Sim, ir ao Boom é uma situação limite. E pode ser o começo da abertura da consciência ou do crescimento do poder de conexão com o Universo. Toda a gente devia ir ao Boom pelo menos uma vez na vida. Não vou falar de drogas, ou de uma sociedade utópica, ou de sonhadores que partilham um sonho de um mundo melhor. O Boom é tudo isso e muito mais.

Este foi o meu terceiro festival. Já me considero uma boomer, como se chama à comunidade que partilha esta vivência. Desde o primeiro que amei e fiquei fã. Gente bonita, de todo o mundo, um sítio paradisíaco out of nowhere, limpo, comida deliciosa, vegetariana, nutritiva, música boa, muita dança. Dias para viver entre iguais que vêem a vida e o mundo livre dos poderes e da ganância. No Boom, somos um, somos amor, e a condição humana é livre, pacífica, criativa e organizada.

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«2014 foi o melhor Boom de sempre», diz Alfredo Vasconcelos, da organização. «Estabeleceu-se como um festival internacional em que estavam representados 152 países – o mais global de todos – e gente de todo o tipo». Os portugueses foram a quarta nacionalidade e os franceses a primeira. Ao todo, de acordo com a organização, estiveram 30 000 pessoas no festival. Senti que estava no limite da «comodidade aceitável», segundo a opinião de Alfredo Vasconcelos, o que lhe retirou um bocadinho de charme. Mas tiro o chapéu à organização, que foi surpreendida com milhares de pessoas à porta, sem bilhete, e ainda assim deu conta do recado.

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Alfredo Vasconcelos disse ao Observador que, apesar da enchente, este foi para todos — “público, artistas e promotores” –, o “melhor festival de sempre”. Criou riqueza na zona e mais um vez marcou pontos por ser um exemplo verde. A eco-vila é feita ao pormenor, a poupança ambiental do Boom acorda-nos sempre para o caminho a seguir na grande Gaia, o nosso planeta.

Na vanguarda do que a consciência global apela, 2014 foi um festival dedicado ao feminino. Está no DNA evolutivo do Boom adaptar-se e o século XXI é sem dúvida o novo fôlego do poder da mulher», explica o organizador. A própria equipa do festival cresceu orgânica e naturalmente mais equilibrada nos dois géneros.

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O dance temple (palco principal) estava todo virado para o poder feminino, sensual, forte, de cores suaves e vibrantes, com uma atmosfera poderosa, bem ao estilo da promotora good mood, sempre atenta à consciência global. Depois da transmutação alquímica da edição de 2012, que deu início a um novo ciclo, voltou-se agora para o coração de quem dá vida, numa viagem à consciência feminina, em descoberta da nova fórmula mágica e inspiradora do novo caminho evolutivo do Universo.

Talvez por isso fui a três concertos que marcaram a minha experiência este ano. Num dos encontros cósmicos que o festival oferece, um sul-americano aconselhou-me a ver Nashra Sol. Como tudo tem uma razão de ser, fui assistir. Descobri uma mulher do presente, mistura de sul-americana e de escandinava, uma voz melodiosa e um corpo sensual, que experimenta as notas musicais e exprime a mística da vida. Uma artista de performance, DJ, vocalista e nómada, que criou um ambiente reparador nos Chill Out Gardens. Uns entraram em relaxamento profundo, outros meditaram, eu pratiquei yoga, todos entrámos em meditação. São estes momentos mágicos que fazem a experiência Boom. E foi um concerto que tocou o coração de quem o Universo colocou ali naquele presente.

Ainda nos Chill Out Gardens, fui surpreendida com Kaya Project. Uma atmosfera especial surgiu ao início da noite de sábado com a voz mágica de Irina Mikhailova, acompanhada à flauta por Pearce Flooting Grooves e na percussão por Chris Deckker. Ao pôr do sol e ao nascer da lua (quase) cheia, éramos nós e as cores da Natureza, e mais uma vez se instalou uma energia do amor, feminina e sensual. E muito se dançou ao ritmo e ao som deste famoso projecto musical londrino.

O presente do festival aconteceu no dia 4. Anoushka Shankar abriu a enorme dance temple e criou o ambiente espiritual que a consciência global do momento pede. Anoushka, ela própria uma boomer, agradeceu e deu-nos um concerto sagrado. «O Boom cria os seus próprios caminhos conceptuais», explica Alfredo Vasconcelos. Mais uma vez a organização está no rumo certo para futuros festivais. Um concerto divino, por uma deusa, filha de Ravi Shankar, completou a celebração do amor, da união e da evolução do festival. Ao som da cítara, Anoushka preencheu o coração dos boomers, elevando-o a uma verdadeira experiência de consciência do poder de co-criação com o Universo. Porque juntos fazemos magia — “We are one, we are love” (Somos um, somos amor). É descobrir isso e abrir para esta frequência.

2016, nós, seres humanos, aqui o aguardamos.