A inflação em julho desacelerou para uma taxa já próxima de 3%, mas os produtos alimentares ainda registaram subidas de preços perto dos 7%, o que, ainda assim, também represente um abrandamento nas subidas. No Cabaz do Observador, recolhido mensalmente, notou-se, em agosto, uma descida no conjunto dos produtos consultados.
O Observador recolhe, desde abril de 2022, depois do início da guerra da Ucrânia, preços em três supermercados nacionais (nos sites de venda) todos os meses. É um cabaz composto por óleo alimentar, atum, farinha, arroz, massa, bolacha Maria, cereais Corn Flakes, leite, farinha láctea, maçãs, bacalhau, frango, feijão, ovos, açúcar, pão, papel higiénico e fraldas, sendo que a maior parte dos produtos está sem IVA. O IVA Zero entrou em vigor a 18 de abril aplicando-se a 46 categorias de produtos alimentares. Foi aprovado para vigorar até outubro, mas o Governo já fez saber que irá estender a sua aplicação até ao final do ano e até já admite prolongar para o próximo ano.
Quando lançou a medida, o Governo estimou que o IVA Zero poderia contribuir para uma descida da inflação em torno dos 0,2 pontos. Mas, conforme referido por economistas contactados pelo Observador, é difícil estabelecer já a relação entre o abrandamento dos preços aos consumidores e o IVA Zero. Até porque os preços no produtor e as matérias-primas, nomeadamente alguns agrícolas, estão mais baixos do que quando a guerra começou.
Por exemplo a cotação do trigo nos mercados internacionais está 15% abaixo do que em agosto de 2021, antes da guerra, e 20% abaixo do que cotava há um ano.
Desde fevereiro deste ano que tem vindo a cair, tendo retomado um momento altista quando a Rússia anunciou o fim do acordo para os cereais.
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Essa queda no trigo é visível no Observatório de Preços da Cadeia de Abastecimento Agroalimentar que regista preços mais baixos do que em 2022 no trigo panificável importado.
Este panorama internacional pode ajudar a explicar alguma da contenção de preços no consumidor final, a par do IVA Zero. No Cabaz Observador, que verifica produtos em três supermercados, com o objetivo de avaliar o comportamento dos preços e não de comparar as insígnias.
Assim, o conjunto do cabaz teve uma descida de preços, na comparação entre a recolha de 1 de agosto e a de 3 de julho, de 4,4% e de 3,78% face à média registada no mês anterior à da mexida no IVA. Já em relação ao início da recolha, com o começo da guerra, o cabaz ainda sofre uma subida média de 9,9%, sendo de 3% a variação, em alta, em um ano.
Se neste 1 de agosto, o cabaz custava, em média, 57,12 euros, esse mesmo cesto em julho custava 59,77 euros. Em abril de 2022 eram precisos menos de 52 euros para conseguir esses mesmos produtos. Agosto consegue assim uma redução no cabaz, depois de em julho o mesmo conjunto de preços ter registado a terceira subida consecutiva.
Conforme se vai verificando, mês após mês, as promoções são um dos fatores decisivos para compor este cabaz. E isso mesmo se verificou novamente em agosto, com vários produtos a terem um preço de venda em promoção, o que resulta em variações (algumas expressivas) face ao mês anterior. Tal como também já se tinha referido, há produtos que não apenas subiram de preço como diminuíram a quantidade comercializada (é o caso da Cerelac e das fraldas Dodot — pelo menos no formato escolhido). Houve também necessidade de escolher, em agosto, as maçãs gala em vez das de Alcobaça (por não se encontrarem disponíveis).
As maçãs foram, aliás, um dos produtos que mais subiram no Cabaz do Observador em agosto, o que corresponde também a uma alta registada pelo Observatório de Preços da Cadeia de Abastecimento Agroalimentar. Na média de preços dos três supermercados um quilo de maças ficou mais caro 8% em agosto. O atum também teve uma subida média superior a 5%.
Desde o início da guerra, o óleo alimentar foi, segundo a recolha do Observador, o produto que maior queda de preços registou. Mas a generalidade das categorias está a subir mais de dois dígitos desde abril de 2022. O açúcar, por exemplo, está quase ao dobro do preço, registando uma subida de mais de 80%.
Também a Deco Proteste tem monitorizado os preços desde o início da guerra. No último registo, indicou que o preço do cabaz alimentar de 63 da entidade custava, a 26 de julho, 214,11 euros, um dos valores mais baixos registados este ano e representa uma ligeira descida (menos 1,60 euros) face a 19 de julho. Em fevereiro de 2022, antes da guerra, o cabaz custava 183,63 euros, tendo registo o ponto máximo a 15 de março nos 234,84 euros.
Na análise da Deco Proteste, os preços que mais subiram, na última semana (entre 19 e 26 de julho), foram a pescada fresca (aumentou 17%), a laranja, o azeite virgem extra e a perca, com subidas de cerca de 5%. Já tendo em conta os preços praticados a 23 de fevereiro de 2022, as maiores subidas são a da pescada fresca (mais 68%), a polpa de tomate (mais 67%),
e o arroz carolino (mais 66%).