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Tiago Preguiça, o novo diretor-geral e antigo dirigente da JS foi o último caso, mas há muito que militantes, dirigentes locais, ex-governantes, autarcas ou simples simpatizantes do PS foram ocupando as estruturas da Segurança Social — e quase sempre por nomeação. A cúpula da Segurança Social — o Conselho Diretivo — é quase exclusivamente composto por militantes do PS desde o primeiros meses do Governo Costa I, mas nas estruturas distritais tudo piorou no segundo mandato. Se Vieira da Silva resistiu a fazer grandes mudanças nos primeiros anos, o cenário mudou: apenas 28% dos diretores distritais tinham em 2017 ligações partidárias, enquanto atualmente 67% dos diretores distritais (12 em 18) têm ligações ao PS. Algumas delas ocorreram já em março e abril de 2020, em plena pandemia.

Na maior parte dos casos, o Governo começa por nomear os dirigentes em regime de substituição, que depois ganham vantagem quando são submetidos ao escrutínio da CReSAP. Além disso, a Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública apenas indica uma short list de três nomes. A escolha final é do membro do Governo que, quase sempre, acaba por escolher um militante do PS.

O primeiro presidente da CReSAP, João Bilhim, explicou em declarações à Rádio Observador que desde 2004 que a lei permite que as pessoas “possam ser nomeadas em regime de substituição, sem ser por comissão de serviço”. Desde 2011, ano de criação da CReSAP, que “o princípio geral é o do concurso, mas ficou este buraquinho [a nomeação em regime de substituição]”.

Bilhim lamenta que “em Portugal é certo e sabido que, desde que haja um buraco na lei, o buraco passa a ser a lei”. De acordo com o primeiro presidente da CReSAP é “este buraco na lei que permite que depois se transforme aquilo que devia ser uma exceção na regra”. João Bilhim diz que “o Governo sabe com três meses de antecedência que aquele dirigente não lhe vão renovar a comissão de serviço ou que aquele dirigente atingiu o máximo de tempo”. Fica portanto a dúvida: “Por que razão os membros do Governo não com três meses de antecedência não pedem à CRESAP a abertura do concurso? Nada impede. Basta só um pouco de gestão, um pouco de racionalidade, um pouco de planeamento”.

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Os organismos que dependem do Ministério da Segurança Social, lamenta Bilhim, “têm sido vítimas desta cobiça dos partidos políticos.” E não é exclusivo do atual Governo: “Já com Pedro Mota Soares que houve muitos problemas com a CReSAP, em que a CRESAP nomeou três nomes e ele, como não gostava de ninguém, colocou-os na gaveta.” Mas agora ainda é pior porque o tempo de decisão da CREsAP é maior: “Na altura tinha uma resolução de 30 a 40 dias. Como sabia que era forma de criar tirocínio e dar estágio aos militantes dos partidos, eu procurava abreviar os concursos. A lei diz que são 90 dias, se o Governo só pedir o concurso no último dia são logo três ou quatro meses e, entre começar e não começar o concurso, o nomeado fica com meio ano  no cargo”.

Cem por cento de ligações partidárias no topo da pirâmide da Segurança Social

No topo da pirâmide da Segurança Social, Os lugares são praticamente todos cor-de-rosa, da mesma forma que no tempo de Passos Coelho era tudo cor-de-laranja ou azul. Pelo menos desde 2007, que todos os membros do conselho diretivo do Instituto da Segurança Social são quase sempre militantes ou simpatizantes dos partidos que estão no Governo.

No caso específico do Conselho Diretivo Instituto da Segurança Social, ao longo dos últimos 14 anos, dos 19 dirigentes identificados que passaram por este órgão, o Observador só encontrou uma exceção à regra da clientela partidária: apenas em relação a um nome, durante o consulado de José Sócrates, não foi possível detetar uma ligação evidente ao partido do Governo, apesar de fontes contactadas pelo Observador darem o responsável como próximo dos socialistas (tratava-se de José Manuel Silva e Sá). De resto nos dois governos de Sócrates, no Governo de Passos Coelho e agora nos dois governos de António Costa houve sempre um pleno de ligações mais ou menos diretas ao partido do Governo.

O presidente do atual Conselho Diretivo é Rui Fiolhais — nomeado logo no primeiro Governo Costa — que tinha sido chefe de gabinete de António Vieira da Silva no primeiro governo de José Sócrates. A vice-presidente, Catarina Marcelino, é nada mais que a ex-secretária de Estado da Igualdade. João Bilhim diz que a própria Catarina Marcelino reconheceu no Parlamento, como deputada, que “o regime de substituição era uma forma de dar tirocínio e estágio a militantes do partido, que mais tarde quando concorriam tinham já experiência profissional e podiam concretamente criar assimetrias na universalidade do concurso”. Apesar disso, denuncia, foi “nomeada nos mesmos termos” de Tiago Preguiça. Ou seja: em regime de substituição.

As vogais do Conselho Diretivo também passaram por governos socialistas antes de serem nomeadas. Ana Vasques transitou diretamente do gabinete de Cláudia Joaquim, secretária de Estado com este pelouro. É também filha de Tomás Vasques, antigo deputado do PS e ex-chefe de gabinete de João Soares, o primeiro ministro da Cultura do primeiro Governo Costa. Sofia Carvalho, a outra vogal, também foi adjunta da secretária de Estado da Segurança Social, Anabela Pedroso,  e da secretária de Estado da Modernização Administrativa, Maria Manuel Leitão Marques.

No primeiro mandato de Costa a história não tinha sido muito diferente. O vice-presidente era o agora secretário de Estado da Segurança Social, Gabriel Bastos, e as vogais Noémia Goulart (que foi assessora do secretário de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, até 2009) e Sofia Borges Pereira (que foi assessora da secretária de Estado Cláudia Joaquim).

Quanto à direção-geral, está ocupada em regime de substituição por Tiago Preguiça, que foi dirigente da JS e tem um currículo feito em gabinetes, que tem como adjunta Cristina Lobo Ferreira, relativamente à qual o Observador não detetou nenhuma ligação evidente e direta ao PS.

Voltando aos Centros Distritais da Segurança Social, estes foram tendo cada vez mais diretores com ligações ao PS. Doze em 18 são liderados por militantes, ex-dirigentes ou figuras com ligação ao PS, uma delas tem ligação ao PSD e há cinco diretores relativamente aos quais o Observador não conseguiu detetar nenhuma ligação partidária. Nos vários distritos encontram-se muitas histórias, desde um historiador que escreve livros para crianças ao “Zé das Festas”. Mas nem todos os socialistas têm saído satisfeitos dos concursos/nomeações. O deputado do PS, João Paulo Pedrosa — que noutros tempos foi segurista — já foi escolhido pela CREsAP como finalista em oito centros distritais para diretor, mas nunca foi escolhido pelo membro do Governo responsável pelas nomeações (primeiro Cláudia Joaquim, depois Gabriel Bastos). Aconteceu em Santarém, Beja, Portalegre, Viana, Lisboa, Braga, Bragança, Vila Real.

Único finalista do PS foi escolhido em Aveiro. Da História de Arte aos livros para crianças

Quando tirou o curso em História na Universidade Coimbra, na variante de História de Arte, Fernando Mendonça não estaria a pensar chegar a diretor distrital da Segurança Social de Aveiro. Acabou, no entanto, por ser nomeado para o cargo a 26 de junho de 2018, pela então secretária de Estado Cláudia Joaquim, que o escolheu entre os três nomes propostos na short list da CReSAP.

Os outros dois finalistas eram figuras ligadas ao PSD: Almiro Moreira, conselheiro nacional do PSD e deputado municipal do partido em Castelo de Paiva, e Licínio Pimenta, que foi candidato do PSD à Câmara de Albergaria-a-Velha e vereador no mesmo município. Dos três, Cláudia Joaquim escolheu o único que era militante do PS. Fernando Mendonça foi, aliás, durante vários anos (entre 1994 e 2001) vereador do PS na câmara de Estarreja e foi adjunto de governadores civis de Aveiro do PS, incluindo o atual vice-presidente da bancada do PS, Filipe Neto Brandão.

Currículo com ligação à Segurança Social só é possível encontrar nos cargos que exerceu como vereador, uma vez que chegou a ter o pelouro da Ação Social. No despacho pode ainda ler-se que”assumiu responsabilidades autárquicas na criação e implementação de conselhos municipais de solidariedade social e de programas municipais de combate à pobreza”. E mais nada relacionado sobre a área, embora o mesmo currículo diga que é “autor de livros de histórias para crianças“.

Antes de haver concurso, o ministério de Vieira da Silva já tinha colocado no cargo, logo em março de 2016, em regime de substituição, Manuel Ruivo, que era então presidente do PS/Cantanhede e já tinha sido candidato à câmara pelo PS. Essa foi a forma de o Governo substituir de forma mais célere, quatro meses depois de tomar posse, o então diretor. O antecessor de Manuel Ruivo, Rui Cruz, tinha sido nomeado pelo Governo de Passos Coelho depois de ter sido presidente da Câmara de Vagos eleito nas listas do PSD — Rui Cruz que tentaria, sem sucesso, uma nova vida na Segurança Social.

O socialista que derrotou dois sociais-democratas no Porto

Em 2017, o mesmo Rui Cruz tentou, desta vez, ser escolhido como diretor do Centro Distrital da Segurança Social do Porto. Mas a sorte não sorriu ao atual chefe de gabinete de Salvador Malheiro, autarca social-democrata em Ovar e vice de Rui Rio, e antigo deputado do PSD.

O escolhido foi Miguel Cardoso, já depois de ter sido escolhido para o cargo em regime de substituição. Candidato a deputado pelo PS em 2015 e 2011, candidato derrotado à liderança do PS/Valongo, sucedeu a Manuel Sampaio Pimentel, dirigente do CDS e vereador na cidade do Porto.

Além de Rui Cruz, a CReSAP escolheu ainda para a short list Paulo Jorge Ferreira, que chegou a ser presidente da Assembleia Municipal de Santo Tirso eleito pelo PSD e que tinha no currículo uma passagem como diretor-adjunto do Centro Distrital de Segurança Social do Porto entre setembro de 2002 e maio de 2005. O Ministério do Trabalho e da Segurança Social preferiu ainda assim Miguel Cardoso.

Pós-graduado em Gestão de Qualidade, licenciado em Relações Internacionais pela Universidade Fernando Pessoa, com curso de Alta Direção em Administração Pública, ministrado pelo Instituto Nacional de Administração, fez carreira como técnico superior no Centro Distrital do Porto, do Instituto da Segurança Social.

Vinte anos depois, o regresso à Segurança Social da Guarda

Em novembro de 2020, por despacho do mesmo secretário de Estado da Segurança Social, Gabriel Bastos, Carlos Camejo Martins foi nomeado diretor do Centro Distrital do Instituto da Segurança Social em regime de substituição.

Com um longo percurso político — chegou a ser adjunto do governador civil da Guarda entre 1995 e 1996 — fez também o seu caminho no aparelho socialista: foi presidente do PS/Trancoso, presidente da comissão de jurisdição da Federação do PS da Guarda, deputado municipal de Trancoso eleito pelos socialistas e era até novembro, precisamente, secretário executivo da CIM Beiras e Serra da Estrela antes de pedir renúncia.

É um regresso a um lugar que conhece bem. Durante cinco, entre 1996 e 2001, Carlos Camejo Martins foi diretor do Serviço Sub-Regional da Guarda do Centro Regional de Segurança Social do Centro. Nesse ano de 2001, e até setembro de 2002, ascendeu ao cargo de diretor do Centro Distrital da Guarda da Segurança Social, pelo então ministro do Trabalho e da Segurança Social, Eduardo Ferro Rodrigues.

Quase 20 anos depois, volta agora a ocupar o cargo de diretor do Centro Distrital da Guarda. Substitui nas funções Jacinto Dias, que tinha sido nomeado durante o Governo de Pedro Passos Coelho e que era presidente da junta de freguesia de Panóias eleito pelo PSD.

As queixas de “saneamento” em Santarém

Em Santarém, Renato Bento, ligado ao PS local, diretor financeiro da candidatura de Idália Serrão à Câmara e membro da Assembleia Municipal de Santarém no mandato de 2017-2017, viu a sua situação tornar-se definitiva como diretor do Centro Distrital do Instituto da Segurança Social depois de, dois anos antes, em 2018, ter sido nomeado em regime de substituição.

O socialista sucedeu assim a Tiago Leite, que tinha sido candidato do CDS à autarquia de Santarém e que fora nomeado diretor daquele Centro Distrital durante o Governo de Pedro Passos Coelho.

Na hora da despedida, Tiago Leite, que chegou a ser alvo de um inquérito interno, queixou-se de ser vítima de um “saneamento político” e apontou o dedo diretamente ao Governo socialista.

Na altura, fonte oficial do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social justificou a nomeação “com a necessidade de imprimir uma nova orientação à gestão dos serviços que passa por conferir uma nova dinâmica à prossecução das prioridades e objetivos delineados para a área da Segurança Social”.

Licenciado em Gestão de Empresas, Renato Bento tem um longo percurso ligado à máquina da Segurança Social, tendo sido diretor-adjunto no Centro Distrital de Lisboa e durante quase dois anos diretor de centro do Centro de Emprego e Formação Profissional de Santarém da Delegação Regional de Lisboa e Vale do Tejo.

No concurso para o cargo, foram apresentados outros dois nomes, o de Cristina Graça Rodrigues, diretora Unidade de Apoio a Programas no Instituto da Segurança Social, e de João Paulo Pedrosa, deputado socialista. Renato Bento acabou por ser o escolhido pelo Governo de António Costa.

Regime de substituição ajudou Sérgio Fernandes em Beja. Os três finalistas eram do PS

Helena Barreto, militante do CDS nomeada pelo ministério de Pedro Mota Soares, ainda se aguentou dois anos no cargo após António Costa chegar ao Governo, mas acabou por ter de sair para dar lugar a um socialista: Sérgio Fernandes, licenciado em Relações Internacionais, mas que é técnico superior do Instituto da Segurança Social desde 2001. Tal como a esmagadora maioria dos diretores distritais, Sérgio Fernandes tem várias ligações ao PS. É militante e, meses antes de ser nomeado para o cargo, tinha concorrido nas listas do PS na Vidigueira, tendo sido eleito deputado municipal pelos socialistas. Durante o primeiro Governo de António Guterres foi adjunto do gabinete do então secretário de Estado da Inserção Social, Rui Cunha.

O socialista é um dos casos em que foi nomeado para o cargo em regime de substituição, logo em dezembro de 2017, tendo depois já currículo no próprio cargo quando foi avaliado pela CReSAP no ano seguinte, em 2018. Acabou por ser um dos finalistas da CReSAP, numa short list de três nomes exclusivamente composta por militantes e dirigentes do PS. Cláudia Joaquim escolheu um socialista, Sérgio Fernandes, mas os outros também eram. Os dois preteridos foram Fernando José Oliveira Cálix, comissário nacional do PS, ex-assessor de José Sócrates e antigo adjunto de António Costa no Governo, e o deputado João Paulo Pedrosa — não seria a primeira vez que estes dois acabariam rejeitados.

Do centro de emprego para a Segurança Social de Portalegre

Sandra Cardoso, a antiga deputada socialista que preside à Assembleia Municipal do Crato, foi nomeada, em 2019, em regime de substituição como diretora do Centro Distrital de Portalegre. Era, desde 2016, diretora do Centro de Emprego e Formação Profissional de Portalegre — antes já tinha exercido estas mesmas funções em Ponte de Sôr.

Foi escolhida para substituir João Carlos Laranja, antigo presidente da concelhia do PSD/Portalegre, nomeado durante o Governo de Passos Coelho para substituir, por sua vez, o antigo deputado socialista Arménio Toscano,

Acabou por ser escolhida em detrimento de Fernando José Oliveira Cálix Ferreira e João Paulo Pedrosa, mais uma vez sem sorte.

Viana: não há duas sem três

Em Viana do Castelo, Cristina Oliveira foi nomeada para desempenhar funções em regime de substituição (em 2017) e, um ano depois, em 2018, venceu o concurso da CReSAP.

Na sua nota curricular, pode ler-se que tem um “percurso profissional de 18 anos na Segurança Social, onde exerceu funções de inspetora no Núcleo de Investigação Criminal, Diretora de Unidade de Prestações e Atendimento, Diretora da Unidade de Previdência e Apoio à Família, Assessora Técnica da Direção”. Não foi possível encontrar qualquer ligação à vida política e partidária.

Mais uma vez, os derrotados acabaram por ser José Oliveira Cálix Ferreira João Paulo Pedrosa.

Lisboa nas mãos de uma independente

Gabriela Crisóstomo Real, desde 1998 no Centro Distrital da Segurança Social de Lisboa, começou por ser escolhida em regime de substituição em 2019. Um ano depois foi a concurso e acabou entre os três melhores classificados pela CReSAP. Tal como tinha acontecido com a sua antecessora no cargo — Isabel Saldida — não foi possível descortinar qualquer ligação aos socialistas.

Foi escolhida no lugar de Edite Correia, que até 2019 foi subinspetora Geral da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde e que contava no currículo com uma passagem como adjunta do socialista Nuno Severiano Teixeira, ministro da Administração Interna, e (outra vez) João Paulo Pedrosa.

A substituição que se tornou definitiva

Braga foi um dos quatro centros distritais em que Vieira da Silva demorou menos tempo a colocar no lugar um dirigente da área política do PS. Tal como aconteceu no caso de Aveiro, em Braga João Ferreira foi nomeado em regime de substituição em 2017, tendo depois já experiência no cargo quando foi submetido ao concurso da CReSAP. Sem nunca ter sido candidato do PS e apesar de na imprensa local haver relatos de socialistas que dizem que João Ferreira nunca foi visto na sede de Braga, o diretor de Braga é apontado como tendo ligações ao PS e descrito como o braço-direito de Maria do Carmo Antunes, socialista que no passado dirigiu o Centro Distrital de Braga.

Um dos finalistas do concurso da CReSAP foi novamente o deputado do PS João Paulo Pedrosa, que voltou a ser preterido no concurso. A outra candidata preterida era Maria da Graça Trindade Fernandes Vieira Ribeiro, que foi diretora de recursos humanos da câmara de Braga, liderada pelo social-democrata Ricardo Rio.

O presidente da junta que já tinha sido adjunto

O deputado do PS João Paulo Pedrosa não foi escolhido pelo Governo embora tenha sido, pela terceira vez, colocado na short list pela CReSAP. O escolhido acabou por ser um camarada de partido, Orlando Seixas Vaqueiro, presidente da junta da União de Freguesias de Ifanes e Paradela, no concelho de Miranda do Douro. Eleito nas listas do PS.

Orlando Seixas Vaqueiro foi um dos três escolhidos pela CReSAP e tinha uma vantagem: foi nomeado pelo secretário de Estado Gabriel Bastos em fevereiro de 2020 em regime de substituição para o cargo. Quando chegou a vez do concurso da CReSAP, a 12 de agosto desse ano ficou facilmente na short list.

Orlando Vaqueiro é licenciado em Direito, mas tem feito carreira na Segurança Social. Foi, aliás, durante os dois governos de José Sócrates adjunto da diretora deste centro, Teresa Barreira, também militante e eleita socialista. Apesar de trabalhar no Centro Distrital da Segurança Social de Bragança há vários anos, assumiu as funções de topo quando o governo era PS. Durante todo o governo de Pedro Passos Coelho quem ocupou o cargo foi Martinho Nascimento, vice-presidente da assembleia distrital do PSD/Bragança. Vieira da Silva ainda o manteve no cargo, mas o ministério de Ana Mendes Godinho escolheu agora um socialista para a função.

Ao fim de 23 anos no ISS, deputado municipal do PS foi nomeado para dirigente distrital

Em Castelo Branco, o nomeado para liderar o Centro Distrital da Segurança Social foi Nuno Maia, uma escolha de alguém que tem carreira no Instituto da Segurança Social, onde trabalha desde 1997. Em 23 anos na Segurança Social, Nuno Maio nunca tinha, no entanto,  liderado este organismo distrital. Nas últimas autárquicas integrou as listas do PS à Assembleia Municipal de Castelo Branco, tendo sido eleito deputado municipal PS em 2017.

Já como deputado municipal do PS, a 4 de março de 2020, Nuno Maia foi nomeado pelo Governo em regime de substituição. Entretanto, ainda não saiu o concurso da CReSAP, mas — mais uma vez — o incumbente vai ter a vantagem de já ter estado pelo menos um ano no cargo. Mais uma vez, António José Vieira da Silva ainda manteve António Melo Bernardo —  nomeado pelo governo PSD/CDS e candidato a deputado do PSD — mas neste segundo mandato do governo de António Costa um socialista acabou por ocupar o cargo, até porque o social-democrata já tinha atingido o limite da comissão de serviço. Foi sem concurso e da CReSAP ainda não há novidades.

Vacinas provocaram troca de cadeiras em Setúbal

Em Setúbal, Maria Luísa Ferreira Malhó, até há pouco tempo presidente do Conselho Diretivo do Alto Comissariado para as Migrações por nomeação do Governo de António Costa, foi escolhida para substituir Natividade Coelho, que foi obrigada a apresentar a demissão na sequência do processo de vacinação indevida contra a Covid-19.

É licenciada em Sociologia pelo ISCTE – IUL (1991), foi diretora do Programa Escolhas entre janeiro de 2016 e dezembro de 2018, coordenadora da Equipa de projeto de apoio técnico da Zona Lisboa do Programa Escolhas (2010-2015), coordenadora da Equipa de projeto de apoio técnico da Zona Sul e Ilhas do Programa Escolhas (2007-2009), técnica de Equipa da Zona Sul e Ilhas do Programa Escolhas (2004-2007), coordenadora de Bairro Responsável pelo Distrito de Setúbal do Programa Escolhas (2001-2004) e coordenadora Geral do Centro Social Paroquial do Campo Grande, IPSS, Lisboa (1997-2001) Socióloga no Centro Jovem Tabor, IPSS, Setúbal (1992-1997)

O Zé que criou as “DoceSS” e foi finalista contra a assessora

O Centro Distrital da Segurança Social de Évora também é liderado por um socialista: José Ramalho, que foi presidente do PS/Estremoz e foi vereador nesse município do distrito de Évora Quando o PS está no poder, José Ramalho é nomeado para cargos da Segurança Social.

Foi assim em 2005 quando foi nomeado durante o governo de José Sócrates diretor do Centro de Emprego de Estremoz, onde ficaria até 2012. Foi assim também 2016, já durante o governo de António Costa, quando foi nomeado diretor do Centro de Emprego de Évora. Ainda durante o primeiro governo do atual primeiro-ministro, José Ramalho subiu a diretor distrital da Segurança Social, a 9 de janeiro de 2018. Não levava dois anos no cargo quando se viu envolvido em polémicas.

José Ramalho é conhecido por alguns funcionários da Segurança Social de Évora como o “Zé das Festas”. Há pouco mais de um ano, uma investigação da TVI revelava que — ao mesmo tempo que havia atrasos no pagamento das prestações sociais — José Ramalho organizava festas na própria Segurança Social. Havia inclusive provas de que o fazia durante o horário de expediente. As festas tinham karaoke e o presidente do centro distrital criou mesmo uma girls band chamada “As Docess” (os dois ésses significam Segurança Social) composta por funcionárias da Segurança Social. Na própria vila de Reguengos de Monsaraz as “Docess” tornaram-se famosas pelas suas atuações. Circularam também vídeos de funcionários a dançarem a música Bamboleo, dos Gipsy Kings.

O socialista começou por ser nomeado em regime de substituição em janeiro de 2018, tendo depois sido nomeado de forma definitiva — para uma comissão de serviço de cinco anos — em fevereiro de 2019. Pelo meio, houve concurso da CREsAP. Uma das concorrentes foi a antecessora, Sónia Silva Ramos, que tinha sido nomeada para o cargo pelo governo de direita e é presidente da distrital do PSD de Évora. Sónia Ramos tinha mais experiência no cargo (oito anos contra um) do que José Ramalho, mas foi preterida. A short list de três nomes é da responsabilidade da CREsAP, mas a escolha final é do Governo e o Governo agora era do PS. Quando foi era do PSD, as coisas passaram-se ao contrário. A outra preterida foi Maria Nazaré Lança, também deputada municipal pelo PS, que tinha sido diretora adjunta deste mesmo centro durante o governo de José Sócrates.

A dirigente socialista que chegou ao topo da Segurança Social em Faro

Maria Margarida Alves foi das primeiras socialistas a ser nomeada para um Centro distrital da Segurança Social (o de Faro) logo em março de 2016, cerca de quatro meses depois do primeiro Governo de António Costa tomar posse. Acabou depois por ser reconduzida por cinco anos, já em comissão de serviço em novembro de 2017 e após ser concluído o procedimento da CReSAP.

São várias as ligações ao PS. Desde logo, a mais direta, é que a militante socialista faz parte da comissão política da concelhia do PS/Tavira, Maria Margarida Alves é ainda casada com Jorge Botelho, atual secretário de Estado da Descentralização e da Administração Local e antigo presidente da câmara municipal de Tavira.

Vila Real e o concurso que terá de ser repetido

Em Vila Real, Carla Alves, que conta com um percurso como técnica superior da Segurança Social desde 2004, foi nomeada em regime de substituição como diretora deste Centro Distrital, sucedendo a José Augusto Rebelo, que era Presidente da concelhia do PSD em Vila Real.

Chegou a ser aberto um concurso, mas acabou encerrado por desistência de um dos candidatos — a CReSAP não informa no processo que está disponível no site. Eram candidatos nesse concurso Diana Amado Tavares, licenciada em Psicologia e especializada em Psicoterapia e Orientação Vocacional pela Universidade do Porto, Gisela Espírito Santo, dirigente socialista em Chaves e diretora de Centro do Centro de Emprego e Formação Profissional do Alto Tâmega, outra vez o deputado socialista João Paulo Pedrosa.

Na impossibilidade de existir um processo concursal — por não existir um número suficiente de candidatos para efeitos de seleção –, Carla Alves acabou por ser a escolhida, substituindo José Augusto Rebelo, antigo presidente da concelhia do PSD em Vila Real. Terá de ser aberto novo concurso para encontrar uma solução definitiva.

Viseu: sai laranja, entra rosa

Em Viseu, a conhecida militante socialista Márcia Martins foi escolhida para desempenhar o cargo em substituição de Telmo Antunes, o social-democrata e ex-presidente da Câmara de Vouzela. Mais uma vez começou neste regime aparentemente transitório (foi escolhida em 2017) e, dois anos depois, foi a concurso.

Acabou por ser selecionada em detrimento de Catarina Almeida Matos e Pedro Vasco e Silva Cardoso, sem um percurso político ou público conhecido.

À semelhança do que aconteceu em Évora, a CReSAP também integrou a antecessora, Ofélia Ramos, na short list final. Ofélia Ramos tinha liderado o centro distrital da Segurança Social de Faro, nomeada durante o governo PSD/CDS. Ligação política: membro do Conselho de Jurisdição do PSD/Algarve. O outro preterido foi Eurico Rodrigues, licenciado em Relações Internacionais e mestre em Estratégia pelo ISCSP-UTL.

Coimbra também independente

Manuela Veloso é uma das cinco diretoras distritais que não tem uma ligação evidente ao PS. A economista era, desde julho de 2019,  diretora Núcleo de Contribuições da Unidade de Prestações e Contribuições.

Substitui no cargo Ramiro Miranda — antigo deputado municipal do PSD em Condeixa — que esteve no cargo durante todo o governo PSD/CDS e até fevereiro de 2020. Mais uma vez, o Governo esperou que Ramiro Miranda terminasse a comissão de serviço.

O único ponto laranja no mapa

Entre dirigentes da Segurança Social com filiação partidária e outros sem relação aparente com a política, há uma exceção: Elisabete de Jesus Moita, deputada municipal eleita pelo PSD na Batalha, sucedeu a outra social-democrata no cargo a Maria do Céu Mendes, outra militante social-democrata.

Quase seis anos depois de António Costa tomar posse, é o único ponto laranja no mapa da administração da Segurança Social.

O problema da captura da Segurança Social pelas máquinas partidárias não é, aliás, exclusivo dos governos de António Costa. Aconteceu nos governos de José Sócrates e também no governo de Pedro Passos Coelho. Os cargos de topo da Segurança Social são sempre alterados para a cor política do Governo.

Já em 2017, o Observador fez uma investigação sobre o assunto. Já então o a predominância de escolhas “partidárias” era evidente.

Assalto ao Estado. O jogo que os partidos ganham sempre