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Nursing home residents gets Covid-19 vaccine in Tel Aviv
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Segundo o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, há "dúvidas" relativamente à forma como os idosos com mais de 80 anos respondem às vacinas,

Anadolu Agency via Getty Images

Segundo o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, há "dúvidas" relativamente à forma como os idosos com mais de 80 anos respondem às vacinas,

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Ao contrário de outros países, portugueses acima dos 80 anos não têm prioridade máxima na vacinação

Alemanha e Itália vão vacinar os idosos com mais de 80 anos logo na primeira fase, tal como já fez o Reino Unido. Coordenador da task force para o plano de vacinação fala em diferenças "legítimas".

Portugal optou por não dar prioridade máxima aos idosos com 80 anos ou mais anos na vacinação contra a Covid-19, como estão a fazer países como a Alemanha, a Itália e o Reino Unido, preferindo imunizar pessoas com 50 anos ou mais com doenças específicas, além de utentes e funcionários de lares de idosos e profissionais de saúde e de serviços essenciais.

Em finais de novembro, o primeiro-ministro pôs de parte a possibilidade de não se dar prioridade aos mais idosos sem doenças graves, argumentando que “há critérios técnicos que nunca poderão ser aceites pelos responsáveis políticos“.

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Estas declarações surgiram um dia depois da polémica provocada pelo parecer que indicava que esta faixa etária não fosse incluída nos grupos prioritários à vacinação contra o novo coronavírus. Na véspera, a SIC avançou que a Direção-Geral da Saúde (DGS) iria dar prioridade, numa primeira fase, a pessoas com idades entre os 50 e os 75 anos com doenças graves específicas, funcionários e utentes de lares de idosos e profissionais de saúde. Os profissionais das forças de segurança e proteção civil ficariam para uma segunda fase, excluindo assim os indivíduos com mais de 75 anos. Mas, apesar da polémica e das declarações do primeiro-ministro, a verdade é que esta camada da população, sem contar com os que estão em lares de idosos ou unidades de cuidados continuados, só surge mesmo na segunda fase do plano de vacinação.

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Ao Observador, o coordenador da task force para o plano de vacinação contra a Covid-19 garantiu ao Observador que o país está a seguir as recomendações dos centros de controlo e prevenção de doenças norte-americano e europeu que, apesar de existirem diferenças nos grupos prioritários, elas são “legítimas” e fazem parte das opções tomadas por cada país. Já Manuel Carmo Gomes, que pertence à equipa que fez a recomendação ao governo dos grupos prioritários à vacinação, destaca três argumentos para não colocar os mais idosos no topo da lista: aliviar a pressão nos cuidados intensivos, redução da transmissibilidade da doença e eficácia das vacinas.

Quem são os grupos prioritários em Portugal?

De acordo com o plano nacional de vacinação para a Covid-19, apresentado no dia 3 de dezembro, ficaram definidos como os grupos prioritários da primeira fase os profissionais e residentes em lares e instituições similares; profissionais e internados em unidades de cuidados continuados; profissionais de saúde diretamente envolvidos na prestação de cuidados a doentes; profissionais das forças armadas, forças de segurança e serviços críticos; e pessoas com 50 ou mais anos com uma destas patologias: insuficiência cardíaca, doença corononária, insuficiência renal, DPOC ou doença respiratória crónica sob suporte ventilatório e/ou oxigenoterapia de longa duração.

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Duas semanas depois foi anunciado que os profissionais de saúde da linha da frente no combate à pandemia seriam os primeiros a ser vacinados com as doses da vacina da Pfizer/BioNTech que chegariam ainda em dezembro.

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Para uma segunda fase da vacinação ficaram as pessoas com 65 ou mais anos com ou sem patologistas associadas — e que ainda não tivessem sido vacinadas na primeira fase — e as pessoas entre os 50 e os 64 anos com pelo menos uma destas patologias: diabetes, neoplasia maligna ativa, doença renal crónica, insuficiência hepática, obesidade, hipertensão arterial e outras patologias que podem ser definidas mais tarde. Ou seja, Portugal decidiu pôr a pessoas com comorbilidades a partir dos 50 anos à frente daquelas com pelo menos 65 anos, independentemente de terem ou não patologias associadas. Uma estratégia diferente da que estão a seguir outros países.

Quem são os grupos prioritários noutros países?

Na Alemanha, por exemplo, os idosos com mais de 80 anos estão no topo dos prioritários à vacinação. Seguem-se, no primeiro grupo de prioritários, as pessoas que trabalhem nos lares de idosos ou que cuidem de idosos ou pessoas com problemas do foro mental; profissionais de saúde com elevado risco de exposição à Covid-19, nomeadamente os que exerçam funções em unidades de cuidados intensivos, serviços de urgência e em cuidados pré-hospitalares; e depois os profissionais de saúde que tratem de doentes e que tenham maior risco de morrer devido à infeção.

No segundo grupo estão, entre outros, idosos com mais de 70 anos e pessoas com comorbilidades que façam com que aumente significativamente o risco de morte por Covid-19, o que inclui portadores de demência ou outra patologia do foro psicológico, doentes que estejam a recuperar de transplantes e indivíduos com Síndrome de Down. Isto é, a Alemanha só inclui as patologias no segundo grupo de prioridades e depois dos idosos com mais de 80 anos.

O mesmo acontece em Itália. De acordo com o plano de vacinação, estes são os grupos prioritários: numa primeira fase, os profissionais de saúde, funcionários e utentes dos lares de idosos e pessoas com mais 80 anos e numa segunda fase, os indivíduos dos 60 aos 79 anos e a população com pelo menos uma comorbilidade grave, imunodeficiência e/ou fragilidade independentemente da idade, entre outros.

Vaccine Rollout Continues In GPs' Surgeries Across The UK

Os idosos com mais de 80 anos estão na primeira fase de vacinação contra a Covid-19 na Alemanha e em Itália

Getty Images

Já em Espanha, as pessoas com mais de 70 anos e aquelas com comorbilidades, como problemas oncológicos, respiratórios, renais, cardíacos ou outras patologias que ponham em causa o seu sistema imunitário estão ambas na segunda fase de vacinação no país. Ou seja, ao contrário de Portugal, é dada a mesma prioridade aos mais idosos e às pessoas com patologias associadas.

Antes deles estão os utentes e funcionários de lares de idosos, que serão os primeiros a ser imunizados, seguindo-se os profissionais de saúde que estejam na primeira linha no combate à Covid-19 e as pessoas dependentes com incapacidades graves e que não estejam institucionalizadas. Os profissionais dos serviços essenciais surgem apenas na terceira fase da vacinação contra a Covid-19.

O mesmo se passa França, que optou por imunizar em primeiro lugar as pessoas que vivem em lares de idosos ou as pessoas mais velhas que estejam em unidades de cuidados continuados e os funcionários que exerçam funções nestas instituições e em risco de desenvolverem uma forma grave da doença.

Na segunda fase de vacinação estão as pessoas com mais de 75 anos, as pessoas com idades entre os 65 e os 74 anos, dando prioridade àquelas que tenham comorbilidades e os profissionais de saúde e medico-sociais (que pode incluir várias profissões ligadas à saúde e ao setor social como assistentes sociais, técnico de emergência médica, terapeuta ocupacional, entre outros) com 50 anos ou mais e/ou com uma patologia associada. As pessoas entre os 50 e os 65 anos que estejam em risco devido à sua idade ou que tenham comorbilidades que não tenham sido tidas em conta nas fases anteriores ficam para uma terceira fase, tal como outros cuidadores e profissionais de setores essenciais.

O Reino Unido, por sua vez, começou por imunizar com a vacina da Pfizer os idosos com mais de 80 anos, profissionais de saúde que estão na linha da frente no combate à pandemia e funcionários de lares de idosos, seguindo-se os residentes de lares de idosos, que estavam no topo da lista de prioridades.

De acordo com a ordem de prioridades, que está praticamente toda focada nas idades, serão imunizados a seguir os indivíduos com 75 ou mais; pessoas com 70 anos ou mais e aquelas que estejam numa situação clínica vulnerável; pessoas com 65 anos ou mais; indivíduos entre os 16 e os 64 anos com comorbilidades; pessoas com 60 ou mais anos; quem tenha 55 ou mais anos; e as pessoas com 50 anos ou mais. O resto da população será vacinada na fase seguinte, mas o governo britânico aguarda mais informações sobre a vacina para decidir se dá prioridade a grupos específicos como professores, militares, entre outros.

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Os norte-americanos, que começaram a imunização com a vacina da Pfizer/BioNTech e já autorizaram a vacina da Moderna, começaram pelos profissionais de saúde e passaram depois para os residentes de lares de idosos. A recomendação de um painel de especialistas do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) é agora dar prioridade às pessoas com 75 anos ou mais e a profissionais de serviços essenciais e em maior risco de exposição ao novo coronavírus, como bombeiros, professores, polícias, entre outros. Seguem-se as pessoas com idades entre os 65 e os 74 anos, os indivíduos entre os 16 e 64 anos com comorbilidades, como obesidade e doenças oncológicas, e profissionais de outros serviços essenciais.

Ter escolhas “ligeiramente” diferentes nos grupos prioritários entre países é “naturalíssimo”, diz coordenador da task force

O Observador contactou o coordenador da task force para o plano de vacinação contra a Covid-19 para perceber por que motivo se optou por não colocar os mais idosos no topo dos prioritários, como fizeram países como Alemanha ou Itália. Francisco Ramos explicou que as prioridades definidas em Portugal seguem “as orientações dos organismos que têm por missão fazer recomendações” — o CDC norte-americano e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC na sigla inglesa) — que referem a necessidade de se começar a vacinação nas pessoas com maior risco de mortalidade e doença grave, e que o país está a dar “prioridade às pessoas com mais de 65 anos em relação às outras”.

Confrontado com as opções da Alemanha e Itália, de colocar os mais idosos logo na primeira fase independentemente das patologias, o ex-secretário de Estado da Saúde contraapôs com as prioridades de França, que colocou, à semelhança de Portugal, os idosos com mais de 75 anos e as pessoas dos 65 aos 74 anos na segunda fase de vacinação. Sobre o caso da Alemanha, por exemplo, Francisco Ramos assumiu que há diferenças entre os grupos prioritários de vários países e considera-as “legítimas”, referindo que são “opções” tomadas por cada país, respeitando as normas e orientações do CDC e do ECDC.

Além de que os grupos prioritários em Portugal, continuou o ex-secretário de Estado da Saúde, foram definidos consoante objetivos específicos, como redução da mortalidade e doença grave, proteção das pessoas mais vulneráveis a surtos e proteção das pessoas que garantem “a nossa proteção”.

Francisco Ramos, usa da palavra durante a sessão pública de apresentação do Plano de Vacinação de Combate à covid-19, no Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, em Lisboa, 03 dezembro de 2020. ANDRÉ KOSTERS/LUSA

Francisco Ramos assumiu que há diferenças entre os grupos prioritários de vários países e considera-as "legítimas"

ANDRÉ KOSTERS/LUSA

Questionado se as pessoas com mais de 75 anos não deviam estar no topo das prioridades precisamente tendo em conta a elevada taxa de mortalidade nesta faixa etária, Francisco Ramos sublinhou que “a mortalidade atinge pessoas sobretudo a partir de determinada idade com comorbilidades”. “Portanto foi isso que fizemos. A mortalidade não atinge pessoas por idade.”

“Se houve outros países que puseram numa primeira prioridade e depois numa segunda coisas ligeiramente diferentes do que se fez em Portugal, acho isso naturalíssimo. Não vejo nenhuma diferença substantiva entre a população das prioridades da generalidade dos países europeus — pelo menos os que já definiram essas prioridades — das prioridades definidas nos EUA e no Canadá”, disse o coordenador da task force.

O Observador contactou o gabinete do primeiro-ministro, destacando as opções em termos de grupos prioritários de outros países, de forma a saber se António Costa concordava com o facto de Portugal não estar a dar a máxima prioridade às pessoas com mais de 75 anos e se tinha mudado de ideias relativamente ao que tinha afirmado em finais de novembro. Até ao momento, contudo, não obteve resposta.

Foram também enviadas questão à task force, através do Ministério da Saúde, sobre esta situação para perceber o que explica esta diferença em termos de prioridades à vacinação contra a Covid-19, mas o Observador também não recebeu qualquer resposta.

"Não vejo nenhuma diferença substantiva entre a população das prioridades da generalidade dos países europeus das prioridades definidas nos EUA e no Canadá"
Francisco Ramos, coordenador da task force para a elaboração do plano nacional de vacinação contra a Covid-19

“Proteger as UCI é um critério tão ou mais importante”

Manuel Carmo Gomes, que pertence à Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19 — o grupo consultivo que recomendou os grupos prioritários ao governo —, apresentou três argumentos para não se ter dado prioridade máxima aos mais idosos, como fizeram outros países. O primeiro prende-se com as unidades de cuidados intensivos (UCI). Segundo o epidemiologista, os idosos com mais de 80 anos ocupam apenas cerca de 9% das camas das UCI, pelo que estar a imunizar esta fatia da população não iria aliviar a pressão nos cuidados intensivos. Isso só irá acontecer se se proteger as pessoas entre os 50 e os 79 anos, que ocupam 80% das camas das UCI.

“Se conseguirmos travar os internamentos destas pessoas — e estou a falar das que têm patologias que as levam a internamentos e a situações mais graves — aliviam-se os cuidados intensivos. Proteger as UCI é um critério para mim tão ou mais importante como proteger essas pessoas [com mais de 80 anos]“, afirmou o docente de Epidemiologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa ao Observador, acrescentando que apesar de não haver “muita esperança” em atingir rapidamente a imunidade de grupo, espera que em finais de março “já se sinta algum alívio nos hospitais” graças a esta decisão.

O facto de os ensaios clínicos das vacinas terem tido poucas pessoas com mais de 80 anos é outro dos argumentos. Ou seja, há “dúvidas” relativamente à forma como os idosos desta faixa etária respondem às vacinas, sendo que, por norma, estas pessoas têm uma resposta imunológica à vacinação “muito menos eficaz do que as pessoas mais novas”. Aliás, de acordo com Carmo Gomes, seria “inédito” se a eficácia fosse a mesma. Se a eficácia for de 60% ou de 65%, que são os valores normais nas vacinas para as pessoas com mais de 80%, isso significaria que 40% destes idosos que foram vacinados “pelo menos não tiveram o mesmo grau protetor”.

Temos dúvidas sobre se justifica gastar vacinas que são precisas nesta fase com pessoas nas quais não temos a certeza que a vacina tenha a mesma eficácia.”

O terceiro argumento tem a ver com a transmissibilidade do novo coronavírus. Mesmo que se decidisse imunizar “todas as pessoas com mais de 80 anos”, isso não teria qualquer impacto na transmissão da Covid-19, porque esta faixa etária não tem um papel importante nesta situação, ao contrário da população ativa.

Para o epidemiologista, o grande impacto ao vacinar os idosos com mais de 80 anos seria na taxa de mortalidade, que é extremamente elevada nesta camada da população. “Por um lado, eu percebo o argumento de proteger estas pessoas [com mais de 80 anos], porque têm a taxa de mortalidade mais alta. É um argumento importante e muito válido, mas do outro lado da balança estão todos os outros argumentos também. É por isso que digo que não é uma decisão fácil, mas, tudo ponderado, pareceu-nos que não fazia sentido priorizar primeiro estas pessoas.”

"Por um lado eu percebo o argumento de proteger estas pessoas [com mais de 80 anos], porque têm a taxa de mortalidade mais alta. É um argumento importante e muito válido, mas do outro lado da balança estão todos os outros argumentos também"
Manuel Carmo Gomes, epidemiologista e membro da Comissão Técnica de Vacinação para a Covid-19

Questionado sobre as opções dos outros países, Carmo Gomes disse que tem “dificuldade em falar pelos outros”, mas garantiu que as pessoas com quem a comissão tem falado “de outros países reconhecem que qualquer que seja o critério tem vantagens e inconvenientes”.

“É sempre uma questão de ponderar o que há mais para um lado do que para o outro. Nós fizemos esta ponderação, foi a opinião generalizada das pessoas da comissão e eu defendo essa posição“, reforçou o docente, acrescentando que os lares de idosos e as pessoas com patologias associadas são “muitas pessoas” que pertencem ao grupos dos mais idosos.

E dá o exemplo do Reino Unido, que optou pelo critério das idades. De acordo com o epidemiologista, antes de tomarem esta decisão, os britânicos ponderaram fazer um plano semelhante ao de Portugal, isto é, dando prioridade às comorbilidades, mas como perceberam que iriam ter “dificuldades logísticas” em identificar estas pessoas, optaram pela questão das idades, “que é um esquema muito mais simples”.

Quanto às afirmações do primeiro-ministro, que rejeitou a possibilidade de não dar prioridade aos idosos com mais de 75 anos sem doença grave, o epidemiologista indicou que muitas das pessoas que pertencem a esta faixa etária já foram contempladas na prioridade dada aos lares de idosos e às pessoas com comorbilidades.

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