A inflação em outubro superou os 10%, tendo em novembro descido ligeiramente para os 9,9%. Mas nas contas do INE (Instituto Nacional de Estatística) os produtos alimentares não transformados tiveram uma subida de preços de 18,4%, ainda assim menor que os 18,9% de outubro. Mas os produtos alimentares transformados aceleraram. Os preços subiram 16,8% contra os 14,1% do décimo mês.

A realidade é que os alimentos estão mais caros e o abrandamento da subida ainda não é expressivo nos produtos não transformados, tendo acelerado mesmo no caso dos transformados.

O Observador verificou o mesmo no cabaz de compras que tem vindo a seguir desde abril, depois do início da guerra na Ucrânia. A cesta que é feita pelo Observador não chega para um mês. O Observador pesquisa os preços nos serviços online de três grandes superfícies — Pingo Doce, Continente e Auchan. São, por isso, os preços praticados nessas plataformas e não tem como objetivo fazer comparações entre superfícies comerciais.

O preço médio do cabaz neste mês de dezembro (a recolha dos preços foi feita esta sexta-feira, 2 de dezembro) subiu 9% para 59,25 euros, perto já dos 60 euros, face a novembro. Mas face a abril a subida atinge os 14%. Quando o Observador começou a fazer o cabaz o seu preço médio era de quase 52 euros.

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Desde abril os artigos que mais subiram de valor foram o pão, o açúcar, os ovos, o leite e as fraldas, só para mencionar alguns. No caso das fraldas, além do preço, aconteceu também uma redução no número de unidades nos pacotes, um “encolher” sentido também noutros produtos, naquilo a que se designa de reduflação.

Cabaz Observador. Preços não dão tréguas face a abril e há produtos a encolher

Na preparação para o Natal conte, por isso, com preços mais elevados em alguns artigos que os portugueses não dispensam na mesa da consoada e no dia natalício. O bacalhau teve aumentos em alguns supermercados, ainda que beneficie de algumas promoções. E essa é mesmo a tendência que se continuar a detetar no cabaz nacional. Procurar promoções pode ser uma boa forma de contornar a escalada da inflação.

Apesar do ligeiro abrandamento da subida de preços em novembro, medidos pelo INE, ainda será cedo para declarar vitória sobre a inflação. Ainda esta semana, em entrevista ao Expresso, Pedro Soares dos Santos, presidente da Jerónimo Martins, realçou que “o desafio é conseguir que algumas pessoas possam comprar comida até ao fim do mês. Sabemos que muitas famílias já não o conseguem e com a subida das taxas de juro e a inflação só vejo o cenário a piorar. Portugal é o país onde fazemos mais promoções. Este modelo tem um peso enorme porque as pessoas têm dificuldades no dia a dia”.

As promoções são, aliás, uma constante em todos os meses analisados pelo Observador. E não fossem essas promoções, a farinha Branca de Neve custaria perto de dois euros em todas as grandes superfícies, podendo, no entanto, ser encontrada a 1,29 euros em algumas cadeias.

Há preços que entre novembro e dezembro tiveram oscilações de alguma forma significativa. É o caso do atum, do leite ou das bolachas Maria. Os preços aqui incluídos contêm as referidas promoções e são os mostrados nos sites das três empresas analisadas. Com o Natal à espreita, há que contar com subidas de preços em alguns produtos.

Recolha feita pelo Observador a 2 de dezembro nos sites das três grandes superfícies

Preços recolhidos a 2 de dezembro pelo Observador nos sites das empresas

Deco conclui que peixe e lacticínios são os que tiveram maiores aumentos

A Deco também tem analisado um cabaz (mais completo, com um total de 63 produtos) de artigos. Em apenas uma semana, concluiu, o preço do cabaz de bens alimentares essenciais aumentou de 212,76 euros para 219,22 euros, uma subida de 6,47 euros (mais 3,05%). E resulta de um aumento de 19,39% (mais 35,59 euros) face ao registado na véspera do início do conflito armado com a Ucrânia (23 de fevereiro).

Na análise da associação de defesa dos consumidores o peixe e os laticínios são as categorias com os maiores aumentos entre 23 de fevereiro e 30 de novembro — mais 22,23% e 21,24%, respetivamente. “No entanto, os aumentos têm-se feito sentir em todas as categorias alimentares analisadas”, realça a entidade, dando outros exemplos: a carne subiu 20,62%, os congelados 19,92% e os produtos de mercearia 16,33%. Já as frutas e os legumes tiveram um acréscimo de 14,68%.