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Entre Orwell e D.Quixote vence Maquiavel: Cristas convoca "cúpula do CDS" para analisar Tancos

Cristas convocou de urgência cúpula do CDS para reagir a caso Tancos. Pelo meio houve património e contratos de associação. E recebeu um lápis do PSD: "Não está afiado".

Artigo atualizado ao longo do dia de campanha

Assunção Cristas começou o dia no Mosteiro da Batalha e confessava à saída que o que mais gosta no edifício são as “capelas imperfeitas”, lembrando alguém que lhe disse que o país era bonito, mas não “conhecia outro em que tanta coisa tivesse por acabar”. A líder do CDS lembrava que no país “há a tendência de muitas coisas ficarem a meio”. A maior batalha da campanha tem sido Tancos, mas Cristas remeteria a resposta para a segunda ação do dia, em Fátima. Se na conversa com o diretor do mosteiro, Joaquim Ruivo, ambos comentavam como Maquivel se poderá ter inspirado em D.João II para escrever “O Príncipe”, Cristas mostrou que não despreza a estratégia política. Sentiu que o CDS estava a ficar para trás e decidiu convocar de emergência a comissão executiva do CDS, órgão de cúpula do partido, para que o partido tome uma posição relativamente aos últimos desenvolvimentos políticos do caso.

Assunção Cristas desmarcou mesmo a primeira ação de campanha que tinha na manhã de sábado para que se possa encontrar com o seu inner circle político no Largo do Caldo. A líder do CDS explicou que “aquilo que foi dito pelos partidos nos últimos dias revela a importância política do tema” e, por isso mesmo, a reunião da direção vai servir para “analisar tudo o que se passou, tudo o que foi dito“.

A líder centrista não quis explicar o que poderá sair da reunião, remetendo declarações para uma conferência de imprensa no sábado às 11h30. Cristas lembrou, no entanto, que “o CDS foi o primeiro a sinalizar a gravidade do que se está a passar e daquilo que se ficou a saber com a acusação formulada”. E acrescenta que os centristas foram “os primeiros no passado, nesta legislatura, a dizer que o caso tinha de ser político, que não existia se não fosse o CDS”. Para o CDS a questão “não é com o processo judicial, é política. Nessa matéria diz que “a comissão parlamentar de inquérito chegou a conclusões muito relevantes”, mas “com os [novos] elementos” que agora se conhecem as “conclusões políticas são ainda mais graves”.

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Voltando ao Mosteiro da Batalha, Assunção Cristas tinha escolhido aquele local por esta sexta-feira ser Dia Mundial do Turismo e à saída destacou a importância da cultura e do património. Questionada sobre o facto de o seu governo ter transformado o Ministério da Cultura em secretaria de Estado, Cristas respondeu que “mais importante do que a estrutura governamental são os meios” e que tinha acabado de ouvir “o diretor dizer que felizmente nunca tinha falhado verba no investimento para a conservação. Mesmo nos tempos muito difíceis foi possível manter o nível adequado de conservação deste monumento”. Sempre com uma farpa preparada para o governo, Cristas lembra que na atual legislatura houve “uma manifestação de desagrado da área da cultura que deixou todas as pessoas perplexas”.

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Orwell, D.Quixote e farpa para um lápis laranja pouco afiado

A agenda de Cristas incluía a visita ao Colégio São Miguel, em Fátima. É um dos colégios com contrato de associação que sofreu com os cortes provocados pelo desinvestimento do governo PS neste tipo de solução. Não é por isso difícil de adivinhar ao que ia a líder do CDS. E foi isso que fez. Cristas lembrou que esta escola lidera o ranking de sucesso e que este tipo de modelo “não deve ser esvaziado”. Com a ação do atual governo, lamenta a líder centrista, “muitas escolas fecharam, outras viram reduzidas as turmas”. Além disso, Cristas aproveitou ainda uma carta entregue pela associação de pais que denuncia que os alunos da “via profissional e do ensino especial não vão ter direito a manuais gratuitos”. Para Cristas esta “discriminação” é a confirmação de algo que o CDS desconfiava que podia acontecer. E acrescenta: “É grave, é uma desigualdade que não tem explicação.”

Enquanto visitava a escola, Cristas foi abordada por um docente, na sala dos professores, que lhe deu um lápis para a mão: “Já agora também faço a minha campanha”. O sorriso de Cristas esmoreceu ligeiramente quando olhou para o lápis, que dizia: “Rui Rio, PSD” e tinha uma das pontas cor-de-laranja. E respondeu de imediato: “Nós também temos, mas olhe que os nossos estão afiados, este não. É melhor comprarem uns afias“. Ao mesmo tempo que fazia o comentário, Cristas passava o lápis de imediato para as mãos do assessor de imprensa, Pedro Salgueiro.

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Pouco depois, enquanto visitava a biblioteca da escola um aluno requisitava o 1984, de George Orwell, uma distopia que é entendida como uma crítica a regimes totalitários e ideologias como o comunismo. “Ora, ora. Muito bem. Uma boa coisa que leva”. No mesmo espaço, Cristas acabaria por percorrer algumas estantes, mas pegou apenas no D.Quixote de Cervantes e para dizer: “Aprende-se muito com o D.Quixote“. É uma batalha quixotesca que Cristas enfrenta até dia 6 de outubro.

Estudantes podem ajudar a resolver falta de mão-de-obra no campo

A ação de campanha não estava inicialmente prevista e a agenda do CDS devia terminar ainda da parte da manhã, já que Assunção Cristas precisava de ir ao programa “Gente que não sabe estar” na TVI, de Ricardo Araújo Pereira. Mas pelo meio, foi criada uma nova ação: a visita a uma plantação de beringelas em Alpiarça, no distrito de Santarém. No campo, Assunção Cristas deparou-se com uma cultura que “não é mecanizada porque ainda não há mecanização possível” e por isso o produtor queixa-se de “falta de mão de obra”.

Na plantação quase não há portugueses (apenas um, o tratorista) e os produtores têm muita dificuldade arranjar trabalhadores. Mas Cristas tem uma solução para resolver o problema: promover a facilidade de estudantes dos últimos anos de secundário e ensino superior poderem trabalhar nestes campos. “Entendemos que é possível melhorar em alguns pontos a legislação de maneira a ajudar a suprimir esta falta de mão de obra: estamos a pensar concretamente num trabalho em part time que os jovens, nomeadamente do ensino superior ou dos últimos anos do secundário, que podem fazer no tempo das férias, sazonalmente, ou então em part time e que têm neste momento um quadro de desincentivo para que isso aconteça.”

Assunção Cristas exemplifica o que acontece atualmente: “Se um desses jovens quiser, por exemplo, estar aqui duas ou três semanas na colheita da beringela imediatamente o que receber entra para os impostos dos pais e imediatamente perde a família qualquer apoio social, por exemplo o abono de família ou a ação social escolar”. O CDS quer mudar isso. Essa alteração, defende a líder centrista, “faz com que estes jovens possam receber algum dinheiro, ajudar as suas famílias e ajudar a colmatar falta de mão de obra aqui nos campos.”

Quando chegou ao campo, Assunção Cristas teve a colher beringelas e a tentar acertar no depositório do trator. Não teve muito sucesso. Precisou de três tentativas para acertar uma vez.

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