Tudo começou com umas diretas mal amadas pelos apoiantes de Rui Rio e tudo acabou por desaguar num Congresso animado por sondagens que colocam o PSD taco a taco com o PS de António Costa. Num instante, tudo mudou para o PSD e nem mesmo os opositores internos surgiram com outras palavras que não fossem as da união e da urgência que se coloca no regresso do PSD ao poder. Não há cola mais resistente na política.

Santana Lopes, prémio “Gasparzinho”

39º Congresso PSD (Partido Social Democrata) - Segundo dia de congresso Santa Maria da Feira, Aveiro 18 de Dezembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

O Santana está cá? Não esteve. Desta vez não apareceu mesmo. Mas há que manter aceso o espírito sebastiânico no partido e esperar sempre por aquele que pode vir a somar um qualquer momento inesquecível. E lá circulou que o antigo líder (que entretanto se desfiliou) tinha sido convidado e podia aparecer em Santa Maria da Feira. Alimentou-se a espera, fizeram-se contas a possíveis desenlaces, recordou-se o percurso, desfiaram-se memórias de participações santanistas noutros congressos e, no final, apesar de ser Natal, o fantasma do passado não apareceu travestido de presente e, muito menos, de futuro.

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Paulo Colaço, prémio “Keith Richards”

Paulo Colaço presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD durante o segundo dia do 39.º Congresso Nacional do Partido Social Democrata, no Europarque, em Santa Maria da Feira, 18 de dezembro de 2021. ESTELA SILVA/LUSA

Foi o momento do Congresso do PSD que arrancou uma gargalhada coletiva e muitos aplausos. Praticamente no final do segundo dia de trabalhos — e depois de já ter ido ao púlpito acusar Adão Silva de “mentir” para ganhar o processo de alegada violação dos estatutos do partido — Paulo Colaço, presidente do Conselho de Jurisdição Nacional, resolveu trazer uma história de Keith Richards (sim, o guitarrista dos Rolling Stones). Para se comparar. Keith Richards foi contratado, falhou várias vezes por chegar tarde, por estar embriagado e foi chamado à atenção. “Vocês não queriam Keith Richards? É isto”. E Paulo Colaço veste o mesmo fato: “Vocês queriam Paulo Colaço presidente da Jurisdição? É isto.” Paulo Colaço quer ter “cara para andar aqui” e, por isso, garante que vai continuar a tomar as decisões do CJN, sejam elas polémicas ou não.

União do partido, prémio “Alsa”

39º Congresso PSD (Partido Social Democrata) - intervenção de Luís Montenegro, no segundo dia de congresso. Santa Maria da Feira, Aveiro 18 de Dezembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Adicione o conteúdo dos opositores internos a 2,5 dl de poder político no horizonte. Bata tudo energicamente durante uns minutos, coloque no frigorífico um par de horas e voilá: está feita a união instantânea. Não é muito diferente da rapidez que exige a mousse em pacote. Ainda ontem o PSD estava dividido e agora já não está. Bom, pelo menos para a câmara. Luís Montenegro e Paulo Rangel, os dois desafiadores derrotados por Rio, e até Carlos Moedas, todos foram ao congresso dizer que o momento é de união, enterrando o machado de guerra. Para um partido saído de um processo interno divisor (que já vinha de outro processo interno igualmente divisor) e que passou os últimos dias a criticar a não inclusão de opositores nas listas de candidatos a deputados, convenhamos, parece ter a mesma consistência de uma mousse instantânea.

Miguel Pinto Luz, prémio “Não somos um rio”

39º Congresso PSD (Partido Social Democrata) - intervenção de Miguel Pinto Luz, no segundo dia de congresso. Santa Maria da Feira, Aveiro 18 de Dezembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Miguel Pinto Luz foi protagonista do único discurso de opositores de que Rui Rio não gostou e foi o próprio líder do PSD que o admitiu. Logo aquele que disse “até” ser rioísta. Rioísta, mas pouco. Primeiro disse que, apesar das divergências com Rio, está “pronto” para ajudar o partido nas próximas eleições legislativas, e depois garantiu que é do PSD acima de tudo, seja com que líder for. Mas a frase vem pouco depois de ter mandado uma farpa a Rio ao dizer ser do tempo em que os presidentes sociais-democratas “agregavam os que pensavam de forma diferente”. Críticas para as escolhas de candidatos a deputados após Rio derrotar Rangel. No final, lá deixou a porta semi-aberta: “Sou santanista, rangelista, cavaquista, marcelista, barrosista, mendista, manelista e… até sou rioísta. Sabem porquê? Porque eu sou é do PSD.” Se bem que já era tarde para, após todas as palavras proferidas até ali, alguém acreditar. Para Pinto Luz, é mais “não somos um rio” do que “nós somos um rio”, como diz a música do PSD.

Diretas de 27 de novembro, prémio “Mola”

39º Congresso PSD (Partido Social Democrata) - intervenção de Paulo Rangel, no segundo dia de congresso. Santa Maria da Feira, Aveiro 18 de Dezembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Rui Rio resistiu e lutou contra as diretas antes das legislativas, ouviu acusações de abuso de poder, de falta de respeito pela democracia interna e acabou por ter de as tomar com a resistência de quem engole um remédio amargo. Mas acabou por ser mesmo o melhor remédio. No primeiro dia do Congresso, surgiu no sapatinho uma sondagem a mostrar um salto expressivo nas intenções de voto no PSD que colocam Rio, de um momento para o outro, taco a taco com António Costa. À noite, à RTP, Rio admitia que sim senhor, as diretas até nem tinham resultado mal, tinham antes funcionado como “uma mola” para a sua própria liderança. E a partir daí foi também como uma mola que Rio se levantou para começar imediatamente a avisar o eleitorado do centro que se votarem em Costa a probabilidade de  terem um PS mais à esquerda dentro de poucos meses é agora grande.

Chega, prémio “Amor com amor se paga”

39º Congresso PSD (Partido Social Democrata) - intervenção de Carlos Moedas, presidente da câmara municipal de Lisboa, no segundo dia de congresso do partido. Santa Maria da Feira, Aveiro 18 de Dezembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

O Chega não marcou presença no encerramento do Congresso do PSD porque os sociais-democratas também optaram por não o fazer. É essa a justificação do partido. Amor com amor se paga. Mas se o PSD foi referido centenas de vezes durante o último Congresso do Chega, em Viseu — até com André Ventura a esticar a passadeira vermelha ao eleitorado social-democrata e com imensas referências a Sá Carneiro — o nome do partido liderado por André Ventura não se ouviu uma única vez no púlpito do Europarque, em Santa Maria da Feira. A única referência (sem nome) surgiu da boca de Carlos Moedas, que deixou um alerta de linha vermelha: “Temos que ser concretos e inconformados com um poder que anestesia o país” e “sem alianças com os extremos”.

Regras Covid, prémio “Graça Freitas”

39º Congresso PSD (Partido Social Democrata) - Para a entrada do congresso é necessário apresentar o certificado de vacinação e um teste negativo à COVID-19. Santa Maria da Feira, Aveiro 18 de Dezembro de 2021 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Num momento em que o país enfrenta uma nova vaga da pandemia da Covid-19, o 39.º Congresso do PSD realizou-se no Europarque, em Santa Maria da Feira, exatamente no mesmo pavilhão onde funciona o centro de vacinação da região. Entre os vacinados e os congressistas havia apenas uns placares de distância. À entrada da reunião magna era obrigatório apresentar um teste negativo e quem não o tivesse tinha de ser testado nas tendas que se encontravam no local. No final, além da credencial, ninguém entrava sem uma pulseira onde se lia “testado”. Dentro da sala, os ecrãs gigantes tinham alertas sanitários, desde a obrigatoriedade do uso de máscara à necessidade de distanciamento físico e à desinfeção das mãos. E os avisos sonoros repetiam-se: “Não desloquem as cadeiras”. No final do fim de semana, apesar de antes do discurso de Rio muita gente ter estado de pé e sem distanciamento, o PSD cumpriu todas as regras sanitárias.