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O dia foi passado a fazer perguntas ao novo Bing, o motor de pesquisa da Microsoft que quer ser mais robusto nas funcionalidades com a ajuda da inteligência artificial (IA). A tecnológica de Redmond quer roubar quota de mercado à Google na pesquisa e acredita que pode ter nesta novidade um trunfo e navegar a onda de popularidade do ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI.
Para já, o Bing com IA reside apenas no navegador Edge, um produto também da Microsoft. Embora possa aceder com outro navegador de internet à página do Bing para ver o aspeto, só vai poder, no entanto, ter um cheirinho do seu funcionamento — assim que fizer um pedido complexo surge a indicação de que tem de utilizar o Edge para experimentar.
No Edge renovado, há agora um botão específico para se falar com um “chatbot” e pesquisar sem ser preciso abrir novos separadores. A experiência de uso deste novo Bing é semelhante às interações possíveis com o ChatGPT — a Microsoft explicou no anúncio destas novidades que está a recorrer a um modelo “mais poderoso” que o ChatGPT, embora não tenha especificado qual. Mas há pelo menos uma diferença entre a interação no Bing e Edge contra o serviço da OpenAI: uma lógica de “copiloto web”. No evento onde a Microsoft apresentou estes produtos com IA, foi explicado que o utilizador pode contar com a ajuda de uma espécie de assistente mais robusto, que pode ser usado para analisar e resumir o que está a ser visto num separador aberto, seja um PDF ou uma página web. Também isso é uma diferença face ao ChatGPT que, uma vez que não está ligado à internet, faz com que praticamente não consiga responder a questões de atualidade.
Tanto o Bing e o Edge com IA ficaram disponíveis para testes no dia da apresentação, mas exige uma inscrição para se aceder. Se tiver uma conta Microsoft, ficará na lista de espera até que, mais tarde, receberá um email para poder aceder à versão de teste do navegador Edge. Depois é fazer o download e fica pronto para começar a interagir com o Bing com IA, num programa chamado Microsoft Edge Dev.
Google é um “gorila” na pesquisa que a Microsoft quer “pôr a dançar” na inteligência artificial
E, segundo os responsáveis da Microsoft, há muita curiosidade. De acordo com Yusuf Mehdi, vice-presidente da Microsoft que tem em mãos a área da pesquisa, nas primeiras 48 horas desde o anúncio do novo Bing, na terça-feira, 7 de fevereiro, pelo menos um milhão de pessoas pediu para ficar na lista de espera. “Estamos honrados e entusiasmados pelo número de pessoas que querem fazer um test drive ao nosso novo Bing com IA!”, escreveu na rede social Twitter.
We're humbled and energized by the number of people who want to test-drive the new AI-powered Bing! In 48 hours, more than 1 million people have joined the waitlist for our preview. If you would like to join, go to https://t.co/4sjVvMSfJg! pic.twitter.com/9F690OWRDm
— Yusuf Mehdi (@yusuf_i_mehdi) February 9, 2023
Como é interagir com este novo Bing? E como funciona o “chat”?
Há algumas diferenças em relação ao Bing “tradicional”: há um contador de até mil caracteres para escrever e algumas sugestões de perguntas. “Faz um plano de treino para os braços e abdómen sem que seja preciso fazer abdominais ou ter equipamento de ginásio. Deve demorar só meia hora” é um dos quatro exemplos disponíveis. Caso não queira escrever, também pode ditar a pergunta ou usar uma imagem para pesquisa visual. Mais abaixo na página continua a existir espaço para notícias, consultar a meteorologia ou o trânsito, como no Bing que já conhecíamos.
Sempre que abrir o campo de texto para escrever surgem as questões feitas anteriormente e também informação em relação às pesquisas mais populares no país naquele momento. Tal como já acontecia no Bing.
Vamos às diferenças face ao Bing “tradicional”: se fizer uma pesquisa é-lhe mostrado um conjunto de ligações com resultados que o motor de pesquisa seleciona, como já acontecia no Bing, mas agora surge ao lado uma área com um resumo feito pela IA da OpenAI.
Outra das novidades é o separador “chat”, no qual é possível fazer perguntas adicionais sobre o que está à procura, numa lógica de conversa. No aspeto é semelhante à interação no ChatGPT, mas no Bing há a indicação das fontes de informação. Além disso, sempre que fizer questões no “chat” recebe a indicação sobre o que está a ser considerado como termo de pesquisa (normalmente iniciado com “a pesquisar por…”). Dependendo da complexidade e da extensão da pergunta, os termos podem nem sempre ser os mais adequados. Em baixo, na imagem, é possível ver o separador “chat” que tem, ao lado, o ícone dedicado do Bing como também a área de composição de texto — pode indicar o tema do texto, o tom e escolher o formato.
Uma ferramenta para ajudar a compor emails e não só
Na altura do lançamento do ChatGPT, em novembro, esta lógica de criação de pequenos textos foi uma das ferramentas que mais curiosidade gerou. Neste espaço no Bing, é possível dar uma ideia muito geral sobre o que se pretende ver escrito, com a novidade de poder escolher o tom – profissional, descontraído, informativo, etc – e a dimensão do texto. Consoante a escolha de parágrafo, email, publicação de blogue ou ideias, o texto surge no ecrã já formatado. Ao pedido “escreve um email a dizer que não posso ir ao jantar de sexta”, com estilo descontraído e formato curto, o resultado teve direito a emojis e o Bing até inventou uma justificação (“imprevisto no trabalho”).
“Olá, pessoal!
Espero que estejam todos bem e animados para o fim de semana. Infelizmente, tenho uma má notícia: não vou poder ir ao jantar de sexta-feira.
Tive um imprevisto no trabalho e vou ter que ficar até mais tarde para resolver uns assuntos urgentes. Sei que é uma chatice, mas não tenho mesmo como escapar.
Peço desculpa pelo transtorno e espero que se divirtam muito sem mim. Prometo que na próxima vez eu vou e pago uma rodada para todos.
Um abraço e até breve!”
Embora neste caso a inteligência artificial tenha conseguido gerar um email adequado, em muitas das interações com o Bing as respostas nem sempre foram satisfatórias. Apesar de a conta Microsoft usada para este acesso ao motor de pesquisa e navegador Edge estar registada em Portugal, muitos resultados foram apresentados em português do Brasil. Já em relação às fontes de informação foi sentido um maior equilíbrio, com o motor de pesquisa com IA a recorrer não só a sites de jornais portugueses como também a meios de comunicação do Brasil, Reino Unido e EUA.
Nem sempre é rápido ou lógico nas respostas
Por agora, o Bing demora algum tempo a responder às questões, em particular se forem mais complexas, como em comparações ou pedidos para elaborar um “prós e contras”. Num dos exemplos para este artigo, foi instruído para que comparasse os preços de voos de Lisboa para Madrid nos sites da Booking e da Momondo entre 13 e 16 de fevereiro. Como resultado, além de uma resposta, surge a indicação das fontes de informação e a indicação de que pode fazer consultas adicionais ou algumas sugestões de perguntas nessa sequência.
Nas comparações, as respostas demoram algum tempo, mas num motor de pesquisa tradicional não é possível fazer esse confronto — os resultados para o Booking e para o Momondo surgem separados. Se achar que a resolução está a demorar demasiado tempo no Bing “inteligente”, existe um botão “pare de responder” para que a pesquisa possa ser interrompida.
O Bing também consegue dar sugestões para refeições. Ao pedido “preciso de ideias para um jantar para quatro pessoas, em que uma não come carne e outra é alérgica a camarão” os resultados até foram credíveis, com várias sugestões de pratos vegetarianos. Até que o próprio Bing perguntou se eram necessárias ideias para a sobremesa. Perante uma resposta afirmativa, o termo de pesquisa foi peculiar: “A pesquisar por: ‘sobremesas sem carne e sem camarão’”. Acabou por cumprir e sugerir só receitas doces.
Foi feita a mesma pergunta de ajuda com um menu para jantar ao ChatGPT. O modelo da OpenAI não apresenta ligações para as receitas (como no Bing) e falhou num dos critérios: apresentou uma sugestão de receita de frango com limão.
A análise à informação dos separadores pode precisar de várias tentativas
Na apresentação da Microsoft onde foi revelado o Bing com inteligência artificial, uma das ferramentas que gerou curiosidade foi a promessa de análise a documentos, como relatórios de resultados financeiros. O exemplo dado pela Microsoft era o resumo das contas trimestrais da retalhista Gap, sobre o qual o Bing conseguia digerir a informação e apresentar um pequeno resumo.
Microsoft quer acelerar pesquisa do Bing com ajuda de modelo “mais poderoso” que o ChatGPT
Durante esta experiência, quisemos despistar se também funcionaria com documentos em português, neste caso usando as contas do Banco Montepio. Em português não foi fácil acertar com o termo para pedir um resumo do Bing – “resume os resultados deste PDF” foi compreendido como algo diferente:
“Olá, este é o Bing. Posso ajudar. Para resumir os resultados deste PDF, você precisa primeiro baixar o arquivo e abri-lo com um leitor de PDF, como o Adobe Acrobat Reader ou o iLovePDF. Esses programas permitem que você visualize, edite, anote e assine documentos PDF de forma fácil e segura. Você também pode armazenar seus arquivos online e acessá-los de qualquer lugar.”
Só quando se passou a usar o pedido “analisa este separador”, onde estava aberto o PDF dos resultados do Montepio, é que o Bing conseguiu dar informação mais adequada.
“Este separador contém um comunicado de resultados do Banco Montepio referente ao ano de 2022. Segundo os resultados, o banco teve um lucro de 33,8 milhões de euros, um aumento de mais de 400% em relação ao ano anterior⁵⁶⁷. O comunicado destaca também o crescimento do negócio, a melhoria da qualidade dos ativos, o reforço dos rácios de capital e liquidez, a redução dos custos operacionais, a otimização da rede de balcões, a redução do quadro de pessoal e a simplificação da estrutura societária do grupo.”
Um resultado que era apresentado com um conjunto de ligações para o utilizador verificar a origem da informação, permitindo, ainda, fazer mais questões, como “qual foi a margem financeira do banco em 2022” ou “quais foram as participações internacionais vendidas pelo banco em 2022?”.
Uma vez que a IA consegue compreender mais do que um idioma, pediu-se a análise aos resultados da petrolífera Galp, que são disponibilizados em inglês. Desta vez, o resultado foi diferente, já que o Bing optou por comparar a informação que via no PDF aberto com uma pesquisa na internet, recorrendo a notícias publicadas sobre o desempenho financeiro da empresa.
“Para analisar o separador com os resultados da Galp, você precisa saber que ele é uma parte do documento PDF que você baixou, que contém os resultados financeiros da Galp no quarto trimestre e no ano de 2022. O separador mostra o índice do documento, com os títulos e as páginas de cada seção. Você pode usar o separador para navegar pelo documento e encontrar as informações que procura. Segundo os resultados da pesquisa na web²³⁴⁵⁶, a Galp registou, em 2022, lucros de 881 milhões de euros, quase o dobro do que obteve no ano anterior, beneficiando do aumento da produção de petróleo e gás, da melhoria do ambiente macroeconómico e da recuperação da procura de energia. A Galp espera alcançar um resultado operacional (EBITDA) no final deste ano de 3,2 mil milhões de euros, depois de reportar um EBITDA de 3,8 mil milhões de euros este ano. A Galp também anunciou um programa de recompra de ações no valor de 500 milhões de euros, a ser executado até ao final de 2023.”
Quando foi pedido para resumir o conteúdo de uma notícia aberta num separador a tarefa pareceu ser mais fácil: não só conseguiu dar um resumo do texto como também sugeriu perguntas adicionais sobre o tema, neste caso do Super Bowl.
É preciso atenção redobrada em alguns dos resultados
A OpenAI, a responsável pelo modelo que faz funcionar este motor de pesquisa, é a primeira a admitir que os frutos da sua investigação podem dar erros e que devem ser usados com atenção redobrada. Por exemplo, quando se pede ao Bing uma comparação entre o ChatGPT e o rival Bard, anunciado pela Google, a resposta nega uma das principais funcionalidades do modelo da OpenAI, a capacidade de gerar conteúdo criativo.
“Olá, este é o Bing. Eu posso te ajudar.
ChatGPT e Bard são dois chatbots baseados em inteligência artificial que podem conversar com os usuários em diferentes idiomas e temas. A principal diferença entre eles é a fonte de dados. Bard continuará a extrair informações da internet, por isso terá as informações mais recentes. As fontes do ChatGPT terminam com dados de 2021, por isso é limitado a pesquisas e informações mais novas. Bard terá mais dados para coletar informações em tempo real, acessando as pesquisas mais recentes. Além disso, Bard pode gerar conteúdo criativo, como poemas, histórias, código e músicas, enquanto ChatGPT não tem essa capacidade.”
Fizemos a mesma pergunta ao ChatGPT. A resposta foi diferente, mas também incorreta, já que atribui a criação do Bard, da Google, à OpenAI.
ChatGPT e o BARD são dois modelos de processamento de linguagem desenvolvidos pela OpenAI, cada um com seus prós e contras.
Prós do ChatGPT:
Escalabilidade: o ChatGPT é um modelo baseado em transformers muito grande, com 175 bilhões de parâmetros, o que lhe permite lidar com uma ampla variedade de tarefas de processamento de linguagem.
Flexibilidade: o ChatGPT foi treinado em uma ampla gama de dados da web, o que significa que ele pode responder a perguntas sobre muitos assuntos diferentes e em diferentes contextos.
Desempenho: o ChatGPT tem sido usado com sucesso em uma ampla gama de aplicações, incluindo chatbots, resposta a perguntas e tradução automática.Contras do ChatGPT:
Consumo de recursos: como um modelo tão grande, o ChatGPT requer muitos recursos computacionais para funcionar, o que pode ser um obstáculo para algumas aplicações.
Treinamento: treinar um modelo tão grande como o ChatGPT requer uma quantidade enorme de dados e recursos computacionais, o que pode ser desafiador.Prós do BARD:
Eficiência: o BARD é um modelo muito mais compacto do que o ChatGPT, com apenas 123 milhões de parâmetros, o que significa que ele consome muito menos recursos computacionais para funcionar.
Desempenho: apesar de ser muito mais compacto, o BARD ainda tem um desempenho muito bom em tarefas de processamento de linguagem, como resposta a perguntas e tradução automática.
Contras do BARD:Escopo: como um modelo muito mais compacto, o BARD foi treinado em um conjunto mais limitado de dados, o que significa que ele pode não ser tão flexível quanto o ChatGPT em lidar com uma ampla variedade de tarefas e contextos.
Desempenho: embora o BARD tenha um bom desempenho em muitas tarefas, ele ainda pode não ser tão preciso quanto o ChatGPT em algumas tarefas mais complexas.
Afinando a pergunta para especificar que o Bard pertence à Google, o ChatGPT alega que “é mais rápido que o Bard da Google na resposta a perguntas e na realização de tarefas”, mas que “pode ser menos preciso do que o Bard da Google” ou que “não oferece a mesma segurança que o Bard da Google, já que ele não é monitorizado pela equipa de segurança da Google”. Uma vez que o Bard da Google está só ao alcance de um grupo restrito de pessoas para testes, nem sequer é possível fazer uma comparação direta entre os dois serviços conversacionais.
Estas falhas e imprecisões podem ser reportadas. É por isso que, a cada pesquisa neste novo Bing é possível indicar se a resposta é considerada ou não adequada pelo utilizador. Neste motor de pesquisa renovado, também é possível enviar comentários para a Microsoft, que promete usá-los para a evolução deste serviço.