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Pedro Pinhal é o artista por trás do mural que dá nova cor ao bairro do Vale da Amoreira, na Moita
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Pedro Pinhal é o artista por trás do mural que dá nova cor ao bairro do Vale da Amoreira, na Moita

Hoopers

Pedro Pinhal é o artista por trás do mural que dá nova cor ao bairro do Vale da Amoreira, na Moita

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"Agora ninguém te trava!" Neemias Queta, "o gigante" do Vale da Amoreira que levou o bairro para a NBA

É estrela em músicas de rap e dá origem a murais de 22 metros. "A barra a matemática" em miúdo tornou-se o primeiro português de sempre na NBA. História feita, "só falta uma medalha de Marcelo".

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“Desde novo no esforço, se havia treino não faltava

Se fosse a pé que fosse esse moço caminhava

Esforço revelou-se na tua atitude brava

Trabalho elevou-te, agora ninguém te trava!”

Era através da música que Vince, rapper da zona do Barreiro, esperava inspirar Neemias Queta a saltar mais alto do que nunca e a marcar o derradeiro ponto: tornar-se o primeiro português de sempre a entrar na NBA. A nova música de Vince, que tem como tema o percurso e a força de vontade do basquetebolista, foi lançada esta quinta-feira, a poucas horas do draft. O evento que escolhe os novos jogadores para a maior liga de basquetebol do mundo arrancou durante a madrugada desta sexta-feira e já era esperado que o poste português de 22 anos ficasse entre as 60 promessas que assinam contrato. Para Vince, o destino de Neemias Queta estava traçado: “Eu não sou vidente mas eu hoje tive a visão”, diz o artista de hip hop nesta música. E assim foi.

Vince é o nome artístico de João Saraiva. Ao Observador, explica que a ideia de rappar sobre o basquetebolista surgiu naturalmente: “Sendo ele cá da zona, do Barreiro, fez sentido lançar músicas para ele”. Até porque João Saraiva é um fã da modalidade e também jogava basquetebol. “Reformou-se”, arrumou a bola e pegou no microfone. Agora, em plenos pulmões, afirma: “O Neemias é uma inspiração. Para chegar onde chegou, e vindo de onde veio, é preciso ser um lutador, alguém com muito querer”.

E Neemias Queta, com 22 anos e uns impressionantes 2,13 metros de altura (o que dificultou a tarefa ao alfaiate Paulo Battista de lhe criar um fato para a cerimónia) veio do bairro do Vale da Amoreira, no concelho da Moita. Nasceu em Lisboa, filho de pais guineenses, mas foi ali que começou a olhar de baixo para cima: para os cestos dos campos de basquetebol — e para o futuro que esperava um dia alcançar. Por isso mesmo, foi também ali o local escolhido para o homenagear.

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O retrato do “gigante” que fita os miúdos que querem ser como ele

Foi preciso uma fachada de 22 metros de altura, duas semanas e muita tinta azul para pintar o “gigante” (como lhe chamam os amigos) do basquetebol português. O retrato de Neemias Queta está, desde segunda-feira, imortalizado num dos prédios do Vale da Amoreira, mesmo em frente à Secundária da Baixa da Banheira. A escolha do sítio para a homenagem foi articulada com Neemias na última visita a Portugal, em abril. E, segundo o próprio, não podia ter sido mais “perfeita”: a casa de Neemias, naquele bairro, fica a poucos metros do mural e os estudos foram concluídos naquela escola — que passa agora a ter vista privilegiada para o atleta.

Por outro lado, quem estiver por ali a jogar basquetebol no campo da escola, no intervalo das aulas, vai estar sempre sob o olhar atento de Neemias. “É uma forma de ninguém se esquecer onde pode chegar”, defende ao Observador André Costa, CEO da Hoopers, uma plataforma online para fãs e jogadores da modalidade, que tem desenvolvido vários projetos de requalificação de campos de basquetebol. Foi deles que partiu a ideia de homenagear o basquetebolista português: “O draft da NBA era um acontecimento demasiado bom para deixar passar em branco”, afirma André Costa.

3 fotos

O artista escolhido também não foi ao acaso. Pedro Pinhal é um conterrâneo do bairro do Vale da Amoreira, que conhece o Neemias “desde miúdo” e é ele quem nos apresenta a obra. “Foi o meu primeiro projeto nestas dimensões e estar a representar alguém daqui, que conseguiu atingir o sonho, é muito gratificante”. O olhar de Pedro Pinhal percorre a imagem que agora está gravada nestas paredes e que foi escolhida a dedo pelo artista. “Tive que ver várias fotografias do Neemias e escolhi esta. A expressão aqui representada diz muito dele, é uma expressão humilde, é um olhar para o horizonte, um olhar de sonho com um sorriso de que vai chegar lá. E ele vai chegar lá, muito naturalmente”, afirma.

É preciso inclinar completamente o pescoço para admirar toda a pintura. Feita durante a tarde, num par de semanas, a face de Neemias foi surgindo pouco a pouco: “As pessoas iam passando, especialmente as crianças, quando isto ainda estava em traços, sem cor, e perguntavam quem era, mas depois perceberam que só podia ser o Neemias”, conta o artista.

A homenagem surgiu de uma parceria entre a Hoopers e a Câmara Municipal da Moita. Ao Observador, o presidente Rui Marques Garcia explica que a autarquia não “podia passar ao lado de uma homenagem justa”. “É também um incentivo a que todos os jovens sigam o exemplo, porque o Neemias prova que é possível”, afirma o autarca.

É esta inspiração para os jovens do bairro que faz com que esta homenagem ganhe outra dimensão. Os 22 metros de altura deste mural não são o limite para os sonhos de quem aqui vive. “O trajeto do Neemias é inspirador, alguém que prova a toda a gente que é capaz. E o impacto que tem aqui no bairro é enorme”, conta André Costa ao mesmo tempo que um grupo de crianças, acompanhadas pela bola cor de laranja, passam e olham como se fosse a primeira vez que admiram o atleta do bairro. Ao ver o microfone do Observador, uma delas deixa escapar: “Quando eu for grande, quero ser jogadora de basquete como o Neemias”. “Eu também!”, exclama logo outra.

Ouça aqui a reportagem Observador no bairro onde cresceu o atleta:

O “gigante” que inspira o Vale da Amoreira. “Quando for grande quero ser como o Neemias”

“Os três mosqueteiros” que passaram a matemática porque Neemias era “uma barra”

Os olhos de João Gomes sorriem assim que se pergunta pelas ligações com Neemias Queta. “Ele sempre foi conhecido pelo gigante, é bastante brincalhão, prestável, humilde e muito ambicioso. Mas, acima de tudo, nunca esquece as raízes de onde vem”. João e Ricardo Silva são os dois amigos que nos conduzem por aquela que foi a casa de Neemias Queta durante a infância: o bairro do Vale da Amoreira.

Foi aqui que cresceram juntos e que viram o sonho da NBA tornar-se cada vez mais uma realidade. Lembram que Neemias já se destacava nos jogos amigáveis que faziam no campo do bairro. Mas foi quando vestiu a camisola do Benfica que os alarmes soaram. “Ele esteve no Barreirense, mas quando saltou para o Benfica… Aí ficámos: ‘Espera lá, tu tens de ser suficientemente bom, se sais do Barreiro para o Benfica’”. Mas o tempo no clube da Luz não durou muito e a surpresa maior foi quando o convite do outro lado do Atlântico chegou.

Por estes dias, quem passasse pelas ruas do bairro ouvia o sussurrar do sonho comum: ver Neemias na NBA. O apoio chegava de todos os lados, desde as conversas de café aos incentivos à distância, através das redes sociais. De uma forma ou de outra, o objetivo de jogar na maior liga de basquetebol do mundo esteve sempre presente. O amigo João Gomes não esconde o sorriso quando se lembra das mensagens trocadas no grupo de WhatsApp dos amigos da Amoreira, onde está Neemias. “Sempre foi tudo em tons de brincadeira. No primeiro ano em que ele chegou aos Estados Unidos, havia sempre a brincadeira de dizermos: ‘Olha que vais jogar na NBA’, mas estávamos longe de imaginar que íamos estar tão perto”.

"Na escola, éramos como os três mosqueteiros, fazíamos tudo juntos. E, quando jogávamos basquetebol, eu ficava sempre na equipa do Neemias. Só lhe passava a bola e o resto ele fazia por nós"
Ricardo Silva, amigo de infância de Neemias Queta

Nem é preciso falarmos do mural pintado com a cara de Neemias para os amigos trazerem para a conversa o “símbolo do bairro”, que é o motivo de “maior orgulho”. Ricardo Silva não hesita em dizer que a entrada de Neemias na liga norte-americana é como se fosse uma vitória do próprio. Lembra-se dos jogos que faziam em criança e de como tinha a estratégia bem definida: “Eu ficava sempre na equipa do Neemias, só lhe passava a bola e o resto ele fazia por nós”. 

Os três não se largavam na altura em que andavam na Secundária da Baixa da Banheira. “Éramos como os três mosqueteiros, fazíamos tudo juntos”. E para além dos jogos de consola e dos lanches em casa uns dos outros, Neemias era também um apoio na escola, especialmente nas contas. “Uma barra a matemática, não há como negar”, revela Ricardo Silva. Mas João vai mais longe e aproveita para fazer uma confissão: “Se não fosse o Neemias, eu não estava agora na faculdade. Ele ajudava-me sempre nos testes de matemática. Graças a ele, safei-me nalguns testes e agradeço-lhe por isso”.

“Gigante” fora das quatro linhas, como é o jogador dentro delas?

Os primeiros passos no clube da terra, a ida para o Benfica e o sonho que foi adiado

A ligação com a bola laranja chegou aos 10 anos. Pouco depois, começou a vestir a camisola do Barreirense. Esteve ligado ao clube da terra por largos anos e chegou à equipa principal com apenas 17 — um registo que despertou a atenção do Benfica.

Neemias mudou-se para o clube da Luz em 2017, onde começou na equipa B. Chegou depois a fazer quatro jogos pela equipa principal. Mas não foi a Luz que o fez atravessar o Atlântico. O jovem poste português deu nas vistas no campeonato da Europa de sub-18 e choveram ofertas de bolsas de universidades norte-americanas. Em 2018, Neemias aceita o convite dos Utah State Aggies, onde se sagrou campeão da conferência Mountain West no ano de estreia. Foi destaque na imprensa internacional e acabou por se declarar ao draft no ano seguinte, juntamente com nomes como Zion Williamson.

Mas não estava destinado. Neemias Queta acabou por dar dois passos atrás e adiar o sonho. Voltou à universidade e a Utah, mas pelo meio voltou a brilhar ao serviço da seleção sub-20, sagrando-se campeão europeu na divisão B. Acabou a temporada como melhor jogador defensivo do ano na conferência Mountain West, mas optou por continuar a evoluir.

“Decidi seguir o meu sonho”. Neemias Queta pode tornar-se o primeiro português na NBA já em junho

Na terceira temporada, o jovem poste apresentou-se definitivamente. Jogador com mais desarmes de lançamentos na história da Universidade, conseguiu marcar mais de 30 pontos em vários jogos e teve bons números também nos ressaltos. Apesar de não ter conquistado o título, o nome Neemias Queta ficou ainda mais brilhante. Até que se declarou novamente para o draft.

O antigo basquetebolista e comentador da NBA, Miguel Minhava, já tinha afirmado esta quinta-feira ao Observador, numa espécie de antevisão, que o sonho era difícil, mas não impossível. Miguel Minhava já afirmava que o jovem poste tem tudo o que é preciso para estar na NBA: “É um jogador que tem potencial para fazer muita coisa. Por exemplo, há postes que têm dificuldade em lançar ao cesto; ele não”.

Ouça aqui na íntegra as declarações dos amigos e do comentador da NBA ao Observador:

Governo anuncia fim das restrições de horários na restauração. Certificado digital será de “uso intensivo”

Miguel Minhava lembra que Bétinho, em 2007, já tinha tentado o caminho que Neemias está agora a seguir. Na altura, o extremo português não chegou a ser escolhido no draft daquele ano. Mas Miguel Minhava afirmava ao Observador esta quinta-feira que acreditava que, agora, a história seria diferente. E foi mesmo.

A mesma opinião mostrou o presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol. Ao Observador, Manuel Fernandes afirmava que o draft seria “um dos momentos mais importantes do basquetebol português”. E não poupa nos elogios: “O Neemias é uma inspiração. É uma pessoa muito consciente, está confiante nas suas capacidades e revela que é muito forte mentalmente. Diz que, aconteça o que acontecer, está sempre pronto para melhorar”. E continua: “É um ser humano de quem dá gosto ser amigo”.

"O Neemias é uma inspiração. É uma pessoa muito consciente, está confiante nas suas capacidades e revela que é muito forte mentalmente. É um ser humano de quem dá gosto ser amigo"
Manuel Fernandes, presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol

Os amigos não tinham dúvidas: Neemias Queta iria seguir em frente. Expectativas confirmadas, o amigo Ricardo Silva tem agora uma exigência: “Espero que Marcelo Rebelo de Sousa lhe dê uma medalha. No mínimo um abraço, mas uma medalha é o ideal”.

Até porque, tal como já dissemos, o rapper Vince já tinha traçado com palavras o futuro do atleta.

“Ya, é hoje man que chegas lá

Carrega nessa missão

És grande, tens ambição

No campo dás a lição

Eu não sou vidente mas eu hoje tive a visão”

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