Artemij Sitenkov, lituano de 34 anos, não tem propriamente o melhor registo a nível de MMA: 15 vitórias e 16 derrotas. Nunca ganhou por KO (foi sempre por submissão), mas já ficou por seis vezes no chão do octágono. Nos últimos dez combates que fez, entre 2012 e 2016, perdeu por nove ocasiões. Mas conseguiu o maior feito da carreira à décima luta travada: em junho de 2008, bateu Conor McGregor quando ninguém achava ser possível e logo na República da Irlanda, país de origem do ‘The Notorious’. Agora, colocou à venda no eBay os calções usados nesse dia.

“Encontrei os calções no meu armário e percebi que eram os mesmos calções vermelhos que tinha usado para derrotar o McGregor. Como estou muito envolvido em ações de caridade, e levo alguns dos miúdos do orfanato para treinarem comigo gratuitamente, falaram-me nesse programa e aceitei. Não tenho muito dinheiro e a ideia acabou por aparecer, achei que seria bom. No contexto do momento e do próximo combate do Conor, achei que era lógico”, explicou ao MMA Fighting.

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Afinal, ninguém poderia prever que, quase dez anos depois, o irlandês estaria num combate que envolve milhões e milhões de euros. Só para ele, em caso de vitória, serão mais de 100 milhões. 100.000.000, estes números todos. Já Sitenkov tem uma vida bem mais modesta em Vilnius: fundou dois ginásios com o treinador Alfredas Lifsicas (Vale Tudo MMA Academy), tem uma loja de penhores e lida também com o comércio de antiguidades. Ganha para as despesas e pouco mais, sendo que o maior projeto é mesmo “ajudar jovens órfãos a realizarem os seus sonhos e desejos para que possam mais tarde ter um futuro de qualidade na vida”.

Entretanto, e por não conseguir chegar à UFC, a divisão de elite deste desporto, o lituano deixou de combater há um ano. “Só luto por diversão, deixei de treinar. Como era o homem que tinha ganho ao McGregor, tive uma série de convites e recebi algum dinheiro por isso. Mas também sempre soube que estava ali apenas por causa daquele combate. Posso não ser o maior lutador de todos os tempos, mas conseguia dar bons momentos. Assim, andei por variadas partes do mundo mesmo sabendo que ia perder os combates mas pelo prazer de lutar e pelo dinheiro”, contou.

E como vê a diferença gigante que tem hoje para McGregor? “O Conor trabalhou duro para alcançar os seus objetivos e conseguiu, dou-lhe os parabéns. As pessoas do UFC nunca tiveram grande interesse em mim. Talvez pela minha idade, pelas minhas origens. Não conseguia gerar o dinheiro suficiente para eles e tive de aceitar esse destino. Por não ser suficientemente bom ou por outras razões, a verdade é que não me quiseram, mas aceito bem essa ideia. Nem no meu país me tornei famoso porque, na Lituânia, ou és jogador de basquetebol ou não és famoso. As pessoas não reconhecem o MMA, a não ser os próprios atletas”, frisa.

O treinador do McGregor, John Kavanagh, não suspeitava que era um bom lutador e colocou-nos na ‘Cage of Truth’. Recordo-me que o material da jaula, pelo som, era dos mais baratos. Ganhei e recebi 500 euros”

Uma coisa é certa: irá receber mais agora pelos calções (a licitação estará aberta até esta noite, véspera do ‘Combate do Século’) do que os 500 euros a que teve direito quando ganhou a McGregor. “Nesses dias, mesmo que ganhasse, era suposto fingir que tinha sido por acidente, caso contrário não voltaria a ser convidado. O treinador do McGregor, John Kavanagh, não suspeitava que eu era um bom lutador e colocou-nos na ‘Cage of Truth’. Recordo-me que o material da jaula, pelo som, era dos mais baratos. Ganhei e recebi 500 euros”, recordou ao Rigan Rahmatulin.

“Como era no país dele, recordo-me que estavam lá muitos amigos e pessoas próximas dele. Como a arena era pequena, metade eram amigos e familiares dele, enquanto eu tinha apenas umas cinco pessoas para me apoiarem. O ambiente na República da Irlanda nunca é calmo nos combates, porque está tudo tão bêbado que só gritam. No final, o McGregor começou a chorar”, completou.

Esse pormenor do desalento do irlandês no final do combate traz à baila outra história que prova como num instante tudo pode mudar. “Estava a defrontar um rapaz magrinho da Lituânia que lhe passou por cima. Costumo sempre dizer que os lutadores não têm medo de se magoarem, mas odeiam ficar embaraçados e nesse dia ele ficou assim”, contou John Kavanagh ao Independent. Por sorte, e depois de vários dias fechado no quarto, foi a mãe de McGregor que ligou ao técnico pedindo-lhe que falasse com o filho. Conseguiu. “Se não fosse aquela chamada da mãe, provavelmente nunca mais o tinha visto”, confessou.