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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Com os resultados a favor de Biden, já há quem pegue em armas e diga: "Estou preparado para uma guerra civil"

Brian Reegs saiu de casa com um cartaz a dizer "cheira-me a fraude eleitoral" e uma pistola — e não é o único a pensar em armas. Do lado democrata, as ordens de Biden são cumpridas: "Mantenham a fé".

Reportagem em Scranton e Wilkes-Barre, na Pensilvânia

Às 00h49, quando Brian Reegs já dormia, Donald Trump foi ao Twitter e escreveu: “Estamos à frente por MUITOS, mas eles estão a tentar ROUBAR as eleições”. Quando acordou já de manhã, aquele desempregado de 32 anos foi ver o Twitter do Presidente dos EUA mas reparou que este e muitos outros posts estavam tapados por um aviso. “Algum do conteúdo deste tweet, ou a sua totalidade, é alvo de contestação e pode ser enganador quanto a uma eleição ou a outro processo cívico”.

“Quando isto aconteceu, percebi que estava na altura de sair de casa e fazer alguma coisa”, disse. E assim foi. Primeiro, foi ao Google e procurou imagens de Joe Biden — procurou especificamente por “Biden sniffing”, sabendo que ia encontrar fotografias comprometedoras de Joe Biden onde este cheira o cabelo de mulheres que tem por perto. Depois, imprimiu uma fotografia do governador da Pensilvânia, o democrata Tom Wolf. A seguir, imprimiu um papel a dizer: “Cheira-me a fraude eleitoral”. E finalmente colou isto tudo num contraplacado que tinha por casa e fez-se à estrada — não sem antes pegar na sua pistola, que diz ser para sua defesa, que colocou à cintura.

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Num cruzamento entre Wilkes-Barre (cujo condado, Luzerne, conta com uma vantagem de 16 pontos percentuais para Donald Trump com 92% dos votos contados) e Scranton (do condado de Lackawanna, onde Joe Biden lidera com 8 pontos percentuais entre os 98% de votos contados), Brian Reegs não demorou muito a perceber que não é só a ele que lhe cheira a fraude eleitoral.

“Cheira-me a fraude eleitoral” escreveu Brian Reegs na manhã desta quarta-feira.

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“Há muitas pessoas que apitam simpaticamente”, diz. Entre os dois sinais de mão provavelmente mais universais — o polegar erguido, em sinal de aprovação; e o dedo do meio erguido, em sinal de insulto —, Brian Reegs garante que recebeu 10 polegares a cada dedo do meio.

“As pessoas sabem perfeitamente que há algo que se está a passar em toda a Pensilvânia e um pouco por todo o país, porque durante quatro anos eles não fizeram outra coisa além de tentar tirar aquele homem da Casa Branca”, diz. “Eu nem sou um conservador ferrenho, sou mais um tipo do punk-rock e um libertário, mas ver isto é algo que me enoja.”

Como exemplo, Brian Reegs refere a informação de que no Wisconsin (que pouco mais de uma hora depois desta entrevista a Associated Press e a CNN viriam a atribuir a Joe Biden) o total dos votos contados seria superior ao número de eleitores registados — uma informação que lhe dizemos ser falsa, conforme os desmentidos de vários órgãos de fact-check. “Pois, esse é o problema deste país, já não sabemos o que é verdade e o que é mentira”, refere, enquanto se vai desviando consoante a direção de onde vêm carros. “É muito difícil perceber o que está certo ou errado no meio de tanta porcaria, porque eles estão a censurar as vozes conservadoras das redes sociais.”

Brian saiu de casa com o cartaz e com a sua pistola, que diz ser para sua defesa, que colocou à cintura.

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Apesar de toda as dúvidas, este desempregado de 32 anos (trabalhava numa empresa de robótica que, com a pandemia, começou a despedir pessoas) tem uma certeza: “Eles andam a esconder-nos alguma coisa”.

Em Scranton, o diretor de comunicações do Condado de Lackawanna, Joe D’Arienzo, garante que não está a esconder nada. No dia das eleições, os votos começaram a ser contados naquele edifício no centro desta cidade logo pela manhã — primeiro os votos por correspondência e antecipados e, depois, com as urnas já fechadas, os votos depositados em urna no dia das eleições.

“Estávamos despachados ontem [terça-feira] por volta das 21h45 e registámos pouco mais de 42 mil votos”, diz. Nesta fase, Joe D’Arienzo admite que faltem “alguns mas poucos” votos por contar, que terão de ser boletins enviados por correio que ainda não tenham chegado ao destino certo. Para serem contabilizados, terá de ter um carimbo de envio que remeta para 3 de novembro ou antes.

“Estávamos despachados ontem [terça-feira] por volta das 21h45 e registámos pouco mais de 42 mil votos”, diz Joe D’Arienzo.

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Sobre o esforço deste ano, Joe D’Arienzo sublinha que foi “monumental” e por isso admite que sempre haverá “espaço para algum erro humano”. Quando questionado sobre a possibilidade de isso vir a influenciar os resultados, recusa-se a responder diretamente. “Eu sei o que nós fizemos e como fizemos”, respondeu em alternativa. “Tivemos sempre por aqui observadores eleitorais e representantes do Partido Republicano e do Partido Democrata, que não levantaram nenhum problema.”

Enquanto se espera, uns têm calma e outros preparam-se para a guerra

Sharon Lynett está no alpendre da sua casa em Scranton a falar com o vizinho. São ambos democratas e, por isso, estão contentes com as últimas notícias. Nesta altura do dia, a Associated Press já deu a vitória do democrata no Wisconsin e está perto de fazê-lo no Michigan — dois estados decisivos nestas eleições. Se a Pensilvânia entretanto se juntar a esse rol, Joe Biden reúne mais do que suficiente votos no Colégio Eleitoral para ser o próximo Presidente dos EUA.

“As coisas estão a ir bem, já temos o Wisconsin, o Michigan não tarda muito…”, diz Sharon Lynett ao vizinho. “É isso mesmo. Estou a fazer figas”, responde o vizinho, antes de sair.

“As coisas estão a ir bem, já temos o Wisconsin, o Michigan não tarda muito…”, diz Sharon Lynett ao vizinho.

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Sharon Lynett diz que é “viciada em eleições” e, em situações normais, teria ficado acordada até de madrugada a acompanhar os resultados destas eleições presidenciais. Mas, por força da pandemia, e perante o número recorde de votos antecipados e por correspondência que foram depositados desta vez, a contagem dos votos complicou-se. E, sabendo disso, Sharon Lynett nem se deu ao esforço de ficar acordada até ao fim.

“O fim ainda está muito longe”, diz esta mulher de 36 anos, diretora de comunicação de uma universidade em Scranton e antiga colaboradora do ex-senador democrata Bob Casey. “Às 22h15 já estava na cama, quando numa situação normal ficaria acordada toda a noite e colada à televisão.”

Esta quarta-feira, quando acordou, soube das posições tomadas por Donald Trump, que primeiro declarou vitória e que mais tarde, através da sua equipa de advogados, pediu uma recontagem no Wisconsin e a suspensão da contagem nos estados do Michigan e da Pensilvânia.

“Sinceramente, nada disso me surpreendeu, porque o mais certo era que Trump cantasse vitória de qualquer das maneiras”, diz. “Estamos perante um homem que não baseia nada do que diz em factos, portanto é normal que faça isto.”

“O fim ainda está muito longe”, diz esta mulher de 36 anos, diretora de comunicação de uma universidade em Scranton.

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De qualquer modo, Sharon Lynett está calma. “Tenho confiança nas nossas instituições e no nosso sistema de pesos e contrapesos. Acredito que este será o maior teste de sempre às nossas instituições, mas estou confiante de que elas vão demonstrar o seu valor no final de tudo isto”, diz. Entre essas instituições, inclui também o Supremo Tribunal, ao qual Donald Trump disse que iria recorrer — uma fase possível mas que, para já, é prematura. “Mesmo que a maioria lá dentro não nos seja favorável, acredito que também o Supremo Tribunal vai tomar a decisão correta.”

No fundo, Sharon Lynett faz eco das palavras que Joe Biden viria a escrever pouco depois nas redes sociais. “Mantenham a fé no processo e uns nos outros. Juntos, vamos vencer isto”, lia-se na conta de Twitter do homem que pode vir a ser o próximo Presidente dos EUA e que cresceu umas ruas abaixo da casa de Sharon Lynett.

Do outro lado, umas ruas abaixo da antiga casa de Joe Biden, vive Robert Wiloff. Ali, a sensação é oposta: a de que o país do qual se orgulha de ser um cidadão lhe está a fugir entre os dedos. Deitou-se às 3h00, depois de uma noite a olhar para um mapa eleitoral complexo — e, por isso, possível mau augúrio para Donald Trump.

Para Robert Wiloff a sensação é oposta: a de que o país do qual se orgulha de ser um cidadão lhe está a fugir entre os dedos.

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Para Robert Wiloff, de 47 anos, os democratas preparam-se para dar um golpe na democracia dos EUA — uma manobra que atribui à presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e à candidata democrata à vice-presidência dos EUA, a senadora Kamala Harris.

“A Pelosi quebrou todas as leis deste país para garantir que todas as pessoas podiam votar antecipadamente ou por correio, para meter lá o Biden num instante”, diz, à porta de sua casa. A partir da sala de estar, tem a televisão sintonizada na Fox News, onde está neste momento a falar Donald Trump Jr. Robert Wiloff, porém, assegura que não é uma presidência de Joe Biden que os democratas planeiam ou desejam. “Eles querem é meter a Kamala Harris a Presidente, para aí uma semanas depois de o Joe Biden tomar posse”, diz. “Ela é um perigo tremendo, quer fazer de nós um país socialista e tirar-nos todas as armas.”

Robert Wiloff diz-se “preparado”. Quando lhe perguntamos o que é que isso significa, refere que conhece “duas pessoas” que são “patriotas” e que estão prontos para pegar em armas no dia em que “elas foram a única solução”.

“Estou preparado para um guerra civil”, diz. “Basta que aquelas pessoas me digam que precisam de mim e eu estou pronto a avançar. Não vou deixar que nos tirem o país.”

“Estou preparado para um guerra civil”, diz Robert Wiloff.

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