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Pelo menos 15 alunos do Instituto Politécnico da Guarda estão infetados com o novo coronavírus, confirmou o presidente da instituição
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Pelo menos 15 alunos do Instituto Politécnico da Guarda estão infetados com o novo coronavírus, confirmou o presidente da instituição

Instituto Politécnico da Guarda

Pelo menos 15 alunos do Instituto Politécnico da Guarda estão infetados com o novo coronavírus, confirmou o presidente da instituição

Instituto Politécnico da Guarda

Bares da Guarda "nunca fecharam". Alunos infetados em festa caseira garantem que cumpriram a lei

Alunos dizem que fizeram festa de anos legal e acusam o Politécnico de divulgar a sua identificação. Apesar das medidas de restrição, os bares da cidade “nunca fecharam”, garante autarca da Guarda.

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Divulgada pelo próprio presidente do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), a notícia chocou o País este domingo: os exames presenciais foram suspensos depois de vários alunos da instituição terem sido infetados com o novo coronavírus numa “festa covid”, com “prémio para o primeiro a testar positivo”, chegou a dizer Joaquim Brigas aos microfones da Rádio Observador.

Depois de no sábado ao final do dia as autoridades de saúde terem dado conta de 8 casos, esta terça-feira, dia em que a Procuradoria da República da Comarca da Guarda anunciou a instauração de um inquérito, “visando a averiguação da prática dos crimes de propagação de doença contagiosa e instigação pública a um crime”, eram já 23 os infetados relacionados com o surto.

Esta quarta-feira, um dia mais tarde, a contagem subiu para 27 — 17 pessoas estão internadas na Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda e 10 encontram-se em vigilância ativa domiciliária; pelo menos 15 são alunos do IPG, onde estudam cerca de 3.500 jovens, disse esta quarta-feira ao Observador Joaquim Brigas. “Os internados estão na maioria sem sintomas, só vão ficar em isolamento para não propagarem a doença”, detalhou. “Houve uma situação que afetou estudantes do Politécnico, a maioria dos PALOP. Terá sido numa festa de aniversário que ocorreu esta contaminação”, explicou também o presidente do estabelecimento de ensino superior.

MP investiga festa que terá permitido contágio entre estudantes do Politécnico da Guarda

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Depois de num primeiro momento ter classificado o evento como uma “festa covid”, muito em voga em países como os Estados Unidos, e cujo objetivo dos intervenientes será ficarem infetados com o SARS-CoV-2, Joaquim Brigas diz agora que se limitou a replicar informações que ouviu, sem confirmar. “Falaram-me em festas em que cada um pagava um ‘x’ e o primeiro a ser infetado recebia o prémio acumulado. Isso é aquilo que se diz, agora se há aqui ou não não sei. Mas a partir do momento em que há festas com um número superior aos 20 permitidos e sem proteção individual, acho que já é uma festa covid.”

Não seriam mais de 20, nem 20 sequer, garantiu ao Observador uma das alunas infetadas, que não quis ser identificada. Ao telefone, desde a enfermaria onde está internada, na ULS da Guarda, a estudante finalista, de 22 anos, natural de São Tomé e Príncipe, explicou que tudo aconteceu de acordo com o permitido pelo atual estado de alerta, vigente na Guarda e em todo o País, à exceção da Área Metropolitana de Lisboa.

“Falaram-me em festas em que cada um pagava um 'x' e o primeiro a ser infetado recebia o prémio acumulado. Isso é aquilo que se diz, agora se há aqui ou não não sei. Mas a partir do momento em que há festas com um número superior aos 20 permitidos e sem proteção individual, acho que já é uma festa covid”
Joaquim Brigas, presidente do Instituto Politécnico da Guarda

“O meu colega fazia anos no dia 28 de junho, domingo, mas tinha de estudar para um exame, por isso fomos ter com ele no sábado à noite, ao apartamento no centro da Guarda onde ele mora com outros quatro colegas, para cantar os parabéns. Éramos uns nove ou dez no total, quase todos são-tomenses. Depois de eu ter saído, por volta da 1h, o meu colega disse-me que ainda passaram por lá mais quatro pessoas. Comeram um pedaço de bolo, felicitaram o aniversariante e depois foram-se embora”, descreveu a aluna.

Terão petiscado moelas e consumido bebidas alcoólicas — havia uma grade de cerveja, uma garrafa de vodca, que misturaram com coca-cola, e vinho tinto. “Não usámos máscara nem mantivemos o distanciamento social, mas nós estamos sempre juntos, tanto em casa como na escola. Não bebemos muito, até porque não tínhamos muito para beber, somos todos pobres. Ninguém estava bêbado, muitas vezes estamos, mas naquela noite não. Foi esta a festa de que toda a gente fala, um convívio entre amigos. Festas covid, prémios, não sei de onde tiraram isso.”

Num pequeno vídeo publicado temporariamente no Instagram, a que o Observador teve acesso, pode ver-se o momento em que foram cantados os parabéns: há um bolo de chocolate e duas velas grandes — 22 — e nove pessoas, para além do aniversariante. Pela porta fechada e pelas paredes brancas, dá para perceber que é uma divisão não muito grande, não se distingue mobília nem elementos de decoração, só um computador portátil em cima de uma mesa, ao centro. Nenhum dos convivas está a usar máscara e não existirão dois metros de distância entre cada um deles, mas as pessoas, maioritariamente homens, de garrafas de cerveja nas mãos, não estão em contacto direto.

Contactada pelo Observador, a PSP da Guarda explicou que só teve conhecimento da “suposta festa” através da comunicação social, não tendo recebido qualquer denúncia. “É uma situação que está a ser investigada pelo Ministério Público e pela Polícia Judiciária, a polícia teve conhecimento da situação mas não tem competência para investigar. O que a polícia tem mantido e aumentado, desde que há conhecimento deste surto, é a ação de fiscalização”, explicou o sub-comissário Vítor Salgado, relações públicas da PSP da Guarda.

“Não usámos máscara nem mantivemos o distanciamento social, mas nós estamos sempre juntos, tanto em casa como na escola. Ninguém estava bêbado, muitas vezes estamos, mas naquela noite não. Foi esta a festa de que toda a gente fala, um convívio entre amigos. Festas covid, prémios, não sei de onde tiraram isso.”
Aluna do Instituto Politécnico da Guarda

Questionado sobre a legalidade da festa em questão, em propriedade privada e com menos de vinte de pessoas reunidas, o sub-comissário explicou que, mesmo não estando em causa questões relacionadas com o ruído ou a perturbação da ordem pública, a PSP teria sempre competência para intervir: “O que está na lei é que podem estar até 20 pessoas que coabitem ou sejam do mesmo agregado familiar, se assim não fosse eram sempre permitidas festas até vinte pessoas, e não podíamos fazer nada, mas claro que podemos”.

Na realidade, o que diz o artigo 15.º da Resolução do Conselho de Ministros n.º 51, de 26 de junho, não é isso: “Não é permitida a realização de celebrações e de outros eventos que impliquem uma aglomeração de pessoas em número superior a 20, 10 ou 5, consoante a situação declarada no respetivo local seja de alerta, contingência e calamidade, respetivamente, salvo se pertencerem ao mesmo agregado familiar, sem prejuízo do disposto no número seguinte”. Ou seja, em estado de alerta só estão interditas celebrações com mais de 20 pessoas — o que não dispensa que se observem as normas de proteção individual, higienização e etiqueta respiratória recomendadas pela Direção-Geral de Saúde.

Nomes dos alunos infetados foram divulgados em grupos de Facebook

A festa aconteceu no sábado, dia 27 de junho. “No dia seguinte, soube mais tarde, alguns começaram a ficar com dor de cabeça e sintomas de gripe, foram à farmácia e compraram Cêgripe”, contou a aluna ao Observador. Como não tinha qualquer sintoma, esteve no Instituto Politécnico da Guarda, a fazer um exame, na tarde da terça-feira, dia 30. “Como tinha outro exame no dia seguinte, outro colega, que mora com o colega que fez anos, veio ter comigo a casa e estivemos a estudar. Nessa noite não me senti muito bem, mas como ando sempre engripada até pensei que tinha sido alguma corrente de ar”, recordou.

Na quarta-feira, 1 de julho, acordou sem sintomas e foi para o Politécnico, fazer mais um exame. À noite, como começou a ter febre e tosse, colocou pela primeira vez a hipótese de estar infetada e enviou, já durante a madrugada, um e-mail ao coordenador do curso que frequenta. No texto, a que o Observador teve acesso, avisou o professor de que tinha sintomas de Covid e que, por isso, não sabia se devia ir ou não fazer o exame marcado para esse mesmo dia. Não foi. A partir daí, manteve-se sempre em contacto com o professor. Fez o teste na quinta-feira, recebeu o resultado no dia seguinte: estava infetada com o novo coronavírus. “Fui a primeira a vir fazer o teste. Os outros só foram fazer porque eu os avisei”, explica, a partir da enfermaria onde foi admitida nesse mesmo dia.

“No seguimento do teste positivo ao COVID-19 do aluno XXXX [X ano, curso X] informam-se os alunos que estiveram no exame X na sala do professor X que serão contactados pelas autoridades de saúde no sentido de fazer exames covid. Entretanto recomenda-se que se mantenham em isolamento”
Publicação feita no grupo de Facebook de um dos cursos do Instituto Politécnico da Guarda

Apesar de a divulgação dos dados de identificação dos infetados ser proibida e punida por lei, os nomes de vários dos alunos do IPG que testaram positivo foram revelados aos restantes alunos pelos professores, em grupos fechados de Facebook, criados para reunir informações úteis sobre os cursos. “No seguimento do teste positivo ao COVID-19 do aluno XXXX [X ano, curso X] informam-se os alunos que estiveram no exame X na sala do professor X que serão contactados pelas autoridades de saúde no sentido de fazer exames covid. Entretanto recomenda-se que se mantenham em isolamento”, pode ler-se numa publicação, assinada por um professor mas partilhada por uma aluna, a que o Observador teve acesso.

“Foi a partir daí que os alunos começaram a partilhar. Sentimo-nos muito discriminados, há muita gente a falar, as pessoas não estão a ser empáticas, estão a julgar”, queixa-se a aluna. “Ninguém está a dizer que agimos de forma correta, não devíamos ter feito o que fizemos, mas ninguém sabe como aconteceu. Ninguém sabe se não ficámos infetados no Politécnico. Antes da festa muitos de nós já iam para lá fazer trabalhos e estudar, na biblioteca.”

“O problema está a ser centrado no Politécnico, mas não é do Politécnico, é um problema da cidade da Guarda. Sei que há jovens que se juntam à noite nas antenas eólicas, que é uma zona de descampado num extremo da cidade, próximo dos bombeiros, e noutros espaços públicos. Ainda ontem tive uma reunião e fiquei a saber da existência de uma outra festa, uma Erasmus party, numa discoteca”
Joaquim Brigas, presidente do Instituto Politécnico da Guarda

Ao Observador, Joaquim Brigas, presidente do IPG, garantiu só ter sido informado dos casos positivos entre os alunos pelas autoridades locais de saúde, no sábado, dia 4 de julho. Também recusou qualquer envolvimento na divulgação dos nomes dos estudantes infetados — mais, garantiu não os conhecer sequer: “Fui informado no sábado, dia 4, mais ou menos às 19h, de que havia oito infetados, alunos do Politécnico, de vários cursos. Foi aí que tomei a decisão de suspender imediatamente toda e qualquer atividade que pudesse promover a junção de pessoas aqui. Tivemos a reunião com as autoridades de saúde e eles não disseram nomes nenhuns. Não sabemos quem são”.

“O foco não é o Politécnico, foi uma festa lá fora que envolveu alunos do Politécnico, isso era bom que ficasse claro”, repetiu inúmeras vezes, ao longo de duas conversas, em dois dias diferentes, preocupado com potenciais danos causados à imagem da instituição que dirige. “O problema está a ser centrado no Politécnico, mas não é do Politécnico, é um problema da cidade da Guarda. Por acaso, alguns, ou a maioria dos infetados, são alunos do Politécnico”, acrescentou. “Sei que há jovens que se juntam à noite nas antenas eólicas, que é uma zona de descampado num extremo da cidade, próximo dos bombeiros, e noutros espaços públicos. Ainda ontem tive uma reunião e fiquei a saber da existência de uma outra festa, uma Erasmus party, numa discoteca”, acusou.

“Os bares e discotecas da Guarda não estão fechados. Nunca os fechámos”

Vários guardenses confirmaram ao Observador: comenta-se na cidade que há bares abertos até “altas horas da madrugada” e o que não faltam são sítios onde ir beber um copo à noite, sempre com o devido distanciamento social, uso de máscara e desinfeção de mãos.

Numa altura em que se mantém em todo o território nacional a proibição de funcionamento de estabelecimentos de dança e venda de bebidas alcoólicas, Carlos Chaves Monteiro, presidente da Câmara Municipal da Guarda, garantiu ao Observador que os bares e discotecas da cidade estão abertos.

"Os bares e discotecas da Guarda não estão fechados, mas houve uma redução bastante grande de clientes. Nunca os fechámos, deixaram de laborar naturalmente por falta de clientes. Não tocámos nos horários até hoje. Há estabelecimentos que podem encerrar até à meia-noite, mas este tipo de estabelecimento de dança e de bebidas estão abertos até às 3h. O que tem de haver é maior fiscalização"
Carlos Chaves Monteiro, presidente da Câmara Municipal da Guarda

“Os bares e discotecas da Guarda não estão fechados, mas houve uma redução bastante grande de clientes. Nunca os fechámos, deixaram de laborar naturalmente por falta de clientes. Não tocámos nos horários até hoje. Há estabelecimentos que podem encerrar até à meia-noite, mas este tipo de estabelecimento de dança e de bebidas está aberto até às 3h. O que tem de haver é maior fiscalização, a PSP tem feito a fiscalização, não deixa estar mais de 20 pessoas e obriga ao distanciamento”, explicou o autarca, que acrescentou ainda que apesar de o consumo de bebidas alcoólicas ser proibido no espaço público, o mesmo não acontece no interior dos bares. “Só tem de estar no máximo 20 pessoas ou 0,05 pessoas por metro quadrado.”

O facto de quase todos os bares da Guarda terem esplanada e de serem espaços mistos, autorizados também a vender refeições ou snacks, poderá explicar a situação — como está a acontecer aliás no Algarve, na conhecida Rua da Oura, em Albufeira, onde alguns bares estão a funcionar ao abrigo das licenças de snack-bar. Mas se Carlos Chaves Monteiro garante não ter dúvidas sobre a legalidade do funcionamento destes estabelecimentos, o sub-comissário Vítor Salgado diz que não é bem assim e que há cerca de dois meses a PSP encerrou uma discoteca, que estava a “deixar entrar as pessoas para consumir, tipo café”. “Aquilo tem licença para estabelecimento de dança e por isso não podia estar a funcionar”, acrescentou.

"Os estabelecimentos que existem, de acordo com o que está determinado, só podem admitir pessoas até às 23h, depois disso as pessoas podem permanecer no interior até à hora do fecho para a qual estão licenciados”
Vítor Salgado, relações públicas da PSP da Guarda

Questionado sobre se existem neste momento estabelecimentos na cidade abertos até às 3h da madrugada, como o autarca garantiu, o subcomissário da PSP Vítor Salgado começou por dizer que “os estabelecimentos que existem, de acordo com o que está determinado, só podem admitir pessoas até às 23h, depois disso as pessoas podem permanecer no interior até à hora do fecho para a qual estão licenciados”, passando depois a concluir que isso raramente acontecerá. “A partir das 23h damos indicações para as pessoas que estão nos estabelecimentos consumam o que estão a consumir e depois têm de sair.”

Ao Observador, Marta Costa, co-proprietária do Catedral Lounge Café, a discoteca com capacidade para cerca de 200 pessoas onde aconteceu, na passada sexta-feira, 3 de julho, a festa Erasmus de que Joaquim Brigas e Carlos Chaves Monteiro falaram ao Observador, como um dos eventos responsáveis pelos recente surto de Covid-19 na cidade, garantiu que, desde que foi decretado o estado de calamidade, só abriu o estabelecimento em quatro ocasiões e para funcionar como bar/café. Com um horário bem diferente daquele a que estava habituada: antes da pandemia abria à 1h e fechava às 5h, agora está a trabalhar das 21h às 23h.

“Abrimos nos dois últimos fins de semana, de 26 e 27 de junho e de 3 e 4 de julho. Estivemos em layoff total, como não temos espaço exterior e a câmara não nos deu autorização para fazer uma esplanada, agora adotámos um funcionamento de café, com mesas marcadas, das 21h às 23h, mas temos tido prejuízo. Ocupámos a pista toda com as mesas e marcamos no máximo entre 15 a 18 pessoas”, explicou a empresária, há três anos à frente do espaço, no centro da cidade. “As pessoas que ficaram infetadas estiveram numa festa de aniversário, numa casa particular, nós fizemos uma festa Erasmus, para um grupo de 15 estudantes do Brasil, da Turquia e de Espanha, que se iam embora, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Foi uma festa privada, com pulseiras e mesas reservadas.”

O cartaz da festa Erasmus no Catedral Lounge Café, que entretanto foi apagado das redes sociais

O cartaz da festa, publicado na página de Facebook do Catedral Lounge Café — “Imperial 2+1= 2; 2 shots de oferta com pulseira; entrada limitada” — foi apagado depois do contacto do Observador. O mesmo aconteceu com o de outro evento, marcado para o sábado seguinte: uma Beefeater Party (uma marca de gin). Ambos os eventos, explicaram Marta Costa e o sócio, Eduardo Silva, contaram com a animação de DJ’s contratados.

“Para além de ser necessário marcar mesa, tiramos a temperatura à porta e fazemos a desinfeção das mãos. Temos tido DJ, distanciado das mesas. Ninguém entra sem máscara, cada um é levado à sua mesa de reserva, e ninguém dança porque o espaço está todo ocupado”, explicaram, garantindo que estão a observar todas as regras sanitárias e legais, apesar de não servirem comida, apenas bebidas, e de a mais recente resolução do Conselho de Ministros manter obrigatoriamente encerrados os “estabelecimentos de bebidas e similares, com ou sem espaços de dança”.

“Antes de abrir fui à polícia, que me forneceu todos os dados e fui duas vezes à câmara. Na PSP fui informada de que se tivermos o CAE [Classificação Portuguesa de Atividades Económicas] como café podemos ficar abertos até às 23h. Não temos de expulsar os clientes, podem acabar de beber a sua bebida e ficar mais uma hora, no máximo”
Marta Costa, proprietária da discoteca Catedral Lounge Café

“Antes de abrir fui à polícia, que me forneceu todos os dados, e fui duas vezes à câmara. Na PSP fui informada de que se tivermos o CAE [Classificação Portuguesa de Atividades Económicas] como café podemos ficar abertos até às 23h. Não temos de expulsar os clientes, podem acabar de beber a sua bebida e ficar mais uma hora, no máximo”, explicou Marta Costa, apontando o dedo aos outros estabelecimentos do género na cidade. “Como a maior parte das discotecas e bares têm esplanada, continuaram a trabalhar, a Catedral foi das poucas casas que fechou. Há sunsets e música ao vivo em esplanadas cheias, há festas com DJ’s e tudo, será que o vírus funciona só das 21h às 23h?”

Duas infetadas em residência do Instituto Politécnico da Guarda

Apesar de ser estudante Erasmus e estar na Guarda desde março, para fazer um semestre do curso de Farmácia,  a brasileira Luísa (nome fictício) garante que não foi à festa da Catedral, tal como não foram as restantes nove colegas da Residência Gulbenkian, onde ficam alojadas as alunas de intercâmbio do Instituto Politécnico da Guarda. “Nós não vamos a essas festas, já passámos essa fase, as meninas têm todas mais de 25 anos. Nem sabemos se essa festa aconteceu mesmo. Só vamos a estabelecimentos que estão legalmente abertos, partimos do princípio de que está tudo higienizado e correto”, disse ao Observador, também sem querer ser identificada.

Depois de em março, com o encerramento dos estabelecimentos de ensino, ditado pelo estado de emergência, o número de alunas na residência ter passado de mais de 30 para 8, há cerca de duas semanas, quando as aulas práticas e os exames foram retomados no IPG, duas outras residentes regressaram ao edifício, de 3 pisos e 44 camas.

“Uma das meninas que voltou estava contaminada. Como começou a sentir-se mal e não queria contagiar-nos, saiu e foi para casa de um amigo. Mandou mensagem no sábado passado a dizer que estava positiva. Há dois dias fomos todas fazer o teste e uma estava infetada, por acaso uma menina mais nova, que nem saía de casa, sempre com medo de ficar doente"
Luísa (nome fictício), aluna de intercâmbio do Instituto Politécnico da Guarda

“Sou auto-imune, faço parte do grupo de risco, pedi ao Politécnico para que não mandassem pessoas de fora aqui para o prédio, mas ninguém me respondeu. Uma das meninas que voltou estava contaminada. Como começou a sentir-se mal e não queria contagiar-nos, saiu e foi para casa de um amigo. Mandou mensagem no sábado passado a dizer que estava positiva. Há dois dias fomos todas fazer o teste e uma estava infetada, por acaso uma menina mais nova, que nem saía de casa, sempre com medo de ficar doente”, revelou Luísa esta quarta-feira, o segundo dos 14 dias de quarentena profilática a que está agora obrigada — e que deverá pôr em causa a data do seu regresso ao Brasil.

O caso parece dar razão aos presidentes do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) e do Sindicato Nacional Ensino Superior (SNESup), que esta terça-feira alertaram para o “potencial de contaminação” das residências estudantis e das casas partilhadas de estudantes e pediram orientações à DGS. Mas Joaquim Brigas diz ao Observador que a situação está sob controlo: “As residências estão todas a funcionar com quartos individuais (mesmo os que eram duplos ou triplos), não são garantidamente focos de transmissão. A entrada é feita por um lado, a saída por outro. A higienização é feita de acordo com as normas das autoridades de saúde e as refeições são servidas em regime de take-away.”

"Percebo que alguns estudantes gostassem de dizer que se contaminaram a estudar, mas não foi o que aconteceu. Toda a gente sabe que há muitos estudantes que gostariam é que houvesse passagens administrativas mas a avaliação faz parte do ensino"
Joaquim Brigas, presidente do Instituto Politécnico da Guarda

Depois de confirmar os dois casos de infeção na Gulbenkian, uma das cinco residências dos serviços de ação social do IPG, o presidente da instituição explicou que as alunas infetadas estão assintomáticas e em isolamento, num dos espaços reservados no plano de contingência da escola. E recusou as acusações das alunas em quarentena, que dizem que lhes foi negada ajuda alimentar: “Isso é rigorosamente mentira, as refeições estão a ser levadas aos quartos”.

Nos próximos dias, já tinha revelado o presidente da autarquia ao Observador, deverão ser criadas as condições para que os estudantes atualmente internados, por não terem condições de isolamento nas casas onde moram, sejam transferidos para uma das alas do antigo centro apostólico da Guarda.

Enquanto isso não acontece, o responsável máximo do Instituto Politécnico da Guarda faz questão de repetir que o foco deve ser retirado da instituição que, apesar de agora encerrada, garante segura. “Isto não é um problema das instituições, as instituições ainda serão dos sítios mais seguros para se estar. E das residências também não. Percebo que alguns estudantes gostassem de dizer que se contaminaram a estudar, mas não foi o que aconteceu. Toda a gente sabe que há muitos estudantes que gostariam é que houvesse passagens administrativas mas a avaliação faz parte do ensino.”

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