Quando em abril o Observador começou a fazer o seu cabaz de compras conseguia com 52 euros comprar um cabaz que selecionou de 18 produtos (​​óleo alimentar, atum, farinha, arroz, massa, bolacha Maria, cereais Corn Flakes, leite, farinha láctea, maçãs, bacalhau, frango, feijão, ovos, açúcar, pão, papel higiénico e fraldas), considerando os preços praticados por três grandes empresas de retalho alimentar em Portugal (considerando os preços disponíveis nos respetivos sites de compra online). Já este mês, em outubro, tinha de pagar, por um cabaz praticamente idêntico (houve produtos ligeiramente alterados por indisponibilidade nos sites), 54,4 euros. 2,4 euros de diferença, o que pode parecer pouco à partida, mas há que ter em conta que o cabaz não chega para os consumos de um mês, em alguns casos nem de uma semana. O objetivo desta análise não é fazer comparações entre superfícies comerciais.

Mas 2,4 euros significam, percentualmente, um aumento de 4,6% desde abril até outubro. A recolha deste mês foi realizada esta segunda-feira, 3 de outubro, e na pesquisa efetuada no site de compras online do Pingo Doce muitos dos produtos tinham a referência de que o preço era promocional apenas até 3 de outubro.

Aliás, como vem sendo notório, as promoções determinam que a escalada de preços não seja tão pronunciada.

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O mesmo aconteceu na recolha de outubro, que face ao mês anterior (setembro) até registou, no conjunto do cabaz e considerando a média dos três hipermercados (Pingo Doce, Continente e Auchan), uma descida de 0,9%, mais uma vez justificada por haver vários items com preços promocionais. É o caso no conjunto das três insígnias do leite, que, ainda assim, tem desde abril uma subida de preços (nos dois maiores retalhistas) de 21%.

Fonte: Observador com base nos sites das empresas

Os produtores de leite tinham reclamado a subida deste produto e é o que tem acontecido. Sem as referidas promoções, o litro de leite meio gordo da Mimosa teria atingido os 0,77 euros na Auchan e os 0,84 euros no Pingo Doce e no Continente. Já com a promoção que esta segunda-feira estava disponível nos sites dos três distribuidores o preço ficou igual em todos nos 0,75 euros. Em abril, só na Auchan o valor estava acima (nos 0,77 euros), enquanto quer no Pingo Doce quer no Continente um litro deste tipo de leite custava 0,62 euros. Mas em setembro os valores praticados eram de 0,84 euros no Pingo Doce e Auchan e 0,75 euros no Continente.

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Outro exemplo do impacto das promoções está, por exemplo, na farinha de trigo Branca de Neve de um quilo. Sem promoção, todos os retalhistas teriam um preço ao público de 1,99 euros, mas com o desconto o Continente consegue colocar o valor nos 1,59 euros. Montantes que, aliás, se mantêm face aos registados em setembro, mas que no caso do Pingo Doce denota um aumento de 47% face a abril e na Auchan de 17,7%.

Pingo Doce e Continente são os hipers com mais descontos em vigor esta segunda-feira. A Deco tinha já concluído que os supermercados online são mais baratos (em alguns casos há que ter em conta a taxa de entrega). Nessa análise de abril deste ano a Deco concluia, ainda, que no Pingo Doce havia subidas de preços no primeiro dia útil da semana (segunda-feira), já que havia campanhas a terminar no domingo. Não foi, no entanto, o caso desta semana, em que muitos dos produtos tinham indicação de que o preço promocional terminava a 3 de outubro.

Fonte: Observador com base nos sites das empresas

Há produtos a encolher

O alerta já vinha a ser dado. Também a Deco foi dizendo aos consumidores para olharem para as embalagens antes de compararem os produtos. E há casos, no cabaz do Observador, que revelam uma tendência: estão a encolher. É a chamada reduflação ou em inglês shrinkflation. No cabaz deste mês o Observador verificou pelo menos em dois produtos mudanças de quantidades, ainda que num dos hipermercados ainda estivesse disponível a versão original. Na farinha láctea Cérelac os pacotes no Pingo Doce e Auchan disponíveis (na versão maior) era de 900 gramas, quando antes havia de um quilo. Ainda assim o preço evoluiu de forma distinta. No Pingo Doce, beneficiando de uma promoção que terminava esta segunda-feira, a farinha estava com um preço menor que no mês passado, mas sem essa promoção, e apesar de ter menos quantidade, mantinha-se nos 6,69 euros. Na Auchan o preço equivalia o de setembro (não considerando a promoção desse mês).

Outra mudança detetada foi nos Corn Flakes da Kellogg’s que em vez dos 500 gramas surgiam no Continente com 375 gramas, mas aqui surgia associado a uma descida de preços. Na Auchan, embora estivesse precificado, dizia estar indisponível para comprar online.

Nas fraldas, deixou de se conseguir pesquisar o pacote Dodot tamanho 5 de 58 unidades. Passou apenas a estar disponível o pacote com 56 unidades. nas três insígnias. Também aqui menos unidades significam preços menores, não se qualificando como reduflação.

Uma outra nota curiosa é que este mês houve mesmo um produto que surgiu aumentado. O esparguete da marca Nacional surgia no Pingo Doce e na Auchan com mais 50 gramas, com o preço em ambos os casos não considerando as promoções de 1,15 euros, o mesmo do mês anterior também não levando em linha de conta os descontos.

Na hora de escolher é preciso estar atento às promoções e agora também ao tamanho dos produtos.

O cabaz do Observador está a subir. O da Deco, que tem elaborado um cabaz (diferente e bem maior — tem 63 produtos) desde 1 de março, também. Neste caso, o cabaz da Deco aumentou de 185,17 para 206,39 euros. São mais 21 euros, ou seja, 11 por cento de 1 de março a 31 de agosto. O cabaz da Deco é diferente e maior — tem um total de 63 alimentos. Já no mês passado a Deco dizia que “os aumentos têm-se feito sentir em todas as categorias alimentares, e são, sobretudo, a carne e o peixe os que mais têm visto os seus preços subir”, destaca a associação de defesa dos consumidores.

Isto numa altura em que a inflação em Portugal já vai nos 9,3%, de acordo com os dados do INE sobre a inflação de setembro. É a taxa de inflação mais elevada desde outubro de 1992. Nos produtos alimentares não transformados os preços subiram 16,9% em setembro face a igual mês do ano passado.

Taxa de inflação salta para 9,3% em setembro, em Portugal. É um máximo desde 1992