“Isto é o meu trabalho!”. Não foi a um empreendedor estrangeiro, daqueles que quer atrair em grande número para Portugal, que António Costa teve de justificar a presença na Web Summit. Nos corredores repletos da FIL, que visitou esta quarta-feira, o primeiro-ministro apanhou pelo caminho a equipa das Três da Manhã da Rádio Renascença. O encontro com Joana Marques, Ana Galvão e Inês Lopes Gonçalves podia ter sido “extremamente desagradável”, mas foi só o primeiro daquele que seria um passeio no parque para António Costa.
Apesar de constar no programa oficial, o primeiro-ministro falhou a cerimónia de abertura. Foi rendido no palco pelo ministro da Economia, António Costa Silva, que esta quarta-feira também não faltou à chamada e foi a sombra do chefe do Governo na volta à Web Summit em 10 startups. Durante duas horas, o primeiro-ministro percorreu os quatro pavilhões da FIL, tirou inúmeras selfies (Marcelo Rebelo de Sousa só virá ao evento na sexta-feira) falou com jovens empreendedores e encontrou velhos conhecidos. “Pelo menos agora tenho tempo para vir à Web Summit”, confessou ao primeiro-ministro, no meio da multidão, Miguel Gaspar, o antigo “super vereador” da mobilidade de Fernando Medina na Câmara de Lisboa, e que se mantém como vereador na oposição.
Das dez startups que visitou, algumas chamaram mais a atenção do primeiro-ministro do que outras. As entregas rápidas e autónomas da Youship, que funcionam nos passeios acidentados da calçada portuguesa, ou a aplicação que facilita a vida a pessoas invisuais da Inventivio retiveram a atenção de Costa por largos minutos. A Inventivio nasceu na Alemanha mas estabeleceu-se em Portugal, contou o fundador. “Elevada formação, inglês soberbo, excelente ética de trabalho. Onde é que se encontra disso na Europa?”, questionou o responsável alemão. Costa agradeceu e guardou os elogios para usar no seu próprio pitch.
O destino final da visita era o pavilhão da Startup Portugal, onde à espera de Costa estava a Musiversal, uma plataforma de produção de música, que tanto serve músicos como cidadãos comuns “que tenham uma ideia para uma música e cantem para o telefone”. A ideia intrigou o primeiro-ministro. “Nunca pensei em ideias musicais porque achei que não fazia sentido. Já percebi que não é preciso saber de música”. A visita terminou sem música, e com mais uma selfie. Antes de sair do pavilhão, Costa ainda teve tempo para conhecer outra empresa, que entregou ao primeiro-ministro uma bola anti stress, com a particularidade de ser cor de laranja. Rapidamente seria trocada pelo staff por uma cor de rosa, que o primeiro-ministro, diplomaticamente, rejeitou.
Para o fim ficaram guardados dez minutos de declarações aos jornalistas, e todos queriam saber o mesmo. Como responde o primeiro-ministro às críticas ao novo regime dos nómadas digitais, que atribui vistos a trabalhadores qualificados que ganhem mais de 2800 euros por mês? Costa rebateu os argumentos que falam em “injustiça” e “desigualdade” com o “dever” de “sermos um país aberto onde todos se sentem bem vindos”. No stand da Madeira, o chefe do Governo ganhou argumentos para defender os novos vistos. “Há muitos que já estão a comprar casa lá, porque o que eles recebem nos países de origem dá para manterem uma vida saudável na Madeira”. Para o primeiro-ministro, foi suficiente.
Mas ao nascimento de um visto pode seguir-se o fim de outro. Nas vésperas da discussão na especialidade do Orçamento do Estado para 2023, Costa anunciou que o regime dos vistos dourados, para investimentos superiores a meio milhão de euros, pode ter os dias contados. “Estamos a reavaliar. Provavelmente já cumpriu a função que tinha a cumprir e neste momento não se justifica mais manter”, admitiu. Quem não precisa de ouro, caça com unicórnios.
A Alexa quer ser “indispensável”, precisa é de desenvolver o lado emocional
Quando Rohit Prasad, vice-presidente sénior e o principal cientista responsável pela assistente digital da Amazon, chegou ao palco principal da Web Summit, passavam poucos minutos das 10 horas, ainda havia muitos participantes por sentar na Altice Arena.
Paddy Cosgrave, o CEO da Web Summit, ainda saudou os mais “madrugadores” da plateia, ainda para mais para quem participou na Night Summit da noite anterior. Boas-vindas à parte, afinal trata-se do primeiro dia de programação completa do evento, coube ao principal responsável da Alexa contar naquilo que a assistente digital se quer transformar.
Em 2014, a gigante de comércio eletrónico decidiu lançar uma coluna com uma assistente digital. Oito anos mais tarde, a pegada da assistente sem corpo mas com voz característica está presente em mais de “140 mil dispositivos”, explicou Prasad.
O líder desta área de investigação da Amazon foi até confrontado com a importância que a Alexa tem na vida dos mais novos – inclusive na do filho de Nick Thompson, da The Atlantic. “Nesta altura, devem ser seis da manhã em Nova Iorque. O meu filho vai acordar e perguntar à Alexa se precisa de usar calças. A seguir vai pôr a tocar hip hop inapropriado.” A descrição do cenário doméstico prova como a Alexa tem conquistado espaço nas casas de milhões de pessoas. A descrição de Thompson mereceu um sorriso de Prasad, que logo a seguir tirou da manga os números – “as interações com a Alexa cresceram 20%”.
O título da conversa era sobre o próximo truque de inteligência artificial da Alexa – “desaparecer”. Não é que a tecnológica tenha planos para encerrar a divisão (longe disso). Prasad veio à Web Summit reforçar que a Alexa quer estar cada vez mais disponível para os utilizadores, mas sem grandes alaridos sobre a respetiva presença. “Queremos que Alexa seja indispensável”, explicou o responsável, que defendeu que a privacidade dos clientes não deve ser uma concessão para interagir com esta assistente digital.
Mas só se consegue tornar indispensável quem tem grande utilidade e consegue ter uma relação emocional. É neste ponto que a equipa por detrás da Alexa continua a trabalhar: no desenvolvimento de uma “relação emocional” com os clientes. “Todos esperam uma experiência diferente com a Alexa”, reconheceu, acrescentando que a empresa também tem consciência que uma faixa etária mais elevada dos clientes até usam a Alexa como “companhia”.
Além da confiança, também é importante a informação. Prasad defendeu que só a partir de uma dose generosa deste ingrediente é que a Alexa vai conseguir estabelecer uma relação mais emocional e empática com os clientes.
Em junho, um dos anúncios da Amazon tentou explorar a ligação emocional. Num vídeo, era possível ouvir a voz de uma avó a contar uma história de adormecer à neta. A questão é que o contexto da apresentação explicava que a avó tinha morrido há pouco tempo. O anúncio dividiu o público ao longo dos últimos meses: enquanto alguns acham que é um exemplo da tecnologia ao serviço da memória, outros vêem este projeto como algo assustador. Também nesta conferência da Web Summit foi visível essa divisão: enquanto o CEO da The Atlantic classificou a questão como “assustadora”, Prasad prefere ver o trabalho como “uma descoberta científica”.
Moedas, o “California Love” e os braços prontos para acolher mais unicórnios
O segundo dia de Web Summit foi cheio para Carlos Moedas. Na terça-feira, já tinha falado sobre a sua Fábrica de Unicórnios perante uma plateia de empreendedores internacionais, mas hoje teve mais duas oportunidades de explorar o tema. A primeira foi com o anúncio de que a tecnológica Sensei, que desenvolve tecnologia para retalho e opera no mesmo mercado que a Amazon Go, vai ser oficialmente a primeira empresa da categoria scaleup a integrar o Scaling Up Program da Fábrica de Unicórnios.
Na Fábrica, recordou Moedas, a ideia passa “por acarinhar estas empresas”. Na semana passada já foram revelados alguns parceiros deste projeto, onde se contam empresas como a Google.
Mas o presidente da autarquia lisboeta tinha mais para partilhar. Em conferência de imprensa fez questão de transmitir aos meios de comunicação nacionais e estrangeiros que “Lisboa tem de ser uma cidade aberta” – não só a empreendedores mas também a empresas.
Aliás, depois de frisar que, no primeiro ano do projeto da Fábrica, a capital já recebeu “oito unicórnios”, deixou no ar a ideia de que quantos mais melhor. “A diversidade de pessoas é aquilo que cria inovação”, contextualizou. E, a propósito de uma questão de um jornalista norte-americano, até sublinhou o aumento das relações com os Estados Unidos e, em particular, a Califórnia. “Estou muito feliz e orgulhoso de que esta relação com a Califórnia tenha aumentado tanto”, ressalvou, para logo a seguir notar que pontos do estado norte-americano, com destaque para Silicon Valley, viram nascer empresas e tecnologia de relevo.
Nesta lógica de braços abertos ao mundo – e não só aos californianos – Moedas prometeu dar “tratamento pessoal a todos os unicórnios que venham para a cidade”. “As empresas que vêm para Lisboa são como que um cliente muito importante para mim, porque sei que estão a criar empregos.” Nesta lógica de Moedas, se estas empresas vêm para Portugal e criam postos de trabalho, há a certeza de que haverá “mais jovens”. “Um presidente bem-sucedido é alguém que vai conseguir atrair estas empresas e criar empregos para os jovens portugueses e para quem está em Lisboa.”
Num evento que teve origem na Irlanda, até houve direito a uma pergunta vinda deste ponto da Europa, a propósito dos planos de Moedas com a Ryanair, que envolvem a participação da companhia aérea na fábrica. “O CEO ficou muito entusiasmado com o projeto”, disse Moedas. “Agora estamos a ver os detalhes sobre como é que podem contribuir para o projeto. Vamos fazer de tudo para ter mais tecnologia”, garantiu Moedas. “Há algumas coisas que ainda estão em desenvolvimento – vamos anunciar em breve – sobre a Ryanair.”
Binance ajuda Musk a ficar com Twitter, mas espera para ver o que acontece
“Musk teve de despedir muita gente e vamos ver o que acontece quando as coisas assentarem”. Changpeng Zhao, mais conhecido como CZ, não se esquivou às perguntas sobre o investimento de 500 milhões de dólares no Twitter, o que ajudou a que Elon Musk comprasse a rede social. Afirmou e reafirmou não ser o CEO do Twitter, lembrando que a sua posição é minoritária (cerca de 1%), mas mostrou-se disposto a ajudar. E ajudará se o Twitter começar a aceitar pagamentos em criptomoedas – a rede social agora detida pelo dono da Musk anunciou que iria começar a cobrar oito dólares aos utilizadores para terem o selo azul.
A imagem de marca de CZ não mudou. Preto e amarelo (sem os ténis com a cor associada à Binance) são as cores predominantes da sua indumentária e não foram substituídas pelo azul do pássaro do Twitter. CZ entregou 500 milhões para Musk ficar com o Twitter, mas assumiu que nem o conhece pessoalmente. São pessoas muito ocupadas e Changpeng Zhao está muito ocupado com a Binance. Além de que não gosta de grandes reuniões, demoradas.
Fundou a Binance quando tinha 39 anos – agora tem 45 – depois de ter trabalhado em bombas de gasolina, no McDonald’s e ainda distribuiu jornais, agora é um dos milionários das criptomoedas.
Começou quando alguém lhe sugeriu que tinha de colocar 10% em bitcoin. “Fui ‘all in’ [investiu tudo o que tinha]”. Demorou seis meses para perceber do assunto e vendeu um apartamento para investir em bitcoin. “Correu bem”. A Forbes avalia a sua fortuna em 17,4 mil milhões de dólares. Hoje, garante ter as suas posses quase todas na criptomoeda da Binance (BNB) – 99% – e 1% em bitcoin, admitindo que tem alguma coisa em dólares.
A Binance é hoje uma das principais plataformas de negociação de criptoativos, mas CZ lembra que esta indústria é ainda pequena. E por isso quanto mais concorrência se juntar, mais o ecossistema crescer. E, por isso, não diaboliza as moedas virtuais dos bancos centrais. Diz mesmo que poderão ser uma ajuda para o ambiente das criptomoedas pelo conhecimento que poderão proporcionar. Para o empreendedor não há sobreposição nestes dois ativos. Mas há sobreposição nos investidores que estão com posições em ações e com posições em criptomoedas. “Muito investimento está correlacionado. Em teoria, deviam ser distintos, mas as pessoas que negoceiam criptos negoceiam ações”. E, por isso, o mercado de ações está em queda, em particular devido à subida de taxas de juro, e o das criptomoedas também.
Mas CZ, recusando puxar pela bola de cristal, lembra que a bitcoin tem tido ciclos de quatro anos: um de queda, dois de recuperação e um de alta. E os picos têm estabelecido novos máximos. É em alturas de queda que, no entanto, o empreendedor vê a oportunidade para contratar mais, para investir mais e até para aquisições, a preços mais razoáveis. Em Portugal ainda não conseguiu a licença do Banco de Portugal mas já falou com Carlos Moedas sobre a possibilidade de abrir um escritório em Lisboa. Mesmo com a taxação sobre as criptomoedas que vai arrancar em 2023 – como está previsto na proposta de Orçamento do Estado. Sem se pronunciar em concreto sobre a legislação nacional – que não está implementada, lembrou – diz que é preciso cuidado com estas práticas porque podem matar a indústria se forem fixadas taxas em função das transações.
Nenhuma questão ficou por responder, só mesmo aquelas para as quais até ele gostaria de saber a resposta – como as sanções contra a Rússia abrangerem as plataformas de criptomoedas mas não os bancos. CZ, que assumiu ter conselheiros (alguns CEO) e mentores, até respondeu à Reuters – “o meu media favorito”, ironizou, numa alusão às investigações que a agência internacional tem feito sobre a Binance. Começou em junho com o artigo de que a Binance se tornara um hub para hackers, traficantes e golpistas. E já em outubro com o artigo de como o CEO da Binance planeou fugir à regulação nos Estados Unidos e Reino Unido. Um desperdício de recursos, comentou CZ.
A culinária e o yoga que também há no OnlyFans – mas que não abundam
Só uma visão de cima do palco é que poderia confirmar se houve mãos no ar como resposta a quantas pessoas é que têm subscrições da plataforma OnlyFans. Certo é que a partir da plateia não eram visíveis. “Há muitos mentirosos aqui”, foi a resposta que veio do palco.
Nos últimos anos, a plataforma de subscrição OnlyFans ascendeu ao estrelato. O modelo de negócio é simples: há criadores de conteúdo que definem quanto querem cobrar aos seus seguidores para uma mensalidade que permite desbloquear conteúdos, que podem ser vídeos ou fotografias. Em troca, a empresa pede uma comissão de 20%.
Não foi o modelo de negócio que tornou a empresa conhecida, mas sim o tipo de conteúdos que são partilhados. Pela capacidade de monetizar a base de subscritores e de criar uma comunidade, uma boa parte dos criadores que usam a OnlyFans partilham conteúdos para adultos. Aliás, na imprensa internacional até foi analisado como a plataforma estava a ganhar cada vez mais espaço entre os trabalhadores sexuais.
Amrapali Gan assumiu o cargo de CEO da plataforma no ano passado. No palco da Web Summit, explicou que a empresa tem vários critérios para se ser um criador, sendo que o principal é mesmo o de se ter mais de 18 anos. Há ainda revisão de conteúdos daquilo que é partilhado, com a revisão a cargo de humanos, explicou Gan.
Já sobre o tipo de conteúdo, mostrou que a empresa não tem pudores em ter conteúdo adulto a ser partilhado. “É possível ter conteúdos de culinária ou conteúdos adultos. É uma escolha do criador.” No final do dia, a empresa quer ser “um lugar seguro para monetizar conteúdos”.
Gan frisou que a empresa “ainda está só no início daquilo que pode fazer na economia de criadores.” No tema da remuneração aos criadores, que ficam com 80% do valor das subscrições que conquistem, a CEO detalhou que, desde que a empresa foi criada, em 2016, já entregaram 10 mil milhões de dólares. “Não fazemos dinheiro a menos que os criadores ganhem dinheiro.”
A CEO da OnlyFans tem a sua própria conta na plataforma, onde partilha alguma informação de negócio. Disse que acompanha aulas de yoga, mas elegeu como contas que recomenda as subscrições de Lottie Moss, irmã da top model Kate Moss, que também passou pela Web Summit ou do Chef JoJo, que apresenta o programa “This is Fire”, do serviço de streaming da empresa, o OFTV.
Denunciante da Uber escolhe viajar em táxi
A Web Summit tem sido palco, ao longo dos anos, para vários denunciadores explicarem o que os levou a divulgarem práticas, normalmente de grandes tecnológicas, consideradas imorais, antiéticas e até ilegais. Mas a lista é curta, admite Mark MacGann, o rosto das denúncias sobre as práticas da Uber para entrar em várias mercados nomeadamente na Europa em que instigou a violência contra taxistas, atuou de forma agressiva junto de políticos, comprou estudos académicos e, no caso português, investigou o líder da associação de taxistas (mas MacGann diz agora que as coisas em Portugal “não eram tão doidas e não tínhamos o mesmo acesso aos governantes e reguladores nem tínhamos o mesmo nível de violência” – ainda que em Portugal também tenha havido casos de agressões). “A violência garante o sucesso”, terá dito Travis Kalanick, então presidente da Uber. Uma versão moderna de os “fins justificam os meios”.
A Uber conseguiu entrar nos mercados europeus, quebrando regras e leis, assumiu Mark MacGann, admitindo que a empresa ainda põe milhões de dólares em atividade de lóbi, agora para tentar impedir a legislação para tornar os motoristas trabalhadores da empresa.
Mark MacGann trabalhou na Uber e este ano entregou ao The Guardian mais de 120 mil ficheiros com informação sobre as práticas da empresa. “Não tinha a certeza se achariam o conteúdo interessante e se era do interesse público”, declarou na Web Summit, assumindo ter-se questionado: “porquê eu e não outra pessoa? Porque é que ninguém fala? Se temos o privilégio de testemunhar, temos o dever de falar”. E por isso aconselhou a que se fale.
Há mecanismos de apoio de denunciantes, acrescentou e nem todos têm de dar o rosto. Agora, Mark MacGann admite que a sua vida mudou nos últimos meses. Tornou-se o rosto de um denunciante. E corre o risco de responder por uma ação em tribunal – com a qual a Uber o ameaçou mas que já lhe disseram off the record que não ia prosseguir – com uma exigência do pagamento de 32 mil euros diários o que daria já qualquer coisa como 10 milhões de euros.
MacGann que andou de governo em governo, de regulador em regulador, enquanto trabalhador da Uber, diz agora que a força é desigual. As grandes tecnológicas colocam muitos milhões ao seu serviço, mas os legisladores e os reguladores não têm os mesmos meios. Precisam de recursos, reforça.
A Uber prometeu benefícios para trabalhadores, motoristas, consumidores, reguladores. “Vendemos um sonho e mentimos”. Mas houve benefícios e um deles foi a descida dos preços dos táxis. E é por isso que quando questionado se utiliza a plataforma da Uber responde: não, os táxis baixaram os preços. “Apanho um táxi”.
O pugilista que simboliza o maior dos combates e o palco para nova luta no futebol europeu
O desporto enquanto lavandaria mundial de males, as ligações aos fãs depois do final da carreira através das redes sociais, o desenvolvimento de novos talentos e a gestão de expetativas num balneário, o flagelo dos abusos online, o mundo dos NFT e das criptomoedas no futebol, a saúde mental, a colocação de toda a tecnologia para maximizar o rendimento, o salto do desporto feminino no presente e para o futuro. Não foram muitos os temas da atualidade a passar ao lado do Sports Trade, o palco dedicado ao fenómeno desportivo que motiva umas “piscinas” de um lado para o outro entre o Central Stage e o Pavilhão 1 no primeiro dia completo de Web Summit. No entanto, entre tantos temas, destacou-se uma causa e uma luta.
Ninguém poderia imaginar que, três anos depois, um antigo campeão olímpico, mundial e europeu de boxe voltaria a assumir o protagonismo. Aconteceu. Por razões impensáveis em 2019 mas aconteceu. E depois de Wladimir Klitschko, o ex-pugilista que na altura deu uma aula de sala cheia de como preparar o dia após o fim da carreira piscando o olho à quebra do registo do campeão mais velho de sempre na modalidade que era detido por George Foreman, foi Oleksandr Usyk a assumir o protagonismo de manhã e a meio da tarde, altura em que recebeu o Web Summit Innovation in Sport Award das mãos de Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa. Se no dia de abertura Olena Zelenska, mulher de Volodymyr Zelensky, foi a cara de uma guerra que não se esquece em nenhum contexto, agora foi o lutador de boxe a simbolizar essa luta.
“Nos últimos oito meses foi complicado estar concentrado na competição sabendo que existe uma guerra mas precisamos dos esforços de todos naquilo que mais podem ajudar. É isso que fazemos. O boxe é a minha missão para mostrar o que está a acontecer e juntar mais fundos. Essa é a minha forma de ajudar”, destacou, sempre em ucraniano, na conferência de imprensa que deu de manhã antes de subir também ao Central Stage, entre mais um reforço para a situação que a Ucrânia vive e que engloba tudo e todos: “Os líderes mundiais não perceberam ainda a natureza desta invasão, ele [Putin] não vai parar por ali”.
“No início da guerra as pessoas não estavam preparadas. Não estavam nem podiam estar, claro. Não senti da parte dos desportistas que tenham agora voltado, eles nunca chegaram a sair apesar de terem retirado as suas famílias e pessoas mais próximas do país por uma questão de segurança. Não vamos desistir, não podemos voltar atrás e temos de continuar. Estive em Kiev, depois fui a Kherson e a Dnipro. Agora a grande diferença é que os mais novos que estão na guerra já sabem a diferença entre as bombas e os mísseis. Sabem o que fazer e não têm medo, vão à luta”, respondeu depois ao Observador, falando sobre as diferenças que presenciou no país entre fevereiro/março e em outubro, quando voltou à Ucrânia após ter revalidado o título de campeão mundial frente a Anthony Joshua na desforra feita na Arábia Saudita.
De uma forma talvez mais discreta para os menos seguidores mas bem mais premente para quem ainda recorda o verdadeiro terramoto que o futebol europeu viveu no último ano com o anúncio da Superliga Europeia que afinal demorou pouco mais de 24 horas, a Web Summit funcionou como palco para a batalha que se avizinha e que promete recolocar em causa os pilares que há muito existem nas provas da UEFA. Se a preocupação do campeão Oleksandr Usyk é apenas o que se passa no seu país, aqui já se começam a colocar as luvas para um combate que parecia ter acabado por falta de comparência mas que vai voltar.
De um lado, Javier Tebas, presidente da Liga espanhola de futebol e um habitué nas grandes polémicas do desporto nacional e europeu. Um estilo de roupa mais conservador, com casaco e camisola por cima da camisa branca, uma maneira de apresentar o seu ponto de vista bem mais tecnológica e fundamentada. “O grande problema de tudo isto é que fazem um diagnóstico errado porque parte de uma base de análise errada. É como um médico, se não sabe o que se passa, não vai acertar na cura. Dizem que os jovens já não consomem futebol, que não ligam. Na verdade, os estudos mostram exatamente o contrário. Tenho sido muito crítico da UEFA mas neste particular, nas provas europeias, não há nada a apontar. Em 2019 já tentaram, em 2021 também… Mas se é um plano tão bom, porque o escondem? O que está errado é o PSG ter um orçamento que é 60% dos salários da Ligue 1, isso é que não é futebol”, argumentou entre slides.
Do outro, Bernd Reichart, CEO da A22 Sports que poucos ou nenhuns conhecem (para já) mas que tem a seu cargo a tentativa de (re)nascimento da Superliga Europeia. Um estilo de roupa mais moderno, com um blazer à medida com camisola por baixo, uma maneira de apresentar o seu ponto de vista bem menos tecnológica e fundamentada. “A Superliga está viva, apesar de alguns preferirem continuar a dar uma versão diferente. Os últimos anos mostraram que o futebol tem problemas existenciais. Vamos continuar a apresentar as nossas propostas, com um modelo de prova aberto e que olha para outros setores como o feminino ou a solidariedade. O problema aqui sempre foi a falta de diálogo. Já houve ameaças de expulsões mas não estamos a ir contra ninguém. Clubes além do Real, do Barcelona e da Juventus? Já houve algumas abordagens mas o que queremos mesmo é discutir o futebol e encontrar soluções. O futebol não se consegue pagar, precisa de reforma e que entrem fundos de outros lados”, defendeu o germânico.
O terceiro dia da Web Summit vai trazer aos palcos do evento Toto Wolff, diretor e CEO da equipa de Fórmula 1 da Mercedes, o ministro ucraniano da transformação digital, Mykhailo Fedorov ou José Ramos-Horta, Presidente da República de Timor, ou ainda a apresentadora portuguesa Cristina Ferreira.
De acordo com os números partilhados pela organização, estão 71.033 participantes de 160 países na Web Summit. Há 2.296 startups presentes na cimeira e 342 parceiros de 94 países.