Francisco Madureira, estudante do 12.º ano na Escola Secundária Sebastião e Silva, Oeiras (71.º lugar no ranking)

Quando decidi mudar de escola no final do 9.º ano nem eu nem os meus pais nos preocupámos com os rankings. Eu podia ter continuado na escola onde estava, que até diziam que estava melhor nos rankings, mas resolvi mudar, porque esta escola tinha melhores condições e bons professores.

Eu acho que os rankings só por si não devem definir nada. Deve ter-se em conta o contexto da escola, os métodos de ensino e se os professores são bons e a escola tem condições. Eu acho que, mais importante do que ver os rankings, é ouvir a experiência de quem passou pela escola.

Na verdade, da minha experiência, eu acho que quem se preocupa mais com isto dos rankings são os professores. E eu percebo o lado deles.

Ter a escola bem classificada nos rankings dá prestígio. Mas para os alunos não é assim tão importante.”

Jorge Ascenção, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais

Não faço questão de consultar os rankings, mas casualmente pode acontecer. Sem qualquer finalidade específica, mas sempre me pode ajudar a tentar perceber se há outros fatores que influenciam os resultados escolares, nomeadamente a organização escolar e o envolvimento familiar, o programa escolar, os recursos da escola e a sua autonomia para os contratar. Fatores para além do mais falado, e que obviamente tem um peso relevante, como o das escolas mais bem classificadas serem as que selecionam à entrada os melhores alunos.

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No seguimento do que disse atrás, o interesse pelos rankings é relativo. Quem acompanha diariamente o trabalho da e na Educação sabe que estes rankings apenas medem resultados finais parcelares e não têm em conta quem se está a avaliar e como se está a avaliar, ou seja qual o ponto de partida de cada escola e que objetivos propostos no início do ano letivo.

Os rankings nem sempre e quase nunca nos mostram as melhores escolas como se pretende fazer crer, mostram sim aquelas que incorporam alunos com mais possibilidades e capacidades de atingir melhores resultados, seja por terem melhores condições instrumentais, seja por terem melhores condições sociais, familiares e emocionais.

No entanto, na medida do que provocam na discussão pública e da atenção que algumas famílias possam dar, não podemos ignorá-los de todo. Talvez por isso estes rankings não deixam de ser um semáforo para as escolas e que as impulsiona a progredir num esforço contínuo de melhoria.

Uma escola bem classificada nos rankings não é necessariamente a escola que realiza o melhor trabalho com os seus estudantes, o que não quer dizer que não o possa ser, e o contrário também é verdadeiro.”

César Israel Paulo, professor e porta-voz da Associação Nacional de Professores Contratados

“Costumo dedicar algum tempo à verificação e interpretação do ranking das escolas. Todos sabemos que apresenta uma leitura redutora do sistema de ensino, uma vez que se centra exclusivamente nos resultados dos exames nacionais. No entanto, tento potenciar esses parcos elementos para consultar, através dos websites das escolas, outros dados públicos relativos à ação educativa de algumas das escolas. Este meu propósito tem como objetivo central entender o papel, não só dos alunos, mas também dos professores e dos restantes elementos das comunidades educativas. O trabalho do corpo docente das escolas é central para a obtenção de resultados escolares de excelência.

Os dados dos rankings podem, numa leitura mais superficial, ter um impacto perverso, uma vez que julgo que a maioria dos portugueses tende a associar um determinado lugar de uma escola à sua suposta “qualidade”. E essa leitura é muito redutora. A ação educativa de um estabelecimento de ensino vai muito além da preparação dos alunos para os exames nacionais.

O ranking das escolas só se torna importante, na minha visão, se o utilizarmos para tentar entender quais as razões que permitem que determinado estabelecimento de ensino atinja um lugar cimeiro, aproveitando esses elementos para promover uma disseminação das boas práticas educativas junto de outras escolas.

Para o aumento da qualidade do sistema de educação é essencial que possamos comparar estratégias e modelos de atuação, entendendo os seus impactos na aprendizagem dos alunos. É essencial que caminhemos para um sistema de ensino cada vez mais colaborativo, e essa colaboração não se deverá só concretizar entre alunos e entre professores, mas também entre as próprias organizações escolares.”

Filinto Lima, professor, diretor e presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas

“Costumo ver a tabela classificativa. Enquanto, pelo menos, não entrarem neste trabalho fatores como a qualidade dos alunos (empenhados, estudiosos, faltosos…), o efeito da escola sobre os alunos, o número de alunos e seus percursos escolares, a estabilidade do corpo docente, o nível socio-económico dos pais e da região onde a escola se insere, a motivação dos alunos e famílias, o efeito das explicações, os apoios extra sala de aula, etc., o objetivo de comparação entre escolas não é alcançado ou é falaciosamente atingido.

A tabela classificativa que gradua as escolas pelos resultados dos exames dos seus alunos – a que erradamente chamam ranking das escolas -, é analisada pelas escolas e, ao mesmo tempo relativizada, pois retrata parte da dimensão do aluno: os resultados escolares (mostram a qualidade dos alunos que fazem exames, não a dinâmica e o mérito das escolas).

Onde se encontram valoradas as competências sociais com que um aluno sai da escola? Porque não é atribuído o devido valor ao progresso do aluno?

A importância desta tabela depende do que cada um de nós pretende fazer com os dados. As escolas atribuem-lhe uma importância relativa, atendendo à inexistência de outros critérios bem mais pertinentes.”

Rodrigo Queiroz e Melo, diretor executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo

“Desde 2001, que todos acompanhamos com expectativa e interesse a publicação das listas ordenadas de escolas em função dos resultados dos alunos. Independentemente do que é dito e argumentado na praça pública contra os rankings, toda a gente olha para os rankings e forma opiniões, certas ou erradas.

Profissionalmente, acompanho e analiso os rankings para conhecer como evolui o sistema educativo como um todo, para tentar perceber os movimentos dentro do sistema e como mais uma fonte de informação sobre escolas em concreto. Pessoalmente, recorro aos rankings por curiosidade sobre o que se passa na escola dos meus filhos ou, quando tive de fazer opções sobre escolas para os meus filhos, ajudar à decisão.

Se hoje temos dados sobre as escolas e os alunos, muito se deve às publicações dos rankings pelos órgãos de comunicação social e a uma discussão que se abriu no espaço público, que obrigou o Ministério da Educação a recolher mais e melhores dados sobre o sistema, a criar mais e melhor informação e a divulgar tudo de forma mais inteligente e transparente.

Os rankings deste ano têm uma importante novidade. Pela primeira vez, o Ministério “avaliza” um indicador de qualidade das escolas. Penso que é um importante passo no sentido correto.

É fundamental para a melhoria do sistema que se reconheça, calma mas firmemente, que há escolas a fazer um bom trabalho e escolas a fazer um mau trabalho.

Termino com uma dúvida: a partir do momento em que temos um ranking construído a partir de um indicador sancionado pelo Estado, o que vai ser dito, amanhã, aos pais dos alunos que frequentam escolas que ficaram mal posicionadas? Vai-se manter a obrigação de mandarem os filhos para essa escola? Não se lhes vai dar opção por escolher aquela outra, ali relativamente perto, pública ou privada, que faz um excelente trabalho? Da resposta a esta pergunta resulta sabermos se o sistema educativo está ao serviço das crianças ou dos adultos.”