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Há 52 anos que o Festival da Canção existe em Portugal. Este ano a RTP optou por não participar na Eurovisão, o que não é inédito. Portugal também se ausentou em 1970, 2000, 2002 e 2013, ainda que em 2000 tenha havido festival sem a participação na Eurovisão. Muitos artistas ficaram célebres com a participação no concurso, a outros restou-lhes a obscuridade. Houve muita música boa a sair de cada uma das edições do Festival da Canção, para lá dos temas vencedores, e também, muitas histórias. Recordamos dez canções, umas porque não devem ser esquecidas, outras porque têm uma boa história escondida. No meio desta dezena, só uma foi vencedora. Sabe qual é?

Carlos do Carmo: “Onde é que tu moras?”

Por estranho que pareça, em 1976 só Carlos do Carmo é que participou no Festival da Canção, naturalmente acompanhado em algumas interpretações. Foi uma tentativa de inovar, onde todos os compositores participaram com um pseudónimo. As músicas finalistas foram escolhidas por votação do público através do correio. Um método semelhante viria a ser aplicado em 2003, onde apenas Rita Guerra participou, a convite da RTP. Nesse ano, cerca de 4000 músicas foram recebidas dessas o júri escolheu 3. Curiosamente, a música encarregue de ir à Eurovisão — “Deixa-me sonhar (só mais uma vez)” — foi a primeira representação portuguesa a ser interpretada em inglês, mas apenas na final internacional. A música de Carlos do Carmo que venceu foi “Uma Flor de Verde Pinho”. Em “Onde é que tu moras?”, Carlos do Carmo canta com Paulo de Carvalho. Ficou em 7º lugar.

Concha: “Qualquer dia, Quem diria”

Noutros tempos, o compositor Nuno Rodrigues e o letrista António Avelar de Pinho meteram-se no carro e foram a Espanha gravar três músicas com três cantoras diferentes, para tentarem a sua sorte no Festival da Canção. Todas as cantoras começaram a carreira neste momento. Eram elas Lara Li — a única cuja canção não foi apurada — Gabriela Schaaf e Concha. A última nunca conseguiu ser tão conhecida, nunca conseguiu criar uma carreira como as restantes conseguiram. A sua música mais popular é “Bombom” mas esta “Qualquer Dia, Quem Diria” é, provavelmente, a mais bonita. Daquelas que não fazem sentido não terem sido mais marcantes.

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Frenéticas: “Tudo bom, tudo bem? Ou mesmo até…”

Na maioria das edições do Festival existiam momentos que intervalavam as participações a concurso. Dependendo do ano e das respetivas tendências, estes interlúdios eram feitos de atuações de bandas nacionais, internacionais, danças e também revista à portuguesa. A primeira transmissão do Festival da Canção a cores foi em 1980 (a 7 de março, dia de aniversário do canal) e, nesse ano, o Entre-act — o título dado a estas apresentações — deu espaço a uma atuação da banda brasileira “Frenéticas” que na altura gozava de bastante sucesso no nosso país.

Muitas outras bandas e artistas nacionais ou internacionais participaram neste Entre-act, como o Gilbert Bécaud (1973), Elis Regina (1978), Wilson Simonal (1979), Linda de Suza (1984) ou Clã (2001). Curiosamente, “Lisboa, Menina e Moça”, um dos maiores sucessos de Carlos do Carmo, foi Entre-act em 1976, ano em que este cantou todas as músicas. Tudo porque a canção foi recusada pelo júri para concorrer ao grande prémio.

S.A.R.L.: “Quero Ser Feliz, Agora”

Carlos Alberto Moniz, membro dos S.A.R.L. com Pedro Osório e Samuel, participou em várias edições do Festival mas nunca conseguiu a vitória. Anos mais tarde, em 1996, a sua filha arrancou a melhor classificação portuguesa de sempre no Festival da Eurovisão. Lúcia Moniz conseguiu o 6º lugar.

Em 1982, ano desta atuação, todas as músicas do Festival tinham a apresentação de Camilo de Oliveira e Ivone Silva que, a cantar “Isto é que aqui vai uma festa”, introduziam os compositores, letristas e artistas. Um conceito que pode agora parecer bizarro mas que naqueles dias era explicado pelo forte sucesso do programa que originou estas personagens. “Sabadabadu” teve a sua última emissão na semana anterior ao Festival de 1982 e “Os Agostinhos”, o nome deste casal de bêbados que os atores interpretavam, adaptaram a sua música mais conhecida “Isto é que vai aqui uma crise” para fazer sentido no Festival.

Rita Ribeiro: “Notícias vêm, notícias vão”

Em 1984 já não era uma estranha ao mundo do Festival da Canção. Participou 10 anos antes com os Green Windows, criado por membros do Quarteto 1111. A atriz e cantora também fez parte da formação inicial das Cocktail, tal como Fernanda de Souza (Ágata) e Maria Viana. Foi das poucas pessoas que apresentou e cantou num Festival da Canção, tal como Herman José, Nicolau Breyner ou António Sala. Foi em 1981 que, em conjunto com Eládio Clímaco, apresentou o concurso. O seu co-anfitrião foi, de resto, aquele que apresentou mais edições do Festival da Canção. 10 vezes é o número de edições que o estabelece como apresentador recordista, seguem-se Henrique Mendes com 7 vezes e Sílvia Alberto com 6.

José Cid: “Morrer de Amor por Ti”

Nunca ninguém venceu mais de duas vezes o Festival da Canção. Dora, Carlos Mendes, Simone de Oliveira e Paulo de Carvalho (a solo e com o grupo Os Amigos) fazem parte do grupo exclusivo que tem duas vitórias. Se incluíssemos nestas contas também os segundos lugares, José Cid seria o grande vencedor (além de ser o autor de muitos temas para outros participantes). Ganhou o festival com “Um grande, grande amor” e ganhou prata nos Green Windows com “No dia em que o rei fez anos” e a solo com “O meu piano” e “Morrer de amor por ti”. Esta última faz parte do filme “Meu Querido Mês de Agosto” de Miguel Gomes, onde é tocada pela banda ficcional “Os Estrelas do Alva”.

Tessa: “Ave do Paraíso”

Esta canção, da edição de 1983 do Festival, ficou conhecida pelos piores motivos. Herman José ainda hoje a parodia nos seus espetáculos ao vivo. “A rapariga que pior ouvi cantar na minha vida”, disse o humorista num espetáculo que foi transmitido pela RTP, seguindo o comentário com uma imitação. Gostávamos de poder desmentir esta frase mas a verdade é que esta não foi, certamente, a melhor atuação desta cantora. Ficou em último lugar.

Paulo Ferraz: “Uma Ilha, Um Amor”

Provavelmente, a única interpretação no Festival da Canção a contar com um Keytar, um sintetizador que se pode carregar ao peito como uma guitarra. Esta atuação é do Festival da Canção de 1986, ano em que o evento foi dividido por 4 áreas de produção da RTP em Portugal: Açores, Lisboa, Madeira e Porto. Em cada uma destas áreas foram filmadas 3 atuações, tendo esta sido retirada da área madeirense. No ano seguinte, em 1987, o Festival acabou mesmo por ser na Madeira com Alberto João Jardim na plateia mas, infelizmente, já sem Keytar.

TribUrbana: “Dá-me a Lua”

Agir, filho de Paulo de Carvalho e Helena Isabel, participou em 2007 no Festival. Muito antes de ser o fenómeno que é hoje em dia, cantava com Milene Candeias uma fusão (muito) particular entre o seu estilo R&B e o Fado. Obviamente, não foi o único participante que só alcançou o estatuto de celebridade algum tempo depois de participar no concurso. Na verdade, como o Observador já recordou, também já passaram pelo Festival nomes como Fernanda de Sousa (Ágata), António Antunes (ou Tony Carreira), Emanuel ou Jorge Palma.

Anabela: “Quando Cai a Noite na Cidade”

Certo, esta toda a gente conhece, mas a história não. Foi contada por Primeira Dama, cantor que é filho de Paulo Lourenço que fazia parte dos Tetvocal e fez coro em muitas músicas do Festival da Canção. O relato aconteceu no podcast “Até tenho amigos que são”, de Rodrigo Nogueira. Paulo Lourenço foi à Suécia cantar no coro da Anabela no Festival da Eurovisão, a final europeia do Festival da Canção. Pedro Gonçalves, também membro dos Tetvocal, também estava na Suécia nessa altura e encontraram-se. Combinaram que, quando a câmara passa-se por Paulo, este iria piscar o olho. O Festival da Eurovisão é tão importante para os países nórdicos que Pedro conseguiu ver a transmissão da festa de num bar cheio de suecos já um pouco embriagados. Fez amigos e insinuou: “Quando der a música portuguesa, um dos tipos que aparece vai-me piscar o olho”. A reação dos suecos foi de incredulidade, tal não era possível. Era uma coisa demasiado improvável e um evento demasiado importante. Quando chega o momento de Paulo Lourenço aparecer, ele não falha e pisca o olho. O bar veio a baixo e a noite de Pedro transformou-se numa de bar aberto e, segundo o filho do cantor, saiu em braços do bar. Anos mais tarde, Paulo Lourenço e Pedro Gonçalves cruzaram-se com um sueco que gritou: “The winker! The Winker!” (Inglês para “O piscadelas!”).

[o vídeo já está no tempo da piscadela, nos 3m24s]

https://www.youtube.com/watch?v=Rm5g5Q4j4l8&feature=youtu.be&t=3m24s

A final da Eurovisão deste ano é transmitida em direto este sábado na RTP1 às 20h