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Em outubro de 2018, durante a visita à Nova Zelândia e Austrália, a primeira viagem oficial depois do casamento © Kirsty Wigglesworth - Pool/Getty Images
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Em outubro de 2018, durante a visita à Nova Zelândia e Austrália, a primeira viagem oficial depois do casamento © Kirsty Wigglesworth - Pool/Getty Images

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Em outubro de 2018, durante a visita à Nova Zelândia e Austrália, a primeira viagem oficial depois do casamento © Kirsty Wigglesworth - Pool/Getty Images

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A Meghanmania e o primeiro bebé de uma nova era para a família real britânica

Quer se ame, quer se odeie a duquesa de Sussex, Meghan Markle tomou o mundo de assalto. Agora que tem o primeiro filho com o príncipe Harry, revemos a evolução da "Meghanmania".

Foi no princípio de novembro de 2017. Estavam juntos há ano e meio e a ter uma noite descontraída em casa, “a assar um frango no forno”, quando Harry propôs Meghan em casamento. “Foi muito querido e romântico. Ele ajoelhou-se”, explicou a noiva semanas depois durante a tradicional entrevista à BBC que serve de anúncio formal à nação da intenção do enlace. Tudo nesta história soaria perfeitamente normal e familiar, não fosse ele um príncipe e ela uma atriz conhecida da televisão. Pessoas com vidas nada comuns a esforçarem-se por ser — e parecer — o mais comum possível.

Tendo em conta que William e Kate namoraram cerca de 10 anos antes de se casarem, não é de se estranhar que a jornalista tenha inquirido sobre o curto espaço de tempo – 18 meses – entre o primeiro encontro e a proposta de união. “Para muitas pessoas parece bastante rápido. Também sentem que foi assim?”. Não, Meghan não concorda com a ideia de que tenha havido impulsividade ou pressa no desenvolvimento da relação. “Não lhe chamaria um turbilhão. Claro que houve fases, em parte relacionadas com o quão pública a nossa relação se tornou, mas tivemos quase seis meses de privacidade – o que foi fantástico! Acho que tivemos muito tempo para conectar e nunca deixámos passar mais de duas semanas sem nos vermos, apesar de estarmos numa relação à distância”.

Harry e Meghan já têm conta oficial no Instagram

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De acordo com números da Yougov, que regularmente mede a popularidade de figuras públicas no Reino Unido, o príncipe Harry é a mais estimada figura pública nacional, não só da família real britânica — onde é também o mais popular — mas de qualquer família, seja real ou da plebe. O Reino Unido adora o Príncipe Harry. Sem grandes hipóteses de se tornar rei, e sem a pressão de tentar estar à altura dessa responsabilidade, Harry conseguiu o título que a sua mãe, a princesa Diana, mais queria e tornou-se numa espécie de “Príncipe do Coração das Pessoas”. Números da mesma fonte revelam que 77% do público no Reino Unido aprova o príncipe Harry, que é descrito maioritariamente usando palavras positivas como “simpático”, “engraçado”, “admirável” e alguém que “gosta de se divertir”. E Meghan Markle? Onde é que se situa neste ranking a esposa do princípe do povo? Apesar de chegar ao Palácio de Buckingham diretamente de Hollywood, a ex-actriz célebre pela sua participação na série Suits, ocupa a 9ª posição entre os mais famosos membros da Família Real – 8% dos inquiridos nunca ouviu falar dela – e a 6ª posição no que toca a popularidade com apenas 52% do público a ter uma opinião favorável sobre ela. Kate Middleton, como a Vanity Fair e muitas outras revistas fizeram questão de noticiar, está à frente de Meghan na 4ª posição.

Em setembro de 2017, numa das primeiras aparições públicas num encontro de ténis em cadeira de rodas, durante os Jogos Invictus © PChris Jackson/Getty Images

Chris Jackson

Meghan Markle não é uma figura pública que reúne consenso – se é que tal coisa existe. Para além de ser divorciada e ter um passaporte norte-americano, trabalhou como atriz até pouco antes do casamento. Há centenas de artigos online a questionarem-se sobre as origens de Meghan que descende de pais divorciados, numa combinação de duas raças, mas não há dúvidas de que não advém de uma linhagem real. Todas estas características reunidas provavelmente não representariam um problema para a maior parte das famílias, mas estes são os Windsor, uma dinastia com mais de 100 anos, que reina sobre o Reino Unido e os países da Commonwealth há quatro gerações. A continuidade aqui é a lei. E Meghan é diferente.

Antes daquele primeiro encontro em 2016, Harry também nunca tinha ouvido falar de Meghan Markle nem assistido à série televisiva que a tornou célebre. Foram apresentados por “uma amiga comum” cuja identidade Meghan tentou proteger durante a entrevista à BBC, mas poucos segredos resistem hoje em dia e o cupido foi identificado como sendo Violet von Westenholz, uma amiga de infância de Harry que conheceu Meghan devido ao ser trabalho de relações públicas. Violet terá proporcionado o primeiro contacto, sendo que depois tiveram “dois encontros em Londres em Julho”, explica Harry. “Três semanas depois consegui convencê-la a vir comigo até ao Botswana. Acampámos juntos debaixo das estrelas e passámos lá cinco dias, o que foi absolutamente fantástico! Ali estávamos realmente sozinhos, o que para mim era crucial para ter a certeza de que tínhamos a oportunidade de nos conhecermos um ao outro”.

Mais estranho do que Harry não saber quem Meghan era antes de a conhecer, é ela afirmar que não sabia muito sobre ele. Desde que nasceu que a vida do príncipe Harry é documentada e consumida com voracidade pelo público. Ele cresceu sob o olho dos media. Ainda assim, as coisas são diferentes do outro lado do Atlântico. “Eu sou dos EUA onde não temos o mesmo conhecimento da família real. Quando a minha amiga disse que nos queria juntar o que eu queria saber era se ele tinha bom coração porque, se ele não fosse bondoso, para mim não fazia sentido. Então fomos tomar um copo e pouco tempo depois de começarmos a falar, perguntámos um ao outro o que íamos fazer no dia a seguir”. O bom coração de Harry foi rápido a mostrar-se.

A feminista e a senhora que combina almoços

“Nunca quis ser uma senhora que combina almoços. Sempre quis ser uma mulher que trabalha”, escreveu Markle no final de 2016 num post do seu blogue de lifestyle, o agora extinto The Tig. O texto fala do equilíbrio entre a sua vida enquanto atriz e o trabalho humanitário realizado como Embaixadora das Nações Unidas em prol da Igualdade de Género e Direitos das Mulheres, e de como um alimenta o outro lado da sua vida.

Em Abril de 2017, cerca de nove meses depois de conhecer Harry, Meghan anunciou que o blogue que mantinha há três anos ia agora chegar ao fim. Pouco depois demitiu-se da série Suits onde estava há sete anos, acabando assim com a ideia de que o fim do The Tig servia para se concentrar na sua carreira de atriz. Já não havia carreira. Pouco depois já nem havia redes sociais. Meghan fechou as suas contas de Instagram e Twitter, deixando de ter qualquer presença online em nome próprio, algo exigido aos membros da família real. Ainda que ela não o fosse, a namorada do príncipe Harry dava provas de estar pronta para dar o próximo passo — no começo de abril, o casal chegou por fim às redes, de forma oficial.

“Há uma ideia errada de que, por que eu tinha trabalhado na indústria do entretenimento, que isto [a atenção mediática] era algo que me seria familiar. Mas, apesar de eu então estar com o meu programa televisivo há seis anos, eu nunca tinha feito parte da cultura dos tablóides”, explicou Meghan durante a entrevista de anúncio formal de noivado à BBC.

O Sunken Garden do Palácio de Kensington, em Londres, foi o cenário eleito para o anúncio do noivado, em 27 de novembro de 2017 © Getty Images

AFP/Getty Images

Como é que se prepara alguém para entrar num mundo tão conservador, institucionalizado e com protocolos tão rígidos como o da família real britânica? Harry diz que falaram muitas vezes da enorme responsabilidade que viria com a sua união, mas que nada poderia antever o escrutínio avassalador que se seguiria. Meghan não usava collants (um escândalo), escolhia cortes de vestidos que não eram adequados (com os ombros de fora), as cores das suas unhas eram vulgares (preto, imagine-se!) e hesitava na ordem de entrada para o carro. Como era possível, perguntavam em uníssono o Daily Mail, o The Sun, o Daily Express e outros tantos títulos conhecidos por fomentar a divisão e sentimentos de ódio – especialmente contra pessoas de outras etnias, nacionalidades e religiões que não a tradicional britânica. Os mesmos tabloides, esse fenómeno cultural particularmente ácido no Reino Unido, que em 2015 se estavam a referir a imigrantes como “baratas”, levando a que o chefe de Direitos Humanos da ONU pedisse às autoridades britânicas e meios de comunicação para tomar medidas contra o incitamento ao ódio nos jornais.

Meghan não escapou às piadas de mau gosto e aos comentários de índole racista que já são tradição nestes meios. Em novembro de 2016, quando namoravam há apenas um punhado de meses, o romance foi confirmado publicamente através de um comunicado do Palácio de Kensington, onde o princípe Harry residia oficialmente. No comunicado pode ler-se que Meghan Markle, a “namorada do príncipe”, como foi apontada pela primeira vez, “está a ser vítima de abuso e perseguição” por parte da imprensa. Harry receava pela segurança não só de Meghan, mas também da sua família. Num documento oficial que pela primeira vez detalhava pormenores da vida privada de um membro da família real, condenava-se o racismo dos tabloides, a sede insaciável dos paparazzi e falava-se de segurança. “Ele [o príncipe] sabe que os comentadores dirão que este é ‘o preço que ela tem de pagar’ e que ‘faz tudo parte do jogo’. Ele discorda veemente. Isto não é um jogo – isto é a vida dela e a dele”, pode ler-se no comunicado. Implícita estava a memória de como essa voracidade mediática havia devorado a sua mãe, a princesa Diana. A comparação foi feita diretamente por George Clooney, amigo de Meghan, em Fevereiro. “Ela está a ser perseguida e vilificada da mesma maneira que a Diana foi. A história está a repetir-se e todos sabemos como é que acaba”.

Meghan Markle e a moda: a duquesa que vale milhões

A revista Tatler faz uma comparação diferente e evoca Sarah Ferguson, aka Fergie, outra mulher que, como Meghan, foi inicialmente recebida como “uma lufada de ar fresco” quando casou com o príncipe Andrew, o segundo filho da rainha Isabel II, mas que no fim acabou com o rótulo dado por Lord Charteris de Amisfield, o secretário particular da rainha, que declarou “Ela é vulgar, vulgar e ponto final”. Uma comparação ainda mais pertinente quando correm os boatos de que o staff do Palácio de Kensington se refere à duquesa de Sussex como “Me-Gain” numa alusão ao seu gasto extravagante e exigência desgastante. Mais uma razão para a mudança dos duques de Sussex do Palácio de Kensington, onde Meghan vive com Harry desde que anunciaram o noivado, para Frogmore Cottage, em Windsor, onde os vizinhos não incluem herdeiros diretos ao trono nem mordomos de língua solta.

Sangue vermelho e azul

Corta e segue para o Natal de 2018. Foi um ano importantíssimo para os agora duques de Sussex que se casaram no seguimento do que a comunicação social chamou uma relação relâmpago. Tinham sobrevivido aos vários escândalos, a maioria relacionados com a família de Meghan que parecia desesperada por “uma fatia da tarte” – leia-se por fama, dinheiro, atenção ou outro qualquer proveito. Mais do que tudo, proporcionaram o momento do ano quando casaram a 19 de Maio. O casamento do príncipe Harry com Meghan Markle foi o evento mais visto do ano na BBC com mais de 13 milhões de pessoas a seguir atentamente. Ainda assim, ficou aquém do casamento do irmão William com Kate Middleton em 2011, que teve uma audiência de 17.6 milhões incluindo repetições. Contudo, ambos ficaram muito aquém do recorde estabelecido pelos seus pais – quando casaram em 1981, o príncipe Carlos e lady Diana foram vistos por mais de 28 milhões de pessoas.

A monarquia é espetáculo. A monarquia é perpetuação dos símbolos da nação. O casamento dos duques de Sussex seguramente não foi o casamento real mais visto de sempre, mas ficará para a história pela sua inclusão e diversidade. A começar pela “orgulhosamente só” mãe da noiva, Doria Ragland, que Meghan descreveu no The Tig como “Rastas. Piercing no nariz. Instrutora de Ioga. Assistente social. Espírito livre. Fã de batatas fritas e tarte de limão”. Em resumo, algo completamente diferente para a família real britânica.

A cerimónia do casamento, em 19 de maio de 2018, na capela de St George do Castelo de Windsor © Owen Humphreys/WPA Pool/Getty Images

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Do outro lado do Atlântico vieram Oprah, George Clooney e Serena Williams entre muitas outras celebridades, mostrando não só mais diversidade, mas convidando um público diferente a interessar-se pela família real. Nos EUA, o casamento de Harry e Meghan foi visto por mais de 29 milhões de pessoas –mais 6 milhões do que William e Kate que perderam o jogo fora de casa. Seria possível que Meghan fosse afinal uma princesa de outro tipo de reino?

Qualquer bom argumentista dirá que depois do sucesso de uma primeira temporada, é importante começar a introduzir novas personagens na história. Durante uma visita à Austrália em Outubro passado, a primeira tour oficial dos recém-casados, foi anunciado que Meghan daria à luz na primavera. Os jornais contaram histórias do príncipe playboy que ia ser pai, o rapaz que cresceu sem mãe e que tinha a simpatia e o amor da nação. Mais do que nunca, a nação – e o mundo – assistia com interesse ao desenvolvimento deste enredo.

Dita a tradição que os membros da família real não sabem o sexo do bebé até ao momento do parto. Meghan e Harry gostam de fugir à regra, mas decidiram seguir esta, mascarando-a com a muito em voga neutralidade de género. Na Frogmore Cottage, em Windsor, um prédio que foi modernizado para receber o casal, o quarto do bebé foi decorado em tons de cinza.

Há com certeza muitos pormenores para apurar a partir de agora, para além de que será o primeiro de uma nova era para a família real britânica. Uma página da história do Reino Unido onde os protagonistas refletem pela primeira vez um pouco da diversidade do mundo que os observa. Quanto aos próximos anos, está ainda tudo em aberto, apesar de alguns jornais avançarem que o casal pode estar de malas feitas para África, para se fixarem temporariamente num destino da Commonwealth.

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