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ECB press conference in Frankfurt
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dpa/picture alliance via Getty I

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BCE azeda Natal de quem tem créditos com Euribor: Lagarde endurece discurso e subida dos juros não tem fim à vista

"O mercado não esperava uma intervenção tão dura", diz analista. Christine Lagarde endureceu o discurso contra a inflação e subida de juros não tem fim à vista. Euribor devem superar largamente os 3%.

Quem pensa que vamos abrandar está enganado“, avisou Christine Lagarde, esta quinta-feira, aniquilando qualquer suposição de que o BCE poderia em breve repensar o ritmo de aperto monetário que tem vindo a ser feito numa tentativa de controlar a inflação historicamente elevada – uma inflação que, há um ano a esta parte, o banco central considerava apenas “transitória”. Com um discurso mais duro do que os analistas previam, a presidente do BCE trouxe más notícias para quem tem créditos indexados à Euribor, indexantes que deverão, agora, superar largamente os 3% até no prazo mais curto.

O aumento de 50 pontos base (meio ponto percentual) nas taxas de juro, anunciada pelo Banco Central Europeu (BCE) momentos antes da conferência de imprensa, até foi uma desaceleração em relação às duas subidas anteriores, que tinham sido de 75 pontos. Porém, os bancos centrais têm vindo a colocar o ênfase não na velocidade das subidas mas, sim, no nível até onde as taxas podem subir – e, aí, Christine Lagarde foi bem mais agressiva do que se previa.

Na fase mais enérgica de uma conferência de imprensa que Lagarde começou invulgarmente pesarosa, a presidente do BCE não excluiu que, nos primeiros meses de 2023, possa haver aumentos de taxas de juro até maiores do que os 50 pontos base que foram decididos esta quinta-feira. “Vamos decidir de acordo com a informação que tivermos, em cada momento”, adiantou.

“Com base na informação que temos hoje, os dados apontam para que possamos ter [mais] um aumento de 50 pontos base na próxima reunião”, afirmou a presidente do BCE. E, com uma projeção (atualizada) de que a inflação deverá exceder os 6% mesmo em 2023, Lagarde deixou claro que o ritmo não vai abrandar e pode haver novas subidas de 50 pontos “possivelmente na reunião seguinte e possivelmente até na reunião depois dessa”.

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"Com base na informação que temos hoje, os dados apontam para que possamos ter [mais] um aumento de 50 pontos-base na próxima reunião e, possivelmente, na reunião seguinte e possivelmente, até na reunião depois dessa."
Christine Lagarde, presidente do BCE, esta quinta-feira

Com esta declaração, numa penada, Lagarde admitiu a possibilidade de que as taxas de juro possam subir mais 150 pontos nas próximas três reuniões periódicas – isto é, até abril – além dos 50 pontos decididos esta quinta-feira.

Por outras palavras, a presidente do BCE admitiu que a zona euro pode chegar a abrir com juros de 3,5% no caso da taxa de depósitos (aquilo que os bancos recebem quando depositam liquidez no BCE) e 4% na taxa principal de refinanciamentos (aquilo que os bancos pagam nas principais operações de cedência de liquidez por parte do banco central). A primeira passou hoje para 2% e a última para 2,5%, máximos desde 2008.

Recessão, pela primeira vez, é cenário central. Mas será “curta e pouco profunda”

O BCE já tinha admitido um “cenário adverso” em que podia haver uma recessão económica significativa (-0,9%) na zona euro, em 2023. Mas só esta quinta-feira passou a admitir uma contração económica no seu cenário central – embora seja uma recessão “relativamente curta e pouco profunda”.

“A economia da zona euro poderá ter uma contração no trimestre atual e no primeiro trimestre de 2023, devido à crise energética, incerteza elevada, atividade económica global a enfraquecer e condições monetárias mais apertadas”, dizia o comunicado do BCE. Dois trimestres consecutivos de contração da atividade económica cumpre a definição de recessão técnica – porém, o banco central acredita que o ano de 2023, como um todo, será positivo, com um crescimento de 0,5%.

BCE sobe juros em 50 pontos e avisa que irá fazer mais “subidas significativas”. “Quem pensa que vamos abrandar está enganado”, diz Lagarde

Eis uma sistematização das novas projeções macroeconómicas do BCE, atualizadas esta quinta-feira.

  • A inflação fecha 2022 em 8,4% (média anual) e apenas desce cerca de dois pontos percentuais em 2023: a média da inflação passou a ser prevista em 6,3%, em 2023;
  • Em 2024, a inflação poderá baixar para 3,4% e em 2025 para 2,3%, mesmo assim acima do objetivo de 2% no médio prazo.
  • A economia “poderá contrair-se” no atual trimestre e no primeiro de 2023 – mas “uma recessão será relativamente curta e pouco profunda”.
  • O crescimento em 2023 será “limitado” e foi revisto em baixa “de forma significativa, comparando com as previsões de setembro. Depois de um crescimento de 3,4% em 2022, a previsão de crescimento em 2023 é de 0,5% em 2023.
  • Em 2024, a economia poderá acelerar para 1,9%.

Euribor irá superar largamente os 3%, até no indexante a três meses

Embora a subida de 50 pontos na taxa de juro não tenha sido uma surpresa, o tom do discurso de Christine Lagarde teve impacto imediato sobre as bolsas – que derraparam mais de 2% – e sobre os contratos futuros da Euribor. “O mercado não esperava um discurso tão duro“, diz ao Observador Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros, acrescentando que “talvez este tom tenha tido como objetivo agradar ou apaziguar os membros do BCE que pretendiam uma subida de 75 pontos”.

“Na prática, Lagarde adicionou mais 25 a 50 pontos-base à taxa de fim de ciclo”, diz o especialista, notando que “olhando para os mercados de futuros, espera-se agora que a Euribor a 3 meses atinja um máximo de 3,25% em meados do próximo ano“. Nos prazos mais longos, como 6 e 12 meses, os indexantes devem subir para patamares mais elevados mas o especialista não antevê que cheguem a 4%.

Subida das taxas de juro. “Discurso foi mais agressivo, talvez para agradar aos membros do BCE”

As taxas Euribor têm vindo a estabilizar, nas últimas semanas, fruto dos sinais de que a inflação poderá estar a moderar-se na zona euro. Porém, as mensagens transmitidas por Christine Lagarde tornam provável que os próximos dias possam trazer um regresso das subidas mais acentuadas: más notícias para quem tem créditos à habitação indexados a taxa variável.

O Governo lançou recentemente um diploma que passou a reger eventuais renegociações de crédito com a banca, nos casos em que a subida das Euribor colocar as famílias em maiores dificuldades no pagamento das prestações.

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BCE acelera desmame das compras de dívida. Juros dos países mais endividados disparam

Numa fase em que a Reserva Federal dos EUA aponta para uma redução mais rápida da inflação em 2023, o BCE prevê que mesmo no próximo ano a inflação seja superior a 6% (na média ao longo do ano), mais de três vezes o objetivo de médio prazo que é de 2%. Isso levou alguns analistas a mostrarem alguma perplexidade pelo facto de o BCE não ter anunciado já esta quinta-feira uma subida de 75 pontos base na taxa de juro – o que teria sido uma surpresa mas que se poderia entender à luz das novas previsões macroeconómicas e tendo em conta a dureza do discurso de Lagarde.

Mas o BCE acabou por não dar esse passo, embora Lagarde tenha reconhecido que existe uma divisão no seio do Conselho do BCE sobre “a tática” que se deve empregar para fazer aquilo sobre o qual todos os responsáveis estão de acordo – há “acordo total” no sentido de “manter o rumo” e a “perseverança” no combate à inflação.

A presidente do BCE reconheceu, porém, que “alguns queriam fazer mais, outros queriam fazer menos“, uma análise que poderá dizer respeito à dimensão da subida de juros mas, também, à redução do balanço que foi formalmente confirmada esta quinta-feira.

Em causa está a confirmação de que o BCE vai começar em março a reduzir a quantidade de dívida (sobretudo dívida pública) que acumulou no balanço devido aos programas de intervenção que foram levados a cabo nos últimos anos. Em concreto, o BCE vai começar a “não reinvestir todos” os títulos que vão atingindo a maturidade, à medida que o tempo passa – títulos que foram comprados ao abrigo do Asset Purchase Programme (APP), o programa lançado por Mario Draghi em 2015.

Esse “não-reinvestimento” levará a uma redução “gradual e a um ritmo previsível” que será de 15 mil milhões de euros por mês, em média, até ao final do segundo trimestre de 2023. Depois disso, haverá nova decisão sobre o ritmo de redução do balanço.

Juros de Portugal dispararam quando o BCE confirmou que vai reduzir compras a partir de março. Taxas de Itália e Espanha também subiram, com Itália acima dos 4%. Fonte: TradingEconomics

A confirmação do início do quantitative tightening (aperto quantitativo, após o quantitative easing, ou expansão quantitativa) fez imediatamente subir as taxas de juro dos países mais endividados da zona euro. Os juros de Portugal voltaram a superar os 3% a 10 anos, um aumento de 15 pontos em apenas uma sessão; os juros de Itália subiram ainda mais: mais de 20 pontos, ultrapassando os 4,2%.

BCE não tem “varinha mágica” para fazer “desaparecer” a inflação

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