Antes do Europeu partia como uma das possíveis favoritas, depois da fase de grupos aparecia como uma das maiores favoritas, na antecâmara da final surgia como grande favorita. Quase de forma natural, a Espanha encerrou o Euro-2024 com o quarto triunfo na competição, tornando-se com isso a seleção com mais troféus na prova (quatro, sendo que três foram nas últimas cinco edições). No entanto, a prova organizada pela Alemanha ao longo de um mês teve vários pontos de interesse, do número “anormal” de autogolos como tinha acontecido no Euro-2020 ao eclipse de muitas das estrelas, passando pelas dezenas de invasões de campo e pelas prestações de equipas de segunda linha, há sete pontos que ficam deste Europeu.
Ganhou a melhor equipa a mostrar como o ataque pode ser a melhor defesa (e com crédito)
A Espanha foi a melhor equipa ao longo do Europeu, o jogo dos quartos com a Alemanha acabou mesmo por ser uma final antecipada entre as duas melhores equipas da competição. O desfecho do encontro decisivo e a própria forma como a partida foi decorrendo confirmaram essas duas ideias, sendo que a Roja acabou por comprovar uma outra ideia: apesar de ter sofrido um golo nos últimos quatro jogos, sendo que com Geórgia e França esteve em desvantagem, mostrou que jogar de forma ofensiva e com linhas subidas pode ser depois a melhor forma de não conceder grandes oportunidades aos adversários. Mas os méritos de Luis de la Fuente não se ficaram por aí e a forma como os duelos com Alemanha e Inglaterra foram decididos por suplentes (Mikel Merino e Oyarzabal) premiou a maneira como todos os jogadores sentiam que faziam parte do grupo, ao contrário do que aconteceu com outras equipas onde as oportunidades a outros foram poucas ou nulas.
Os autogolos chegaram para ficar: dos 30 em fases finais, 21 foram nas últimas duas edições
Foi um dos números que ficou da última edição, passou agora de exceção para uma espécie de “quase regra”. Até ao Euro-2020, tinham sido marcados 20 autogolos em fases finais do Campeonato da Europa, sendo que mais de metade chegaram nessa prova distribuída por várias cidades (11). Tinha sido um fenómeno estranho que não teria repetição, tornou-se algo que ganhou continuidade em 2024. Começou logo no jogo de estreia com Antonio Rüdiger no Alemanha-Escócia, prosseguiu depois ainda na fase de grupos com Klaus Gjasula (Albânia), Calafiori (Itália), Maximilian Wöber (Áustria), Donyell Malan (Países Baixos), Robin Hranac (Rep. Checa) e Samet Akaydin (Turquia), manteve-se com Le Normand (Espanha), Vertonghen (Bélgica) e Mert Müldür (Turquia). Contas feitas, os Europeus tinham contado com nove autogolos até 2020 e tiveram nas últimas duas edições 21. Não há uma razão específica, há várias justificações para esses números, de lances caricatos como o de Akaydin com Portugal a infortúnios de desvios para a própria baliza.
O triunfo das linhas a quatro perante as experiências das defesas a três
Foram várias as seleções que apostaram em linhas de três na defesa ao longo da competição. Os motivos iam variando: ganhar consistência no setor recuado, disfarçar a falta de opções nos extremos, privilegiar defesas que são sobretudo alas e podem fazer todo o corredor lateral, reforçar o seu jogo interior, permitir nuances táticas com posicionamentos de laterais como falsos médios em determinadas fases ou facilitar as saídas de dentro para fora. No entanto, e na hora da verdade, foram os sistemas tradicionais que imperaram, entre a linha a quatro da Espanha, a defesa que estabilizou com Kyle Walker como defesa direito da Inglaterra (sem com isso haver momentos do jogo em que Saka fica como falso ala e o jogador do Manchester City joga mais por dentro), os esquemas tradicionais de França e Países Baixos. Quer isso dizer que é a melhor opção? Não. O que significa? Que no futebol o mais importante é adaptar a forma de atuar às características dos jogadores à disposição, algo que Luis de la Fuente conseguiu cumprir de uma forma quase perfeita.
Foram as equipas de segunda linha que subiram ou as mais cotadas que desceram?
A fase de grupos teve encontros interessantes e com muitos golos, a fase a eliminar baixou a qualidade geral das partidas também por esse “peso” dos resultados e o Euro-2024 terminou com uma dúvida que ficou numa linha ténue de diferença: as equipas mais de segunda linha, como Geórgia, Albânia, Roménia, Eslováquia e Eslovénia, deram o salto qualitativo e aproximaram-se dos crónicos candidatos ao top 4 da competição ou as equipas de uma primeira linha, como Itália, Croácia e Bélgica, baixaram uns degraus em relação ao que era esperado pelo número de opções que dispunham? Provavelmente a resposta mais acertada será um misto de ambos e os cruzamentos nas meias-finais mostraram que os mais “fortes” acabaram no fim por prevalecer mas houve uma evolução dessas equipas que se encontram em processo de crescimento.
O excesso de minutos de competição em potenciais estrelas que nunca apareceram
Há um exemplo paradigmático de como uma temporada demasiado longa pode causar “mossa” a breve e a médio prazo: Pedri. O jovem jogador do Barcelona teve a melhor época em 2020/21 mas foi “espremido” ao máximo, realizando um total de 73 encontros oficiais entre compromissos dos catalães, a seleção A que foi às meias do Euro-2020 e a equipa olímpica que esteve nos Jogos de Tóquio. Resultado? Uma série de lesões a nível muscular, muitos jogos perdidos e o adiar do crescimento enquanto jogador que voltou a agora a entrar nos eixos. Essa foi outra das notas deste Europeu: com algumas exceções, muitos dos jogadores que surgiam como potenciais referências do torneio tiveram passagens discretas e em subrendimento pela fase final, como se viu também em Portugal com Bruno Fernandes ou Bernardo Silva. Mais: se os anos ímpares não tinham grandes provas de seleções, agora haverá também o Mundial de Clubes para encaixar…
Um mal que foi controlado “a bem” e um bem que se tornou um novo mal nos estádios
A segurança foi um dos temas fulcrais na organização do Campeonato da Europa na Alemanha. Já depois das notícias que davam conta de detenções feitas pelas autoridades antes da competição de pessoas que estariam a planear tentativas de ataque durante o torneio, a polícia abateu um homem na zona de Wolmirstedt por um ataque numa festa durante o Alemanha-Escócia e baleou um indivíduo que queria fazer um ataque com uma picareta na fan zone de Hmburgo antes do Polónia-Países Baixos mas, em termos globais, toda a operação, que envolveu agentes de vários países, terminou com um balanço muito positivo. O que falhou ao longo desta edição? As invasões de campo, com dezenas de casos em variados encontros que chegaram a um extremo de haver um adepto que se atirou para a zona de acesso aos balneários para tentar chegar a Ronaldo.
Os recordes que ficam, muito ligados à idade mas também com golos relâmpago
Mesmo sem marcar, Cristiano Ronaldo tornou-se o primeiro jogador a marcar presença em seis fases finais e também o mais velho de sempre a fazer uma assistência num Europeu, faltando “apenas” garantir o recorde de jogador mais velho a marcar que acabou por recair no croata Luka Modric. No polo oposto, Lamine Yamal, que este sábado cumpriu 17 anos, pulverizou uma série de marcas de jogador mais novo a entrar na prova, a assistir, a marcar e a chegar à final. Cada vez mais os recordes que ficam nestas grandes competições têm como principal fundamento a idade mas houve outros que também caíram sem ligação a isso, como o golo mais rápido que ficou marcado por Bajrami com apenas 23 segundos no jogo entre Albânia e Itália.