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A "máquina perfeita" do Kremlin para anular os adversários de Putin

Os opositores de Putin nas eleições deste domingo foram presos, agredidos, cercados pela burocracia ou ignorados pelos média. Como se faz campanha quando já se sabe o vencedor? E para quê?

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“Queimaram o carro a um dos nossos voluntários e algumas pessoas foram espancadas. O ambiente é este.” Vitali Shkliarov resume assim ao Observador as consequências mais negras de ter aceitado gerir a campanha de uma candidata independente às eleições presidenciais deste domingo, na Rússia — Ksenia Sobchak, conhecida como a “Paris Hilton russa”, filha de um antigo companheiro de armas de Vladimir Putin que se tornou política da oposição.

O pedigree de Sobchak de nada lhe vale quando toca ao processo de candidatura, assegura Vitali. “Enfrentamos um exército de burocratas, cujo trabalho é dificultar-nos a vida”, resume o gestor de campanha que ganhou experiência nos EUA, onde foi voluntário nas campanhas de Barack Obama e Bernie Sanders.

O cenário na Rússia é bem diferente daquele que encontrou na América, assegura. Quando um impresso não está bem preenchido, por exemplo, ninguém avisa o candidato do erro, sendo o processo simplesmente chumbado. Para recolher as 300 mil assinaturas necessárias, vindas de todas as partes da Rússia, um candidato tem de abordar pessoas e conseguir convencer os signatários a cederem-lhe todos os seus dados pessoais, como o número de Segurança Social e uma cópia do passaporte — mesmo que estejam -40º na rua. E, ao todo, um candidato sem acesso à televisão estatal tem apenas cinco semanas para fazer campanha eleitoral. “O Kremlin criou a máquina perfeita que não deixa que mais ninguém entre nela”, resume Vitali.

Nada que seja muito difícil para um regime que é acusado de eliminar opositores internos (como a jornalista Anna Politkovskaya ou o político da oposição Boris Nemtsov) e de envenenar ex-espiões fora do seu país — depois de Alexander Litvinenko, surge agora o caso de Sergei Skripal e da sua filha, envenenados com um agente nervoso em Salisbury, no Reino Unido.

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Vitali Shkliarov, ex-voluntário nas campanhas de Obama e Sanders e atual gestor de campanha de Sobchak (D.R.)

D.R.

Bem-vindos à Rússia, em 2018: o principal rosto da oposição, Alexei Navalny, está impedido de concorrer a estas eleições; os restantes candidatos estão impedidos de aparecer na maior parte dos programas de televisão; o instituto de sondagens mais credível do país optou por não fazer estudos nesta eleição por temer represálias; e o provável vencedor, Vladimir Putin, recusa-se a participar em debates. Mesmo assim, sete candidatos conseguiram registar-se para concorrer contra o Presidente — o mais provável, contudo, é que todos juntos não atinjam 40% dos votos. Nenhum russo tem dúvidas de que neste domingo, 18 de março, Vladimir Putin será, uma vez mais, o vencedor da eleição presidencial.

Enchidos e iPhones para combater a abstenção

Vladimir Putin está longe de ser um estreante em batalhas presidenciais. O ex-agente do KGB entrou para a política após o colapso da União Soviética, em 1991, subindo da política autárquica em São Petersburgo para homem de confiança de Boris Yeltsin. Foi o próprio Yeltsin que decidiu escolhê-lo para o cargo de primeiro-ministro, em 1999, anunciando-lhe a decisão num encontro na sua dacha, em agosto desse mesmo ano.

A resposta de Putin foi inesperada: “Não gosto de campanhas eleitorais. Não gosto mesmo. Não sei como as fazer e não gosto delas”. Yeltsin assegurou-lhe que teria subordinados a tratar disso e que não teria de se preocupar com questões menores, como sondagens e debates. O resto é história: Putin aceitou a proposta e em menos de quatro meses passou de primeiro-ministro a Presidente. Desde então, tem ocupado o seu tempo entre os dois cargos, estando no poder há 18 anos.

O episódio está contado no livro “O Novo Czar” (ed. Edições 70), de Steven Lee Myers, e revela o desconforto de Putin em lidar com o que vê como matérias menores: debater com adversários, pensar em táticas eleitorais, fazer discursos inflamados em campanha. Por isso mesmo, os quase 20 anos em que o líder russo tem estado no poder serviram para aperfeiçoar uma máquina eleitoral em que ele apenas tem de se preocupar com a governação.

Um jovem Putin com Boris Yeltsin, que o escolheu para seu sucessor (AFP/Getty Images)

AFP/Getty Images

Marc Bennetts, jornalista britânico a viver em Moscovo há mais de 15 anos, resume a situação ao Observador: “Todo o sistema, desde o Comité Eleitoral controlado pelo Governo que conta os votos, até à televisão estatal que faz a toda a hora cobertura de Putin, está altamente inquinado a favor de Putin. Alguns dos candidatos ‘rivais’, como Boris Titov [candidato do Partido do Crescimento, pró-Kremlin, de centro-direita], admitem abertamente que consideram Putin o melhor candidato”.

O desprezo do atual Presidente pelo processo eleitoral é tanto que a sua candidatura demorou a ser anunciada, sendo apenas confirmada a 6 de dezembro de 2017. O seu rascunho de programa eleitoral só foi conhecido esta quinta-feira, quando num anúncio estatal Putin defendeu a necessidade de combater a pobreza, melhorar o sistema de saúde e reforçar a presença militar no Ártico. Mas, mesmo que nenhuma proposta saísse dos seus lábios, ninguém duvidaria de que Putin irá vencer esta eleição, ou não andasse a sua taxa de aprovação à volta dos 70%.

“Não gosto de campanhas eleitorais. Não gosto mesmo. Não sei como as fazer e não gosto delas.”
Vladimir Putin, em 1999, numa conversa informal com Boris Yeltsin

“Vladimir Putin é o favorito indiscutível desta eleição”, reconhece Valery Fedorov, diretor do Centro de Pesquisa de Opinião Pública Russa (CPOPR) — um organismo sob a alçada do Kremlin –, questionado pelo Observador por email. “A dúvida não é se ele irá ganhar, é com que resultado irá ganhar. Tanto em termos de percentagem de eleitores que irão votar nele, como em termos de percentagem de eleitores que vão às assembleias de voto e não ficarão em casa.”

A participação eleitoral é, curiosamente, um dado importantíssimo para o Kremlin e para a campanha de Vladimir Putin — que este ano concorre formalmente como um candidato “independente” e não como homem do partido Rússia Unida. No outono passado, a associação Golos, que monitoriza violações eleitorais, teve acesso a um documento interno do Kremlin enviado a vice-governadores que dava conta de um objetivo apelidado de “70/70” — 70% de participação eleitoral, com 70% dos votos a favor de Vladimir Putin. Para conseguir o objetivo de 70% de participação eleitoral, há relatos de estratégias a serem discutidas como concursos nas assembleias de voto que dão aos vencedores prémios como descontos em enchidos ou até iPhones e também de funcionários públicos a serem pressionados para irem votar.

Mas por que razão é uma abstenção baixa um objetivo tão importante para a campanha de Putin? Fedorov, que conhece bem os corredores do Kremlin, explica: “Se a participação for baixa, isto vai ser usado pelos adversários de Putin dentro e fora da Rússia para atacá-lo. Para um Presidente que pode vir a ter seis anos tensos pela frente, é extremamente importante que o povo russo o apoie o mais possível.” Ou, posto noutra perspetiva, “num regime autoritário como a Rússia, este é o sinal para provar que o apoio ao Presidente é gigante”, diz o gestor da campanha de Ksenia Sobchak, Vitali Shkliarov. “Para que não haja dúvidas sobre o amor que há pelo Presidente.”

Quando o principal rosto da oposição não está nos boletins de voto

Que o vencedor já está decidido, não parece haver dúvidas. Quem são então os homens e mulheres que decidem, mesmo assim, concorrer contra o todo-poderoso Vladimir Putin?

Na Rússia, a oposição divide-se em dois campos. Um deles é a chamada “oposição sistémica”, onde se incluem todos aqueles que colaboram de certa forma com a corte de Putin, já que não levantam ondas nem se opõem à forma de funcionamento do sistema. É o caso de Titov, mas também dos comunistas, por exemplo, bem como uma série de outros pequenos partidos. Do outro lado, está a oposição fora do sistema, liderada por Alexei Navalny — que, ironicamente ou não, está proibido de concorrer.

“Depois da breve aparição de Navalny e da sua detenção à força, a manifestação parece ter enrijecido. Durante a hora seguinte, a massa de pessoas que rodeava o monumento Pushkin continuou a gritar ‘Putin é um ladrão!’ e ‘Isto não é uma eleição!’. Os manifestantes deram entrevistas onde enfatizaram que as eleições serão incompletas sem Navalny, afirmando que o atual Presidente ‘nem sequer sabe usar a Internet’. Ninguém parecia saber o que fazer a seguir.” O relato é da reportagem do site russo independente Meduza e descreve os momentos que se seguiram à última detenção de Navalny, a 28 de janeiro.

Alexey Navalny numa manifestação (AFP/Getty Images)

AFP/Getty Images

O advogado está proibido de concorrer a esta eleição por causa de um processo anterior, criticado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, onde foi condenado por desvio de fundos. Apesar disso, Navalny tem mobilizado centenas de voluntários e feito um périplo pelo país que culminou com a manifestação em Moscovo, no final de janeiro, onde foi detido. Atualmente espera pela audiência em tribunal que decidirá se pode estar ou não em liberdade no dia da eleição.

Se estiver, Navalny já anunciou que irá para perto de assembleias de voto para pedir aos russos um boicote eleitoral. O seu argumento é que, estando o principal rosto da oposição proibido de participar, estas eleições não passam de um ato eleitoral travestido e com o qual os russos não devem colaborar. Mas, mesmo sendo publicitada por Navalny, o mais certo é a ideia ter pouca adesão. O jornalista Marc Bennetts prevê que no máximo 8% dos eleitores irão participar no boicote. “É claro que muitos mais não vão votar, mas é por questões relacionadas com apatia, falta de interesse, falta de confiança nos políticos”, explica. “Acho que o Kremlin está muito satisfeito com a forma como lidou com Navalny até agora. É claro que isso pode mudar se ele conseguir trazer muita gente para as ruas a seguir à eleição. Mas até isso é discutível.”

“Se a oposição ficar à espera de não ter esqueletos no armário, vamos ficar assim décadas”

Os restantes membros da oposição, é claro, são contra o boicote. Ksenia Sobchak, sobretudo, tem repetidamente criticado a ideia, apesar de se assumir publicamente como estando do mesmo lado da barricada da Navalny — uma ideia que muitos contestam. “Ela aceitou concorrer como mascote da oposição liberal, com a esperança de que pudesse usar a sua plataforma para passar opiniões da oposição sobre temas como a Crimeia e a corrupção. Se tem sido bem sucedida ou não, é outra questão. Não há muitos russos a levá-la a sério. E há até quem diga que ela prejudica a reputação da oposição”, aponta Marc Bennetts.

“Acho que o Kremlin está muito satisfeito com a forma como lidou com Navalny até agora. É claro que isso pode mudar se ele conseguir trazer muita gente para as ruas a seguir à eleição. Mas até isso é discutível.”
Marc Bennetts, jornalista britânico

Se em tempos Ksenia garantia ser apenas uma jornalista “à semelhança de Larry King”, que rejeitava a ideia de entrar na política, hoje em dia a socialite tornada ativista assume-se claramente como candidata à presidência. Para o gestor da sua campanha, Vitali Shkliarov, seria um desperdício não aproveitar a visibilidade da “Paris Hilton” russa para trazer à tona temas incómodos para Putin: “Ele tem uma taxa de reconhecimento de 100%, ela vem logo a seguir com 92%”, diz, entusiasmado, ao telefone. “Não usar a persona dela como se fosse um microfone seria estúpido. Eu sei que ela não tem experiência política. Mas ela não vai ser Presidente, está aqui para gritar os problemas.

Ksenia Sobchak, candidata da oposição à presidência (AFP/Getty Images)

AFP/Getty Images

Ksenia tem de facto aproveitado as oportunidades para falar de temas desconfortáveis para o Kremlin, como os direitos LGBT, a tomada da Crimeia ou até a detenção de Navalny. Mas nada disto tem travado os rumores de que a candidata, filha do antigo presidente da câmara de São Petersburgo e amigo de Putin, Anatoly Sobchak, está de alguma forma ligada ao Kremlin — ideia essa que assenta sobretudo no facto de os candidatos verdadeiramente incómodos, como Navalny, serem geralmente impedidos de concorrer. Uma fonte próxima do Kremlin, citada pelo The Guardian em Abril do ano passado, revelava que o sistema estava à procura de um candidato-mascote na oposição: “Eles querem alguém que dê a ideia de que quer competir, mas que na verdade não vai atacar Putin nem o círculo próximo dele. Precisam de alguém que compreenda os limites e o Navalny não compreende limites nenhuns”.

Questionado pelo Observador sobre como vê estas alegações sobre a sua candidata, Vitali Shkliarov começa por falar em “teorias da conspiração” e “pessoas que se sentam no sofá a dizer mal de tudo”. Mas rapidamente acrescenta que, num país onde “toda a gente” está de alguma forma ligada ao Kremlin, é impossível ter “uma eleição virginal”. “Se ficarmos à espera do ambiente político ideal, transparente, democrático, sem esqueletos no armário, vamos ficar assim durante décadas”, acrescenta.

Se a propaganda não chegar, resta sempre a fraude eleitoral

A seguir aos obstáculos que são colocados a candidatos como Navalny — e, num certo sentido, até à campanha de Sobchak –, a oposição enfrenta a propaganda estatal e o acesso desigual aos meios de comunicação social, apesar de Putin praticamente não fazer campanha. “Ele não faz campanha no sentido tradicional do termo”, explica o jornalista Marc Bennetts. “A sua mensagem é simples: ‘Se és um patriota, vota em mim’. O slogan dele é mesmo ‘Um Presidente forte. Uma Rússia forte.”

A receita é igual à de sempre: nada de campanha oficial, mas reforço das atividades como Presidente, sobretudo de caráter militar. Estas são amplamente divulgadas pelas televisões, o que significa que, mesmo não fazendo campanha, Putin é sempre o rosto mais visível em todos os lares russos. No dia das eleições parlamentares de 2003, quando o Presidente foi votar, a sua mulher contou aos jornalistas como o marido tinha passado a noite em branco a ajudar a cadela da família, Koni, a parir. “A notícia sobre os cachorros teve mais cobertura do que os partidos da oposição que, no final do dia, tinham sido esmagados. A Rússia Unida, mesmo não tendo nenhuma identidade política própria, ganhou facilmente com 36% dos votos, o suficiente para, de acordo com a distribuição de lugares, ter uma maioria dos mandatos na Duma”, conta Lee Myers em “O Novo Czar”.

“Se ficarmos à espera do ambiente político ideal, transparente, democrático, sem esqueletos no armário, vamos ficar assim durante décadas.”
Vitali Shkliarov, gestor de campanha de Ksenia Sobchak

Caso todos estes obstáculos aos adversários falhem, há sempre a hipótese da fraude eleitoral, levada a cabo não diretamente pelo Kremlin, mas sim a nível local. Isso mesmo assegura ao Observador Roman Udot, da associação de monitorização Golos (palavra russa que tanto pode significar ‘voto’ como ‘voz’): “A orquestração geralmente não vem do centro, o centro apenas dá um sinal sobre quais são os seus desejos”, diz o coordenador, apontando para o tal objetivo de 70/70. “Esqueçam Moscovo; eles não vão interferir com os resultados aí porque sabem que a maior parte da população é pró-europeia e participa em manifestações. Portanto o resto do país será decisivo.”

Para isso, explica Udot, os chamados “sultanatos eleitorais” serão decisivos: zonas como o Cáucaso Norte, o Tartaristão ou o Baixo Volga. Na Chechénia, por exemplo, Putin teve 99% dos votos em 2012. E a tradição vem de longe: em 2004, o Daguestão e a Inguchétia, ambas regiões no Cáucaso, elegeram Putin com 94% e 98% dos votos, respetivamente. Estes resultados, dignos dos tempos soviéticos, são alegadamente conseguidos à custa de métodos como manipulação dos cadernos eleitorais, preenchimento prévio de boletins de voto e introdução de votos falsos em urnas — como o caso do vídeo de uma assembleia de voto em Khazan onde é possível ver homens a introduzir vários boletins numa urna, denunciado pela Golos [a partir do minuto 4].

Valery Fedorov, do Centro de Pesquisa de Opinião Pública Russa (tutelado pelo Kremlin), admite que houve fraude nas eleições para a Duma em 2011, mas rejeita essa acusação sobre as últimas presidenciais. E garante que este ato eleitoral será igualmente limpo: “Zero fraude eleitoral, zero pressão sobre os eleitores, zero pressão administrativa, apenas ferramentas políticas e de propaganda.” Udot, da Golos, não tem tanta certeza e destaca a situação que a sua associação atravessa, descrevendo-a como ilustrativa do “tipo de política bizantina” que se vive na Rússia: “Por um lado somos considerados aliados pela Comissão Eleitoral, por outro somos acusados de ser ‘agentes estrangeiros’.”

No dia da conversa com o Observador, o coordenador da Golos em Krasnodar, David Kankiy, foi detido. Motivo? Estava a dar formação sobre fraude eleitoral a apoiantes de Navalny. Os powerpoints utilizados eram exatamente os mesmos da formação que a Golos deu aos deputados nacionais.

2018, o ano das “últimas eleições estáveis”

Com ou sem fraude, o presente é previsível. Com mais ou menos barulho de Nalvany, com mais ou menos questões incómodas de Sobchak, para a elite política russa estas eleições são apenas mais um episódio rotineiro. Mas, prevê a analista política Tatiana Stanovaya ao Observador, “estas serão as últimas eleições estáveis”. Em 2024 este mandato de Putin chegará ao fim e, de acordo com a Constituição, o Presidente não poderá recandidatar-se. A corrida para a sucessão poderá ser oficialmente aberta e, com ela, o tempo das eleições “previsíveis” de um regime “velho e gasto” ficará para trás, diz a analista.

Em tempos, o ex-agente do KGB deu a volta ao problema colocando um fantoche político, Dmitry Medvedev, no seu lugar e ocupando o cargo de primeiro-ministro. Desta vez, ninguém sabe ao certo o que irá acontecer. “Penso que ele gostaria de arranjar para si próprio um lugar especial como líder estratégico do país, onde teria de se preocupar apenas com a política externa e a geopolítica”, arrisca Stanovaya.

A grande maioria dos russos consome informação sobretudo através da televisão estatal (AFP/Getty Images)

AFP/Getty Images

Do lado da oposição, também se fazem contas a 2024. Vitali Shkliarov, por exemplo, assume que até lá espera que Sobchak e companhia tenham reforçado o seu apoio nas eleições municipais de São Petersburgo (2020) e nas legislativas de 2021. “Este ambiente político é um deserto, uma terra queimada, não há nada vivo agora. Cada candidato é um passo em frente.”

Quanto a Navalny, o homem em quem todos os oposicionistas depositam esperança, ninguém sabe o que lhe poderá acontecer até lá. Certo é que, como prevê Stanoyava, ele continuará presente: “A tática dele é a de esperar e ir bombardeando o regime com provocações. Ele vai continuar e continuar, com a esperança de que o regime se torne mais fraco e menos capaz de o impedir de participar”.

Qualquer político que seja oposição a Vladimir Putin sabe que a alta popularidade do líder é um obstáculo inultrapassável — para já. Os esforços para esta eleição são, na verdade, trabalho para o futuro, já que esta corrida é mais uma maratona do que um sprint e tudo se pode jogar em 2024. “A democracia não nasce com uma única eleição, é um processo”, reconhece Vitali. “Este bebé ainda não nasceu. E depois vai precisar de se levantar, aprender a andar e talvez um dia consiga correr. Até lá, acho que ainda vamos ter de esperar uns 10 anos. Ou 20, até.”

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