. Tem pernas de velocista, físico de um atleta de meia distância e a estatura de um atleta de salto em altura. 

O resto está-lhe nos genes: “Ronaldo tem geneticamente um corpo de atleta, mas desenvolve o seu corpo com exercícios no ginásio” onde trabalha muito a coxa, explicou ao Observador Carlos Fiolhais no Euro 2016: grande parte da força que Ronaldo armazena fica concentrada na zona inferior do corpo. Essa força pode ser posta em ação com muita facilidade porque Ronaldo tem menos 3% de gordura corporal que um supermodelo. Isso permite-lhe levantar o peso equivalente a dezasseis carros Toyota Prius durante um treino intensivo de pesos.

O que vai na cabeça de Ronaldo

Cristiano Ronaldo concentra-se antes do penálti que deu a Portugal o primeiro golo da partida. Créditos: Getty Images.

Mas o corpo humano só obedece, pelo menos em parte, àquilo que a mente comanda: Ronaldo tem uma fabulosa visão do campo e reage muito depressa. “Ele adivinha onde a bola vai cair. Essa é uma noção intuitiva que o próprio não conseguirá explicar, mas que todos vemos. Ele está no sítio certo à hora certa. Digamos que sabe ler o jogo, isto é, tem uma atenção permanente à posição e à velocidade da bola, assim como às posições dos seus companheiros”, explica Carlos Fiolhais.

"O que torna excecional [Cristiano Ronaldo] é o tempo de reação muito curto que lhe permite uma capacidade de antecipação incrível do perigo"
Sérgio Gonçalves, biomecânico do Instituto Superior Técnico

Isso mesmo é confirmado ao Observador por Sérgio Gonçalves, biomecânico do Instituto Superior Técnico: “O que o torna excecional é o tempo de reação muito curto que lhe permite uma capacidade de antecipação incrível do perigo“, conta. E isso foi provado pelo teste que a Castrol fez ao internacional português: o jogador foi posto num campo e viu a bola a ser chutada numa determinada direção. Assim que a bola foi chutada, as luzes do campo foram desligadas para testar a capacidade de antecipação e instinto de Ronaldo. Foi assim que se descobriu que os tempos de reação do português quando está em campo conseguiriam circum-navegar o mundo 31 horas mais depressa de um comboio de alta velocidade.

Como a ciência justifica os pontapés certeiros de CR7

O momento em que Cristiano Ronaldo remata para fazer o terceiro golo da Seleção Nacional. Créditos: Getty Images.

A estratégia de remate aos cantos, o corpo atlético e uma mente aguçada são as mais valias que Cristiano Ronaldo leva para dentro de campo desde o início da carreira e que foi aperfeiçoando ao longo do tempo. Mas do lado do melhor jogador do mundo há outro amuleto da sorte: a física. A trajetória de uma bola desde o momento do remate até à baliza depende de vários fatores, mas os principais são as condições iniciais da bola (a posição, a imprimida no remate e outras características da rotação) e as forças que atuam durante o movimento (que são o peso e a resistência do ar). Tudo isso joga a favor de Ronaldo.

O porquê entende-se se olharmos para dentro dessas forças. No momento do remate atua sobre a bola uma “força de contacto”, que é a transmitida pela bota do jogador. Depois a bola segue na direção da baliza e fica sujeita ao próprio peso e à resistência do ar. Estas forças são “aerodinâmicas” e são influenciadas pela pressão e pela viscosidade do meio, um parâmetro do ar que estuda a resistência que ele tem ao ser atravessado por um objeto.

Quando um jogador remata a bola de raspão imprime à bola um movimento de rotação chamado "efeito Magnus". É isso que Cristiano Ronaldo faz para tornar cada bola enviada à baliza mais imprevisível para o guarda-redes.

Ora, todo o movimento é governado pela 2ª Lei de Newton: a velocidade que a bola leva é modificada pelas forças que nela atuam. E há uma força que pode mudar completamente a felicidade (ou a infelicidade) de um remate no futebol: a rotação. Quando um jogador remata a bola de raspão (evitando o seu centro), imprime à bola um movimento de rotação semelhante ao da Terra, fazendo com que uma nova força passe a agir sobre ela. Essa força chama-se “efeito Magnus”. É isso que Ricardo Quaresma consegue colocar na bola naquelas trivelas. E é isso que Ronaldo faz para tornar cada bola enviada à baliza mais imprevisível para o guarda-redes.

Uma mãozinha da robótica nos pés

Cristiano Ronaldo salta para celebrar o terceiro golo que marcou por Portugal no jogo contra Espanha. Créditos: Getty Images.

Cristiano Ronaldo não: ele, à semelhança de muitos jogadores do Real Madrid, manda produzir as chuteiras através de impressoras tridimensionais com base numa técnica que se chama "podologia robotizada".

Os pés de um jogador de futebol são um dos mais importantes instrumentos que tem à sua disposição para cumprir a tarefa final de qualquer partida: ganhá-la marcando golos. Muitos futebolistas preferem continuar a usar chuteiras feitas à moda antiga: futebolistas como Leonel Messi, Andrés Iniesta e Neymar preferem que as botas que levam para dentro de campo sejam feitas à mão. Cristiano Ronaldo não: ele, à semelhança de muitos jogadores do Real Madrid, manda produzir as chuteiras através de impressoras tridimensionais com base numa técnica que se chama “podologia robotizada”.

Martín Rueda, podologista do Barcelona, explicou numa entrevista ao El Español porque é que isto coloca Ronaldo em vantagem: “O pé é a nossa base. É como um edifício, se a base nos falhar tudo o resto se desintegra. Começámos por medir partes que nunca tinham sido medidas: os quadris ou os joelhos, por exemplo. E começámos a detetar padrões de lesões para os impedir“, explicou. É isso que permite às chuteiras feitas com tecnologia moderna serem mais leves, personalizáveis e flexíveis, uma franca vantagem visto que em cada 100 futebolistas profissionais, 20 a 30 têm lesões nos pés.

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