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Ricardo Castelo/Observador

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Colégio da Nossa Senhora do Rosário. Alunos, diretores, professores, pais e auxiliares contam as suas experiências

Está no primeiro lugar do ranking do 12º ano. Fomos ao Colégio da Nossa Senhora do Rosário, no Porto, falar com alunos, professores, pais e auxiliares. Todos garantem: a escola é mais que as notas.

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Catarina Novais, 17 anos, é um dos exemplos mais representativos do sucesso académico do Colégio de Nossa Senhora do Rosário. A estudante de Ciências Socioeconómicas do 12º ano considera-se uma boa aluna e as provas são quase irrefutáveis: para além de ter conquistado uma média interna de 20 valores, viu o esforço recompensado nos exames nacionais de Filosofia e Economia no ano anterior. O resultado foi novamente um número redondo, 20 valores. Ela e os demais colegas do ensino secundário têm garantido as melhores notas nos exames nacionais em todo o país. Pelo terceiro ano consecutivo, o colégio do Porto chega ao primeiro lugar. Mas dentro de portas, há mais preocupações e objetivos a ter em conta.

Desde o 5ºano de escolaridade que o Colégio de Nossa Senhora do Rosário se tornou a segunda casa de Catarina. Passados cerca de sete anos, a estudante está quase a dizer adeus ao sítio onde passa a maioria das suas horas – das 8h10 às 13h35 está em aulas, deixando as tardes livres para o estudo ou para a dança. O futuro avizinha-se na licenciatura de Gestão da Universidade Nova de Lisboa e a aluna tem consciência dos desafios futuros após a saída do colégio. “Sei que será complicado mudar de cidade e a relação com os professores será diferente, mas não é nada que não se ultrapasse”, afirma ao Observador.

Catarina Novais, 17 anos, aluna do 12º ano

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Antes vêm os temidos (por muitos estudantes) exames nacionais. Catarina Novais vê estas avaliações como um processo natural para atingir um objetivo, neste caso, ingressar no ensino superior. “Apesar de ser muito nervosa, quando fiz exames no 11ºano estava calma, porque me sentia preparada”, esclarece. Cerca de duas semanas antes e diariamente, os alunos do Colégio de Nossa Senhora do Rosário têm aulas de estudo mais intensivo de preparação para os exames nacionais. No entanto, a estudante acredita que grande parte dos bons resultados é construído ao longo dos anos de ensino. “Acaba por ser justo, porque temos mais carga horária do que algumas escolas”, diz Catarina.

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No último ano de secundário, os alunos têm Português e Matemática todos os dias e duas vezes por semana, a turma é dividida em grupos mais pequenos para “ser mais fácil trabalhar”. Já os testes de avaliação, durante o ano letivo, são simulações de exames nacionais — o que reduz a estranheza do estudante face ao modelo de avaliação externa. No entanto, as outras disciplinas regulares como o Inglês ou a Educação Física não ficam esquecidas. No Colégio do Rosário, por ser uma instituição privada e gozar de autonomia pedagógica (a oferta educativa é determinada parcialmente pela escola), há ainda algumas exceções: por exemplo, um Seminário de Desenvolvimento Humano. E escusado será dizer que as disciplinas ‘fora da caixa’, são as que reúnem mais consenso. “Temos aulas que nos dão uma visão global do mundo. Acho que isso é muito importante, mais do que estarmos presos a Matemática ou Português”, confessa a aluna.

“O Rosário formou-me enquanto pessoa”

Foi de opções que se fez o percurso académico de Mariana Carvalho, de 18 anos. Quando estava prestes a terminar o 9º ano no Liceu Francês do Porto, convenceu os pais de que o melhor para o seu futuro seria concluir o ensino secundário no Colégio do Rosário. Assim foi. Hoje é uma estudante do ensino superior, além-fronteiras, na Universidade de Warwick em Inglaterra. Frequenta o curso de Política, Filosofia e Economia e não se cansa de dizer: “O Rosário formou-me enquanto pessoa”.

Mariana Carvalho, 18 anos, ex-aluna do Colégio

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As primeiras impressões no colégio foram agridoces: não estava preparada para o grau de exigência do ensino e o hábito de escrever em francês, fazia-a tropeçar na língua portuguesa. “Quando recebi a minha primeira avaliação de Português, fiquei muito em baixo”, confessa a antiga aluna. A pressão de estar numa escola de topo não a fez desistir. Empenhou-se e com a ajuda de uma professora combateu as suas dificuldades. “A minha professora disse-me para escrever muitas vezes num caderno as palavras em que tinha dado erros ortográficos”, explica. Uma tática simples que aumentou a confiança de Mariana e a fez voltar às boas notas.

Mas nem só de sucessos académicos se fez o caminho da estudante no Colégio do Rosário. Foi membro ativo de vários projetos de voluntariado, como o PAS (Apoio aos Sem-abrigos) e a Raiz (movimento de intervenção comunitária que dá explicações gratuitas a crianças de famílias carenciadas). “É muito mais do que trabalhar para um exame nacional, é toda a vertente humana a que o colégio dá muito valor”, afirma. O Colégio de Nossa Senhora do Rosário tem orientação católica, o que acaba por moldar várias das suas iniciativas e atividades, seja de cariz religioso ou social. Todos os anos de escolaridade têm um dia de reflexão e de eucaristia.

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A antiga aluna confessa que a ida para a faculdade foi um processo de adaptação, já que o conforto do colégio não passou dos portões. “O ensino superior funciona muito com o ‘desenrasquem-se’”, diz. “Posso não ter as fichas muito úteis dos professores ou um maior acompanhamento, mas sei o que devo fazer para alcançar os meus objetivos”, acrescenta Mariana Carvalho.

“A primeira opção para a educação da minha filha, sempre foi o Colégio do Rosário”

Luísa Nero, encarregada de educação e presidente da associação de pais, tem uma ligação emocional com o Colégio do Rosário: a sua mãe tinha estudado no Colégio do Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, uma das outras escolas em Portugal pertencente a esta Congregação – tal como o Colégio de Nossa Senhora do Rosário. Outro lugar de educação para os filhos nunca esteve em cima da mesa, exceto no pré-escolar, quando não conseguiu vaga para a filha mais velha. Hoje, os três filhos estudam neste colégio do Porto: o João Maria no 5ºano, a Carminho no 8ºano e a Maria no 10ºano.

Luísa Nero é encarregada de educação e tem três filhos a estudar no Colégio do Rosário

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“Inscrevi a minha filha mais velha no Colégio pouco tempo depois de ela nascer”, confessa Luísa Nero. No entanto, tal não foi suficiente para conseguir um lugar no ensino pré-escolar, que só aceita duas turmas por cada ano letivo. Os critérios de seleção, embora tornados públicos pelo Colégio do Rosário, conseguem deixar algumas pessoas de fora: dá-se prioridade aos alunos que já tenham irmãos a frequentar a escola, aos filhos de ex-alunos, aos filhos de colaboradores e, naturalmente, à ordem da lista de espera. No entanto, o desejo de educação de Luísa para os filhos concretizou-se, graças à sua antecipação.

Apesar da importância de uma formação integral, o preço de estudar no Rosário acarreta custos. De acordo com o site do colégio, as propinas mensais variam entre os 453 euros para o pré-escolar e os 510 euros para o ensino secundário.

“O fator diferenciador deste colégio é não trabalhar apenas as crianças para os resultados académicos, mas proporcionar-lhes desde muito cedo outras formas de crescimento”, salienta a encarregada de educação. Luísa Nero acredita que o sucesso nos rankings só demonstra que a comunidade docente conseguem retirar e aproveitar o melhor dos alunos. Tal como a maioria dos colegas, a filha Maria está inserida em projetos de voluntariado e ainda frequenta o Conservatório de Música do Porto. “Independentemente de ter objetivos elevados, consegue tirar tempo à sua vida para dar aos outros. Sente-se muito feliz. Não estamos a falar de teoria, estamos a falar de prática”, afirma com orgulho. Os dois filhos novos têm também atividades desportivas e artísticas fora do colégio.

Apesar da importância de uma formação integral, o preço de estudar no Rosário acarreta custos. De acordo com o site do colégio, as propinas mensais variam entre os 453 euros para o pré-escolar e os 510 euros para o ensino secundário. Mas Luísa Nero reafirma: “É um investimento na vida deles”.

“Existe a ilusão de que nas escolas privadas há só bons alunos, mas isso não é real”

A Irmã Teresa Nogueira assumiu há dois anos a função de diretora do Colégio de Nossa Senhora do Rosário. Antes já tinha passado pelo Colégio do Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, como responsável educativa. O sucesso académico dos alunos é, na sua opinião, combinado pelo rigor do programa educativo e a educação integral e social que promovem em várias frentes. “Temos alguns alunos com fasquias de excelência, que já pensam nos seus projetos de vida e que vão sendo habituados ao trabalho, ao rigor e à persistência”, explica. Com cinco turmas em cada ano de escolaridade, do 5º ao 12ºano, e um corpo docente composto por cerca de 100 professores, a continuidade nos lugares de pódio dos rankings nacionais explica-se pelas particularidades no modelo educativo.

Teresa Nogueira, diretora do Colégio

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Por exemplo, durante o 2º e 3º ciclo, os alunos não têm testes marcados. A razão é muito simples: “Habituam-se a estudar para saber, são incentivados a estar sempre em cima do acontecimento e no domínio das matérias”. E se esta ação era suficiente para colocar muitos alunos com os nervos em franja, já no secundário, o método muda. “No secundário, são exercitados progressivamente e aprendem a controlar as suas ansiedades e as pressões”, explica a Irmã Teresa Nogueira.

Pedro Martins, professor de Educação Moral e Religiosa, de Integridade e de Direito, trabalha há 10 anos no Colégio de Nossa Senhora do Rosário e acredita que o reconhecimento só pode advir da “cultura de esforço” da comunidade escolar. Apesar de terem o conforto e a familiaridade de um ambiente fechado do colégio, a maioria dos alunos sabe que a vida não é um mar de rosas. “Eles sabem que as circunstâncias estão mais difíceis do que há alguns anos. Têm também consciência de que o ingresso no ensino superior pode ser muito ténue: por uma décima entram, por uma décima não entram”, explica o docente.

Pedro Martins, professor

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Se o falatório do Colégio do Rosário se faz hoje da visibilidade da excelência académica, os alunos com dificuldades não ficam de fora do baralho, garantem os responsáveis. “As pessoas têm de entender que não fazemos testes de admissão, não testamos as capacidades dos alunos para poderem estudar no colégio”, explica a diretora. A Irmã Teresa Nogueira afirma inclusive que 60 a 80 alunos têm necessidades educativas e requerem planos individualizados. Já Pedro Martins desfaz o mito: “Existe a ilusão de que nas escolas privadas há só bons alunos, mas isso não é real”.

“O mundo real não é só o Colégio de Nossa Senhora do Rosário”

Lurdes Monteiro é auxiliar de ação educativa do colégio há 35 anos, mas a relação com o Rosário não começou com o trabalho. Na verdade, é uma antiga aluna, que hoje se encarrega do acompanhamento dos alunos do secundário. Já viu muitos alunos a sair do colégio para a faculdade, reconhece filhos de ex-alunos pelos corredores e é uma observadora e conselheira nata dos estudantes – consagrados em estrelas académicas nos exames nacionais. “Os miúdos trabalham bastante e são muito estimulados. Sabem o que querem”, diz.

A auxiliar olha para o seu cargo como a de uma ‘amiga adulta’ que está ali, para ampará-los quando as coisas não correm tão bem. “O aluno sente alguma insegurança, vem ter connosco. Eles precisam de uma palavra amiga, mais do que conselhos”, explica Lurdes Monteiro. A responsabilidade da exigência cabe aos pais e aos professores, enquanto a equipa de auxiliares serve como um conforto aos dias mais difíceis.

Lurdes Monteiro, auxiliar de ação educativa

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Das situações que lhe dá mais alegria é quando passa por antigos alunos fora do colégio e a vêm cumprimentar. “Mas não é só um ‘olá’, vêm dar-me beijinhos e abraços”, ri-se. Lurdes sabe que o processo de adaptação dos alunos finalistas, depois na faculdade, pode não ser fácil – especialmente depois de conquistar tanta amizade na comunidade escolar. No entanto, a auxiliar confia na iniciativa própria de muitos estudantes e no trabalho de preparação da escola para o futuro deles. “Eles sabem que o mundo real não é só aqui”, afirma. Mas não se livra de algumas frases como “na faculdade, falta-nos a Lurdinhas”.

Enquanto a imprevisibilidade do ensino superior não chega, para alunos como Catarina Novais, o Colégio de Nossa Senhora do Rosário continua a arrecadar o primeiro lugar nos melhores resultados dos exames nacionais. Em 479 provas realizadas, a média ficou pelos 15,20 valores face a todas as escolas do país.

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