O IVA a zeros (em alguns produtos) e a inflação a abrandar pelo oitavo mês consecutivo. Os sinais apontam para baixo, mas quem vai ao supermercado continua a ver a conta a escalar degraus. Em julho, o cabaz Observador, uma iniciativa mantida desde abril do ano passado, voltou a registar uma subida face à recolha de preços do mês anterior. O preço do cesto de produtos escolhidos nas lojas online do Pingo Doce (Mercadão), Continente e Auchan registou um valor médio de 59,77 euros, mais 1,44% do que no mês anterior, ou mais 0,92 euros.
O valor total do cabaz aumentou em dois dos supermercados escolhidos. No Continente a subida dos preços foi mais acentuada, de 6,64%, enquanto no Pingo Doce o aumento foi de 1,31%. No Auchan registou-se uma descida, de 2,31%.
O cabaz é composto por óleo alimentar, atum, farinha, arroz, massa, bolacha Maria, cereais Corn Flakes, leite, farinha láctea, maçãs, bacalhau, frango, feijão, ovos, açúcar, pão, papel higiénico e fraldas, sendo que a maior parte dos produtos estão abrangidos pela medida do IVA zero. A medida, que pretende contribuir para travar a escalada dos preços verificada nos últimos meses, entrou em vigor a 18 de abril, isentando de imposto 46 categorias de produtos alimentares. Ficará em vigor até outubro.
Cabaz Observador. Preço médio do cesto de compras volta a subir em junho, mesmo com IVA zero em cena
O objetivo desta recolha, que teve início na sequência do aumento dos preços motivado pela guerra na Ucrânia, é acompanhar a evolução dos preços a cada mês e não fazer comparações entre supermercados. É publicada no primeiro dia útil de cada mês.
No arranque de julho foram vários os produtos que não registaram qualquer oscilação de preço em nenhuma das superfícies analisadas. São os casos do papel higiénico, das fraldas, do feijão branco, dos ovos, do frango e do pão. E, tal como tem vindo a ser recorrente nos meses anteriores, as maiores oscilações de preços devem-se às promoções. Se houve aumentos significativos, significa que no mês anterior o produto em causa estava com desconto. Essa situação é visível em produtos como o leite, o esparguete ou a farinha.
Mas em alguns produtos, houve mesmo aumento de preços. No Auchan, o leite ficou mais caro quase 5%, por exemplo, enquanto no Continente foi o açúcar a ter um aumento superior a 13%. No Pingo Doce, a bolacha Maria aumentou mais de 8%. Nos casos em que houve redução de preços face ao mês passado, as promoções também têm peso. No atum, o desconto de 30% no Pingo Doce e Continente fez com que o produto ficasse mais barato, entre 0,89% e 6,72%, respetivamente. Na farinha, nas duas mesmas superfícies, a promoção de 20% resultou em descidas de preços de 25% face a junho.
A comparação de preços levada a cabo pelo Observador desde abril de 2022 também permite concluir que há diferenças significativas nos valores dos produtos face há mais de um ano, quando eclodiu a guerra. O preço do óleo alimentar é o mais flagrante. Em abril do ano passado, e nos meses que se seguiram, o preço do óleo de girassol disparou porque a Ucrânia era um dos maiores produtores do mundo. Chegou a haver limitação do número de garrafas que se podiam comprar no supermercado. Desde então, com a indústria a ter de procurar alternativas, os preços registaram uma descida notória. No Pingo Doce e Continente, baixaram 55% em julho face a abril de 2022, e no Auchan a descida foi de 42%.
Mas também houve subidas, e bastante acentuadas. Face ao mês que precedeu o início da guerra, o preço da farinha aumentou 47% no Pingo Doce e quase 18% no Continente e Auchan. O leite teve aumentos que oscilam entre os 20% e os 50%, semelhante à Cerelac. Entre os produtos cujos preços mais subiram em 15 meses estão o arroz (entre 58% e 84%) e o açúcar (entre 44% e 89%).
Este terceiro aumento consecutivo do valor médio do cabaz Observador (depois de uma descida em abril) prova que a inflação continua a não dar tréguas ao bolso dos portugueses. Apesar de ter abrandado pelo oitavo mês consecutivo em junho, segundo a estimativa rápida do INE publicada na passada sexta-feira, a taxa de inflação homóloga passou de 4% em maio para 3,4% em junho. Mas a inflação subjacente, que exclui os preços da energia e dos alimentos não-processados, mantém-se acima de 5%, tendo passado de 5,4% para 5,2%.
Ao contrário dos preços da energia, que foram o motor da inflação ao longo de vários meses mas agora estão em queda, os preços da alimentação não estão a cair ao mesmo ritmo, apesar de estarem a desacelerar. Segundo o INE, “o índice referente aos produtos alimentares não transformados terá desacelerado para 8,5%” em junho, face aos 8,9% registados em maio.