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'Combate do Século'. A vida de Mayweather, o pugilista temível que dorme sempre com a luz acesa

Na próxima madrugada, Floyd Mayweather vai defrontar Conor McGregor no "Combate do Século". A sua história de vida intriga, comove e choca. Aos 40 anos, poucos atletas geram tantos amores e ódios.

Arrogante. Dedicado. Excêntrico. Trabalhador. Louco. Obstinado. Fiel e infiel ao mesmo tempo. Exemplo de vida com uma vida que não deve ser exemplo. Garantem que vale por dois no ringue, dizem que é metade fora dele e agora surgiu um irlandês mais maluco a defender que nem a um quarto de homem chega. Floyd Mayweather cultiva amores e gera ódios, mas não passa ao lado de nada nem de ninguém. E faz o seu caminho.

‘Money’ é o seu nickname. Mas a vida deste americano de 40 anos baixinho, de corpo definido e com cara de tudo menos de puglista não tem o dinheiro como causa, é uma consequência. Uma não, 49: desde que se tornou profissional em 1996, depois de perder após uma polémica decisão as meias-finais dos Jogos de Atlanta, só soma vitórias. Tem o maior registo de sempre da história do boxe, empatado com Rocky Marciano. Dois anos depois da segunda reforma, volta aos ringues para chegar aos 50-0 e contra um lutador de artes marciais, Conor McGregor.

Tudo se sabe sobre a vida de Mayweather, mas ao mesmo tempo ainda há muito por saber. Da infância problemática e com dificuldades aos luxos que lhe levam milhares e milhares de dólares por dia, do que pensa ao que diz. Mas estas 21 frases que disse ajudam a perceber a forma como pensa. E se comporta, dentro e fora dos ringues que o tornaram bilionário.

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“Venho de um contexto muito complicado e posso dizer que, quem trabalha no duro e se dedica a fazer algo, também pode alcançar os seus objetivos. Quando as pessoas vêem o que eu tenho, não fazem ideia que não tinha nada quando era miúdo.”

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Nascido em Grand Rapids, Michigan, Floyd Joy Mayweather Jr. (que nasceu Floyd Joy Sinclair, o apelido da mãe) cresceu num ambiente familiar muito complicado, “salvando-se” muito por culpa da avó, que foi também a primeira pessoa a insistir que prosseguisse a carreira no boxe, após ter começado aos sete anos. Chegou a viver em Nova Jérsia com a mãe e eram sete pessoas num quarto que às vezes não tinha sequer eletricidade, além de ser uma zona perigosa onde havia frequentemente seringas no chão. Depois ia para casa da avó, quando havia chatice ia para a mãe, que era toxicodependente, a seguir voltava à avó. O pai, que estava muitas vezes ausente por também ser pugilista, foi preso por tráfico de droga. No meio deste cenário, o americano diz que cresceu sozinho.

“O meu pai esteve meses no hospital e os médicos chegaram a dizer-me que nunca mais voltaria a andar. Ele bateu todas as expetativas e até voltou ao boxe. Era o número 1 no peso meio-médio, mas nunca teve a oportunidade de combater pelo título.”

O mediatismo não era o mesmo. Longe disso. Mas a verdade é que o nome Mayweather sempre esteve ligado ao boxe e o pai chegou mesmo a defrontar o mítico Sugar Ray Leonard em setembro de 1978 (perdeu no último assalto, ficando então com um registo de 15-2). Floyd Mayweather Sr., hoje com 64 anos, teve uma excelente marca de 28 vitórias (17 por knock out, 11 por decisão), um empate e três derrotas entre 1974 e 1983, altura em que passou apenas a fazer um combate por ano, perdendo com Clayton Hires em 1984 e Marlon Starling em 1985. Em 1990, regressou para um último duelo, aos 38 anos, mas foi também derrotado por Roger Turner.

Tem ainda dois tios que também foram pugilistas profissionais: Roger, que combateu entre 1981 e 1999 tendo mesmo conquistado alguns títulos (seria o primeiro treinador de Floyd Jr.) e acabando com um registo de 59 vitórias e 13 desaires; e Jeff, que, entre 1988 e 1997, ganhou 32 combates e saiu derrotado em dez.

Koraun, o filho mais velho de Mayweather, chegou a chamar “cobarde” ao pai numa entrevista ao USA Today, por ter alegadamente mentido em tribunal no processo de violência doméstica interposto pela ex-mulher.

“A primeira pessoa a ver o meu potencial foi a minha avó. Quando era novo, disse-lhe que devia arranjar um trabalho. Ela respondeu-me: ‘Não, continua no boxe’.”

A avó foi uma espécie de tábua de salvação na infância e adolescência atribuladas de Mayweather, um farol que foi guiando Floyd entre os problemas dos pais. “Sabia que teria de tentar tomar conta da minha mãe e achei que a escola não era assim uma coisa tão importante comparada com isso”, disse. Ainda assim, a certa altura, ponderou arranjar um trabalho para ajudar uma família que atravessava problemas financeiros e foi a avó que lhe pediu para que continuasse no boxe, porque ia conseguindo aguentar o barco.

“Primeiro e mais importante que tudo, combato pela minha família e pelos meus filhos (…) Os meus filhos são o futuro da família Mayweather e da marca Mayweather. Sinto que a nossa família é mais forte se estivermos juntos.”

Num dos vários episódios e programas que têm sido lançados esta semana sobre o ‘Combate do Século’, sentiu-se uma particular necessidade de Floyd Mayweather colocar o enfoque na sua família, nos seus filhos. “Todos os domingos venho aqui patinar com eles, são a coisa mais importante que tenho. E dois deles estão quase a ir para a faculdade. Se fosse assim um pai tão mau, estariam assim?”, atirou enquanto ia patinando no recinto.

O americano tem quatro filhos entre os 13 e os 17 anos: Koraun, Zion e Jirah da ex-namorada que conhecera na adolescência, Josie Harris, e Iyanna, da relação com Melissia Brim. Os filhos têm acompanhado o pai, mas também já tiveram fortes divergências: Koraun, o mais velho, chegou a chamar “cobarde” ao pai numa entrevista ao USA Today, por ter alegadamente mentido em tribunal no processo de violência doméstica interposto por Josie Harris (ainda decorre um outro em paralelo contra o pugilista por difamação).

“Quando estava no ringue nos Jogos Olímpicos, eram as palavras do meu pai que ouvia, não as dos meus treinadores. Nunca ouvi o que os meus técnicos diziam e era capaz de ligar ao meu pai para lhe pedir conselhos quando estava na prisão.”

Floyd Mayweather Jr. venera Floyd Mayweather Sr. mas também já tiveram uma guerra de palavras feia (publicamente) por causa das dificuldades que alegava ter vivido quando era mais novo. O mais novo disse numa entrevista que, quando estava com o pai, era sempre num ginásio enquanto ele treinava e que não se lembrava de uma ida ao cinema ou apenas para comer um gelado. “Sempre pensei que gostava mais da minha irmã do que de mim, até porque ela nunca levou enquanto eu estava sempre a levar”, disse.

Imagem de Floyd Mayweather Sr. e a avó Bertrice na festa dos 40 anos de Floyd Mayweather Jr.

AFP/Getty Images

O mais velho não gostou: “Apesar de ser um pai que vendia drogas, nunca privei o meu filho de nada. Vendia drogas, mas ele tinha sempre comida, boas roupas e dava-lhe dinheiro. Se não fosse por mim, não estaria onde se encontra hoje”. As coisas serenaram, agora estão muito próximos e o pai de Mayweather chegou mesmo a interromper uma conferência de Conor McGregor para provocá-lo e dizer que ia levar uma sova.

“Recordo-me de, em 1987, quando fiz o meu primeiro combate em Michigan como amador, ter apenas dez anos. Era o mais pequeno e o mais novo da minha equipa. Até me lembro o que comi: havia um restaurante chamado Ponderosa e o meu pai fez-me comer um bife. Estava feliz e dormi duas semanas com o troféu.”

Mayweather ainda fez praticamente dez anos como pugilista amador, tendo realizado o primeiro combate com apenas dez anos, em Michigan. Aos 16 anos ganhou pela primeira vez o prémio nacional Luvas de Ouro, repetindo esse triunfo em 1994 e 1996, quando já estava em categorias de peso superiores. A forma como combatia, com a mão direita a evitar todos os ataques (ainda hoje é conhecido como o melhor defensor de sempre da história da modalidade) e a esquerda a fazer mossa nos adversários, ainda é recordada. Acabou com um registo de 84 vitórias e oito derrotas, a última das quais nos Jogos Olímpicos. E ganhou também nesse arranque uma alcunha: ‘Pretty Boy’, por ser um rapaz que, ao contrário dos outros, não tinha cicatrizes nem marcas do boxe na cara.

Quando passou a lutar como profissional, tornou-se um dos desportistas mais ricos do mundo e nunca mais perdeu um combate.

“Irei sempre sangrar pelo vermelho, azul e branco da bandeira. Representei os Estados Unidos nos Jogos Olímpicos, amo o meu país. Mas os fãs americanos amam-te segunda-feira, se perderes já te odeiam na terça, se voltares a ganhar já te amam outra vez na quarta.”

Os Jogos Olímpicos de 1996 foram o momento de viragem para Floyd Mayweather. Na carreira, na vida, na própria perceção de ver as coisas. E esta frase significa bem mais do que aparenta. Expliquemos: a combater “em casa” (Atlanta), começou por ganhar ao cazaque Bakhtiyar Tileganov, arrumou depois com o arménio Artur Gevorgyan, sentiu algumas dificuldades mas passou o cubano Lorenzo Aragon mas perdeu aos pontos com o búlgaro Serafim Todorov, que vive hoje com 370 euros por mês numa pequena cidade do seu país.

Foi uma decisão polémica e o próprio adversário assume que pode ter havido dedo dos árbitros, mas foi a partir daí que Floyd acabou com a carreira de amador. Por frustração, por não sentir o apoio que queria dos compatriotas naquela altura, por sentir que os contratos que lhe estavam a oferecer mudariam a sua vida. E mudaram: tornou-se um dos desportistas mais ricos do mundo e nunca mais perdeu um combate.

“Já provei que não combato por dinheiro, porque como amador estive em 90 combates de borla.”

Floyd Mayweather trocou o estatuto de amador pelo profissionalismo, mais por desgosto pela derrota nas meias-finais dos Jogos Olímpicos de 1996, do que propriamente com a ideia de que ganharia os milhões que tem hoje. Por isso, o primeiro combate que disputou nessa condição, frente ao mexicano Roberto Apodaca, acabou por lhe valer mais pelos elogios públicos do que pelo que ganhou em termos financeiros. E o que se destacou mais nesse 11 de outubro de 1996, em Las Vegas? A forma como, estando ali como profissional, se manteve fiel aos princípios de boxe amador que foi desenvolvendo aos longo dos anos. Nessa altura, era treinado pelo tio, Roger, e o pai estava a cumprir pena por tráfico de droga há três anos.

“No início da minha carreira, colocava sempre a pressão em mim porque queria fazer tudo bem, queria ser perfeito.”

Em apenas dois anos, Floyd Mayweather ganhou 17 combates. Isso mesmo, 17. Frente aos americanos Reggie Sanders, Jerry Cooper, Edgar Ayaa, Kino Rodríguez, Bobby Giepert, Tony Duran, Larry O’Shields, Louie Leija, Angelo Nuñez e Sam Girard; os mexicanos Roberto Apodaca, Jesús Chávez e Felipe Garcia; o porto-riquenho, Héctor Arroyo; o panamiano Miguel Melo; o argentino Gustavo Cuello; e o canadiano Tony Pep. Foi cartão cheio em várias cidades dos Estados Unidos. Até que chegou o primeiro combate para título da carreira, com Genaro Hernández, no Las Vegas Hilton. Grande parte dos triunfos tinham sido por KO ou TKO, mas este americano nunca tinha perdido. No final do oitavo round, o canto de Hernández atirou a toalha ao chão: Mayweather tinha acabado de ganhar o título na categoria de peso-pluma.

Não ficou por aqui: nos nove combates seguintes, até ao final de 2001, defendeu esse cinto em oito e bateu de forma sucessiva Angel Manfredy (Estados Unidos), Carlos Rios (Argentina), Justin Juuko (Uganda), Carlos Genera (Porto Rico), Gregorio Vargas (México), Diego Corrales (Estados Unidos), Carlos Hernández (Estados Unidos) e Jesús Chávez (México).

“Falamos daqueles lendários lutadores, de como ganharam centenas de vezes, mas quando olhamos para os livros de registos, fui o que bateu mais campeões (…) Ninguém acreditou que algum dia houvesse um combate entre mim e Pacquiao, mas aguentei de forma paciente.”

A partir de 2002, Mayweather deixou apenas de defender o primeiro título conquistado e foi ganhando outros de diferentes categorias de peso, como aconteceu frente ao mexicano José Luís Castillo (2002), ao canadiano Arturo Gatti (2005), ao americano Zab Judah (2006) e ao argentino Carlos Baldomir (2006). A 5 de maio de 2007, com 37 vitórias conseguidas, teve pela frente aquele que foi o primeiro adversário onde finalmente se acreditou na possibilidade de perder: Oscar De La Hoya, pelo cinto de campeão de peso médio. E conseguiu ganhar, não por KO ou TKO mas por decisão dos árbitros.

Combate com Manny Pacquiao demorou cinco anos até concretizar-se. Mayweather esperou, esperou e ganhou

Al Bello

O americano anunciou, após o triunfo com Ricky Hatton, que iria reformar-se por não ter mais nada para provar, regressou quase dois anos depois e passou a competir menos, mas por objetivos de topo: ou tentava manter títulos, ou lutava para ganhar mais. E ganhou mesmo, frente ao porto-riquenho Miguel Cotto (maio de 2012) e o mexicano Canelo Álvarez (setembro de 2013). Mas aquilo que queria há anos era ter um combate com o filipino Manny Pacquiao, uma espécie de Mayweather de outra categoria de peso. O “impossível” aconteceu mesmo em maio de 2015 e, por decisão unânime, Floyd ganhou. Venceu quatro meses depois Andre Berto, reformou-se de novo e regressa agora quase dois anos depois para defrontar Connor McGregor.

“Muhammad Ali foi uma ameaça porque tinha uma voz e algumas pessoas odiavam-no porque tinha uma voz, mas quando deixou de ter voz passaram a amá-lo. Amem-me agora, não quero ser amado quando mal conseguir andar ou falar.”

Também para Floyd Mayweather, o eterno Muhammad Ali foi a principal referência e, dentro do enigma que às vezes parece ser a sua forma de pensar, o objetivo que ainda lhe falta alcançar – obter o reconhecimento de todos como uma lenda que Classius Clay foi, é e continuará a ser. “Não há palavras para descrever o que Ali fez pelo mundo do boxe. Foi um dos homens que abriu caminho para estar onde me encontro hoje. Perdemos uma lenda, um herói e um grande homem. Não há um dia que passe em que entre no ginásio e não pense nele. O seu carisma, o seu charme e, sobretudo, a sua classe são elementos que farão falta a mim e ao mundo”, disse no dia em que Ali morreu, a 3 de junho de 2016.

“Deus só fez uma coisa perfeita no mundo: o meu recorde do boxe (…) Sou o sonho americano.”

Floyd Mayweather não esquece de onde veio, mas também sabe onde está. E a verdade é que, com mais ou menos excentricidades, representa aquilo que originalmente todos nós conhecemos como o “sonho americano”, a história de alguém que enfrentou grandes dificuldades na infância, foi subindo a pulso e se tornou numa figura incontornável da sociedade (ou neste caso, do mundo). Ainda assim, tudo está assente no maior de todos os planos: o desportivo. E não deixa de ser um risco ter aceite este combate com McGregor.

A nível de registo pessoal, esquecendo tudo aquilo que envolve um pugilista de topo (e aí Ali foi e continua a ser o maior de sempre), só existe alguém com o registo de Mayweather: Rocky Marciano, o carismático que venceu nomes como Ted Lowry, Joe Louis, Jersey Joe Walcott ou Ezzard Charles entre 1947 e 1955, acabando a carreira sem derrotas e com 49 vitórias. Joe Calzaghe (46 vitórias), Ricardo López (51 vitórias, um empate) ou Edwin Valero (27 triunfos, todos por KO) também nunca perderam, mas 49-0 só Rocky Marciano (ou Rocco Francis Marchegiano, o seu nome) e Mayweather. Pelo menos até à madrugada de sábado para domingo.

Floyd Mayweather tem uma particularidade: não mostra medo de ninguém dentro do ringue, mas é incapaz de dormir sem ter as luzes acesas.

“Temos sempre de nos proteger a toda a hora porque o que vai também volta.”

Floyd Mayweather utilizou esta frase em relação ao boxe e à necessidade de estar em constante vigilância aos movimentos dos adversários. No entanto, esta ideia poderia ser aplicada a um dos maiores fenómenos que tem à sua volta e a que chama Money Team. Mas afinal, o que é isso? São cerca de 50 pessoas que fazem parte do staff do pugilista, sem contar com os seguranças que trabalham 24 horas por dia, sete dias por semana, sem saberem muitas vezes o que o patrão quer fazer. “É uma família, uma filosofia, um movimento”, como resumiu a assistente pessoal Kitchie Laurico. E que conta com amigos de longa data, treinadores de várias áreas, pessoas que tratam dos compromissos publicitários, responsáveis de comercial e marketing, o estilista, o cabeleireiro ou a cozinheira (que recebe quatro mil dólares para estar disponível todos os dias a qualquer hora).

“Todas as casas e todos os carros que tenho estão pagos, sou um bilionário.”

Mayweather tem uma mansão em Las Vegas avaliada em mais de oito milhões de euros, segundo o Wall Street Journal. Coisa pouca: são mais de dois mil metros quadrados com cinco quartos, sete casas de banho, uma sala de cinema e um chuveiro onde cabem 12 pessoas. Mas esta é apenas uma: também tem outra do género em Miami e prepara-se para comprar uma terceira.

Em cada uma delas encontra-se também uma frota de carros avaliada em mais de 15 milhões de euros, onde pontificam um Ferrari 458, um Bugati Veyron Grand, dois Bugatis Veyron, um Ferrari Enzo, um Rolls Royce Wraith 2014, Lamborghinis e Porsches. Ah, e comprou ainda dois jatos privados, que custaram mais de 50 milhões de euros – um para si com todas as comodidades e outro para os seguranças, porque como são grandes e pesados não os quer no avião dele, com medo que o mesmo caia.

A frota de carros de Floyd Mayweather à porta do ginásio onde a 'Mayweather Experience' custa 650 dólares

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Este é o lado mais excêntrico de um dos desportistas mais bem pagos de sempre que tem uma coleção de jóias avaliada em muitos milhões (nem ele sabe ao certo quanto, mas basta pensar que, num furto que um dia lhe fizeram em casa, levaram mais de seis milhões de euros em jóias). Em relógios de ouro com pedras preciosas, são cerca de dez milhões. Mas não fica por aqui: entre muitos outros pormenores do género, chegou a gastar mil dólares por semana para lhe cortarem duas vezes o cabelo e só usa uma vez os ténis, deixando muitas vezes os mesmos nos hotéis por onde vai passando para os empregados.

“Posso ficar com um olho negro ou o nariz a sangrar, posso ter um dia mau no ginásio, mas no final do dia nunca tenho uma má noite.”

Quem via Mayweather a passear à noite de bicicleta por Las Vegas ou em aulas de ioga, nos programas que foram feitos na antecâmara do combate com Conor McGregor, poderia pensar que o americano, aos 40 anos, estava mais calmo, mais ponderado, com os olhos numa vida mais tranquila e pacata. Mas não, longe disso: no mês passado inaugurou o ‘Girl Collection’, um clube de striptease (o que não tem nada de mal, é só um investimento), e passou todas as noites desta semana lá para promover o negócio (um ponto mais estranho, tendo em conta a proximidade do duelo com o irlandês). Logo ele, que tem uma outra particularidade: não mostra medo de ninguém dentro do ringue, mas é incapaz de dormir sem ter as luzes acesas.

Segundo o advogado do pugilista, Floyd estava apenas à espera que fosse concedida a licença para venda de bebidas alcoólicas e para ter um casa deste ramo porque “tudo o que faz ou onde investe se torna um recorde”. E nada melhor do que convidar todas as pessoas que o querem conhecer até 28 de agosto, segunda-feira: “basta” passarem pelo espaço e perguntar por ele. No entanto, a forma como abordou a abertura do espaço no programa de Jimmy Kimmel gerou muita polémica: “Chama-se ‘Girl Collection’ porque tem a coleção de mulheres mais bonitas do mundo. Porquê este investimento? Porque seios, vaginas, música e álcool nunca estão fora de stock”.

O americano sempre se queixou da forma como é tratado pela comunicação social. Ainda agora, alguma imprensa do país garantiu que voltou aos combates porque os gastos começam a fazer mossa

“Quando me colocam na ESPN ou na TMZ e dizem coisas más sobre mim, fico satisfeito por ser tão relevante e durar há tanto tempo como alguém relevante.”

A história de Mayweather fora dos ringues também tem o seu quê e neste caso pelas piores razões: em 2002, foi condenado a seis meses de pena suspensa, dois dias de prisão domiciliária e 48 horas de serviço comunitário por violência doméstica e agressão; em 2004, apanhou um ano de pena suspensa e foi obrigado a sessões de terapia por agressão a duas mulheres; em 2005, ficou com 90 dias de pena suspensa por agressão a um segurança de discoteca; em 2012, no seguimento de uma série de queixas da ex-namorada (violência doméstica, roubo de telemóvel, coação e assédio), foi condenado a 90 dias de prisão, que cumpriu entre junho e agosto desse ano.

No entanto, o americano sempre se queixou da forma como é tratado pela comunicação social. Ainda agora, alguma imprensa do país garantiu que voltou aos combates porque os gastos começam a fazer mossa e tem uma multa gigantesca para pagar às finanças, algo entretanto desmentido por Mayweather, que assegura que o assunto já está resolvido. Ao mesmo tempo, defende o seu lado de filantropo, tendo ajudado mulheres e crianças através da Floyd Mayweather Foundation em mais de um milhão de euros, além dos donativos que faz como anónimo.

“Barack Obama foi um bom Presidente e, esperemos, Donald Trump é um bom Presidente.”

Uma das primeiras (muitas) notícias que saíram sobre o ‘Combate do Século’ entre Floyd Mayweather e Conor McGregor meteu Donald Trump ao barulho. E por uma questão sensata, acrescente-se: o agora presidente dos Estados Unidos foi um dos convidados de primeira fila (com a mulher, Melania) no duelo entre o americano e Manny Pacquiao, em 2015, mas anunciou, através de fontes oficiais, que não iria agora marcar presença porque iria tirar o foco do que verdadeiramente interessava, além de todos os constrangimentos de segurança que iriam existir.

Mayweather e Trump têm mesmo uma boa relação e, pouco depois da eleição, em novembro, o filho mais velho do presidente publicou uma imagem de um encontro entre ambos. O pugilista também mantinha ligação a Barack Obama, que lhe telefonou a pedir o seu apoio na primeira campanha presidencial. Mas há mais: sabe quem foi uma das pessoas mais importantes nas negociações para o combate entre Mayweather e Pacquiao? O ex-presidente americano Bill Clinton.

“Quando era miúdo, estava deitado no quarto e jurei para mim mesmo que nunca iria nem fumar nem beber. E não disse por ser miúdo, disse para tudo. Toda a minha vida mantive essa promessa.”

Mayweather pode ser um dos indivíduos mais excêntricos no mundo do desporto, mas sempre teve a capacidade para, nos maus (passado) e nos bons (presente) momentos, saber fugir às tentações de álcool e drogas que o rodeavam quando era mais novo. É por isso mesmo que costuma ser visto em clubes de strip e discotecas, mas sem consumir nada prejudicial à sua saúde. Até à mesa é assim, tendo um estranho hábito há muitos anos de pedir um copo com água quente quando chega a um restaurante para poder mergulhar os seus talheres antes de comer.

“Mayweather Promotions: somos o passado, o presidente e o futuro do desporto e do entretenimento e toda a gente sabe que o Mayweather é o melhor a pagar.”

No seguimento de uma discussão com a Top Rank de Bob Arum, o americano decidiu inaugurar a sua própria empresa de promoção de espetáculos desportivos e entretenimento, a Mayweather Promotions, em 2007. Além de ter uma carteira cada vez maior de pugilistas (entraram 14 potenciais campeões só nos últimos três anos), treinados por uma série de técnicos onde se incluem o pai e os dois tios, organiza também outros eventos ligados à música e ao cinema, tendo ainda ramificações de produções televisivas.

Mayweather foi ganhando algum peso para subir de categoria e aumentar a lista de títulos conquistados

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Os “agenciados” treinam no seu ginásio de Las Vegas, que esta semana mereceu muitas críticas pelos preços praticados para os fãs que estiveram interessados em viver a ‘Mayweather Experience’: 650 dólares por pessoa. O que tem de especial? Colocar as ligaduras e calçar as luvas com as mesmas pessoas que o fazem aos pugilistas e ter a possibilidade de trabalhar uma a duas horas com o pai de Mayweather.

“Está tudo ligado com o facto de ter personalidade, não tem a ver com o facto de ser uma gajo mau mas sim com a parte de entreter as pessoas.”

Floyd Mayweather leva o seu registo no boxe a sério, mas também sabe que o desporto nos Estados Unidos passa muito pela capacidade de dar entretenimento aos fãs (o que, de certa forma, também justifica este combate com McGregor) e foi isso que fez há quase dez anos, entrando por alguns meses na narrativa da WWE, a luta livre “combinada” que tem uma legião de seguidores um pouco por todo o mundo.

Assim, e depois de uma primeira aparição em fevereiro de 2008, continuou a ter breves entradas em algumas noites de diretos até chegar ao maior evento de todos, o Wrestlemania, onde ganhou a Big Show (numa luta quase de formiga contra elefante, tendo em conta o tamanho do seu adversário). Mas ganhou bem mais do que isso, como seria de esperar: recebeu 20 milhões de dólares apenas por essas presenças.

“Adoro controlar a minha vida pessoal.”

Ainda antes da confirmação oficial do combate, Conor McGregor colocou nas redes sociais uma imagem sua com Mayweather no chão e a legenda “Chamem-me CJ Watson”. Quem é CJ Watson? Um jogador de basquetebol. Mas, neste contexto, a pessoa que poderá ter causado a separação definitiva entre o americano e a namorada da adolescência e mãe dos três filhos, Josie Harris, numa altura conturbada da relação e já depois de estarem noivos. Mais tarde, o pugilista esteve também noivo de Shantel Jackson (separaram-se pouco depois, devido a um alegado aborto que terá feito), com uma proposta por SMS que ficou célebre: “Isto é o que te ofereço: vamos casar, passamos a viver juntos em Los Angeles, prometo-te que te arranjo três filmes de categoria A este ano e estou disposto a mudar e a ter aconselhamento, mas tens de melhorar a tua atitude”.

Mayweather tem agora aparecido publicamente com a modelo Abi Clarke, de 25 anos, mas nem por isso deixa de fazer a vida que todos conhecem há muitos anos: passar noites em festas ou em clubes de striptease rodeado de mulheres, amigos e muitas notas de 100 dólares. E os próprios seguranças admitem que não têm uma tarefa fácil em segui-lo durante as 24 horas do dia, porque tão depressa vai a festas, como fica em casa a contar dinheiro, como se mete dentro do carro e vai para o ginásio trabalhar. Em resumo: faz o que quer e como quer.

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