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Helena Matos

Vencedora-vencida: a geringonça. Este foi o seu debate. O momento em que a vimos a funcionar. Tornou-se claro que António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa estão fartos uns dos outros. Fartos sobretudo de se terem tornado indispensáveis entre si. Jerónimo de Sousa acusa o cansaço de quem antecipa que vai ser grande a factura que o eleitorado vai passar ao PCP. Já o BE discute com o PS não como um partido diferente, mas sim como uma tendência dos socialistas. A geringonça ganhou mas pode ter determinado o princípio do fim da esquerda que a criou.

Vencida-vencedora: Catarina Martins. A vingança serve-se obviamente no fim e, neste caso, Catarina Martins sabia quando tinha de atacar: o debate estava quase a terminar, a líder do BE colocou a voz e começou a recordar a manhã do domingo das eleições de 2015 quando, nas costas dos eleitores, BE e PS já negociavam uma solução governativa. Enquanto ouvia o monólogo da líder do BE, Antónia Costa passava do estado de atónito ao de fúria. Catarina Martins vingou-se da forma como o PS a tem tratado nas últimas semanas. Se politicamente ganhou ou perdeu com este gesto só o tempo o dirá, mas, a avaliar pelo seu ar, a vingança soube-lhe bem.

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[O melhor do último debate antes das eleições]

Nota final. Assunção Cristas e Rui Rio foram a este debate cumprir o ingrato papel de chaperons das preferências e das zangas entre António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa.

Alexandre Homem Cristo

Vencedora: Assunção Cristas. Está muito bem preparada para esta recta final da campanha e continua a distinguir-se como a principal voz de oposição ao governo PS – conseguiu, em alguns momentos, unir António Costa e Catarina Martins contra ela, mostrando quem contou em cada uma das barricadas nesta legislatura. Terminou o debate por cima, impondo sobre António Costa o tema da corrupção e das investigações de decisores políticos associados ao PS (tema que havia sido deixado de fora). Cristas é uma voz isolada contra a esquerda.

legislativas – debate a 6 na TV

Vencidos: Catarina Martins, Jerónimo Sousa e André Silva. Jerónimo Sousa e André Silva são completamente irrelevantes. Estão fora do debate, estão fora das equações para o pós-eleições e já ninguém reage ao que dizem. O desfasamento de ambos no debate mostra, neste momento, que o PCP desceu à segunda liga e que o PAN não tem condições para subir à primeira. Por outro lado, Catarina Martins tentou aproveitar o debate para um ajuste de contas com António Costa, relativamente à desconsideração dos socialistas face ao contributo dos bloquistas na geringonça. Pode até ter razão, mas a ilusão do namoro foi sua. A zanga só serviu para demonstrar uma certa inquietude do BE face ao menor interesse do PS num eventual apoio parlamentar.

Nota final. Foi um debate monótono (sobretudo na primeira parte), conduzido de forma desequilibrada, com temas pouco focados e por vezes confusos (a ronda sobre os riscos externos foi caótica). Teve momentos intensos de tensão política (nomeadamente graças a Catarina Martins e Assunção Cristas), mas sem resultar em esclarecimento. Foi um debate penoso de seguir até ao fim.

André Azevedo Alves

Vencedor: António Costa. Com excepção de algumas interacções mais picantes entre Costa e Cristas, foi um debate maioritariamente morno e com pouco interesse e isso favorece quem governa e vai na frente. A revisão dos números de crescimento pelo INE não podia ter vindo em melhor altura e Catarina Martins também ajudou ao ensaiar discurso e postura de candidata a ministra adjunta de Costa.

Vencido: André Silva. Encaixado entre Jerónimo e Catarina com uma camisa negra, esteve maioritariamente apagado. Sempre que saiu um pouco dos temas habitualmente associados ao PAN, saiu também da sua zona de conforto e isso notou-se. Não deverá ter alienado o eleitorado mais fiel ao PAN, mas fracassou na tentativa de chegar a novos públicos.

Nota final. O problema poderá ser das regras estabelecidas ou da cultura política dominante mas, independentemente da causa, a verdade é que, com algumas (poucas) excepções, o suposto debate a seis pareceu vezes demais uma entrevista alternada a seis.

Miguel Pinheiro

Vencedor: Assunção Cristas. O eleitorado do centro-direita precisa de alguém que o mobilize — e Assunção Cristas está a fazer tudo para o mobilizar. Em vários momentos, transformou o debate a seis num debate a dois e, ao fazê-lo, tornou-se na única oposição real a António Costa. Ao mesmo tempo, manteve-se concentrada no seu foco: os impostos. A dada altura, até Catarina Martins teve que socorrer António Costa, que mais à frente entregou uma medalha a Cristas quando reconheceu: “Não vale a pena”.

Vencido: António Costa. O líder do PS sofreu uma transformação em direto: passou de António Costa, o Optimista para António Costa, o Irritado. Irritou-se com Assunção Cristas (“Não me estique o dedinho”), irritou-se com Catarina Martins (que acusou de não cumprir “princípios de boa educação”), irritou-se com a moderadora (por fazer perguntas que “não interessam aos portugueses”). Num crescendo de exasperação, exacerbação e encolerização, Costa ia atacando a esquerda e depois a direita, e outra vez a esquerda, e novamente a direita — até acabar a distribuir papéis por todo o lado, como se fosse um evangelista na véspera do Dia do Juízo Final. Antes de recolherem à cama, os eleitores terão perguntado aos botões do pijama: como se comportaria um político tão irritado, irritável e irritadiço se governasse com maioria absoluta?

Nota final. Rui Rio está a encarnar a personagem daquele tio excêntrico que passa os jantares de Natal a gozar com os tiques e manias dos familiares. Tem graça e talvez resulte.

Pedro Benevides

Vencedor: Assunção Cristas. Costa só teve dois adversários neste debate. Calhou serem as duas mulheres à mesa, calhou uma ser a mais à esquerda, a outra a mais à direita. Mas uma delas, em particular, não lhe deu tréguas. Assunção Cristas esteve permanentemente ao ataque e conseguiu mesmo que Costa perdesse a paciência. Comparou-a com Trump, por causa dos combustíveis, tentou colar-lhe a imagem de representante dos interesses dos que “têm herdades no Alentejo”. Se isso lhe rende votos ou não, é difícil prever, mas é no confronto direto com Costa que Cristas consegue brilhar. Foi eficaz a apontar os problemas do SNS (e a responsabilizar também os partidos à esquerda do PS), tentou desmontar a revisão em alta dos números apresentados pelo INE (lançando suspeitas sobre o timing desta divulgação que esvazia alguns argumentos à direita), apontou inconsistências na narrativa económica do governo e, já no fim, de “dedinho” esticado, atirou-lhe com os membros do governo a braços com a justiça, o caso Tancos e o Galpgate. Como bónus, ainda teve a melhor piada da noite, quando Costa e Rio se entretiveram a trocar papéis um com o outro: “Estou a fazer de ponte do bloco central”.

Vencido: António Costa. Foi o segundo debate do dia e Costa acusou algum cansaço. Em dia de boas noticias do lado económico, o primeiro-ministro deixou-se enredar em demasiadas discussões de números e percentagens que pouco dizem aos espetadores, não escondeu a irritação quando Catarina Martins revelou a existência de conversas no dia das eleições de 2015, ouviu Jerónimo pôr em causa as “profecias” sobre uma futura “geringonça” e voltou a perder a paciência com Assunção Cristas. Se a estratégia inicial de Costa para esta longa série de debates era manter-se a uma confortável distância na cadeira de estadista, este último confronto voltou a trazê-lo para o campo de batalha. Provavelmente terá de lá ficar e ir mais vezes à campanha do que aquelas que, para já, tem previstas.

Nota final. Mesmo quem gosta de política estará hoje satisfeito com o fim destes debates. Foram demasiadas horas de discussão, demasiadas vezes os mesmos rostos a vender as mesmas propostas e os mesmos números que levarão agora em digressão pelo país. Este último confronto começou num registo de reunião da classe de 2019 e chegou a temer-se uma longa conversa de duas horas, igualmente civilizada e aborrecida. Mas entretanto houve os arrufos Costa-Catarina-Cristas para animar, sobretudo na segunda parte. Houve André Silva a consolidar o seu papel de estudante Erasmus que vem de outra terra, de outra cultura. E houve Rui Rio que comprou bilhete para assistir a um debate, e gostou. Jerónimo de Sousa voltou a ser o pai que trouxe os miúdos ao baile e ficou ali à espera que aquilo acabasse.